Thursday 19 July 2007

Acidente aéreo: a culpa é da pista molhada?


Há tempos que o sistema aéreo brasileiro vem apresentando problemas. Acidente da gol no ano passado, atrasos constantes nos aeroportos e agora o acidente monstruoso com o avião da Tam. A pergunta que não quer calar é a seguinte: de quem é a culpa pelos problemas ocorridos no setor aéreo? Da aeronáutica? Da infraero? Das companhias aéreas?
Vejamos, o setor aéreo cresceu de forma geométrica nos últimos anos. As passagens aéreas ficaram acessíveis ao bolso do cidadão brasileiro competindo até com as companhias de transportes rodoviários. Tendo em vista o baixo tempo das viagens e o conforto proporcionado, os aeroportos se transformaram em rodoviárias de luxo para a faminta classe média brasileira. Isso significa que houve um aumento da demanda sem o necessário crescimento do investimento em infra-estrutura.
Agora, quem é o responsável pelo investimento em infra-estrutura nos aeroportos? o Estado brasileiro ou o setor privado? É claro que agora, após o acidente, vai ficar aquele jogo de empurra-empurra, mas, o maior responsável pelos problemas no setor é do Estado que deveria investir em infra-estrutura também em progressão geométrica para dinamizar o setor e acabar com os seus problemas.

Amor aos cinquenta I


Chegou em casa e foi logo tirando o palitó. Colocou-o sobre a cadeira e ligou a televisão. As notícias não eram boas. Resolveu desligá-la. Pensou em Cremilda, passou a mão no celular para verificar as mensagens. Havia dez não lidas, entre elas a de Cremilda.
_ Não posso lhe ver hoje. Ligo amanhã para a gente conversar, beijos de seu amor.
Achou estranho já com os cinquenta no lombo ser chamado de amor por alguém bem mais novo mas, não conteve o sorriso sarcástico e o comentário jocoso:
_ Ainda dou no coro prá caramba! Pode crer.
Caminhou até o espelho e ficou se olhando. Percebeu as rugas na face e os dentes já amarelados. Chegou mais perto do espelho. Abriu a boca e esticou a pele do rosto. Fez caretas e chegou a conclusão que já havia chegado a hora de procurar um cirurgião plástico. Achou necessário fazer plástica no rosto para acabar com as rugas e também a necessidade de tornar os dentes mais brancos. Afinal de contas, tinha a pretensão de não ser chamado mais de tiozão pelas moças da cidade. O carro já não era mais problema, havia resolvido isso a alguns meses atrás quando fez o financiamento do honda metálico. A sua única obsessão era excluir as vaginas de aluguel de sua vida, frequentar o ambiente social da cidade com meninas mais novas e adquirir a fama de comedor. Para isso, era necessário dar uma garibada no visual e melhorar a qualidade da roupa.
Foi até o quarto, caminhou até o guarda-roupa, abriu a porta e ficou olhando as camisas no cabide. Passou a mão sobre várias, mas continuou em dúvida sobre qual peça a ser usada àquela hora da noite.A única coisa que possuía em mente era que durante o dia tinha que usar roupas claras e à noite as escuras. Era a regra de etiqueta mais comentada por ele, inclusive em conversas com amigos nas mesas dos botequins. Jogou várias camisas sobre a cama e pensou na melhor combinação possível. Criou-se a dúvida sobre duas peças, a camisa vermelha ou a preta. Levou ambas frente ao espelho e decidiu pela preta.
Trocou de roupa, passou perfume, escovou os dentes e se prostrou frente ao espelho antes de sair. Percebeu que a camisa estava um pouco amassada. Tirou a camisa, ligou o ferro e cuidou para que este não esquentasse muito, justamente para não queimá-la. O celular da sinal de mensagem:
_ Você pode me ver hoje. Estou morrendo de saudades! Mônica.
Colocou a camisa e foi ao espelho. Se olhou de frente, de perfil, verificou se a chave do carro estava no bolso e saiu falando ao celular.
_ Tudo bem, eu saiu com você hoje, Mônica. E o preço é o mesmo? Perguntou preocupado.
_ Se quiser pelos fundos pode aumentar cinquenta, mas, garanto que vou lhe deixar bem louquinho. Vai ser a melhor foda de sua vida.
_ Combinado. Eu passo no lugar de sempre para te pegar daqui a uns dez minutos.
Chegou ao local combinado, abriu a porta do carro e Mônica foi logo dizendo.
_ Estou louca para lhe dar o rabinho, sabia. Colocando a mão sobre o câmbio.
_ Mas, você nem me disse oi! Respondeu
_ Nem preciso, não sou o seu amor. Respondeu Mônica.
_ Mas não vale nem um diálogo? Perguntou.
_ Eu não quero saber dos seus problemas. Eu só quero senti-lo, só isso. Entendeu?
Parou o caro embaixo de uma árvore próximo a avenida central. Ligou o som e estabeleceu-se o silêncio entre ambos.
_ Você não vai querer me comer aqui, não é mesmo? Perguntou Mônica.
_ E vou logo lhe avisando, eu não sou psicóloga, nem terapeuta. Eu só dou prazer.


Wednesday 18 July 2007

Sobre o racismo


Quando analisamos a questão do racismo, não podemos perder de vista as relações econômicas geradas e organizadas através do mercantilismo. Faz-se necessário sobretudo distinguir o significado de mercantilismo e de capitalismo. O mercantilismo na visão de Ianni, fomentou o desenvolvimento social das colônias, baseado no trabalho escravo que alimentava os movimentos do capital comercial da Europa.
No entanto, foi o capital comercial que distribuía as cartas e que comandava a generalização do trabalho compulsório no Novo Mundo. Segundo a visão marxista, existem dois argumentos que apresentaram as condições de desenvolvimento da cultura escrava no Novo Mundo. Em primeiro lugar, a disponibilidade de terras baratas ou devolutas , que permitiria que o assalariado, em pouco tempo abandonasse a plantation e fosse produzir para a sua própria sobrevivência, através da produção de subsistência. Em segundo lugar, as metrópoles não dispunham de reservas de mão-de-obra, para encaminhar às colônias e dinamizar a produção de fumo, ouro e prata.
Por conseguinte, a administração européia organizou a exploração com três finalidades básicas. A primeira era de evitar e combater a penetração dos interesses de outras metrópoles. Em segundo lugar, controlar a circulação do trabalhador escravo, para garantir a produção colonial e assegurar a vigência do sistema político-social ou seja, o trabalho escravo. Em terceiro lugar, garantir a continuidade e a regularidade da exportação do excedente econômico produzido na colônia.

ASPECTOS SOCIAIS DA ESCRAVIDÃO

De acordo com Ianni “uma formação social escravista era uma sociedade organizada com base no trabalho escravo (do negro, do índio, mestiço etc.) na qual o escravo e o senhor pertenciam a duas castas distintas”[1].
Através dessas formações sociais as sociedades dos países do Novo Mundo estavam organizadas de maneira a produzir e reproduzir, ou criar e recriar, o escravo e o senhor das terras, a mais-valia, a cultura da casa-grande, a cultura do escravo e as propostas de controle dessa organização. Através do processo de controle, surge as repressões e as torturas.
Uma outra característica do processo de formação social da escravidão, diz respeito à alienação do trabalhador escravo. A subordinação física e moral ao senhor branco. Como afirma Ianni “nessas condições, as estruturas de dominação eram, ao mesmo tempo e necessariamente, altamente repressivas e unilaterais, estando presentes em todas as esferas práticas e ideológicas da vida do escravo ( negro, mulato, índio e mestiço)”[2].
Em última análise, as formações sociais baseadas no trabalho escravo e com características compulsórias e que foram desenvolvidas no interior do Novo Mundo, nasceram e desenvolveram-se sobre a perspectiva do mercantilismo. O mercantilismo organizou e desenvolveu as formações sociais através da plantation, do engenho, da fazenda e das encomiendas pensando única e exclusivamente sobre a ótica da acumulação primitiva. As sociedades do Novo Mundo, estão atreladas à economia mundial, em primeiro lugar sobre o prisma do mercantilismo e posteriormente sobre o viés do capitalismo.

[1] Ianni, Octavio. Escravidão e racismo. 2 ed. São Paulo: Hucitec, 1988. Pág. 27.
[2] Ianni, Octávio. Escravisão e racismo. Op. Cit. pág. 28.

