Thursday, 3 July 2025

Enquanto o infarto não vem...


Enquanto o infarto não vem, a noite passa. Noite regada a charuto dominicano e vinho italiano - entre uma baforada e outra, um gole no vinho encorpado, de vermelho renitente e viscoso. 

Quando o dia amanheceu, a sua cabeça estava parecendo um sino de Belém, tocava a todo instante em um volume e tom, cujo som repercutia em ondas insistentes, desafiando até o mais precioso dos diapasões. Era como se ecoasse dentro dos seus ossos.

Ele teve a certeza de que misturar o aroma do vinho e o paladar do tabaco seria um convite a reflexão sobre algumas coisas de sua vida. Uma ousadia líquida e sublime descia pela sua garganta com a promessa de que aqueceria a sua alma.

Ledo engano, quando o sol apontou no horizonte, a realidade se apresentou com todo o seu peso. À volta do sofá, as garrafas vazias formavam um mosaico de excessos, testemunhas silenciosas de uma noite de indulgência. O vinho, o companheiro vibrante e saboroso, agora servia como lembrança de um prazer que cobrava o seu preço na forma de ressaca.

No meio do caos matinal, entre os resquícios de fumaça e o aroma do vinho, lembrou-se do português Osvaldo Alcântara:

Enquanto o infarto não vem...

"Eu estarei de mãos postas, à espera do tesouro que me vem na onda do mar...

A minha principal certeza é o chão em que se amachucam os meus joelhos doloridos,

mas todos os que vierem me encontrarão agitando a minha lanterna de todas as cores

na linha de todas as batalhas."

 


Sunday, 1 June 2025

O cigarro, o café e o cinzeiro

 


 A solidão da noite diz muita coisa. Até a luz da lua fica mortiça e embaçada. A TV não para nos canais, é um zap zap sem fim. O desassossego é eminente. Café e cigarro fazem companhia em momento impróprio, mas ele sempre acha que o álcool não será uma boa companhia. O café tira o sono e o cigarro é nostálgico. 

Ele lembrou da definição de Carlos Heitor Cony para quem nostalgia é saudade de um tempo que já se foi e a melancolia, a saudade de um tempo nunca vivido. Na noite, melancolia e nostalgia sem unem em torno de um não sei que sem fim e os cigarros vão se avolumando no cinzeiro. A casa cheirando a fumo e café o lembrou de um tempo que ficava sentado à frente da máquina de escrever esperando as ideias chegarem e os papéis se amontoarem na lixeira após o erro gramatical.

Agora, a situação era outra, a máquina de escrever está na bagunça do escritório, as ideias, perdidas no tempo e no espaço infinito da noite, as palavras sumiram, desapareceram e os textos rarearam e quase não existem mais, o que restou, foram apenas o cigarro, o cinzeiro e o café de cor desbotada e ralo, quase um chafé.

O sono, desapareceu, o que resta para ele é a existência, o pensamento vago,  perdido e o silêncio. O silêncio é tudo e nem a bagunça das redes sociais com suas futilidades chamam a atenção no momento.

O silêncio e a solidão são irmãos na noite. As taças não são sinônimos de felicidade. Até tempos atrás, felicidade era encaixar a palavra perfeita em um texto literário, agora, tudo mudou, nem sabe ao certo se esse conceito ainda existe, tal o desassossego que o habita e o corrói de forma agressiva.

                    A ansiedade é a mãe das horas difíceis - ela acelera o coração e distorce os pensamentos e                      quando se olhou no espelho, a frase do poeta lhe veio à mente "eu vi cara da morte e ela                         estava viva".

                    

Wednesday, 23 April 2025

O Tim de muitos campos e espaços


O cigarro entre os dedos, a fala mansa e a magrela azul eram marcas indeléveis do Tim. Costumava chegar devagar ao campo do ACCO com sua magrela carregando um saco de uniforme, com camisas, meias e calções.

Tim era dono de dois times de futebol na cidade de Araraquara: o Fluminense e o Flamengo. Tim  costumava chamar "seus" garotos usando um assovio tradicional, esse artifício era muito comum nos anos setenta e oitenta, geralmente feito pelos pais quando queriam chamar seus filhos para alguma tarefa doméstica ou escolar.

