Tuesday 27 December 2022

Resenha da obra "Morada de Gigantes" de Carlos Monteiro


 

MONTEIRO, Carlos Fernando Rego. Morada de gigantes: histórias de Araraquara e do Basquetebol da Uniara. Rio de Janeiro: Via Escrita, 2002.

Resenha

A obra Morada dos gigantes de Carlos Monteiro é mais uma que estabelece a relação significativa entre a política e o esporte da cidade de Araraquara e mais uma que é construída por um não araraquarense...Monteiro é carioca de origem que por si só merece o crédito de obra tão significativa e importante onde retrata a passagem meteórica tanto da cidade quanto da Universidade pelo mundo do basquete.

Na primeira parte da obra Monteiro busca contar em poucas palavras a história da cidade de Araraquara, aborda os aspectos políticos que organizaram o seu desenvolvimento e ao mesmo tempo busca a relação com o esporte como um todo, escreve sobre a origem do nome Araraquara, pincela a vida de Pedro José Neto fundador da cidade, e a influência dos vários movimentos políticos sobre o município.

Na segunda parte da obra, o autor aborda o surgimento do basquete e o seu crescimento na cidade, trabalha de forma profícua e assídua a trajetória do basquetebol da Uniara, traz relevantes opiniões e vida dos personagens que construíram essa história.

Monteiro ainda traz as estatísticas e curiosidades que permearam a história da Uniara no mundo do basquete.

Uma obra cheia de ilustrações que abordam cada momento, o Ginásio Gigantão sempre lotado para os jogos, os campeonatos disputados e as colocações alcançadas.

Terra de gigantes é uma obra singular, narrada em linguagem simples e acessível a todos e que merece todo o crédito possível, uma vez que resgata a história significativa do Basquete na cidade de Araraquara. Creio que seja uma obra que todos aqueles que se interessam pelo basquete e pela cidade deveriam ler, tendo em vista a sua significativa relevância para a sua construção histórica.

Falando um pouco mais sobre esse tema, foi organizado um podcast com o reitor Fernando Mauro, onde se discutiu os investimentos feitos pela Uniara no Basquete e a relação construída com o município. Vale demais assistir o podcast!

 


Sunday 25 December 2022

Resenha do livro "Braçadas para o sucesso" de Maurício Tadeu Frajácomo

 




FRAJÁCOMO, Mauricio Tadeu. Braçadas para o sucesso. Curitiba: Appris, 2022.

 

Resenha

 

A obra de Maurício Frajácomo discorre sobre o universo da natação, esporte significativo no contexto social brasileiro tendo em vista os resultados vultuosos conquistados nas Olímpiadas dos últimos anos.

Mauricio Frajácomo é professor e coordenador do curso de Educação Física da Universidade de Araraquara – UNIARA e desenvolveu a obra no decorrer da organização da docência e acumula experiência profissional exercida em várias cidades: Araraquara, São Carlos, Fortaleza e Campinas.

O livro é composto por 11 (onze capítulos).

No primeiro, o autor escreve sobre a importância da natação, busca elementos para solidificar seus argumentos de que como base terapêutica o esporte é fundamental, além de contribuir de forma significa para combater problemas como asma, bronquite e muito mais.

No segundo, Frajácomo busca fatos históricos da natação, a origem do nado estilo crawn e a sua importância para a ciência da natação, além de escrever sobre a natação competitiva no Brasil e a regulamentação no ano de 1912, além de apontar o nascimento da Confederação Brasileira de Natação (CBN).

No terceiro capítulo da obra, Frajacomo aponta as propriedades da água, a densidade adequada, pressão, turbulência, temperatura e a resistência na água, esses podem ser considerados elementos fundamentais para o exercício da natação.

No quarto capítulo, o autor traz elementos fundamentais para o planejamento do programa de iniciação à natação, um dado interessante nessa parte é que existem várias imagens e fotos explicando as posições necessárias para que se desenvolva a natação de forma correta, o que dá ao livro a impressão de um manual do esporte. Isso soa de forma muito convidativa para quem quer iniciar no universo da natação.

No quinto capítulo, o autor faz menção da natação para bebês e a sua importância significativa para o crescimento e o desenvolvimento das crianças, também acompanha ilustrações de como proceder, o que enfatiza a ideia do manual de natação, esse é um ponto muito importante a se considerar na obra, então, quem lê o livro de Frajácomo não se depara apenas com ideias sobre o mundo da natação, se depara com elementos de como praticar o esporte, fazendo com que sua aquisição por aqueles que gostam do esporte seja fundamental.

No sexto capítulo, o autor busca o aperfeiçoamento em natação, o aprimoramento das técnicas e o entendimento de cada estilo praticado na natação, esse é um ponto importante pois cada estilo possui suas características e suas peculiaridades e cada praticante possui uma “vocação” dentro do esporte e identificar o estilo a ser praticado é fundamental para o sucesso dentro do esporte.

Importante mencionar que no sétimo capítulo o autor discorre sobre os exercícios de correção dentro da natação e é significativo apontar que vem acompanhado de desenhos ilustrativos dos exercícios e de como devem ser praticados.

Do oitavo ao décimo primeiro capítulo Frajacomo vai apontar as regras da natação e a função dos árbitros, a iniciação ao treinamento e traz até exemplo de ciclos semanais de treinamento, com detalhes exclusivos a serem aplicados a cada etapa.

Nesse sentido, percebe-se um intenso trabalho de Frajácomo no sentido de estabelecer diretrizes em todos os sentidos para a prática da natação, a utilização de ampla referência para a execução do livro é a demonstração do autor de que houve pesquisa, dedicação e amor a um esporte tão praticado no Brasil e com significativa relevância para a saúde a qualidade de vida.

 

Thursday 22 December 2022

Resenha da obra de Marcelo Cirino - Araraquara, futebol e política

 




CIRINO, Luis Marcelo Inaco. Araraquara, futebol e política. São Paulo: Editora SJS, 2008.

 

Resenha

 

Araraquara: futebol e política do médico e cirurgião torácico Marcelo Cirino é marcada pela ampla pesquisa realizada, usando tanto fontes primárias, quanto secundárias, desenvolveu uma obra histórica de suma importância para a cidade tendo em vista a singular relação entre ambos os elementos. A paixão que reveste tanto a política quanto o futebol foi exaltada na obra de forma profícua e sustentada com argumentos científicos que foram buscados tanto em jornais da época quanto em atas que refletiam e desenhavam o cenário da época.

