Ele
acostumava ir ao estádio de futebol com o seu pai, chegava cedo, se sentava no
concreto da arquibancada e pegava o saco de amendoim com casca que a dona
Adriana passava vendendo sob o sol escaldante, ele gostava de ouvir o som da
casca do amendoim se abrindo e entre um e outro, dava um gole no refrigerante.
Ao
longe, do outro lado do estádio, acostumava ver as torcidas organizadas
chegando, alguns com faixas, outros com instrumentos musicais: o pandeiro, o
tamborim, o bumbo, as faixas com os nomes das torcidas eram estendidas no
alambrado e alegravam o ambiente, aos poucos, o estádio ia lotando, as pessoas
iam chegando e a expectativa para o jogo só aumentava e tornava o clima
especial.
Tempos
depois, resolveu voltar ao estádio, já sem o pai, mas percebeu que o clima não
era o mesmo para as partidas do time de futebol, a torcida não apareceu, o nome
do time havia mudado a algum tempo, a diretoria mudou o nome do estádio, as
torcidas organizadas sumiram, avistou de longe uma meia dúzia de pessoas
falando “palavras de ordem”, e teve a impressão de que a “organizada” do time
se resumia aquele amontoado, os instrumentos que dão voz ao samba, também
estavam ausentes, ouviu dizer que eram proibidos em estádios de futebol e por
um segundo pensou que não existe mais a harmonia entre a cadência do samba e o esporte
bretão.
A Dona
Adriana não apareceu para vender amendoim, disseram que agora, não era mais
permitido vende-los sem ter licença e ela custa caro, a cerveja não podia ser
consumida, de acordo com outros torcedores, ela causa confusão e briga entre as
torcidas, o refrigerante e a pipoca ainda podem ser consumidos, mas o preço
“está o olho da cara” de tão caro, o futebol ficou chato demais, reclamou com
um torcedor ao lado.
Ficou triste.
O estádio tinha poucas pessoas assistindo o jogo de futebol, em outrora, ele
ficava lotado e não importava o adversário e nem a divisão, agora pode se ouvir
o som do silêncio, até o toque da bola se ouve da arquibancada, os torcedores
não ficam mais nos alambrados, uma prática rotineira da torcida que se perdeu
no tempo e no espaço tendo em vista a “modernidade” que assolou o futebol.
Em
conversa com outros torcedores descobriu que o time foi vendido para um
empresário que mora na Terra do Nunca e que nunca pisou o solo da cidade.
Durante a semana visitou o museu do time e percebeu que as taças conquistadas
através da história estavam jogadas em um canto da sala, as faixas de campeão e
flâmulas amontoadas em uma gaveta qualquer de uma estante velha e empoeirada, e
assim, a história se fez passado e o passado já não existe mais, embora o time
“ainda” exista, a torcida me parece que ficou no passado, o presente não lhe
interessa e o que restou segundo as suas impressões foram as arquibancadas
vazias e o som do silêncio e ficou com a percepção de que a torcida perdeu o
time de futebol.