Tim usava alguns campos da cidade para treinar os seus times. Um dos locais mais usados era o "campão", o rapadão, como a galera da época chamava. Reza a lenda que no campão não podia nascer grama, o campo ficava feio, tinha que ser do jeito que era, de terra batida e esburacado, assim era bem melhor. O campão ficava próximo à avenida trinta seis entre as ruas nove e onze. Aquele campo era esquisito, tinha vários buracos de erosão em seu meio e era todo torto, com suas traves de madeira maciça era o "point" do futebol amador de Araraquara.

Outro campo utilizado por Tim para treinar a molecada fica em frente ao estádio da Fonte Luminosa, na parte debaixo. O campo é torto, assim como o campão, mas ele ainda possui grama, mas como quase nunca cortam, geralmente está impróprio para a  prática do esporte bretão, a bola se esconde na grama e a molecada pena para jogar, mas enfim, era o que tinha para a época e ninguém reclamava, nem o Tim, embora na realidade, não tenha mudado muita coisa. 

O que a moçada queria mesmo era jogar futebol, não importava o campo em que jogava. Ganhar ou perder era uma questão de perspectiva, geralmente os times do Tim competiam, isso era o mais importante. 

Alguns jogadores de sucesso profissional passaram por seus times, entre eles "João Batista Lopes", o Abelha, ex goleiro da Ferroviária, São Paulo, Flamengo e São Bento de Sorocaba que revezava suas defesas entre os dois times do Tim.

Assim como Tota, Seu Armando Clemente, Zé Lemão, Tim colocou seu tijolinho na construção do esporte na cidade de Araraquara e deixou marcas sustentáveis nas gerações dos anos setenta e oitenta e ainda próximo do octogenário, ainda tenta deixar um legado para as novas gerações.










 

 


Wednesday, 19 March 2025

O Narciso, o portão e a maria mole


 

A molecada chegava cedo para a prática da educação física e se aglomerava no portão do Narciso da Silva Cesar que fica na rua quatorze, entre as avenidas Cristovão Colombo e Bandeirantes. O portão da escola velho e enferrujado que era unido por uma corrente cor laranja por causa da corrosão servia de gol enquanto o professor não chegava.

Em frente ao portão, tinha o boteco do Pedro cheio de cachaça na estante, uma gôndola de doces caseiros e de chicletes “Ploc” que fazia a alegria dos moleques. Pedro era um sujeito gordo, bonachão e austero, com cara de bravo e que sempre se negava a vender fiado para a molecada. O máximo que fazia era dar um copo d’água da torneira. A limpeza do copo era duvidosa, a água apresentava um aspecto turvo e às vezes, esverdeado, mas na ânsia de matar a sede, qualquer coisa estava certa. De vez em quando, os moleques entoavam o coro: “ei, Pedro, vtnc” para “homenageá-lo” e os gritos só paravam quando o portão se mexia, o professor havia chegado.

O professor era o Seu Carlos, ele usava barba longa e era calvo. Era um sujeito legal, com seu jeito calmo e fala mansa, conquistava a molecada. Ele ensinava com maestria, era detalhista nos movimentos dos esportes: um toque no vôlei, um arremesso no basquete, um chute a gol, tudo era meticulosamente ensinado e explicado, sua didática era fantástica, valia demais a sua aula.

A molecada gostava mesmo era de jogar futebol. O vôlei, o basquete e o handebol eram deixados de lado, portanto, jogar futebol era fundamental na educação física. Seu Carlos ficava em apuros, dizia que o futebol não precisava ser explicado e insistia nos treinos de vôlei, o que parecia ser seu esporte preferido. A molecada ficava brava, mas ninguém se indispunha com o professor, ele era gente boa demais.

Quando a educação física acabava, a molecada corria para o bar da Santa Izildinha que ficava na esquina da rua treze e meio para comer maria mole e tomar tubaína, muitos iam na sorveteria do Cidão que ficava do outro lado da esquina, tomar aquele sorvete de origem estranha, mas que era tão bom quanto a um Kibon e custava bem menos.