Política: uma breve introdução


Em Política – uma brevíssima introdução, o autor inicia explicitando que a história encontra suas raízes no despotismo político, na impiedade dos monarcas, ao contrário da proposição marxista de que a história se baseia na luta de classes. De qualquer forma, não se estabelecerá juízo quanto à razão de um sobre o outro, trata-se somente de uma comparação entre diferentes olhares transmitidos à história.
Nesse contexto, nem só de reis e monarcas viveu a história, mas também de sátrapas, de plebe e principalmente de “amigos do rei”. Nesse sentido, delimitar a história como construção dos monarcas é em certo sentido, menosprezar a luta da plebe por melhores condições de existência e demonstrar equívoco com a própria construção da sociedade existente.
Não obstante, a definição de despotismo utilizada pelo autor, nos remete a uma fonte inesgotável de interpretações. De acordo com a visão do autor, “despotismo é uma categoria onde cabe toda sorte de trastes, com uma ampla variedade”[1]. Dessa forma, percebe-se nas palavras utilizadas pelo autor a ausência de um conteúdo substancial ao termo. Nesse sentido, a definição proposta por Noberto Bobbio, nos remete a uma delimitação do conceito apresentando ampliações significativas para uma dissertação sobre o tema. Segundo Bobbio, o “despotismo indica uma forma de Governo diferente das outras com que no discurso polemicamente genérico se confunde. Despotismo, ditadura, autocracia têm de comum serem formas de governo em que o detentor do poder o exerce sem limites de leis naturais, consuetudinárias, impostas por órgãos ad hoc., isto é detém um poder absoluto, ou legibus solutus, e arbitrário, ou exclusivamente dependente da própria vontade”.[2]
De certa forma, mesmo que se considere o despotismo como uma forma de governo que se caracteriza e se baseia na vontade de um monarca, ele não se aplica sobre o nada, sobre o vazio. Por conseguinte, há de se considerar a existência de Instituições do Estado, como por exemplo a Igreja que luta peremptoriamente pela hegemonia do poder de Estado.
A busca pela essência da palavra política remete o autor a uma visão elitista e parcial sobre o tema. Quando o autor afirma que “a política costumava referir-se meramente às ações de monarcas, parlamentos e ministros e às atividades dos engajados politicamente que ajudavam ou bloqueavam seu acesso à autoridade”[3] percebe-se uma inclinação para a visão de política relacionada com o poder, mas que sobretudo afasta a participação da sociedade. Nesse sentido, existem várias formas de poder do homem sobre o homem e a política é somente uma delas. O que se pode argumentar é que as relações de poder não são sentidas somente nos palácios imperiais, mas no cotidiano das pessoas mais humildes.
Não obstante, o autor bebe na fonte das águas gregas para estabelecer comparação entre o passado e o presente da política. Com muita argúcia e perspicácia retrata através da história as principais façanhas do povo grego. Pode-se citar como exemplo, a introdução da democracia a sociabilidade produzida pela natureza, o homem como animal político, a racionalidade nas relações humanas.
Outra fonte de inspiração de Minogue foi a política desenhada pelos romanos. Mesmo não estabelecendo comparação ipsis literis entre as civilizações grega e romana, os aspectos abordados são de relevante importância para o entendimento do assunto. Nesse sentido, aspectos positivos e muito importantes para a compreensão do desenvolvimento da política foram relembrados como a introdução do direito na sociedade, a delimitação de funções, a criação de instituições pelo Estado que de forma veemente foram condição sine qua non para o desenvolvimento da política.
Dentre os aspectos históricos mencionados pelo autor e que ocasionou maior impacto nas relações humanas e que certamente não poderia ficar de fora de uma obra que trata dos avanços e retrocessos da palavra política é o tema da religião, ou mais especificamente a ascensão do cristianismo e a sua interferência nas relações de poder.
Nesse sentido, há de se mencionar a importância das religiões devido à noção de liberdade e de responsabilidade que vão proporcionar à ação histórica que irão reativar. Segundo Chatelet, o “monoteísmo opõe uma concepção do homem como criatura que mantém com seu criador relações pessoais espirituais e uma concepção da comunidade como sendo fundada num projeto ético-político, não numa relação jurídica, mas numa aliança religiosa”[4].
Apresentando aspectos da evolução política, Minogue trata com devida fidedignidade a proposta de Maquiavel, assim como apresenta com objetividade as idiossincrasias da política. É absolutamente perceptível a transformação do Estado na exposição do autor, ou seja, a política se retira dos caprichos pessoais do monarca e é genuinamente substituída pela política como atividade constitutiva da existência coletiva. Dessa forma, percebe-se que há regras que presidem o governo e que tem a mesma natureza das leis que governam o movimento das estações e nada tem a ver com qualquer tipo de dever moral.
A citação que o autor faz de Thomas Hobbes está diretamente relacionada com a construção de um Estado que coíba a guerra de todos contra todos, ou seja, estabelece-se um ser superior entre os homens para que os mesmos não entrem em conflito.
De acordo com o autor “o que nos interessa é o fato de que essas associações (Estado, Sociedade, Economia e a Cultura) criaram o cenário para os dramas do conflito político moderno”[5]. Com essa frase, o autor explica de forma extremamente didática o seu pensamento sobre a sociedade moderna e como ir buscar subsídios para a análise da sociedade contemporânea.
Utilizando pensadores como Hegel, Marx e Hobbes o autor fundamenta com muita propriedade a visão de como o conflito pertence à sua concepção de política. De certa forma, sem conflito não há relação política existente ou que se faça justiça ao termo.
Para explicar as relações de equilíbrio de poder, o autor nos remete a assuntos que fizeram a história, principalmente as relacionadas ao século XX, temas como guerra e poder econômico concentram as fundamentações e argumentações expostas.
No entanto, sobre o tema guerra percebe-se que o autor o relaciona com a demonstração de poder que está fundamentado no argumento sobre o conflito político de Hobbes como sendo “o “estado natural” qualquer situação em que os homens não reconhecessem um superior comum e sua tese era de que um estado natural é sempre um estado de guerra, no qual a vida do homem seria “rude, pobre, solitária, estúpida e curta”[6].
Na proposição sobre o equilíbrio do poder entre os Estados, Minogue expõe a dominação econômica com ligeiro traço de conformismo, isto fica evidente nas palavras que seguem “numa economia moderna, que é um jogo positivo, todo mundo enriquece. Alguns ficam, sem dúvida, muito mais ricos que outros, mas todos passam a desfrutar água mais pura, mais comida, melhor assistência médica e outros benefícios[7]”. Dessa forma, a relação de dependência dos países subdesenvolvidos não foi sequer abordada pelo autor, sendo assim, como tratar o equilíbrio de poder? Tema que de um ponto de vista mais crítico o autor deixou a desejar.
Quando o assunto está relacionado aos partidos políticos, o autor utiliza uma definição pragmática e que está intrinsecamente relacionada com o fato de ganhar eleições. De acordo com Bobbio, “Partido Político é uma associação... que visa a um fim deliberado, seja ele, ‘objetivo’ como a realização de um plano com intuitos materiais ou ideais, seja ‘pessoal’, isto é, destinado a obter benefícios, poder e, conseqüentemente, glória para os chefes e sequazes, ou então voltado para todos esses objetivos conjuntamente”[8]. Não obstante, a definição sistemática sobre os partidos políticos apresenta-se como ponto fundamental devido ao fato do autor abordar temas como ideologia, doutrina, assim como socialismo, liberalismo e conservadorismo.
Sobre muitos aspectos o autor apresenta-se com uma visão demasiadamente determinista, não só do ponto de vista histórico, mas principalmente em relação às coisas da sociedade. Segundo Minogue, “uma sociedade plenamente justa, seja o que for isso, não precisaria de política séria; seria um daqueles projetos de perfeição que chamaremos de ideologias...E é isso o que normalmente significa o termo socialista[9]”. Nesse sentido, a proposição de ideologia utilizada pelo autor está relacionada com o conceito proposto por Napoleão Bonaparte aos ideólogos comandados por Destutt de Tracy, ou seja, uma visão de mundo através de um universo paralelo e idiotizado, que não utiliza os pés no chão para formular propostas de governos, propostas estas que sejam condizentes com os aspectos da realidade mórbida vivida. Ainda que o autor pense na realidade contemporânea a sua visão sobre a ideologia finca raízes em um passado longínquo, distante, necessitando assim, de certa lapidação para a contextualização da realidade.
A democracia para Minogue é residência da justiça e da liberdade. Nesse sentido, apresentando somente estes aspectos sobre a visão de democracia, o autor acaba por inviabilizar um estudo mais detalhado sobre a experiência política, uma vez que pensamentos esparsos e sem nexo dominam a narrativa.
Analisar a justiça, a liberdade e a democracia como ideais dos partidos políticos é analisar uma sociedade “perfeita”. Os partidos políticos possuem como ideal os interesses do cotidiano, ou seja, algo existente, material que proporcione suporte para a manutenção do poder. A democracia só é possível devido ao seu caráter personalista, do caráter unitário das relações humanas, pois, com essas características a exploração do homem pelo homem torna-se renitente e se estabelecem em todos os sentidos. De certa forma, a abordagem proporcionada pelo autor peca por ser tão brevíssima e afastando possíveis pontos de análise fundamentais da questão política.
Por conseguinte, segundo Minogue “A democracia ilustra de forma suprema o modo como os ideais políticos no mundo moderno se expandiram para além da arena do Estado e se tornaram critérios de valor nos outros tipos de associação que constituem a vida moderna”[10]. Apesar da constatação de que a democracia não pertence somente ao Estado, não se deve permitir o erro de analisar através dos discursos ufanistas dos democratas mais fanáticos. A democracia não existe, ela se materializa, ela se fundamenta nas atitudes das pessoas que agem através de sistemas de manipulação, seja através da classe dominante, ou mesmo dos meios de comunicação existentes.
Estudar a política como ciência exata, é dessa forma que Minogue apresenta os seus argumentos no capítulo que disserta sobre a ciência da política. Muitos estudiosos de outras áreas discriminam os estudos sobre a política sem na verdade apresentarem argumentos suficientes para tal. Muito embora, os resultados das pesquisas na política somente apresentarem apontamentos sobre os fatos, eles se direcionam através de métodos de pesquisa, que se constitui na mola mestra da caracterização da ciência.
De acordo com Minogue, a política se apresenta como uma ” idéia de um sistema, isto é, um conjunto de componentes mecânicos com relações fixas entre si, é essencial à concepção científica da política”[11]. Não obstante, não as idéias fixas estabelecidas são inexistentes quando o assunto discutido ou estudado se refere a política. Na política tudo se transforma, se altera rapidamente, assim como as relações humanas.
As causas do que acontece em política podem ser encontradas na economia, nas relações sociais ou mesmo na cultura, então a “política é meramente um conjunto de efeitos”, mas esses efeitos são medidos e avaliados de acordo com o método da ciência. Sendo assim, o autor apresenta certa contradição em subestimar o caráter científico, basta analisar a frase “não haveria nada em política para uma ciência estudar”. Não obstante, se tal proposição apresentasse característica de verdade, logo o processo da metodologia científica e a própria ciência não existiria razão de vida.
Muito embora, o aspecto da ideologia no trabalho de Minogue tenha sido abordado em outro momento no texto. Percebe-se que o autor elabora um sistema de avanço e retrocesso na construção tanto do pensamento exposto, como de certa forma, tenta impor uma lapidação sobre os assuntos tratados. No que se refere ao aspecto da ideologia, Minogue expõe que a “ideologia é comumente marcada pela presença de uma tríplice estrutura teórica. O primeiro estágio revela-nos que o passado é a história da opressão de alguma classe, abstrata de pessoas. Ocupa-se dos trabalhadores como classe, não dos trabalhadores num tempo e lugar dados; ou das mulheres em geral ou dessa ou daquela raça”[12]. (pág. 127)
No entanto, a utilização dessas palavras, demonstra uma Minogue fundamentado nas concepções de mundo com viés marxista. Nesse sentido, durante toda a obra, Minogue apresenta momentos de avanços e retrocessos, não só na construção do seu pensamento, mas fundamentalmente na sua argumentação, podendo as vezes cair na malhas do relativismo abismal ou mesmo apresentando um conceito racional e longínquo sobre um determinado tema.