Fica evidente o árduo trabalho de pesquisa realizado pelo autor, quando logo de cara o leitor se depara com os agradecimentos, nomes como Paschoal Gonçalves da Rocha, Aldo Comito, Wilson Silveira Luiz aparecem dentro do contexto da obra, pois foram figuras com significativo destaque nos meios esportivos de Araraquara, além de nomes de historiadores, como o Professor e Jornalista esportivo Celso Unzelte e Rodolpho Telarolli Junior.

A obra de Cirino está dividida em 58 (cinquenta e oito) mini capítulos e apresenta duas fases, na primeira, trabalha a questão política, estabelece a relação entre a imigração, os militares, a Revolução de 1924, Revolução de 1930 e a influência da fase histórica para a construção do futebol na cidade.

Na segunda parte do livro, Cirino mergulha de cabeça na história da cidade, buscando o nascimento do Estádio Municipal, o antigo Tenente Siqueira Campos, que hoje é sede do clube araraquarense que fica próximo ao cemitério São Bento no centro da cidade. Apontou que o Araraquara College foi o berço do esporte na cidade. O College foi fruto da elite araraquarense que trazia seus filhos para estudar na cidade e servia como meio de instrumentalizá-los a adentrar nas Faculdades de Direito ou Medicina do Estado de São Paulo e trazia em seu bojo antigos integrantes da Organização Mackenzie de Ensino, tradicional Universidade da cidade de São Paulo.

Após buscar os primórdios do futebol na cidade de Araraquara, Cirino destrincha o nascimento do Paulista, importante time de futebol da cidade, menciona os títulos conquistados, os jogos históricos e casos curiosos envolvendo a agremiação, além das fichas técnicas dos jogos com dados completos.

Na fase seguinte da obra, Cirino busca elementos históricos para narrar o nascimento da ADA (Associação Desportiva Araraquarense), traz em seu bojo os jogadores importantes, as fichas técnicas dos jogos e sua relação conturbada com a AFE (Associação Ferroviária de Esportes).

Importante mencionar as fotografias que permeiam o livro. Elas são significativas para ilustrar o momento histórico e carregar a obra de autenticidade e relevância que merece.

Em alguns mini capítulos, o autor traz histórias de jogadores importantes da época como Maurinho, ex São Paulo e Boca Juniors; Lorico e Hermínio, além de outras figuras históricas para o futebol da cidade, como Antonio Tavares e Doutor Oswaldo Sant’anna.

No contexto geral, a obra de Cirino é significativa do ponto de vista da história, pois traz em seu bojo uma importante relação entre o futebol e a política e creio que seja relevante mencionar que sem os devidos fatos e da forma que eles ocorreram dificilmente o futebol teria a relação supra mencionado na obra, de qualquer forma não se pode mudar a história e respeitá-la é fundamental, e creio que seja essa a mensagem trazida na obra.

 

Tuesday 27 September 2022

 


DARNTON, Robert; DUHAMEL, O. Democracia. Rio de Janeiro: Record, 2001.

Resenha

A obra coordenada por Darnton e Duhamel trata-se de um debate sobre o tema “Democracia”. Para organizar esse debate eles colocaram em evidência textos de renomados autores e que discutiram a democracia em várias frentes. Os principais são os seguintes:

A primeira delas está relacionada com a perspectiva histórica da democracia. A história da democracia pode ser considerada complexa e que reserva várias surpresas, nesse sentido, como aprender o essencial da democracia, um fenômeno que muda constantemente de caráter?

O segundo ponto colocado está relacionado com a seguinte questão: se uma assembléia de representantes exprime a vontade suprema de seu povo, como poderia ver-se limitada em suas ações por uma constituição – e frequentemente por uma velha constituição ratificada pelos bisavós dos atuais eleitores?

Em terceiro lugar, se os tribunais podem frear a ação do governo, não seriam um obstáculo à democracia em vez de servir-lhe de garantia? Caso contrário, será que o essencial da democracia – e as vezes mesmo o direito de legislar – existe antes no poder judiciário que no poder legislativo? Que fazer quando a vontade de uma assembléia se manifestam contra  os direitos do homem?

Em quarto lugar, será realmente democrática a regra da maioria?

Em quinto lugar, como raciocionar a democracia com os preconceitos, especialmente os de uma maioria eleitoral que se arma do escrutínio para oprimir os cidadãos sem voz?

Em sexto lugar, a democracia é permeada pela força do dinheiro? Isso quer dizer que as eleições são dominadas pelos lobbies e pelo dinheiro? A força da televisão reforça a personalização do poder, em detrimento dos partidos e dos debates sobre os problemas substanciais. Estariam os partidos políticos a ponto de sofrer uma mudança política fundamental?

Em sétimo lugar, os problemas de dinheiro levam-nos aos problemas do Estado previdenciário. A direita, exige seu desmantelamento; à esquerda, sua ampliação. Será que o Estado previdenciário mina suas próprias bases, custando caro demais? Ou será o progresso se faz passando dos direitos cívicos aos direitos políticos e finalmente aos direitos sociais, que garantem para todos um mínimo de bem-estar, ainda que necessário obrigar os ricos a contribuir para tal?

O livro é dividido em 5 partes:

1 – Uma história da democracia, os autores buscam no iluminismo o nascimento da democracia, passa pelas revoluções e depois chega nos ciclos revolucionários do século XIX e termina nas ideias do totalitarismo;

Na segunda parte os coordenadores trabalham o mundo das ideias democráticas, começam escrevendo sobre a democracia dos antigos, buscam na Grécia elementos fundamentais para o entendimento, depois falam sobre a democracia dos modernos, a questão da representação política, depois buscam as bases da democracia liberal e social e por fim, repensam a democracia.

Na terceira parte, escrevem sobre as instituições democráticas, falam sobre os direitos fundamentais, as eleições e os partidos, a democracia direta, os regimes constitucionais, a legislação e a justiça.

Na quarta parte, os coordenadores organizaram um capítulo denominado “um combate da sociedade consigo mesma” e discutem a fraternidade e o racismo, o civismo, a corrupção, os meios de comunicação e a imprensa, o poder e as mulheres, a democracia no trabalho, assim como a democracia social em crise.

Na quinta e última parte, apontam que a democracia trata-se de um desafio mundial...tratam dos nacionalismos e integrismos, a democracia e o seu desenvolvimento a organização do mundo.

 

Monday 29 August 2022

 


O Poder Executivo: conceitos e discussões

 

A regra dos três poderes que permeia e fundamenta a democracia foi estabelecida a priori por Montesquieu no século XVII. De acordo com Montesquieu (1977, p. 156), “há em cada Estado, três espécies de poderes: o poder legislativo, o poder executivo das coisas que dependem do direito de gentes, e o executivo das que dependem do direito civil”. Segundo Montesquieu (1997), cada poder possui uma área de atuação específica, mas com regras entre estes para que não haja sobreposição de poderes (o direito denomina essa regra de lei de pesos e contrapesos). Tal teoria foi formulada para proporcionar a estabilidade aos governos.