Nenhum dos moleques tinha dinheiro, tudo era resolvido na conversa, as vezes na porrada mesmo, vire e mexe uma briguinha básica para sair da rotina, mas a alegria era contagiante e no dia seguinte, tudo estava bem e dentro dos conformes.

Friday, 17 January 2025

Sergio Bergantim: a antítese da alegria

 


Eu vi um homem correndo pela avenida central da cidade, eu vi o tempo. O tempo passou entre luvas e defesas, entre os gols e as traves. Ele era capaz de parar a alegria, suas defesas monumentais impediam a felicidade de Pelé e sua turma, seu nome: Sérgio Bergantim, ex-goleiro da Associação Ferroviária de Esportes.

O homem que corria pela cidade criou um hiato no tempo e no espaço. O espaço entre as traves era apenas um hiato no contexto do futebol, onde permitir a felicidade máxima do futebol era resumidamente proibida.

O grito de hulll da torcida era a motivação para as suas atuações. Sergio Bergantim era a antítese do gol, a antítese da alegria e o prenúncio do quase. O quase era perfeito, Sérgio Bergantim aliava a sorte e a competência, as traves eram parceiras monstruosas das jornadas épicas do futebol dos anos 70.

O futebol dos anos 70 era diferente, técnico e com jogadores fenomenais. Ser goleiro naquele contexto era muito difícil, mesmo assim, Sergio Bergantim se destacava embaixo das traves defendendo as cores da Ferroviária.

Suas defesas fantásticas contra o Santos de Pelé o fizeram chegar à meta da Sociedade Esportiva Palmeiras, mesmo sendo suplente de Emerson Leão, um dos melhores goleiros do futebol brasileiro, conseguiu se manter seu nome no topo dos goleiros nacionais.

Sua passagem meteórica pelo Palmeiras do ano de 1974, o levou a ser pretendido por muitos outros times de expressão nacional: Corinthians, Santos, Portuguesa de Desportos, mas Sergio não deixou se levar pela fama e preferiu se manter com as cores grená do Estádio da Fonte Luminosa e nos ensinamentos da Educação Física escolar.

Sérgio Bergantim sempre foi sinônimo de esporte, uma vida dedicada a levar qualidade de vida e ensinamentos às crianças e adolescentes do Colégio Progresso da cidade de Araraquara – áurea de professor, Sérgio Bergantim de muitas pontes, defesas e fama infinita nos limites da cidade.

 

Wednesday, 8 January 2025

Eusebio Bonifácio: simplicidade e alegria nos anos 50

Braços abertos e um sorriso estampado no rosto, foi assim que Eusebio Bonifácio nos recebeu em sua casa na Vila Xavier. Com um gesto simples e voz humilde nos convidou para um cafezinho e para nos sentarmos embaixo de uma cobertura, onde a sombra nos proporcionava uma brisa agradável na manhã de quarta-feira.

Com voz rápida e confusa tendo em vista os problemas na dicção, nos fez voltar no tempo, num tempo em que o futebol era puro romantismo e alegria. Nos contou com desenvoltura e de forma muito detalhada o lance do gol na estreia dos refletores do estádio da Fonte Luminosa, momento épico em sua curta carreira.

Embora a idade e os problemas de saúde se apresentem de forma acentuada e que dificulta um pouco o andar e as dores renitentes, Eusebio nos lembrou com detalhes impressionantes a excursão da Ferroviária no mundo europeu, o encontro com o jogador Didi, astro da seleção brasileira – os jogos nos países da África e as peripécias dos jogadores em terras estrangeiras. O seu relato é sensacional.

Seus olhos lacrimejaram e as mãos ficaram trêmulas quando lembrou do tempo que atuava como gandula atrás dos gols da Ferroviária ainda menino e das caças que fazia com a molecada utilizando bodoque, costume dos meninos da época, onde os passarinhos não tinham muito sossego, pois precisavam desviar das pedras que passavam em alta velocidade e possuíam tamanhos variados.

A lesão no joelho quando jogava na Francana ainda no início da carreira, atrapalhou demais o seu desenvolvimento como jogador e depois que ganhou o passe livre da Ferroviária passou por vários times, encerrando a carreira no time de Taquaritinga.