[1] Minogue, Keneth. Política – uma brevíssima introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. pág. 10
[2] Bobbio, Norberto, Mateucci, Nicola, Pasquino, Gianfranco. Dicionário de Política. Brasília: UNB, 1991. Pág. 340.
[3] Minogue, Keneth. Política – uma brevíssima introdução. Op. Cit. Pág. 16.
[4] Chatelet, François et al. História das idéias políticas. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. Pág. 28.
[5] Minogue, Keneth. Política – uma brevíssima introdução. Op. Cit. Pág. 63.
[6] Minogue, Keneth. Política – uma brevíssima introdução. Op. Cit. Pág. 70.
[7] Minogue, Keneth. Política – uma brevíssima introdução. Op. Cit. Pág. 72
[8] Bobbio, Norberto et al. Dicionario de política. Brasilia: UNB, 1991. Pág. 898.
[9] Minogue, Keneth. Política – uma brevíssima introdução. Op. Cit. Pág. 99.
[10] Minogue, Kenneth. Política – brevíssima introdução. Op. Cit. pág. 108.
[11] Minogue, Kenneth. Política – brevíssima introdução. Op. Cit. pág. 111.
[12] Minogue, keneeth.

Teoria política


O tema central da teoria política para Easton reside em como fazer para os sistemas políticos sobreviverem em um mundo de estabilidade e ao mesmo tempo de mudança.
Para Easton, a vida política é um sistema de comportamento inserido num contexto cujas influências o próprio sistema político está exposto e a que este, por sua vez, reage.
As interações políticas constituem um sistema de comportamento. Para essa afirmaçõa, Easton propõe algumas interpretações:

· Que as interações políticas numa sociedade constituem um sistema de comportamento;
· O sistema de interações políticas não pode ser interpretado como se existisse num vácuo, mas deve ser cercado pelos contextos psicológicos, social, biológico e físico.
· A vida política forma um sistema aberto;

Segundo o autor, é através da análise teórica que poderemos fazer sistemas políticos mais adaptativos às mudanças sem que os mesmos reajam de forma passiva às pressões.
De acordo com Easton, os sistemas políticos possuem reservas de mecanismos que podem mediar com os demais contextos e através desses, regular seu próprio comportamento, transformar a estrutura interna e reformular seus objetivos.

Análise de equilibro e suas deficiências

Segundo Easton, o fator “equilíbrio” é um dos aspectos de maior deficiência na pesquisa política.
De acordo com Easton se houver cuidado na elaboração da linguagem, equilíbrio e estabilidade são termos considerados como tendo a mesma significação.
Duas particularidades do fator equilíbrio:
· Restabelecer o antigo ponto de equilíbrio ou mudar para um novo;
· A formulação de problemas relacionados ao caminho que toma o sistema na busca do retorno ao suposto ponto de equilíbrio antigo, ou a obtenção de um novo ponto.
Para Easton, a adoção da análise de equilíbrio, por mais latente que possa ser, obscurece a presença das finalidades que não possam ser descritas como um estado de equilíbrio. Para qualquer sistema social, inclusive o político, a adaptação representa mais do que simples ajustamento aos acontecimentos da sua vida.

Conceitos mínimos para a análise de sistema

Para Easton, a análise de sistemas deve estabelecer próprios imperativos teóricos. O autor define sistema como um conjunto de variáveis sem levar em conta o grau de inter-relacionamento entre elas.
Um sistema pode ser designado como as interações através das quais os valores são autoritariamente repartidos pela sociedade, é isso o que distingui um sistema político dos demais sistemas do contexto. Esse contexto pode ser dividido em 2 partes:
· Intra societária: consiste nos sistemas da mesma sociedade que o político e que são sistemas políticos em função do que definimos como sendo a natureza das interações políticas. Ex: conjuntos de comportamentos; atitudes e idéias, a cultura, a estrutura social e as personalidades, são somente funcionais da sociedade da qual o sistema político e também em componente.
· Extra societária: inclui todos aqueles que estão fora da sociedade em si. São componentes funcionais de uma sociedade internacional, um supra-sistema de que é parte qualquer sociedade.

Variáveis de ligação em sistemas

A transação entre os sistemas ou troca será considerada através da relação de “inputs” e “outputs”.

Demandas e apoio como indicadores de “inputs”

Através dos “inputs” é possível captar o efeito da ampla variedade de acontecimentos e condições do contexto, à medida que digam respeito à persistência de um sistema político.
Os “inputs” servirão de variáveis-resumo, concentrando e espelhando tudo o que é relevante no contexto em função da tensão política.
É através das flutuações nos inputs das demandas e apoio que encontraremos os efeitos dos sistemas do contexto transmitidos aos sistema político.

“Outputs” e “Feedback”

Outputs são decisões e ações das autoridades. Os “outputs” não apenas ajudam a influenciar os acontecimentos na sociedade mais ampla, da qual o sistema é uma parte, como também, ao fazer isso, auxiliam a determinar cada grupo de inputs que se sucedem em direção ao sistema político,
Sem o feedback da informação sobre o que está acontecendo no sistema, as autoridades teriam que atuar às cegas.


Easton, David (org). Categorias para a análise em política. IN: Modalidades de análise política. Rio de Janeiro: Zahar, 1970. Pág. 185 – 199.