De acordo com a teoria de Montesquieu, a função do Poder Executivo é executar as leis, a função do Poder Legislativo é de elaborá-las e a do Poder Judiciário é de julgá-las. No entanto, a relação não é tão simples como se aparenta. Entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo existe uma função que é atribuída a ambos, a de elaborar as leis. Isso ocorre, segundo Cleve (2000, p. 99), porque o “Executivo chama para si tarefas que, na doutrina liberal, não cabiam no espaço funcional reservado ao Estado, além de outras antes perfeitamente realizáveis pelos particulares.

 Esse poder, igualmente, invade o território funcional tradicionalmente reservado ao legislador”. No Brasil, especificamente desde a elaboração da primeira Constituição em 1891, o Poder Executivo é revestido de poderes sobre a confecção das leis. A Constituição de 1934 propunha ao Poder Executivo à iniciativa de projetos de lei que aumentavam vencimentos de funcionários, criação de empregos e a lei de fixação das forças armadas. Na Constituição de 1937, o ato de legislar estava previsto ao Governo, refletindo a concepção do governo da época.

Na Constituição de 1967, era conferida a iniciativa das leis que dispunham sobre: criação de funções e cargos, organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária etc. Na Constituição de 1967, era conferida a iniciativa das leis que dispunham sobre: criação de funções e cargos, organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária etc.

Na Constituição de 1988 é: [...] mantida a técnica de reservar ao Executivo a iniciativa de algumas matérias. São de iniciativa exclusiva do Presidente, no plano federal, as leis que disponham sobre: a) criação de cargos, funções ou empregos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração; b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços público e pessoal da administração dos territórios; c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria; d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; e) criação, estruturação e 30 Ciências Sociais em Perspectiva Ciências Sociais em Perspectiva (7) 12 : 1º sem. 2008 27-36 atribuição dos Ministérios e órgãos da Administração Pública; f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções, estabilidade, remuneração, reforma e transferência para a reserva (CLEVE, 2000, p. 109).

A participação do Poder Executivo na elaboração das leis opera-se, de acordo com Cleve (2000, p. 99), "ou intervem em uma das fases do procedimento de elaboração da lei, ou  (ii) exerce, ele mesmo, a função de elaborar o ato normativo (dotado ou não de força de lei)". A relação entre os poderes foi se modificando , uma vez que as atribuições do Estado foram sendo ampliadas. As atribuições impostas ao Estado modificaram o papel exercido pelas instituições políticas que sustentam a democracia, pois estabeleceram novos papéis a serem desempenhados. De acordo com Cleve (2000, p. 102), "o crescimento das funções do Estado tornou obsoleta a tese do monopólio do exercício das iniciativas pelos membros das câmaras legislativas. Aliás, nesse território, cada vez mais o Executivo foi se afirmando, até o ponto em que, atualmente, quase todas as Constituições conferem também a ele a iniciativa".

Friday 19 August 2022

 


Lançamento do e-book do Caderno de Resenhas

 


ARENDT, Hannah. O que é política? Fragmentos das obras póstumas compilados por Ursula Ludz. 7 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

 

Conceito de Política

 

O conceito de política está organizado em 7 sete tópicos no I fragmento do livro, foi escrito originalmente em agosto de 1950.

No primeiro tópico, Arendt começa expondo que a política baseia-se na pluralidade dos homens. Deus criou o homem, os homens são um produto humano mundano, e produto da natureza humana. A filosofia e a teologia sempre se ocupam do homem, e todas as suas afirmações seriam corretas mesmo se houvesse apenas um homem, ou apenas dois homens, ou apenas homens idênticos. Por isso, não encontraram nenhuma resposta filosoficamente válida para a pergunta: o que é política? Mais, ainda: para todo o pensamento científico existe apenas o homem – na biologia ou na psicologia, na filosofia e na teologia, da mesma forma como para a zoologia só existe para o leão.

No segundo tópico, Arendt aponta que a política trata da convivência entre diferentes. Os homens se organizam politicamente para certas coisas em comum, essenciais num caos absoluto, ou a partir do caos absoluto das diferenças. Enquanto os homens organizam corpos políticos sobre a família, em cujo quadro familiar se entendem, o parentesco significa, em diversos graus, por um lado aquilo que pode ligar os mais diferentes e por outro aquilo pelo qual formas individuais semelhantes podem separar-se de novo umas das outras e umas contra as outras.

No terceiro tópico, Arendt aponta que quando se vê na família mais do que a participação, ou seja, a participação ativa na pluralidade, começa-se a bancar Deus, ou seja, a agir como se se pudesse sair, de modo natural, do princípio da diversidade. Ao invés de se gerar um homem, tenta-se criar o homem na imagem de si mesmo. Nesse sentido, sob o ponto de vista prático-político, a família ganha sua importância inquestionável porque o mundo assim está organizado, porque nele não há nenhum abrigo para o indivíduo – vale dizer para os mais diferentes. As famílias são fundadas como abrigos e castelos sólidos num mundo inóspito e estranho, no qual precisa ter parentesco. Esse desejo leva à perversão fundamental da coisa política, porque anula a qualidade básica da pluralidade ou a perde através da introdução do conceito de parentesco.

No quarto tópico Arendt, escreve que o homem, tal como a filosofia e a teologia o conhecem, existe – ou se realiza – na política apenas no tocante aos direitos iguais que os mais diferentes garantem a si próprios. Exatamente na garantia e concessão voluntária de uma reivindicação juridicamente equânime reconhece-se de que a pluralidade dos homens, os quais devem a si mesmos sua pluralidade, atribui sua existência à criação do homem.

No quinto tópico, Arendt diz que a filosofia tem duas boas razões para não se limitar a apenas encontrar o lugar onde surge a política. A primeira é:

a)     Zoon politikon: como se houvesse algo político que pertencesse à sua essência – conceito que não procede; o homem é a-político. A política surge no entre-os-homens; portanto, totalmente fora dos homens. Por conseguinte, não existe nenhuma substância política original. A política surge no intra-espaço e se estabelece como relação.

b)     A concepção monoteísta de Deus, em cuja imagem o homem deve ter sido criado. Daí só pode haver  o homem, e os homens tornam-se sua repetição mais ou menos bem sucedida. O homem, criado à imagem da solidão de Deus, serve de base para a guerra natural entre todos, conforme afirma Hobbes.

Arendt aponta que a solução ocidental dessa impossibilidade da política dentro do mito ocidental da criação é a transformação da política pela História.