O ponto alto da conversa foi a bolachinha com café servidos pela irmã com muito amor de carinho e assim se fez a manhã, entre sorrisos e abraços a lembrança de mais um ídolo da Associação Ferroviária de Esportes.

Thursday, 2 January 2025

Agostinho Brandi: o tempo sempre será o senhor da razão

 

Pereira Lima e Agostinho Brandi (1951)

 

Um olhar, uma luz, sinal dos tempos estampado no rosto, voz firme e mãos certeiras. Um senhor fala com a gente encostado a um portão, indicando o local exato onde estacionar o carro.

Prazer, sou Agostinho Brandi! Nos disse com voz forte e dissonante.

Impressionante como Shakespeare é muito contemporâneo quando dizia “que o tempo é o senhor da razão”. Agostinho Brandi é a contextualização exata da frase, mesmo com a idade em estágio avançado e aparentando uma solidão sublime se exprime de maneira muito racional e lúcida, apontando caminhos e ideias, típica dos homens formadores de opinião.

Sentado a uma mesa no melhor estilo retrô e apartamento com decoração dos anos oitenta, trouxe uma visão familiar ao contexto e levou a uma alegria inenarrável e contagiante a todos.

Na conversa, nos fez relembrar da sua carreira como jogador de futebol, o nascimento do América Futebol Clube de São José do Rio Preto e da Associação Ferroviária de Esportes e a incrível luta de Pereira Lima para fundá-los e torná-los duas potências do futebol do interior paulista.

Com uma memória fantástica, Brandi nos conta os bastidores do primeiro treino da Associação Ferroviária de Esportes numa fazenda localizada próxima ao bairro Igaçaba no ano de 1951, e com detalhes nos lembra da conversa com o treinador, narrando com muita propriedade como se tornou o primeiro goleiro a entrar em campo em um jogo oficial pela Ferroviária.

O ponto alto do bate papo foi quando Brandi nos contou detalhes do jogo de estreia do Estádio da Fonte Luminosa – jogo em que a Ferroviária fez contra o Vasco da Gama no ano de 1951. O Vasco da Gama era a base da seleção brasileira e o placar de 5 x 1 para o Vasco, segundo Brandi não refletiu o que foi o jogo, pois a Ferroviária perdeu muitos gols, mas Ademir Menezes, centroavante do Vasco era um jogador fantástico.

A intelectualidade de Agostinho Brandi não podia ficar de fora do bate papo – ele mostrou seu gosto por partituras e falou sobre os livros que pretende lançar. A sua influência política na cidade de São José do Rio Preto está estampada e marcada no tempo e no espaço, uma vez que existe uma escola com seu nome, uma justa homenagem para quem fez tanto pela cidade, seja como professor ou mesmo como secretário na administração pública.

E ainda sobrou tempo para nos levar para almoçar com direito a pagar a conta e tudo o mais e dar uma “corridinha” ao banco para resolver problemas pessoais.

 

Saturday, 7 December 2024

A molecada do bairro

 

1979. A molecada soltava pipa na esquina da Imaculada Conceição com a Cristovão Colombo em frente ao bar do Seu João. O ceguinho que vendia sardinha fazia seu anúncio acompanhado da sua esposa fiel e escudeira. A Cidinha de uma perna só, subia a Cristovão Colombo agarrada à sua muleta falando palavrão e xingando à todos, geralmente alcoolizada, cheirando à cachaça. O Seu Zé da Carne batia de casa em casa vendendo miúdos em sua carroça, geralmente o fígado do boi ou as tripas das vacas que o pessoal chama literalmente de "dobradinha", ele mostrava com elegância sua balança tipo gancho que usava para pesar os seus produtos, ele tinha bigode espesso e cabelo alinhado, mas era um senhor elegante de fala mansa e calma.

A molecada fazia alvoroço com a dança das pipas. O Nenão, o Serginho e o Nico sempre faziam as melhores pipas, geralmente as maiores, mais coloridas e de rabos mais compridos. Todos os meninos do bairro queriam fazer pipas iguais a eles, mas poucos tinham talento para isso, portanto, restava comprar as  que eles faziam.