Dialética


A grande contribuição de Marx para as ciências humanas foi a elaboração do Método dialético. O Método Dialético não é um método apenas para se chegar à verdade, é uma concepção do ser humano, da sociedade e da relação ser humano-mundo. Baseado em Hegel, Marx sustenta a tese de que o movimento se dá pela oposição dos contrários – pela contradição.
Na dialética materialista expressão em O Capital, Marx afirma que não existem fato em si, é o próprio ser humano que figura como ser produzindo-se a si mesmo. Pela sua própria atividade, pelo modo de produção da vida material. A condição para que o Ser Humano se torne Ser Humano é o trabalho, a construção da sua história. A mediação entre ele e o mundo é a atividade material.
Nesse sentido, Marx não nega o valor e a necessidade da subjetividade no conhecimento. O mundo é sempre uma “visão” do mundo para o Ser Humano, o mundo refletido. A dialética não é um movimento espiritual que se opera no interior do entendimento humano. Existe uma determinação recíproca entre as idéias da mente e as condições reais de sua existência, o essencial é que a análise dialética compreenda a maneira pela qual se relacionam, encadeiam-se e determinam-se reciprocamente, as condições de existência social e as distintas modalidades de consciência.
A dialética considera cada objeto com suas características próprias, o seu devir, as suas contradições. Não existem regras universais fixas. O método dialético busca captar a ligação, a unidade, o movimento em que engendra os contraditórios, que os opõe, que faz com que se choquem, que os quebra ou os supera.
O método dialético não considera a matéria e o pensamento como princípios isolados, mas com aspectos de uma mesma natureza que é indivisível, duas formas diferentes: uma material e outra ideal; a vida social, uma e indivisível se exprime em duas formas diferentes: uma material e outra ideal. O materialismo dialético considera a forma das idéias tão concretas quanto a forma da natureza. O método dialético tem duplo objetivo:
como dialético, estuda as leis mais gerais do universo, leis comuns de todos os aspectos da realidade, desde a natureza física até o pensamento, passando pela natureza viva e pela sociedade.
Como materialismo, é uma concepção científica que pressupõe que o mundo é uma realidade material (natureza e sociedade), onde o Ser Humano está sempre presente e pode conhecê-la e transformá-la.
A dialética marxista não separa teoria (conhecimento) e prática (ação). A questão de saber se cabe ao pensamento humano uma verdade objetiva não é uma questão teórica, mas prática. É na praxis que o Ser Humano deve demonstrar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensamento. A Dialética é a unidade dos contrários.
Engels em A dialética da natureza – formulou três leis gerais da dialética a saber:
Lei da conversão da quantidade em qualidade: significa que na natureza, as variações qualitativas podem ser obtidas somente acrescentando-se tirando-se da matéria ou movimento por meio de variações quantitativas;
Lei da interpenetração dos opostos, esta é a lei da unidade e da luta dos contrários, que garante a unidade e a continuidade da mudança incessante na natureza e nos fenômenos;
Lei da negação da negação que garante que cada síntese é a tese de uma nova antítese, reproduzindo indefinidamente o processo.
Esses são alguns princípios gerais ou características da Dialética:
Tudo se relaciona (Princípio da totalidade) – a natureza se apresenta como um todo coerente, onde objetos e fenômenos são ligados entre si, condicionando-se reciprocamente.
“A compreensão dialética se encontra em relação de intensa interação e conexão entre si e como o todo, mas também que o todo não pode ser petrificado na abstração situada por cima das partes, visto que o todos se cria a si mesmo, na interação das partes.”[1]

Tudo se transforma (princípio do movimento) devir. A afirmação engendra a sua negação, porém a negação não prevalece como tal: tanto a afirmação como a negação são superadas e o que prevalece é uma síntese, é a negação da negação. O calor só pode ser entendido em função do frio.
Mudança qualitativa – dá-se pelo acúmulo de elementos quantitativos que num dado momento produzem o qualitativamente novo.
Unidade e luta dos contrários (Princípio da contradição) – A transformação das coisas só é possível porque, no seu próprio interior coexistem forças opostas tendendo simultaneamente à unidade e à oposição.
1 – Contradição é a essência, a lei fundamental da dialética.
2 – Os elementos contraditórios coexistem numa realidade estruturada, um não podendo existir sem o outro.
3 – A existência dos contrários não é um absurdo lógico, ela se funda no real.
REGRAS PRÁTICAS DA DIALÉTICA:
Dirigir-se à própria coisa – análise objetiva;
Apreender o conjunto das conexões internas da coisa, de seus aspectos; o desenvolvimento e o movimento (devir) da coisa.
Apreender os aspectos e movimentos contraditórios, a coisa como totalidade e unidade dos contrários.
Analisar a luta, o conflito interno das contradições, o movimento, a tendência (o que tende a ser e o que tende a cair no nada).
Não esquecer: tudo está ligado a tudo; - uma interação insignificante, negligenciável num momento pode tornar-se essencial e importante em outro.
Não esquecer também de captar as transições dos aspectos e contradições; passagens de uns nos outros, transições no devir.
Não esquecer ainda que o processo de aprofundamento do conhecimento que vai do fenômeno à essência e da essência menos profunda à mais profunda é infinito. Jamais estar satisfeito com o obtido.
Penetrar mais fundo do que a simples coexistência observada. Penetrar sempre mais profundamente na riqueza do conteúdo, apreendendo conexões e movimento.
Em certas fases do próprio pensamento, este deverá transformar-se, superar-se: modificar ou rejeitar sua forma, remanejar seu conteúdo – retomar seus momentos superados, revê-los, repeli-los, mas apenas aparentemente, com o objetivo de aprofundá-los mediante um passo atrás rumo às suas etapas anteriores e, por vezes, até mesmo rumo ao seu ponto de partida.
Segundo Chauí:
“O marxismo permitiu compreender que os fatos humanos são instituições sociais e históricas produzidas não pelo espírito e pela vontade livre dos indivíduos, mas pelas condições objetivas nas quais a ação e o pensamento humanos devem realizar-se.”[2]


[1] Kosik, Karel. Dialética do concreto. 2 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1976. Pág. 42
[2] Chaui, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994. Pág. 275

Representação política II


A proposta do livro reside no levantamento das contribuições da sociologia política para o estudo da representação.
Para o autor, somente o enfoque formal com abordagens multidisciplinares pode delinear com mais clareza a representação política.
O autor analisa a representação política no seu aspecto jurídico e no aspecto social.
Campilongo esclarece que há uma linha divisória entre a política e o direito, quando o assunto é representação política.
Segundo o autor, é necessário fazer um estudo funcional e estrutural da representação política. Nesse sentido, não há univocidade entre as estruturas normativas e as funções sociais da representação política.
Campilongo cita Norberto Bobbio, e expõe que a falta de correspondência entre estrutura e função, pode ser interpretada como reflexo de dois aspectos distintos do conceito de representação: o formal e o substantivo. Segundo o autor a investigação formal da representação política se preocupa com os estudos das instituições e as normas que proporcionam operacionalidade à representação: a estrutura representativa. Por outro lado, o pesquisador da substância da representação voltará seus estudos para a “essência interna” , a finalidade e as instituições do ato de representar: a função da representação.
A relação de representação de Miller e Stoker consiste na congruência ou seja, a identidade entre legisladores e eleitores.
A relação de representação não exaure no processo eleitoral.
A representação política envolve um complexo e um diferenciado jogo de influências onde estão inseridos partidos políticos, grupos de pressão, a burocracia estatal e forças sociais que sequer são representadas no legislativo ou no executivo.
Existem duas correntes a respeito da representação:
· Relação interindividual entre representantes e representado;
· Relação integrupal: representa a comunidade.
O autor aborda que o direito constitucional é insuficiente para explicar as realidades políticas, pois se baseia no aspecto formal da sociedade.
Na sociologia política a relação de representação desenvolve dentro do esquema: “demandas” ou exigências inerentes aos cidadãos e introduzidas no sistema político (input of demand); processadas, recebem uma resposta (output) do sistema representativo. Nesse sentido, o sistema representativo é explicado pela constante adequação entre (inputs) e (outputs).
· Input
· Output (Identificação entre a vontade dos eleitores e as atitudes dos representantes)
Para provocar o input de demanda é necessário:
· Partidos Políticos;
· Comportamento dos representantes conforme programa partidário;
· Que os eleitores sejam capazes de associar os candidatos aos programas e seus comportamentos legislativos anteriores;
As demandas políticas são formuladas por um pequeno número de agentes e há que se registrar que esse realismo está circunscrito ao contexto das sociedades que concentram o capital nas mãos da minoria, pela desigualdade de oportunidades sociais e políticas e pela redução do cidadão ao papel de simples consumidor dos produtos políticos.
Input de suporte: o acesso ao processo decisório é predeterminado por uma cadeia de reações advindas do ambiente que circunda os sistemas políticos.
O contexto que envolve o sistema político é composto, de um lado, pela economia, cultura, estrutura social e personalidades de uma sociedade, e , de outro, pelo sistema internacional.
A ciência política se concentra nos resultados das votações do Legislativo e do processo eleitoral ou nos fatores determinantes desses resultados. A dogmática jurídica preocupa-se com os inputs do sistema jurídico – estrutura normativas, procedimentos judiciais e regras de adjudicação.
Dentre as diversas definições de representação política, concluía-se que o governo representativo é aquele responsivo, ou seja, sensível aos desejos populares.
Eulau e Karps enumeram quatro componentes de responsividade:
· Policy responsiveness – Preocupa-se com as preferências dos eleitores e a atuação política dos eleitos, concentra-se na formação das política públicas;
· Service responsiveness – Trata dos serviços não legislativos prestados pelo representante á sua clientela;
· Allocation responsiveness – Alocar verbas para beneficiar redutos eleitorais;
· Simbolic responsiveness – relações psicológicas entre o apoio conferido aos representantes e as respostas alegóricas fornecidas aos representados.

Funções da Representação Política

· Manutenção da estabilidade;
· Satisfação da demandas sociais específicaas;
· Adimplemento de necessidade latentes;
As funções buscam equilíbrio, harmonia e consenso
O autor cita Apter, para esse autor a representação pode ser de três tipos:
· Popular: assentada nos direitos da cidadania;
· De interesse: fundamentadas em grupos ocupacionais;
· Funcional: Baseada em categorias profissionais.
A politização da esfera econômica e a mercantilização da esfera política acabam por produzir – na arena privilegiada das contendas sociais: o Estado uma crescente dificuldade para respostas ás reinvindicações apresentadas pela sociedade.


Campilongo, Celso Fernandes. Representação política. São Paulo: Ática, 1998.