No sexto tópico, aponta que só existe liberdade no âmbito particular do conceito intra da política. Nós nos salvamos dessa liberdade justo na necessidade da História. Para Arendt, um absurdo abominável.

No sétimo tópico Arend diz: a política se organiza, de antemão, as diversidades absolutas de acordo com uma igualdade relativa e em contrapartida às diferenças relativas.

Thursday 4 August 2022

Comentários sobre a obra "Democracia e seus críticos" de Robert Dahl

 


DAHL, Robert. A democracia e seus críticos. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

 

Resenha

 

Robert Dahl é um autor americano, nasceu no ano de 1915, no Iowa, nos Estados Unidos. Professor emérito de Ciência Política na Universidade de Yale. Escreveu uma das obras fundamentais para o entendimento da democracia contemporânea, Poliarquia, obra que o Caderno de Resenha organizou um trabalho específico

A obra escrita por Robert Dahl, a democracia e seus críticos é um trabalho denso, muito bem construído. A obra é organizada em seis (6) partes:

Na primeira parte, Dahl busca as origens da democracia moderna, aponta a transformação da cidade Estado democrática e posteriormente trata da segunda transformação, ele menciona o republicanismo, a representação política e alinha os argumentos para discutir a lógica da igualdade.

Na segunda parte da obra, Dahl discute os críticos da oposição, cita o anarquismo, a guardiania e cita elementos das críticas tecidas ao sistema.

Na terceira parte, Dahl trabalha a teoria do processo democrático – nessa linha, aponta as justificativas para a construção da ideia de valor intrinsecamente igual e da autonomia pessoal, constrói a teoria do processo democrático e mais que isso, discute o problema da inclusão na democracia.

Na quarta parte da obra, Dahl trata dos problemas no processo democrático. O autor menciona o governo da maioria e o processo democrático, organiza as seguintes perguntas: haverá uma alternativa melhor? E quando um povo tem direito ao processo democrático?

Na quinta parte da obra, o autor discute alguns elementos já traçados na sua obra mais famosa, Poliarquia. Nessa parte, o autor faz a seguinte pergunta: será inevitável o domínio da minoria?

Na sexta parte da obra, o autor fala sobre a terceira transformação, aponta diretrizes para a democracia no mundo de amanhã e faz um esboço para que um país seja avançado dentro das diretrizes democráticas.

De forma geral, Dahl enumera em 3 (três) os críticos da democracia:

1 – Aqueles que se opõem fundamentalmente à democracia porque como Platão, creem que, embora ela seja possível, é de forma inerente indesejável;

2 – Aqueles que são fundamentalmente opostos à democracia, crêem que embora ela talvez fosse recomendável, se fosse possível, na realidade é inerentemente impossível;

3 – Aqueles que são favoráveis à democracia e desejam mantê-la, mas que a criticam em algum ponto importante.

Nesse sentido, Dahl, expõe que os dois primeiros tipos podem ser denominados de críticos de oposição, e os do terceiro tipo, críticos favoráveis.

Toda a obra de Dahl está ancorada e conceituada tendo em vista as noções proporcionadas pela Grécia antiga, a noção de povo, cidade Estado, Estado, Instituições políticas e participação política.

 

Tuesday 28 June 2022

Revisão de Literatura: conceito e organização

 Revisão de Literatura: conceito e organização



O conceito de revisão de literatura é processo de busca, análise e descrição de um corpo de conhecimento em busca de uma resposta a uma pergunta específica. Existem três 3 tipos de revisão de literatura: narrativa, sistemática e integrativa.

Na revisão narrativa, não precisa esgotar os pontos de informação. Ela é adequada para a fundamentação teórica de artigos, dissertações, teses e trabalhos de conclusão de curso.

Na revisão sistemática já passa a ser uma investigação científica, busca responder a uma pergunta de pesquisa claramente formulada, faz um levantamento de estudos relevantes sobre o tema. É considerado a evidência científica de maior grandeza e são indicadas na tomada de decisões na prática clínica ou na gestão pública.

Na revisão integrativa são utilizadas diversas metodologias, assim tem o potencial de promover os estudos de revisão em diversas áreas do conhecimento, mantendo  rigor metodológico das revisões.

Estas revisões são feitas por etapas e devem respeitar os critérios para que os objetivos sejam alcançados com excelência.

As etapas para a organização da revisão de literatura se dividem seis:

Primeira etapa: identificar o tema e seleção da hipótese ou questão da pesquisa para a elaboração da revisão integrativa. Nesta etapa a escolha de um tema que desperte o interesses do revisor torna o processo mais encorajador, outro aspecto consiste na escolha de um problema vivenciado na prática. Os estudiosos consideram a primeira etapa como norteadora para a condução de uma revisão integrada e bem elaborada.

Segunda etapa: o estabelecimento de critérios para a inclusão e exclusão de estudos (amostragem ou busca na literatura). Esta etapa está intimamente atrelada à anterior, uma vez que abrangerá o assunto a ser estudado e determinará o procedimento de amostragem, ou seja, quanto mais amplo for o objetivo da revisão, mais elevado e mais seletivo deverá ser o revisor quanto a inclusão da literatura a ser considerada. Vale salientar que a omissão do procedimento de amostragem pode por em risco toda a revisão de literatura.

Terceira etapa: definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados, categorização dos estudos. Nessa etapa é necessário reunir e sintetizar a informação “chave”. O nível de confiança será medido através do nível de evidências dos estudos. O revisor tem como objetivo nesta etapa, organizar e sumarizar as informações de maneira correta e concisa, formando um banco de dados de fácil acesso e manejo.

Quarta etapa: A análise deve ser realizada de forma crítica, ou procurando explicações para resultados diferentes ou conflitantes. A competência clínica do revisor contribui para uma avaliação crítica dos estudos e auxilia na tomada de decisão.

Quinta etapa: Interpretação dos resultados. Esta etapa corresponde à fase de discussão dos principais resultados das pesquisas convencionais. Compara-se a todo conhecimento teórico, conclusão e implicações resultantes da pesquisa (revisão)

Sexta etapa: essa fase consiste na elaboração do documento que deve contemplar a descrição das etapas, os resultados.

A proposta da revisão integrada é reunir e sintetizar as evidências disponíveis na literatura e as suas conclusões. Devem incluir informações suficientes que permitam ao leitor  avaliar a pertinência dos procedimentos empregados na elaboração da revisão.

Thursday 23 June 2022

Resenha da obra: Em defesa da política de Marco Aurélio Nogueira

 NOGUEIRA, Marco Aurélio. Em defesa da política. 2 ed. São Paulo: Senac, 2004.