O horário de mais movimento da esquina era perto das onze da manhã, o sol de Araraquara estalando na cara e um calor danado, restava apenas pedir água no bar do Seu João, os que tinham mais recursos, tomavam aquele guaraná Ciomino gelado, geralmente dividiam com o copo americano ensebado e sujo, ele rodava nas mãos da molecada.

A Maria, vizinha da esquina, nesse horário passava água na calçada e a molecada aproveitava para jogar uma água no lombo para espantar o calor, afinal, ninguém era de ferro e era necessário se refrescar. De vez em quando, o senhor Paulo subia a Cristovão com seu isopor de sorvete, a sua gaita denunciava de forma fácil a sua chegada, a molecada gostava do sorvete de groselha e logo formava uma roda em torno de dele à procura do mais gostoso. 

Os irmãos Barão vendiam biju, vez ou outra eles apareciam na esquina com o latão de alumínio batendo a matraca e falavam: "olha o biju", anunciavam a plenos pulmões para todo o bairro ouvir. 

Viver ali era uma festa. Tinha um pessoal que morava na quadra acima, mais próximo da rua onze, eles gostavam de jogar futebol na rua - tinham até uns golzinhos feitos de madeira e redinha, era caprichado o negócio. As peleias geralmente aconteciam na parte da tarde, perto das quatro. O Mirão, o Jacaré, o Paulinho, o Betinho e mais alguns eram os reis do pedaço, eles escalavam o time e eram os donos da bola. O Tilim era o mais chato e quando aparecia a molecada se esquivava, ninguém queria escalar ele em seu time, geralmente ficava na reserva e de tanto demorar para entrar no jogo, pega as suas coisas e saia de fininho.

O seu Nestor português andava com o seu cigarro de palha fedorento nas mãos, usando seu chapéu de aba larga, o seu bigodinho "código de barra" engraçado era sensacional, ele falava meio enrolado e sempre apostava no jogo de bicho e logo cedo a molecada perguntava: e aí, Nestor, que bicho vai dar hoje? Capivara?. e ele respondia prontamente:

- Capivara é a sua mãe, filho da puta! Pois não existe capivara no jogo de bicho e a molecada se partia de rir na esquina.


Wednesday, 27 November 2024

Wilson Carrasco: força e talento nos gramados brasileiros

 

Cabeça erguida, passe certeiro e o desfile em campo, era assim o futebol de Wilson Carrasco, o “carrasco” dos gramados. Foi jogador polivante, com grande força física, conseguia aliar marcação com o jogar futebol.

O toque refinado na bola era a sua característica mais marcante. Tinha muita habilidade em bater faltas de média e longa distância, tantos foram os seus gols de bola parada.

Menino criado na cidade de Américo Brasiliense, despontou tarde para o futebol quando se propôs a disputar o futebol amador de Araraquara e região.

Foi jogando nas fazendas que o seu talento tardio foi descoberto. Carrasco foi dos campos de várzea direto para o gramado do Estádio da Fonte Luminosa, vestir as cores grená e branco da Associação Ferroviária de Esportes.

Depois de se destacar no Campeonato Paulista, foi contratado pela Portuguesa de Desportos, sua carreira ganharia destaque no gramado do Canindé, onde encontrou o parceiro, “Príncipe Eneas”, jogador de pernas longas, de muita força e técnica, que jogava um futebol refinado, fez grande parceria ganhando experiência e fama.

Especulado em grandes times do futebol brasileiro, foi jogar no Santa Cruz do Recife, onde encontrou outros grandes jogadores e fez boas parcerias com:  Pio, Givanildo, o centroavante Nunes e muitos outros.

Tempos depois, voltou ao Recife para jogar no rival do Santa Cruz, o Sport Recife, foram anos de bom futebol e títulos, estava coroada a carreira de Wilson Carrasco, camisa dez clássico, que carregava e batia na bola como os grandes magos do futebol brasileiro o fizeram.

Wilson Carrasco, “rodou” por muitos times do Brasil desfilando seu futebol fino e elegante até se aposentar dos gramados e ir se sentar no banco de reservas como treinador para ensinar e orientar os novos talentos.

 

 

Wednesday, 20 November 2024

Carta de Araraquara ao sol


O sol em Araraquara não "brinca", ele queima mesmo. Radiante e quente o sol se impõe sobre as árvores abundantes da cidade e não há sombra que resista, todos os lugares são quentes.