Tuesday 17 July 2007

Ode à Oravia Pierini


A hora do encontro é também despedida. Na plataforma da estação da vida é a vida daquele meu lugar. Vida construída através de confronto e carinho. Vida de alegria e de tristeza. Vida que não se concentra mais em abraços e sorrisos, mas apenas em lembranças. A mão que afagou, hoje não encontra mais os corpos próximos e amigos. Que saudade!!!
O colo que aqueceu as manhãs dormentes já não existe mais. A vida de Orávia já não existe mais. Noites infindáveis nos sofás da vida a espera de um filho não existem mais. A preocupação com um determinado futuro já não existe mais. O futuro já não existe mais. O que impera é um presente sórdido permeado pela ausência de mamãe. Ausência essa que está calcada no silêncio de sua voz, no bater do seu coração e do afago de suas mãos. Voz que muitas vezes agiu com cumplicidade e muitas outras como advertência sobre um determinado rumo. Coração que bateu acelerado a cada gosto realizado, mas que desgostoso batia a cada gesto ingrato. Mãos que acariciavam um rosto dormente nas manhãs da infância, mas que se rebelavam a cada gesto da adolescência rebelde.
Tornou-se apenas uma lembrança o sorriso da chegada, assim como a recompensa gostosa e doce que saboreava nossos dias de presença. A alegria compartilhada com os cães que ladravam e abanavam a chegada anunciada será eterna e ficará viva na lembrança. A tristeza da partida tornava-se reluzente nas lágrimas, mas na esperança de que um novo dia iria chegar, um dia que seria marcado pela partilha de um futuro no mesmo lugar.
Mamãe que não repartiu João apenas pelas consequências da vida, mas que dividiu seu coração em sete. Sete latifúndios de carinho e atenção, semeados pelos sentimentos mais sublimes.

Grupos de pressão


Muito se discute na literatura política a respeito de grupos de interesses. As discussões mais freqüentes sobre o tema está relacionado com a posição do Estado. O Estado serve para estabelecer parâmetros sobre a coisa pública ou sobre a coisa privada. Até que ponto ambos, o público e o privado se fundem.
Distinções são estabelecidas entre grupos de interesses, grupos de pressão e lobbying. No entanto, para um leitor leigo no assunto, todas as definições relacionadas fazem parte do mesmo fenômeno, ou seja, o uso de quaisquer dos termos não faz diferença, uma vez que possuem características semelhantes. Os termos grupos de interesses e grupos de pressão apresentam semelhanças entre si. Muito embora as denominações possam variar, os conceitos apresentam semelhanças, o que proporciona o entendimento de que o problema se caracteriza apenas como semântico. O conceito relacionado ao lobbying se distingue dos outros dois por se tratar de um processo utilizado para a obtenção dos resultados desejados.
Grupo de interesse, segundo BOBBIO (1985, p. 563), "é qualquer grupo que, à base de um ou vários comportamentos de participação leva adiante certas reivindicações em relação a outros grupos sociais, como fim de instaurar, manter ou ampliar formas de comportamento que são inerentes às atitudes condivididas". Grupos de pressão, para TOLEDO (1985, p. 3), "constituem-se em organizações ou entidades que procuram influenciar no processo de decisão de órgãos estatais, visando ao atendimento de seus objetivos específicos". Lobbying, no trabalho de BOBBIO (1985, p.564), "é o processo por meio do qual os representantes de grupos de interesses, agindo como intermediários, levam ao conhecimento dos legisladores ou dos decision-makers os desejos de seus grupos".
Muito embora a literatura seja vasta sobre o tema, os conceitos expostos no trabalho possuem o intuito de fundamentar metodologicamente o trabalho. Quanto ao termo escolhido para o desenvolvimento do assunto, faz-se necessário salientar que se trata apenas de uma questão semantica, mas que leva em consideração os mecanismos utilizados para a conquista de objetivos. Isso quer dizer que poderia ser utilizado o termo grupo de interesse para a consecução dos trabalhos. O termo grupo de pressão se caracteriza como um processo mais enfático de atuação, possuindo um perfil mais adequado para os objetivos do presente trabalho. Os vocábulos, interesse e pressão se caracterizam como antagônicos, ou seja, o termo interesse é mais sublime, sutil, enquanto pressão se caracteriza como uma palavra forte e que esboça uma determinada reação ou não por parte de quem sofre o intento.
No entanto, para o referido trabalho será utilizado a expressão grupo de pressão. A expressão grupo de pressão será utilizada pois acredita-se que a mesma apresenta um conceito mais relacionado com os assuntos estatais. A utilização do termo grupo de pressão esta baseada no conceito de Toledo, ou seja, o autor relaciona o grupo de pressão com os assuntos inerentes ao Estado.
O que encontra se em evidência no referido trabalho é o poder do Estado e os grupos que de alguma forma tentam influenciá-lo quanto às tomadas de decisão.
Por conseguinte, cabe aqui distinguir dois tipos de grupos de pressão: os que agem com finalidades econômicas, ou seja, aqueles que trabalham para conseguir recursos provenientes do Estado e que têm uma previsão de curto prazo para a realização dos seus interesses, e os grupos de pressão, que agem com finalidades políticas, ou seja, atuam junto ao Estado para conquistar os seus interesses com uma visão de longo prazo e de uma forma mais permanente, atuando na elaboração de determinadas políticas, ou muitas vezes aplicando-as. Contudo, precisa ser esclarecido que a atuação junto à formulação de políticas não dispensa o usufruto econômico das questões do Estado, a mesma serve apenas de um porto seguro para as pretensões de determinados grupos quanto às questões de perspectivas de futuro, enquanto os grupos de pressão com características econômicas atuam de uma forma imediata explorando apenas os processos de licitação do Estado. A questão econômica para os grupos de pressão com características políticas torna-se uma relação posterior ao êxito político, cuja previsibilidade de investimento e perspectiva já estarão de certa forma garantidas.
Parte-se da prerrogativa de que existem grupos de pressão que se formam de maneira exógena ao Estado e que sobretudo tentam influenciar as tomadas de decisão, no sentido de beneficiar-se de alguma forma, seja no âmbito econômico ou mesmo no âmbito político. Parte se da prerrogativa de que existem núcleos de poder exógenos ao Estado. O Estado não se caracteriza como única fonte de poder. Os vários segmentos do mercado possuem cada um com suas próprias características seus próprios núcleos de poder e lutam sobretudo não somente para a manutenção de seus interesses, mas sobretudo pela ampliação dos seus objetivos.
Os grupos que se apresentam como endógenos ao Estado, possuem uma característica distinta. Esses grupos atuam através dos aspectos legais do Estado, ou seja, atuam sobre o consentimento do próprio Estado. Por consentimento de Estado, tem-se que inúmeros cargos políticos são da ordem de indicação do Poder Executivo. Um determinado ministro ou secretário de Estado pode ser ligado a um determinado grupo de pressão e ser nomeado pelo Poder Executivo.
Os grupos de pressão não agem somente através dos partidos políticos, não que houvesse ou haja uma receita para a atuação de um determinado grupo de pressão, cada grupo delineia a sua própria forma de atuar, seja junto ao Executivo de forma direta, ou mesmo sobre o Poder Legislativo ou sobre o Poder Judiciário.
O principal questionamento dos grupos de pressão é sobre o local da tomada de decisão. A partir da localização do núcleo de poder, elabora-se um plano de ação que será alvo das pressões para a conquista de um determinado intento.
O grupo de pressão pode atuar de várias formas quanto à abordagem do objetivo a ser alcançado. Pode lutar para a inclusão de seus membros na Assembléia Legislativa e através deles apresentar propostas que lhe beneficiem de forma direta, ou mesmo financiando campanhas de deputados ou vereadores que compartilham o mesmo ideal. Os grupos de pressão podem atuar junto às várias comissões de orçamento das Câmaras Legislativas que pode ser tanto do âmbito municipal, estadual ou mesmo federal, que possuem a missão de avaliar não somente os assuntos econômicos, mas sobretudo os aspectos de regulamentação de um determinado assunto específico utilizando a prática do lobbying onde se discute de forma direta o assunto desejado, ou mesmo na abordagem direta dos membros do Poder Executivo, utilizando as Secretarias de Estado para levar os seus intentos adiante.
Os grupos de pressão agem sobre um determinado alvo (instituição pública), que pode ser o Poder Executivo, o Poder Legislativo ou o Poder Judiciário, para atingir determinados objetivos. Com a redução dos poderes do Poder Legislativo a influência dos grupos de pressão recaíram sobre o Poder Executivo, de acordo com CLEVE (2000 p. 101): "...com a redução da capacidade do Congresso em legislar sobre matéria econômica e financeira, as entidades privadas deslocaram o lobby do Legislativo para o Executivo, onde é mais, muito mais fácil influenciar um técnico que vai emitir um parecer do que influenciar quatrocentos e vinte deputados e sessenta e sete senadores".
Os grupos de pressão agem sobre o Poder Executivo por ele possuir prerrogativa muito forte de poder de influência. DAHL (1983, p. 26), define "Influência é uma relação entre atores tal que os desejos, preferências ou intenções de um ou mais atores afetem a conduta, ou a disposição de agir, de um ou mais atores distintos". O que se caracteriza como influência para Dahl, se apresenta para Bachrach e Baratz como poder. Poder para ambos se apresenta como um aspecto relacional dependendo do caso específico a ser estudado. "Se A tem poder sobre B simplesmente porque B, ansioso por evitar sanções se submete a uma determinada política A" BACHRACH e BARATZ (1983 p. 47).
Apesar do conceito de poder ser importante para o desenvolvimento de nossas reflexões é sobre a questão da influência que recai a maior preocupação. Como Dahl "equaciona poder com influência coercitiva, "ligando-a" especificamente ao estado" WOOTON (1969 p. 134), o conceito de influência se desenha da seguinte forma, uma "relação entre atores em que um ator induz outros atores a agirem de algum modo que, em outras circunstâncias, não agiriam" WOOTON (1969 p. 135).
Segundo WOOTON (1969 p. 139), são quatro as medidas possíveis de influência dos grupos de pressão:
I – Quantos alvos esse grupo de pressão pode influenciar?
II – Até que ponto o alvo específico teve de mudar de posição sob o impulso do grupo de pressão?
III – O que a mudança em II custou ao alvo em termos de compromisso normativo?
IV – Em quantos campos de ação (ou, em que extensão total) pode um grupo de pressão agir?
Os grupos de pressão se dividem em "duas grandes categorias: os permanentes e os temporários" WOOTON (1969 p. 135) . Devido a instabilidade do comportamento dos diferentes grupos existentes torna-se difícil uma classificação exata dos mesmos, onde atitudes e interesses podem sofrer modificações constantes mas os grupos permanentes possuem mais condições de aplicar sanções, pois atuam de forma perene sobre as ações das instituições públicas, portanto, lutam para a implantação de votação de determinados projetos de lei e se caracterizam como grupos de pressão político, enquanto que os grupos de pressão temporário agem mais no sentido de conseguir uma vaga num processo de licitação específico se caracterizando como grupos de pressão econômico. Vale ressaltar que tal classificação pode se alterar devido ao processo dinâmico que permeia tal relação.
Wooton chega a seguinte classificação dos grupos de pressão :
Grupo de pressão econômico: fábrica, usinas, minas, escritórios, fazendas, ou as entidades jurídicas (firmas comerciais, sociedades anônimas);
Grupos de pressão integrados: instituições jurídicas;
Grupo de pressão cultural (sentido amplo): famílias, igrejas, escolas.
A classificação proposta pelo autor assim como exposto anteriormente não se caracteriza como algo fechado e absoluto. No que diz respeito aos grupos de pressão econômico, os mesmos podem possuir interesses fugazes, ou seja, estarem interessados em um determinado processo de licitação específico ou mesmo na implantação e votação de um determinado projeto de lei específico e agir como um grupo de pressão político. O que precisa ser salientado é que, seja qual for a característica do grupo de pressão, o mesmo irá atuar tendo como alvo uma determinada instituição pública para a obtenção dos seus objetivos.