Resenha

A obra de Marco Aurélio Nogueira, Em defesa da política trata-se da organização de uma série de textos em que o autor defende de forma voraz a política. Isso acontece por causa do desenvolvimento do tema nos últimos anos, tendo em vista a supremacia das questões econômicas sobre as questões políticas.

O mercado no mundo globalizado se sobrepôs às questões políticas e por outro lado uma certa demonização do universo político ocorreu, onde políticos são queimados nas fogueiras das redes sociais todos os dias, e uma áurea assombrosa tomou conta da política. Tentando defender o mundo da política, Marco Aurélio Nogueira construiu sua obra.

O livro é dividido em 10 textos...o primeiro deles, chama-se crise

A primeira questão levantada por Nogueira está relacionada com a idéia da economia, onde o tempo, a racionalidade e a tomada de decisão estão interligadas, prejudicando tempo da política. O tempo da economia é um...o tempo da política é outro...a economia precisa de solução para amanhã...na política é necessário construir o consenso, o que de certa forma leva tempo...e o tempo é uma ferramenta preciosa para o mercado e que não pode ser desperdiçado. Nesse contexto, um argumento semelhante a esse é encontrado na obra de Anthony Giddens, As consequências da modernidade, uma obra também muito interessante, onde vale a pena a leitura.

Nogueira deixa claro quando fala “há pouca política no debate político, pois este passou a depender muito mais do cronômetro que de argumento” (p.21)

No capítulo chamado Riscos e sentidos, Nogueira aponta para a natureza da política. Palavras como poder, autoridade, interesses, ambições, força, persuasão, leis, armas, afeto e repressão fazem parte do universo conturbado da política. A política exige de acordo com Nogueira uma concessão difícil de ser organizada, o do pensar coletivo..é necessário que seja lá quem faça a política pense do ponto de vista do outro e não apenas olhe para os seus próprios interesses...fazer política é pensar na coletivo, no interesse de todos os cidadãos.

No capítulo chamado complexidade e dialética, Nogueira organiza uma crítica ao processo de tecnicização da sociedade que se desencadeou nos últimos anos com o desenvolvimento da globalização. Segundo o autor, não tem como pensar a política como um espaço rígido controlado por técnicos.

O predomínio das questões técnicas e a autoridade dos especialistas empurraram os cidadãos para os bastidores das decisões políticas, causando o enfraquecimento da democracia. Nogueira aponta que a tecnocracia não combina com a democracia que no limite a sufoca e a liquida.

O argumento apresentado por Nogueira é de que na democracia todos podem decidir a respeito de tudo e nesse contexto, ela se choca abertamente com a tecnocracia, pois esta pretende que as decisões sejam tomadas pelos que detém conhecimentos especializados e estariam preparados para neutralizar as paixões e os interesses. A política para Nogueira é um espaço humano por excelência e não tecnológico como querem fazer parecer.

No capítulo intitulado Falhas e determinações, Nogueira aponta a principal função da política: a capacidade de tornar autoconsciente uma determinada comunidade e diz que se a política falha nessa função, ela se torna inútil e desinteressante. O argumento usado pelo autor nesse sentido é de que a política geralmente utilizada, é a política do poder, com pouco diálogo e ao mesmo tempo, com a ausência da política..e isso nos leva a um ambiente de dificuldade, uma vez que existe um processo de verticalização da política e uma certa dose de autoritarismo. Na verdade, existe um processo de demonização da política na estrutura social, na medida em que tudo pode ser considerado político...e esse conceito do político é de certa forma discriminado, sem sentido, inócuo e com a ideia de defesa de interesses de determinados grupos.

Para melhorar as falhas do sistema político, Nogueira aponta a necessidade de se organizar uma reforma política, mas de forma crítica aponta que não pode haver reforma política sem reformar os políticos e o sistema de uma certa forma, já que o sistema não funciona de forma adequada. É necessário colocar a política e a vida no mesmo patamar...na visão do autor, a política está acima das condições na vida, na medida em que é usada como instrumento de perpetuação do poder...A política não pode ser vista como instrumento de poder, mas sim de diálogo para que possa ter uma melhor resolução das questões da vida.

No ensaio intitulado “As três políticas”, Nogueira aponta a existência da Política dos políticos, a Política dos cidadãos, e a Política dos Técnicos.

Sobre a política dos políticos, o autor aponta que se trata da política com pouca política. Essa política está atrelada às questões da realidade, com aquilo que é possível abrindo caminho para a politicagem dos oportunistas de plantão.

A política dos cidadãos, a política que busca o bem comum, no aproveitamento civilizado do conflito e da diferença, no valor dado ao diálogo, do consenso e da comunicação. É a política com muita política.

A política dos técnicos, essa política é a não política, ela se apóia na valorização da técnica, da gestão, da administração sobre o governar, o articular. Para a política dos técnicos “onde há política ou poder, há corrupção”.

No capítulo denominado “A globalização da política”, Nogueira traça um lugar comum dentro do tema, onde suas críticas já são conhecidas do imenso público, mas o ponto fundamental está atrelado à desmontagem do processo de representação política e a imersão de sociedades complexas e desterritorializadas, desenvolvendo o ciberespaço.

Segundo Nogueira, a globalização da política produz crise porque é capaz de desconstruir o espaço de mediação política, ela coloca em xeque a capacidade societal de produzir símbolos unificadores e de relacionamentos.

No capítulo Cidadania travada, Nogueira aponta a luta pela extensão da cidadania, pela transformação de todos em cidadãos e faz parte do conflito social da época. A luta pela cidadania é uma constante dentro do processo político moderno. Na visão do  autor, a extensão da cidadania vincula-se à dinâmica democrática e vai depender sobretudo da instauração de regimes representativos e do fortalecimento dos mecanismos de participação no interior do diferentes Estados: da dissolução das diversas formas de poder concentrado, de uma maior socialização da política, da conciliação da ideia de que o poder pode ser limitado.

No ensaio “Governar”, o autor aponta que a Política tem no ato de governar um de seus atributos mais importantes, complexos e sofisticados. A associação do político ao governante é muito comum na sociedade moderna. A interação entre boas leis e os homens precisa ser uma constante no sentido de construir uma boa relação. A tomada de decisão é fundamental nesse sentido, pois nem sempre atende ao interesse de todos os cidadãos.

Diz Nogueira, governar é antes de tudo, agir sobre recursos e pessoas. Governamos espaços, territórios, fronteiras e recursos materiais, assim como governamos paixões, interesses, emoções, grupos e indivíduos.

Uma questão importante e que é trabalhada por Nogueira é a organização do e-government. Trata-se de uma exigência da sociedade contemporânea...mas o autor expõe uma visão crítica do processo uma vez que a sociedade não é eletrônica..de qualquer forma, existe a necessidade de se adaptar a essa nova exigência. De qualquer forma, fica difícil o avanço tecnológico sem a retomada da política. O diálogo e a negociação, vem antes do avanço tecnológico.

