Tuesday, 25 June 2024

Futebol de botão, Casa Tarallo e Kibelanche

 




Quando criança, ele acostumava acordar as seis da manhã para fazer o que mais gostava: jogar futebol de botão. Acordava no pé de pano para não acordar a rapaziada, abria a porta da sala devagarinho para que ninguém ouvisse, pegava seu “Estrelão”, separava os times e escolhia os preferidos, geralmente o Marília, o MAC e o Guarani de Campinas.

Os goleiros dos times, precisavam ser de caixas de fósforo, dizia que o que vinha nos jogos era muito pequeno e fácil de ser abatido e que quase todo lance era gol. A caixa de fósforo era grande, impedia vários gols e fazia defesas incríveis, por isso, muitas vezes ela era personalizada com o distintivo e as cores dos times, cada time tinha o seu goleiro “caixa” intransponível e forte.

Ele ficava jogando por horas a fio, não importava os compromissos do dia e nem da escola, o que interessava era estar bem-preparado para jogar o campeonato que a rapaziada do bairro fazia e que geralmente ocorria na casa do Betinho, lá era legal jogar, ele comentava, tinha um campo de futebol de botão pintado no cimento do corredor da casa e era o sucesso da molecada do bairro e o “pau comia” literalmente.

Ele gostava de ficar na expectativa na parte da tarde, geralmente sua tia que era aposentada e vivia fazendo crochet vira e mexe dizia que ia ao centro da cidade. Passear com a tia no centro da cidade, andar na rua dois era um luxo, ele podia comprar mais um de seus jogos de futebol de botão na Casa Tarallo, que ficava na esquina da Avenida São Paulo, tinha uma variedade enorme de times, ele gostava dos times que tinham as fotos dos jogadores, aquilo era o verdadeiro paraíso e aumentar sua coleção era sensacional.

Depois de sair da Casa Tarallo, o roteiro do passeio incluía a Kibelanche, uma casa que vende até hoje comida árabe, mas que na época era famosa pelos salgadinhos que fazia, geralmente as coxinhas e os kibes e que ficava na Rua São Bento. Ir à Kibelanche e comer os salgadinhos era uma verdadeira epopéia para o menino do bairro e um “luxo” a ser comemorado. Ele falava para os amigos do passeio durante semanas e mostrava a todo momento sua nova aquisição com todo orgulho possível.

Quando voltava para casa perfilava todos os times de futebol de botão que possuía, colocava cada um lado a lado e depois apresentava o novo esquadrão, escolhendo um time para rivalizar e entre uma tacada e outra narrava as jogadas falando o nome dos jogadores e as vozes dos locutores esportivos mais famosos.