Sociedade hodierna: política e poder em questão


A queda do muro de Berlim representou um marco na história da humanidade. Muito mais do que um ato simbólico, a queda representou o fracasso de um processo civilizatório. As certezas de um mundo permeado pela intervenção maciça do Estado, tanto sobre as questões políticas, quanto nos assuntos relacionados à economia foram colocada em posição de xeque-mate. A queda do muro proporcionou uma visão de que o Estado devia servir apenas como um mediador dos problemas da sociedade, assumindo um papel de gerente e não de agente de transformação social. Mesmo o mundo possuindo alguns países que ainda adotam uma política com características socialistas, o que prevalece é a política adotada pelos países capitalistas através da hegemonia não somente do sistema democrático, mas sobretudo das economias de mercado.
A revolução ocasionada pelo fim do socialismo no início dos anos 1990 apresentou a fragilidade do Estado-nação e colocou em dúvida a soberania dos países. Muito embora o exemplo americano, apresentado na II Guerra do Golfo reforce a retomada do poderio do Estado, não quer dizer que o exemplo sirva para todos os países do mundo. Os EUA se caracterizam como um país que exerce a liderança sobre as coisas do mundo, ou seja, exercem um papel de liderança política e econômica e a guerra serve não somente para a manutenção do seu poderio, mas sobretudo para a ampliação do processo de liderança mundial.
O desenvolvimento fulminante das tecnologias, a internacionalização da produção e a globalização das transações financeiras, foram determinantes para o enfraquecimento do papel do Estado e sobretudo pela ampliação dos poderes dos países economicamente mais ricos sobre os países mais pobres.
O desenvolvimento da tecnologia foi o instrumento utilizado pelos países hegemônicos para a ampliação dos poderes. Por países hegemônicos, entende-se os EUA, Japão, França, Alemanha, Canadá, Inglaterra e Itália. Através dos investimentos em tecnologias foi possível adotar a política assumida pelo mercado que previa o desmantelamento do Estado para a implementação de seus interesses.
A internacionalização da produção e a globalização das transações financeiras estão atrelados ao desenvolvimento da tecnologia. O desenvolvimento da tecnologia, permite a relação entre os países de forma direta, não respeitando fronteiras e sobretudo às questões relacionadas a enorme burocracia estatal. Por desenvolvimento da tecnologia, entende-se a implementação da Rede Mundial de Computadores (Internet), que permite a existência do que Manuel Castells denomina de "Sociedade em Rede".
As transformações ocasionadas pela marcha da globalização solaparam a proteção que o Estado proporcionava à economia. Como conseqüência do processo de evolução do sistema capitalista, os Estados ficaram vulneráveis e suscetíveis aos desígnios da política econômica internacional. Faz-se necessário esclarecer que determinados países são mais suscetíveis à política de mercado. Os países economicamente mais frágeis são subservientes pois não possuem instrumentos de lutas contra a política de mercado. Os países hegemônicos possuem instrumentos para exercer a liderança e concomitantemente ficarem excluídos das leis do mercado. Como exemplo, pode-se citar a política protecionista que os EUA apresenta para o mundo como salva guarda dos próprios interesses.
O mundo proporcionado pelo advento da globalização apresenta modelos contínuos de transformação, conceitos sofrem mutações profundas e envelhecem com muita rapidez, o mundo move-se com extrema agilidade, essas são características da sociedade global.
A ampliação do processo de globalização permitiu que se intensificasse a relação entre os países, proporcionando a existência de blocos econômicos. O Bloco da União Européia é um grande exemplo de como a globalização interferiu sobre todos as frentes dos Estados-nação. A unificação monetária, a quebra das fronteiras, a elaboração das constituições, são alguns dos itens que estão em pauta quando o assunto está relacionado à globalização e a formação dos blocos econômicos.
A debilitação dos Estados-nação e consequentemente da soberania provocaram uma certa hegemonia das empresas multinacionais e das organizações multilaterais. As empresas com características mundiais apresentam aos governos uma série de questionamentos que fazem estes se adequarem e se curvarem diante das suas propostas.
De acordo com IANNI (1992 p. 42) "...em uma época de preocupações acerca de comércio e competitividade, quais são os bons elementos e quais são os maus elementos? Faz alguma diferença qual a nacionalidade da empresa, se ela cria emprego? Que nação controla a tecnologia desenvolvida por empresas mundiais? Que obrigações elas têm para aderir às regras estabelecidas por Washington, Paris ou Tóquio em suas operações internacionais?"
O processo de globalização apresenta outras instâncias de poder. O Estado não é mais o portador único das incumbências de poder como pensavam os marxistas mais ortodoxos, o mercado passou a ser um agente que determina em inúmeros casos as suas ações. As declarações dos atuais dirigentes sobre a economia fazem com que o risco país suba ou desça. Os pontos, para cima ou para baixo indica o risco que os investidores internacionais correm sobre as questões de investimentos. Quanto maior o risco país, mais vulnerável o país se encontra para investimentos e mais suscetíveis se encontram para a especulação financeira. O Estado perdeu totalmente o poder de intervenção sobre as questões do mercado permitindo que tanto organizações de caráter público quanto organizações de caráter privado influenciem sobre determinadas tomadas de decisão. Essa característica se adota principalmente aos países economicamente mais frágeis. Os países com características hegemônica ditam as regras a serem seguidas.
Diante da globalização, "...as economias devem se abrir à competição externa, retirar o Estado de atividades que podem ser exploradas pela iniciativa privada, eliminar subsídios e desativar os mecanismos de controle de preços. Precisam fazer tudo aquilo, enfim, que leve à desregulamentação. Em troca, essas economias contarão com a ajuda das agências internacionais de crédito", segundo IANNI (1992 p. 44).
A nova ordem mundial exposta pelo advento da globalização permitiu a existência de outros núcleos de poder, desmistificando e expondo o Estado para uma função mais de agente transmissor do que propriamente de agente regulador do processo social. Na obra "Microfísica do poder", Foucault trabalha a questão dos micro-poderes, ou seja, o poder é exercido em diferentes pontos da rede social esteja eles integrados ou não ao Estado. Com a exacerbação do processo de globalização, vários núcleos de poder foram criados para a regulamentação da vida. Entre eles pode-se citar o mercado. O mercado funciona como um agente externo ao Estado e que sobretudo o influencia em vários aspectos, principalmente nos assuntos relacionados à economia.
Dois fatores atuam de forma implacável contra o poder do Estado. Compete relacionar o poder político paralelo que retira do próprio Estado a capacidade de exercer e regular de forma profícua as suas ações políticas. Sobre esse assunto tem-se que a margem para processos de ruptura em termos políticos é muito pequeno e estabelece-se como único modelo político possível o sistema democrático de governo. Sobre esse tema compete enfatizar o modelo hegemônico exposto, ou seja, os países precisam se contextualizar através do processo democrático. A democracia é sobretudo imposta sobre o risco do Estado rebelde perder investimentos internacionais, ou mesmo ser alvo de guerra preventiva.
Quanto aos aspectos relacionados à economia, compete salientar que outros núcleos de poder passaram a existir. Conforme citado acima, a Organização Mundial do Comércio é o órgão responsável pela regulamentação do comércio, ou seja, se caracteriza como um órgão transnacional, possuindo um tráfego político entre todas as nações.
A mecânica de poder sofreu transformações imensas com a exacerbação da globalização. O poder se expande por todas as sociedades do planeta através de novas técnicas de dominação carregadas por instituições criadas e moldadas para esse intento. O papel do Estado da forma em que está contextualizado à conjuntura global é apenas um dos núcleos de poder existente. O Estado não se caracteriza mais como agente exclusivo das relações de poder, existem núcleos que ultrapassam o poder do Estado e também há núcleos complementares de poder que encontram nos poderes legislativos e judiciários uma caixa de ressonância.
Antes do processo do desenvolvimento da globalização, os Estados possuíam a prerrogativa de ditar as suas próprias políticas, tanto no aspecto político, como no aspecto econômico. Com o desenvolvimento da globalização, os Estados perderam totalmente essas prerrogativas. No âmbito da política, os países economicamente mais frágeis ficaram suscetíveis ao modelo democrático imposto pelos países hegemônicos e quanto à economia, esses países foram obrigados a entrar em um processo de desmantelamento do próprio Estado, para poderem fazer parte do mundo globalizado e serem subservientes à economia do mercado.