No ensaio chamado Ruídos democráticos, Nogueira aponta que existe um desinteresse significativo sobre as questões políticas..a supremacia das questões econômicas..a existência de um grande mercado e pouco Estado. A questão política atrelada somente ao voto...isso desgastou o cenário da política. A questão sofrida da representação política..e pouca participação direta da população nas tomadas de decisões...mas de qualquer forma, existe uma luz no fim no túnel, já que o desenvolvimento pode acelerar a participação política direta do cidadão nas tomadas de decisão do Estado.

Para Nogueira, só existe saída para a retomada da política pela Esquerda...De acordo com o autor, a defesa da política fica assim suspensa, à espera da plena reposição da esquerda como força de governo, crítica e contestação.

 

Resenha da obra: O problema do populismo: teoria, política e mobilização de Morelock e Narita


 

O populismo em detalhe

 

 Resumo

Morelack e Narita trazem um pouco de luz para a política contemporânea na medida em que pensaram e se debruçaram sobre o conceito do populismo. Discutir o conceito e trazer novas interpretações foi uma missão muito significativa, uma vez que os conceitos mais antigos estabeleciam relações apenas com as questões políticas, os autores nessa obra conseguiram abrir o leque e relacioná-lo com as questões econômicas, a psicologia e todo o contexto sociocultural. Sua leitura é obrigatória para quem se importa com os rumos da política.

Palavras-chave: Populismo; Ideologia; Populismo – teoria política

MORELOCK, Jeremiah; NARITA, Felipe Ziotti. O problema do populismo: teoria, política e mobilização. Jundiai: Paco, 2019.

 

  Resenha

O populismo em detalhe

 

Na obra “O problema do populismo” percebe-se de forma clara e objetiva que o conceito do termo não possui apenas um significado. O populismo muitas vezes é utilizado de forma errônea por parte da população em geral, uma vez que o generalismo que toma conta do seu significado se sobressai. O seu conceito mais tradicional flutua entre os adeptos da direita e da esquerda, gerando acusações de ambas as partes e conflitos intermináveis entre as ideologias políticas.

Os autores tentam de forma muito perspicaz aplicar um pouco de luz sobre o conceito, o que por si só, já pode ser considerado válido diante da crise que assola a política em seu atual estágio. A luz se torna ainda mais importante porque o populismo é permeado por uma instabilidade abissal em seu conteúdo e merece um trabalho específico e denso, como é esse que foi escrito por Morelack e Narita.

Resgatando autores clássicos como Habermas e Derrida, os autores trabalham o conceito de forma muito intelectualizada, mas sem perder a capacidade da explicação e do esclarecimento do termo. Isso precisa ser considerado tendo em vista que não se trata de uma leitura chata e monótona, mas acima de tudo esclarecedora e dentro das perspectivas políticas atuais.

Os autores deixam claro que o populismo é fruto não só do sistema político, mas principalmente do processo de desenvolvimento sociocultural, o que torna o conceito mais amplo, isso proporciona um verniz mais moderno ao termo, se comparado com as construções teóricas passadas, ligadas estritamente ao universo da política. Importante ressaltar que o conceito trabalhado pelos autores se encontra recheado com as ideias de Habermas, para quem “as pessoas comuns experimentam uma forma de alienação em relação ao governo, entendendo as elites políticas como instâncias de legislação orientadas por uma lógica deslocada do mundo da vida”.

A alienação está relacionada com a crescente cisão entre as instituições objetivas de controle e de governo da população, das estruturas mais orgânicas da sociedade. O capitalismo tardio de alguns países em condições de vulnerabilidade, abre o caminho para as crises de legitimação e o seu principal elemento são as tormentas relacionadas ao processo de representação. As crises institucionais abertas pelo capitalismo tardio abrem o caminho para diversos efeitos sociais.

A perda de aderência das instituições democráticas e a fantasia relacionada com o sistema de participação, alimentados pelo establishment político pavimentam a estrada do populismo, que surge em um movimento pendular das sociedades democráticas. O populismo se estabelece entre as estruturas do sistema democrático e o salvamento popular proporcionados pela participação política que se estabelece através do voto direto.

O populismo por si só é capaz de produzir uma moralidade singular, na medida em que coloca o povo como opositor da elite, de um lado a pureza da vontade coletiva, de outro a forma elitista de ser permeada pelo sistema de corrupção.

Nesse contexto, o populismo representa não somente a implosão do sistema representativo, mas também uma prática política que não converge com o sistema político democrático vigente.

Os autores apontam de forma muito significativa que o populismo encontra-se cravado nas identidades coletivas e solapa os valores da cidadania liberal, contribuindo para o esvaziamento da participação política.

Historicamente, o termo populista foi empregado para dar nome aos líderes carismáticos em países em desenvolvimento, com características nacionalistas, mas que contavam com forte apoio popular e as oligarquias plantadas. A obra de Francisco Weffort, O populismo na política brasileira traz uma contribuição significativa para o entendimento da construção dos líderes carismáticos entre o período que segue 1945 a 1964, que marca o primeiro período democrático, na medida em que mergulha no “submundo” da política brasileira, desnudando políticos como Ademar de Barros, Janio Quadros, Juscelino Kubstchek entre outros.

Nessa perspectiva, Morelock e Narita resgatam o conceito de Stuart Hall e unem autoritarismo e populismo – apontam que os contextos sociais e materiais que desenvolvem o autoritarismo, também podem produzir o populismo. De forma objetiva apontam que os populistas simplificam os procedimentos formais da democracia, se colocando acima deles, mas sempre apoiados pelos resultados majoritários das urnas e nem se importam com os freios e contrapesos colocados pelo sistema político formal, uma vez que em linhas gerais se encontram em processo de enfraquecimento causado pelo desgaste da representação política, por isso se descortinam as relações autoritárias. Nesse sentido, populismo e rompantes autoritários andam de mãos dadas e se identificam na medida em que coloca de um lado um grupo identificado como povo e outro elite. Povo e elite se contrapõem nas políticas ligadas ao populismo.

Os autores usaram as obras de Habermas e Wallerstein para dar corpo ao processo de desenvolvimento do populismo, na medida em que as teorias organizadas por ambos apresentam argumentos palpáveis para o entendimento de como as ações populistas tomam forma em nações ainda desprovidas de desenvolvimento social e econômico. Norita e Morelack apontam que a divisão social do trabalho, o desenvolvimento econômico e a urbanização estão enraizados no mundo da vida e influenciam os movimentos populistas nesses países. Do ponto de vista de Habermas, a alienação e o problema da representação de subgrupos na esfera pública contribuem para a constituição do populismo, pois povo precisa ser defendido das ações antagônicas provenientes desses elementos, uma vez que a esfera pública é uma forma democratizante na sociedade moderna.

