1982. Ano de Copa do Mundo. A seleção canarinho estava voando. Sócrates, Zico, Falcão e companhia desfilavam talento mundo afora, jogando bonito e fazendo placares elásticos contra qualquer seleção adversária.
A torcida
brasileira estava em polvorosa e empolgada. As ruas do bairro do Santana,
próximas ao Colégio Narciso da Silva Cesar estavam pintadas em verde e amarelo
e com bandeirinhas penduradas com as cores da seleção. A criançada feliz,
gritava os nomes dos jogadores ao embalo do samba de Junior e companhia: “Voa
canarinho, voa, mostra na Espanha o que eu já sei”, era o hit da Copa do Mundo
que aproximava a seleção brasileira da população.
Logo no primeiro
jogo contra a seleção russa de Dasaev e Ball, um “frango” de Valdir Peres
assustaria a torcida brasileira até o lindo gol de Sócrates de fora da área,
num chute indefensável para o goleiro russo. A alegria contagiou a molecada que
saiu para as ruas com confetes e serpentinas, um verdadeiro carnaval se fez
presente, mas o ápice viria com o golaço de Eder num petardo de fora da área
decretando a vitória canarinho.
Depois desse jogo,
a molecada foi para a rua cantar o samba da seleção e todo mundo estava numa
alegria contagiante, acreditando no título Mundial, afinal de contas, a seleção
brasileira havia apresentado um lindo futebol e ainda tinha vencido uma forte
seleção.
Após o jogo contra
os russos, viriam mais duas vitórias convincentes contra as seleções da Escócia
e da Nova Zelândia, foram duas goleadas acachapantes e um futebol vistoso,
bonito e alegre. Zico comandava o meio campo da seleção junto com Sócrates e
Eder que era o grande jogador do ataque canarinho.
Para o brasileiro
de maneira geral, o futebol apresentado até aquele momento pela seleção era
motivo de orgulho. Toda criança era um Zico ou um Sócrates em potencial, onde
havia crianças e adolescentes reunidos com uma pelota em mãos, esses nomes eram
os mais falados, assim como o samba da seleção que se ouvia a todo momento nas
rádios locais.
Com a
classificação para a próxima fase, a seleção brasileira iria enfrentar logo de
cara a Argentina que havia sido campeã em 1978. Era um confronto muito duro,
pois do lado argentino tinha Ardilles, Ramon Dias, Tarantini, Passarella,
Maradona e outros craques que tinham fama mundial tanto pelo talento na posse
da bola como pelas faltas violentas que faziam. A seleção brasileira deu um show
de bola nos argentinos que ainda tiveram um jogador expulso, final 3 x 1 para a
seleção brasileira.
O país entrou em
êxtase com a vitória sobre a seleção argentina. Os jornais apresentavam os
jogadores sendo entrevistados. Junior aparecia no programa de domingo a noite
com o clip do samba, Tele Santana falava aos microfones dos principais
noticiários, enquanto o personagem Zé da Galera de Jô Soares cobrava do
treinador brasileiro a presença de um ponta, já que a seleção jogava com apenas
dois atacantes: Serginho e Eder.
A seleção
brasileira foi para o jogo contra a Itália com a moral lá em cima. Havia feito
os resultados contra todos os seus adversários jogando o fino da bola, a
maestria de Zico e Sócrates encantava o mundo, a Itália chegava de certa forma
como zebra, pois se classificou de maneira difícil na primeira parte da Copa,
uma seleção com características mais defensivas e em tese um futebol mais feio,
mas com muita tradição no mundo da bola.
No dia do jogo, a
molecada se reuniu na casa do Betinho, lá no Santana, tinha uns quinze moleques
assistindo a partida, a Dona Regina havia feito pipoca para todo mundo e o
Guaraná Mimosa, refrigerante famoso de Araraquara refrescava a cabeça da
criançada. A euforia era a palavra-chave que norteava aquele momento mágico do
futebol brasileiro.
O clima era de festa até o “passe maldito de
Toninho Cerezo que nunca chegou” e a finalização certeira do canastrão Paolo
Rossi, era o terceiro gol dele na partida e daí em diante, o choro se fez
presente, a frustração tomou conta do ambiente e o dia se fez noite e tudo
acabou.