Araraquara é inimiga da chuva pois tem a certeza que é a Morada do Sol. O sol é permanente, imponente, a chuva é sazonal e o frio nunca tem vez e quase desaparece no decorrer do ano.

Araraquara tem uma estação definida, o verão, o restante é escassez, só o outono consegue mostrar um pouco a sua cara, tendo em vista que é a estação das folhas secas e as árvores costumam a ficar mais "peladas".

O olhar de longe sobre o asfalto reflete uma visão turva e embaçada tal a disposição do sol em se impor. Se o calor é dantesco, Araraquara é um protótipo do inferno, pois tudo queima, literalmente.

O refugio do sol pode estar nas piscinas, mesmo assim é relativo, pois a agua é quente e o mormaço é voraz. Haja calor!

O ar condicionado só funciona em Araraquara na temperatura mínima e olhe lá, usá-lo não é saudável economicamente, a conta chega cara no final do mês. O ventilador é uma opção relativa, se o ar está quente, vai permanecer - é a lei.

Araraquara é a morada do sol, o calor diz tudo!


Friday, 1 November 2024

O hall da U.T.I. e a esperança relativa

No hall da Unidade de Terapia Intensiva - U.T.I. todos são iguais em desgraça, em maior ou menor escala, todos se igualam. A esperança relativa é sempre a mãe de todas as incertezas.

O sorriso no hall  sempre é contido - ele não cabe dentro de si mesmo e muitas vezes vem mascarado de nervosismo e tensão que só o café é capaz de "acalmar".

Os olhos vermelhos e a cabeça baixa é uma constância daqueles que esperam o horário de visita no hall, comportamento típico de aflição, pânico e esperança quase perdida, os dias se fazem assim.

Não existe calor no hall, os dias são frios, seja porque o ar condicionado sempre está na pressão ou mesmo porque é um lugar capaz de transformar um abraço num gesto menos caloroso e abrasivo, num momento de desespero e afago.

O olhar sempre está perdido no tempo e no espaço, ele geralmente é cansado e longo, as pálpebras  estão baixas e inchadas, vítimas contumazes da ausência do sono e da noite perturbada.

As noites no hall são longas e as poltronas são curtas - elas são incompatíveis entre si. Dormir todo torto nas cadeiras para muitos não se trata da melhor opção, mas da necessidade de ficar mais próximo das vidas incertas e amadas que possuem.

A luz mortiça e amarela que alumia o hall o torna misterioso e infinito, ela é incapaz de iluminar as mini certezas que cada ser carrega dentro de si.

O hall é um lugar para saber amar e ficar esperando,  um lugar onde a vida e a morte são dois lados da mesma moeda.

Wednesday, 30 October 2024

O eu Hospital


As noites no hospital não são fáceis. Os aparelhos apitam a todo instante, as trocas de remédios e as intercorrências fazem com que elas sejam longas e com intervalos pequenos entre um sono e outro - as radiografias de pulmão as quatro da manhã, realmente deixam a gente sem fôlego até mesmo para acordar e sair do box, tal a "delicadeza" no fino trato.

Pela manhã, a troca de turno dos técnicos de enfermagem e dos enfermeiros é de fazer inveja às maritacas que pairam sobre as árvores no final das tardes, é um fala fala sem fim, causando irritação profunda, a ponto de vez ou outra me fazer pedir a um deles uma pequena dose de "precedex" para diminuir o fluxo sanguíneo e impedir a minha capacidade de mandar todos eles ficarem quietos.

Os médicos chegam logo pela manhã. Alguns ao nascer do sol e praticamente pegam a gente acordando, com o pensamento disforme e abstrato, com o cabelo desgrenhado e bocejando, tornando difícil o entendimento do que foi dito, tendo em vista o alto grau das expressões usadas cheias de abreviaturas e o "mediquês" fluente.

No hospital, tomar banho para quem fica como acompanhante na UTI é uma missão - é preciso marcar hora - se perder o horário, já era, só no dia seguinte. O engraçado é que existem funcionários cuja missão é exclusivamente acompanhar o "acompanhante" ao banho - mais estranho ainda é quando a funcionária chega no box e diz o seguinte: 

_ E aí, vamos tomar um banho? Para quem ouve isso e não entende o contexto, acha que existe alguma coisa fora da ordem!