No que se relaciona à obra de Wallerstein, os autores apontam que as mudanças que ocorrem no sistema-mundo e os rearranjos econômicos causam um conjunto de alterações sociais que por sua vez geram a pressão social. É aí que reside a crítica dos autores ao sistema na medida em que “países e regiões são hierarquicamente e funcionalmente divididos em “centros”, “semiperiferias” e “periferias”. A dinâmica material, então, produz transformações históricas, provocando a alteração daqueles três eixos centrais e implicando a reorientação da posição de cada país junto ao sistema. Nosso argumento é que, à luz desse dinamismo estrutura, movimentos populistas ganham corpo” (MORELOCK; NARITA, 2019, p. 36)

Morelock e Narita não se satisfazem apenas em trabalhar as questões políticas relacionadas ao desenvolvimento do populismo, os autores trazem também aspectos da psicologia para o trabalho, o que proporciona versatilidade intelectual para a análise do fenômeno e novas formas de abordagem.  O capitalismo moderno se desenvolve através  da alienação, o que nos faz ficarmos desconectados e autointeressados por influências das propagandas e que em períodos de crise social, as pessoas se frustram, se tornam confusas e desesperadas, facilitando a construção de grupos com identidade forte e com ideias mais explicitas, abrindo caminho para as personalidades com características populistas.

Um elemento amplamente trabalhado pelos autores na obra diz respeito ao processo de desconstrução da racionalidade e do politicamente correto, ambos abrem caminho para a ascensão do anti-intelectualismo. A atmosfera anti-intelectual está ligada com a produção do sujeito neoliberal já que a necessidade de potencializar o capital humano vai na contramão do conhecimento acadêmico. Em linhas gerais, não há necessidade de desenvolvimento intelectual para o desenvolvimento de uma vida puramente prática.

Nesse sentido “as mitologias fascistas espreitam os desmoralizados e os suscetíveis, oferecendo paliativos cognitivos de diversas formas. Os exemplos nesse sentido, são a lealdade fervorosa a líderes carismáticos, a presença de narrativas reivindicando uma idade de ouro perdida, a ênfase sobre um suposto direito de dominação local ou de expansão global do poder e a unificação de uma comunidade ética superior” (MORELOCK; NARITA, 2019, p. 56).

Em linhas gerais, os autores apontam o populismo como sendo a ascensão de um grupo que se autodenomina “povo” contra um inimigo nomeado “a elite” e definem autoritarismo como a tentativa de uma homogeneização forçada, o populismo autoritário é o lugar político onde populismo e autoritarismo se encontram.

 

Referências

 

WEFFORT, Francisco. O populismo na política brasileira. São Paulo: Paz e Terra, 1980.

 

Resenha da obra: Ruptura: a crise da democracia liberal de Manuel Castells


 

CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

Resenha

“A insuficiência da política”

Resumo

A obra de Manuel Castells surgiu num momento importante para o sistema democrático devido ao instante conturbado porque passa e também pelo processo de erosão que seu conceito mais tradicional vem sofrendo. Embora a obra pareça uma crítica contumaz à democracia liberal, ela significa muito mais que isso, na medida em que aponta para um determinado horizonte político. O terrorismo, o medo e a incapacidade da política de dar respostas positivas ao cidadão comum contribuíram para o solapamento da democracia contemporânea e também foram os responsáveis pelas eleições de Trump, Macron e muitos outros líderes políticos de vocação pouco democrática que ascenderam ao  poder.

Palavras-chave[Av.1] : Democracia; Terrorismo; Medo; Poder; Crise do sistema democrático; Democracia liberal;

Resenha

A obra Ruptura: a crise da democracia liberal, escrita pelo renomado espanhol Manoel Castells, surgiu em uma hora decisiva da política mundial, não só [Av.2] porque o sistema democrático passa por uma crise sem precedentes na história, mas porque também novas lideranças políticas com viés autoritárias vêm aparecendo no cenário político de forma mais ostensiva e sistemática, contribuindo para a hecatombe (continuar o parágrafo)

Nesse contexto, muitas obras políticas surgiram no mercado editorial nacional e internacional na tentativa de explicar o frenesi causado pelo avanço da direita no cenário político mundial, suscitando a morte dos sistemas democráticos e ao mesmo tempo resgatando o fenômeno das ideologias, que pareciam estar em dormência desde a década de 90, quando a social democracia, através do voto, chegou ao poder e se disseminou mundo afora. Digo em dormência porque durante os últimos vinte anos o mundo parecia fadado ao marasmo político e assentado sobre o discurso de Francis Fukuyama de “fim da história”, mas a história mais uma vez mostra que nada na política é em definitivo, e não existe dono da verdade. Desse modo, a democracia não poderia ser considerada um fim em si mesma era necessário ter-se reinventado, ter-se criado novas alternativas para as crises enfrentadas. Processos de criação e novas formas de desenvolvimento são salutares e necessários até para poder continuar existindo e dar as cartas do jogo.

Nesse sentido, a obra de Castells cumpriu seu papel de forma significativa e não pode ser visto apenas com uma crítica ao sistema democrático, que serve para justificar o crescimento da direita no cenário político contemporâneo, mas porque suas críticas não são direcionadas à democracia em si, mas à democracia liberal – por democracia liberal, entendem-se eleições regulares, representação política e funcionamento adequado das instituições políticas.

Se a questão central da crise da democracia é o fenômeno da representação política e sua relação com as instituições políticas, as críticas já vêm sendo construídas há bastante tempo e não podem ser consideradas algo novo, assim como as consequências que levaram ao crescimento da direita na política, como muitos adeptos da esquerda estão querendo acreditar. O desgaste do sistema democrático liberal já sofreu críticas contumazes há bastante tempo e vem se desgastando no cenário mundial de forma vertiginosa.[Av.3] 

Na obra As consequências da modernidade escrita no começo dos anos 90, o sociólogo inglês Anthony Giddens já apontava para esse cenário de desgaste da democracia liberal, quando estabelecia a diferença entre o tempo da política e o tempo da economia.[Av.4]  Para Giddens, o tempo da economia é curto, o tempo da política é longo. Como o tempo, na sociedade contemporânea, é considerado “dinheiro”, a democracia liberal empurrou para “debaixo do tapete” as atribuições da representação política, na medida em que não havia tempo para negociações e discussões de projetos e, dessa forma, turbinou as ações do Poder Executivo, simplificando as ações e direcionando responsabilidades, deixando a política mais longe do cidadão comum e dificultando a visão dos olhos do senso comum a capacidade da política de interferir de forma positiva na vida do cidadão. Em suma, se todos os problemas são econômicos e podem ser resolvidos em curto espaço de tempo, porque é necessário debater com mais de quinhentos deputados uma determinada proposição política? [Av.5] É preciso considerar que fazer política é dialogar, debater, se posicionar e apresentar argumentos e como fazer isso sem a questão do tempo? Envolver muitas pessoas numa discussão de um projeto pode atingir os interesses econômicos mais urgentes. É nesse contexto que se desenvolve a hegemonia do Poder Executivo, uma vez que é mais fácil personalizar uma decisão do que organizar um debate para que uma decisão seja tomada.