O fenômeno da globalização ao apresentar aos Estados uma receita com características neoliberais para o comando das ações do Estado, entre essas receitas cita-se o desmantelamento dos investimentos estatais determinados setores, processos de privatização e abertura ao mercado mundial. Processos de privatização, diminuição dos gastos sociais, abertura do Estado para investimentos internacionais fazem parte do processo de evolução do sistema capitalista. Mesmo que essa receita venha sobretudo provocar o aprofundamento dos problemas sociais.
O neoliberalismo se caracteriza como um modelo de ação para os Estados. No receituário inclui-se a implementação do sistema democrático de governo, a desregulamentação da economia nacional e a abertura para os investimentos estrangeiros. O receituário neoliberal se contrapõe à política anterior à queda do muro de Berlim, após esse período, houve uma exacerbação da política liberal. Mesmo antes da queda, tal política já vinha sendo implementada, o que houve foi um acentuado direcionamento à política econômica com características neoliberais.
Isso não quer dizer que a economia não se caracterizasse como sendo uma economia de livre comércio, apenas houve um acirramento do livre comércio, a ponto dos Estados-nação perderem poder para organizações criadas para a regulamentação do mercado, como a Organização Mundial do Comércio.
A globalização se apresenta na sociedade contemporânea como um processo de desenvolvimento do sistema capitalista e que possui como eixo central os princípios da liberdade, do contrato, da igualdade e da propriedade impulsionados pelos valores burgueses. O Estado diante do processo global se caracteriza como um Estado de direito. Por Estado de direito "...entende-se geralmente um Estado em que os poderes públicos são regulados por normas gerais (as leis fundamentais ou constitucionais) e devem ser exercidos no âmbito das leis que os regulam, salvo o direito do cidadão de recorrer a um juiz independente para fazer com que seja reconhecido e refutado o abuso do excesso de poder", BOBBIO (2000, p. 18).
Não existiria globalização sem o sistema democrático. Por sua vez, o sistema democrático está fundamentado sobre as acepções e filosofias do liberalismo. Por liberalismo "...entende-se uma determinada concepção de Estado, na qual o Estado tem poderes e funções limitadas, e como tal se contrapõe tanto ao Estado absoluto quanto ao Estado que hoje chamamos de social", BOBBIO (2000, p. 7).
O Estado de direito é de fundamental importância para o desenvolvimento da sociedade contemporânea pois obstaculiza a relação de despotismo ou mesmo arbitrária de um determinado governante. Existem alguns mecanismos, de acordo com BOBBIO (2000, p. 19), que
...desencorajam o abuso ou o exercício ilegal do poder. Desses mecanismos os mais importantes são: 1) controle do Poder Executivo por parte do Poder Legislativo; ou, mais exatamente, do governo, a quem cabe em última instância o Poder Legislativo e a orientação política; 2) o eventual controle do parlamento no exercício do Poder Legislativo ordinário por parte de uma corte jurisdicional a quem se pede a averiguação da constitucionalidade das leis; 3) uma relativa autonomia do governo local em todas as suas formas e em seus graus com respeito ao governo central; 4) uma magistratura independente do poder político.
O processo de globalização nos apresenta questões que alguns anos atrás nem os mais otimistas quanto à relevância e a importância do progresso da ciência imaginavam. Os desdobramentos que o assunto alcançou na virada do milênio ocasionaram uma revolução, tanto no mundo dos serviços, quanto no mundo da política. Ao mesmo tempo, a técnica e a política tiveram seus conceitos modificados e sobretudo colocados frente a frente.
A técnica por estar ligada de forma intrínseca ao sistema e também por dar sustentabilidade ao poder ideológico vigente. A política, por ter sofrido um processo de retração e de ser incapaz de solucionar os problemas da sociedade, seja pela demora nas tomadas de decisões, ou mesmo pela não sincronização entre as instituições políticas democráticas.
A técnica e a política se juntam através de uma atuação distinta ao processo de globalização. De acordo com SANTOS (2001, p. 23), "a globalização é, de certa forma, o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista. Para entendê-la, como, de resto, a qualquer fase da história, há dois elementos fundamentais a levar em conta: o estado das técnicas e o estado da política".
O resultado das técnicas que estão relacionadas com o mundo da informação na contemporaneidade permite que imensas distâncias sejam percorridas em poucos segundos unindo o planeta com apenas alguns megabytes de memória que estão contidos num pequeno computador. Essa técnica permite a existência do principal motor do capitalismo moderno, ou seja, permite a existência do famigerado mercado global.
O processo de globalização pode ser explicado de acordo com SANTOS (2001, p. 25), através de quatro fatores: "a unicidade da técnica, a convergência dos momentos, a cognoscibilidade do planeta e a existência de um motor único na história, representado pela mais-valia globalizada". Essas são técnicas que permitem que o mercado global reproduza um sistema de globalização extremamente desigual entre os homens, pois estabelece uma nova forma de relação política.
A relação política se inicia com o processo desencadeado pela globalização de desmantelamento das coisas do Estado, mas o ponto fulcral de tal mudança diz respeito à retirada do poder do Estado de estabelecer formas diferenciadas de políticas econômicas. A cartilha ditada pela globalização reza que as atuações na área econômica sejam iguais em qualquer parte do mundo.
Na visão de FURTADO (1998, p. 26), "a imbricação dos mercados e o subsequente debilitamento dos atuais sistemas estatais de poder que enquadram as atividades econômicas estão gerando importantes mudanças estruturais que se traduzem por concentração de renda e por formas de exclusão social que se manifestam em todos os países".
Nesse sentido, a globalização afeta as questões da área política quando determina que os Estados nacionais hajam de uma única determinada forma. A forma estabelecida pela globalização e que está em sintonia com os interesses do mercado parece determinar a construção de receitas com ingredientes amargos para os países com características de subdesenvolvimento. A busca de superávits constantes, nem sempre compatíveis com a realidade dos países menos desenvolvidos economicamente, a diminuição dos gastos sociais que entre outras coisas serve sobretudo para diminuir o fosso social existente entre as classes sociais, são instrumentos utilizados pelos senhores do mercado global para aumentar de forma violenta a supremacia do discurso econômico sobre os discursos da política.
A globalização não está servindo como um modelo de uma nova estrutura econômica mundial e sim para o desenvolvimento do comércio e da exploração advinda dos investimentos com características internacionais. De acordo com HIRST e THOMPSON (1998, p. 22), "a globalização deveria ser considerada como o desenvolvimento de uma nova estrutura econômica; e não simplesmente uma mudança conjuntural voltada para um maior comércio e investimento internacionais dentro de um conjunto existente de relações econômicas".
A dificuldade dos Estados nacionais de controlarem o mercado com característica global se estabelece devido à problemática da regulamentação e da governabilidade. Os Estados nacionais não possuem forças o suficiente para regulamentar ou mesmo apresentar propostas no sentido de governar as ações do mercado. Isso ocorre em parte pelo processo da técnica avançada, adquirida através do desenvolvimento da ciência e em parte pela assimilação dos discursos que inúmeras vezes encontra na mídia um suporte para o avanço do processo de globalização.
A principal dificuldade imposta pela globalização de acordo com HIRST e THOMPSON (1998, p. 27), "é construir padrões efetivos e integrados de política pública nacional e internacional para enfrentar as forças de mercado globais". Tal fragilidade dos Estados nacionais, tanto no âmbito da formulação de políticas públicas quanto na administração da economia acarretam inúmeros problemas para o próprio desenvolvimento da democracia. Sem o desenvolvimento da democracia é impossível a existência e a ampliação do mercado global.
Por democracia tem-se o conceito estipulado por BOBBIO (1987, p 135) o qual "designa a forma de governo na qual o poder político é exercido pelo povo".
Na medida em que a política formulada pelos senhores do mercado prejudica a tomada de decisão dos Estados nacionais, o próprio sistema democrático é colocado em posição de xeque-mate uma vez que o seu próprio alicerce encontra-se afetado.