Tomar café da manhã no hospital é uma lástima, pois as opções não são saudáveis para quem tem falta de grana, tudo é muito caro e enjoativo, sempre tem as mesmas coisas para comer, o que os tornam monótonos e nada convidativos com o passar do tempo.

Com o tempo, a gente vai se tornando figura fácil no hospital e passa a conhecer todos os atendentes das portarias, alguns até me chamam pela abreviatura, tal a intimidade que se cria, a ponto do garçom me ver e me perguntar:

_ E aí? O de sempre? 

O pessoal da portaria todas as manhãs me indagam:

_ E aí? qual a hora do banho? Se tornar morador de hospital é isso aí e mesmo que esteja chateado e cabisbaixo, a simpatia precisa imperar, afinal, a gente precisa dos funcionários  no decorrer do tempo e estabelecer relações saudáveis é fundamental para que se possa ter "facilidades" durante a trajetória "hospitaleira".






Douglas Onça: o menino da Vila Xavier



 

A carreira no futebol de Douglas Onça, o menino da Vila Xavier não seria possível sem o incentivo de seu pai: Oswaldo Lima Onça, ele o incentivava a pular o muro de casa para jogar futebol no campo da Atlética.   

Quando montaram o time de dente de leite da Atlética o chamaram para jogar e assim, ele disputou o primeiro campeonato e logo no primeiro jogo, começou no banco, entrou no segundo tempo e fez um golaço de peixinho, começava ali, a trajetória talentosa nos gramados.

Depois do primeiro campeonato, Douglas Onça jogou no time do Atlas, cujo treinador era o seu Armando Clemente e com dezesseis anos foi para o Palmeirinha da Vila Xavier, onde encontrou o seu Sebastiãozinho que era o treinador e diretor do time de futebol.

Posteriormente, seu Sebastiãozinho foi convidado para ser diretor da Associação Ferroviária de Esportes e na sequência levou Douglas Onça para compor o time. Quando chegou na Ferroviária, Douglas encontrou Olivério Bazani Filho, cujos ensinamentos passados o fizeram lapidar seu futebol de muita técnica e habilidade.

Douglas Onça estudava Agrimensura no Colégio Logatti e ficou na Ferroviária até estourar a idade para jogar nos juniores, depois disso, foi efetivado no time profissional da Ferroviária. O começo da vida profissional como jogador não foi fácil, Douglas jogava dez, quinze minutos por jogo ou muitas vezes, nem entrava em campo. Sua primeira partida como profissional foi contra a Francana na Fonte Luminosa no ano de 1979, num jogo que a Ferroviária ganhou por 1 x 0. No jogo seguinte na Fonte Luminosa, fez dois gols contra o Velo Clube de Rio Claro e em Campinas contra a Ponte Preta fez o gol da vitória por 1 x 0 e foi se firmando como time titular da equipe sob o olhar atento e carinhoso do treinador Sergio Clerice.

A partir de 1982, se firmou como titular da equipe, disputando um bom Campeonato Paulista, conseguindo vaga para a disputa da Taça de Ouro de 1983, sob a batuta de Sebastião Lapola e Roberto Brida. Na disputa da Taça de Ouro, Douglas Onça brilhou junto com Vica, Abelha, Claudinho Macalé e companhia onde a Ferroviária se destacou, fazendo uma campanha maravilhosa. O ponto mais alto da carreira de Douglas Onça foi num jogo da Taça de Ouro contra o Grêmio no Estádio Olímpico, onde fez um gol sensacional, numa vitória épica da Ferroviária sobre o time até então, Campeão Mundial.

            Douglas Onça ficou na Ferroviária até o ano de 1984, quando foi emprestado ao Coritiba, ficou pouco tempo, depois voltou para a Ferroviária. Em 1985, foi emprestado ao Sport Recife, depois voltou para a Ferroviária novamente, posteriormente foi emprestado ao Avai de Santa Catarina e ao Atletico Goianiense e encerrou a carreira no Marcílio Dias de Santa Catarina.