Nesse contexto, a política não seria necessária, e, não sendo necessária, transformou-se um grande risco para o sistema democrático como um todo, na medida em que os governos autoritários se sustentam na ausência das bases da democracia, que é a junção entre participação popular e interferência nas questões do Estado.

Na visão de Castells, existe uma democracia real, que é a democracia liberal, mas ela ultrapassa os limites institucionais estabelecidos, abrindo caminho para novos líderes políticos, como Trump, Brexit, Le Pen e Macron.[Av.6]  Os limites institucionais são quebrados quando o Poder Executivo passou a assumir o protagonismo da política, jogando para segundo plano o Poder Legislativo e o Poder Judiciário. Atualmente, o Poder Executivo também propõe leis e as executam em nome da tal “governabilidade”, dificultando os passos da oposição e desenvolvendo a sensação de hegemonia política. Esse tema já foi amplamente discutido na obra de Clemerson Merlim Cleve a “A atividade legislativa do Poder Executivo” escrita no começo dos anos 2000.

Castells não se furta em apontar o caminho futuro da democracia mundial. Para ele, surgirá num horizonte próximo uma nova ordem pós-liberal que tem como pano de fundo as políticas organizadas pela China e pela Rússia e que apresentam regras políticas mais autoritárias, mas, de qualquer forma, elas se apresentam como uma alternativa real à democracia liberal.

Nesse sentido, Castells aponta que existe uma ruptura entre cidadãos e governos, para quem os políticos se ocupam dos problemas do mundo, não das pessoas – para ilustrar a sua opinião, o autor traz dados interessantes sobre os países europeus que dão conta da insatisfação extensiva da população com a democracia liberal, mas que essa insatisfação não está relacionada com nenhum tipo de ideologia política, seja de direita ou de esquerda.[Av.7] 

Castells tece uma crítica contumaz à democracia liberal, na medida em que o autor coloca, no epicentro das discussões, a ideologia do consumo como valor e do dinheiro como medida do sucesso. Para Castells, o modelo neoliberal centra no indivíduo a sua linha de pensamento mais intensa e na sua satisfação imediata monetizada, dificultando a relação com as questões coletivas.

De forma singular, Castells trabalha no sentido de organizar os pensamentos sobre a influência da mídia e a sua interferência no universo político. Nesse sentido, Castells aponta que a política, na mídia em geral, [Av.8] é feita através de imagens e se caracteriza como basicamente emocional. Para o autor, a forma de luta política mais eficiente é a destruição moral da imagem de quem se postula como líder, gerando um sentimento de desconfiança e reprovação sobre a classe política em geral.

Terrorismo, medo e política andam juntos, formando o que Castells denomina de “ménage à trois” sinistro. O terrorismo indiscriminado que atua na sociedade contemporânea por aqueles que se sentem discriminados pela democracia liberal, leva ao medo permanente, fazendo com que a política se manifeste no sentido de restringir os processos de liberdade. “Um estado de emergência permanente justifica no imaginário coletivo a restrição sistemática das liberdades civis e políticas, criando uma ampla base para a islamofobia, a xenofobia e o autoritarismo político”.[Av.9]  (CASTELLS, 2018, p. 36 ).

A presença de novos líderes políticos como Trump e tantos outros se justifica, segundo Castells, pelo temor ocasionado pela globalização. O multiculturalismo, a imigração, a desconfiança dos partidos e das instituições levam o medo à sociedade como um todo, o que remete à busca incessante pela volta do Estado e aos valores originários, estes, por sua vez, solapados pelo processo de globalização, o que abre espaços para novos líderes políticos.

A eleição de Trump para presidente dos EUA, assim como o plebiscito do Brexit e a entrada de Macron na França são dissecados por Castells e, como pano de fundo, todos eles são motivados pelo medo do terrorismo e do mundo desconhecido proposto pelo fenômeno da globalização.[Av.10]  A globalização revestida com as diretrizes do neoliberalismo, leva o cidadão comum à sensação de desproteção, ocasionada pelo desmonte do papel do Estado e pelo solapamento dos direitos sociais e por consequência o medo do futuro. As eleições recentes, apontam para a tentativa de retomada do papel do Estado a qualquer custo, não importando a ideologia política.

Por conseguinte, Castells tece uma crítica ao fenômeno da União Européia, desde o processo de organização, pensada mais na sua capacidade econômica do que nas ideias políticas que revestiram a frágil união – para quem o ideal de uma unidade fosse organizada sem levar em consideração a opinião da população, com seus preconceitos, valores e ideais. Desse modo, Castells aponta a União Européia como um “projeto de construção política a serviço de valores identificados com a civilização foi um projeto elitista e tecnocrático, imposto aos cidadãos sem um debate e com escassa consulta[Av.11] . (CASTELLS, 2018, p.

A obra de Castells é uma viagem aos problemas políticos mundiais e muito significativa para as ciências humanas em geral, pois alia política, democracia e economia, além de contar com uma critica muito racional ao sistema e aos problemas existentes.

Referências

CLEVE, Clemerson Merlin. A atividade legislativa do Poder Executivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991.


 [Av.1]Reveja as palavras-chave, pois estas não dão conta do objeto em destaque na resenha

 [Av.2]

 [Av.3]As ideias no parágrafo encontram-se amontoadas, separadas por vírgula, mas não se conectam para fazer sentido ao que você quer dizer. Transforme essas vírgulas em pontos-finais, e faça as conexões para que o parágrafo faça sentido

 [Av.4]Só coloca a ideia, mas não desenvolve.

 [Av.5]Explique isto.

 [Av.6]Não há continuidade no desenvolvimento do parágrafo.

 [Av.7]Faça conexão entre os parágrafos, desenvolva a ideia presente neles.

 [Av.8]O que você quer dizer aqui: “a política, na mídia, em geral é...” ou “a política, na mídia em geral, é...”

 [Av.9]36

 [Av.10]Não desenvolveu o parágrafo

 [Av.11]Aponte autor-ano-página.

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