Existe uma contradição entre o discurso da democracia e o discurso imposto pelos senhores do mercado. Muito embora, a democracia seja o alicerce do processo de globalização, o sistema político e econômico vigente contribui para o afastamento da população das tomadas de decisão. O fenômeno da globalização, juntamente com a economia de mercado não respeita as instituições políticas democráticas.
A margem para a discussão política na sociedade globalizada ficou extremamente reduzida. A margem para o estabelecimento de uma determinada política que contenha aspectos de ruptura com o sistema democrático pode desencadear uma crise econômica sem precedentes para o país que o adota. Em termos políticos, precisa ser discutido somente aquilo que faz parte das regras do jogo democrático e das leis do mercado. Nesse sentido, o papel do Poder Legislativo fica reduzido, pois o mesmo não pode apresentar projetos alternativos de governo ou que contenham determinadas características que fujam dos interesses tanto do âmbito da democracia, quanto dos aspectos econômicos.
A globalização proporcionou uma redução do papel do Poder Legislativo. Faz-se necessário ressaltar que a modificação do papel do Poder Legislativo, passa por três pontos fundamentais: a dificuldade de propor projetos políticos que façam frente ao processo democrático vigente, a dificuldade de estabelecer uma relação de discussão mais profunda sobre os temas discutidos e a dificuldade de estabelecer uma relação de feedback para com a sociedade.
O Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário, dificilmente tem o poder de conter ou de estipular regras para a atuação dos grupos de mercado, comprometendo sobretudo os interesses da população.
A teoria dos poderes de Montesquieu, de acordo com WEFFORT (2002, p. 119), "estabeleceria como condição para o Estado de direito, a separação dos poderes executivo, legislativo e judiciário e a interdependência entre eles. A idéia de equivalência consiste em que essas três funções deveriam ser dotadas de igual poder".
O fenômeno da globalização, juntamente com a hegemonia do discurso do mercado interfere sobretudo na relação entre os poderes. Muito embora, "Montesquieu ressalta, aliás, a interpenetração de funções judiciárias, legislativas e executivas" WEFFORT (2002 p. 119). Na sociedade contemporânea o que prevalece é a força do Poder Executivo. A força do Poder Executivo advém também das condições impostas pelas condições do mercado.
As formas com que se constituem as relações de poder na sociedade contemporânea e que estão permeadas pela força do mercado contribuem para a não determinação exclusiva de papéis a serem desempenhados por um único Poder, o principal argumento que fortalece tal proposição está localizada nas formas de poder que são exógenas a um determinado país, ou seja, as relações de poder não se encontram mais no interior de um determinado local, mas lhe é imposto pelas condições internacionais, fazendo com que as formas de poder local sofram transformações não somente em seus princípios, mas principalmente em suas atitudes.
De acordo com CLEVE (2000, p. 34), "não há como manter a distinção entre legislação (função legislativa) e administração (função executiva). O governo compreende ações legislativas e administrativas. A legislação e a execução das leis ‘não há funções separadas ou separáveis, mas sim diferentes técnicas do political leadership’".
Nesse sentido, o Poder Executivo apresenta aspectos que delineiam a liderança sobre os três poderes. O Poder Executivo na atualidade utiliza-se muito mais das suas prerrogativas administrativas do que propriamente de uma condição legal. Muitos são os papéis a serem desempenhados pelo Poder Executivo.
O Poder Executivo maneja dinheiro, executa serviços, constrói obras públicas, controla o câmbio e a emissão de moedas, negocia títulos públicos para arrecadar fundos ou para controlar a economia, fiscaliza as instituições bancárias financeiras, de seguros, os fundos de pensão, oferece créditos subsidiados a esta ou àquela atividade econômica (...) o Estado age mais por meio da administração do que propriamente por meio da lei, embora esta seja mais utilizada do que antes, tendo por isto sofrido um processo de banalização. CLEVE (2000, p. 52).
As atribuições e as amplitudes do poder legal que são delegadas para o Poder Executivo permitem que suas ações se sobressaiam diante tanto do Poder Legislativo quanto do Poder Judiciário.
Muito embora Montesquieu tenha previsto a capacidade de um poder contrariar outro poder, tal dimensão apresenta aspectos louváveis quando expostos em bases teóricas.
Em uma sociedade com características globais e com pensamentos racionalistas, o posicionamento daqueles que são incumbidos da elaboração das leis torna-se demasiadamente desgastante, tendo em vista a tecnicização imposta pelo desenvolvimento econômico que assolou o mundo nos últimos anos. A tecnicização da sociedade dificulta a elaboração de leis por parte do Poder Legislativo, porque exige um preparo maior deste com relação a aquisição de conhecimentos, assim, exige um preparo técnico aprimorado ou uma especialização. Em contrapartida, a escolha dos congressistas não está baseada em critérios de conhecimento específico ou técnico mas sobretudo através do sufrágio. A supremacia do Poder Executivo frente ao Poder Legislativo também se estabelece por esse último existir em grande número, enquanto o Poder Executivo é exercido por um número bem inferior de pessoas.
Um dos pontos a ser considerado sobre a supremacia do Poder Executivo sobre o Poder Legislativo, está relacionado com o sistema político vigente. A política de alianças que predomina na política contemporânea estabelece como ponto principal de poder de barganha a composição política que irá gerar a maioria governista na Câmara dos Deputados, o que serve para o Poder Executivo usufruir do fenômeno da governabilidade.
Uma das principais funções do Poder Legislativo no quadro político contemporâneo é de vigiar e punir atos do Poder Executivo, mas também é colocada em posição duvidosa uma vez que o mesmo possui a maioria dos congressistas. "...O presidente é eleito para cumprir um mandato. Porém, apenas raramente o governo deixa de possuir o apoio da maioria parlamentar. Então, se possui a maioria, logo o controle parlamentar sobre os seus atos é praticamente nenhum (...) se não possui referida maioria, poderá obtê-la, fazendo uso dos conhecidos mecanismos de pressão e sedução. CLEVE (2000, p. 148)
No interior do sistema democrático em voga não seria competência do Poder Executivo propor Projetos de Lei ao Poder Legislativo. Entretanto, a participação do Poder Executivo no interior da atividade legislativa se dá de duas formas de acordo com CLEVE (2000, p. 100), "Intervir em um das fases do procedimento de elaboração da lei e exercer ele mesmo, a função de elaborar o ato normativo".
Uma das questões intrínsecas ao fenômeno da globalização e que interfere de forma violenta nas relações de poder, está relacionada com o conflito de interesses entre aqueles que detêm o poder econômico e o próprio Estado. A formulação de determinadas leis em caráter próprio, ou em benefício de um determinado grupo, também colabora para que o Poder Legislativo se curve perante aos interesses do Poder Executivo. Segundo CLEVE (2000 p. 101) "São as grandes corporações, os sindicatos, os partidos políticos, as associações culturais e de classe, a igreja, as grandes empresas, os conglomerados bancários: grupos dotados de interesses próprios, quase nunca coincidentes com aqueles do Estado, que muitas vezes disputam poder com este, e não poucas vezes mais poderosos que ele".
O problema relacionado entre os interesses dos membros das casas legislativas e as questões do poder privado está de forma intrínseca ligado às regras e determinações das campanhas eleitorais. A permissão de financiamento de campanhas políticas por parte do setor privado, coloca os próprios legisladores como refém de políticas que inúmeras vezes não estão em harmonia com os interesses da coletividade.
O Poder Judiciário marca fortemente a relação entre os três poderes. A grande virtude do Poder Judiciário ou pelo menos em tese é de que deve agir imparcialmente frente aos problemas tanto do Poder Legislativo, quanto do Poder Executivo.
Na teoria, ou seja, nos aspectos prescritivos ou o que determina a lei, o Poder Judiciário deve sim ser o fiel da balança entre os três poderes. Na realidade, o que se percebe é de que existe uma contradição entre a teoria e aquilo que se aplica.
O primeiro indício os membros do Poder Judiciário não são eleitos, não passam pelo crivo da urna, diferentemente dos Poderes Legislativo e do Poder Executivo.
Os cargos de primeiro escalão do Poder Judiciário que se encontram no STF (Superior Tribunal Federal) são nomeados pelo chefe do Poder Executivo com a anuência do Senado. Estes, são nomeados de acordo com as afinidades do governo em exercício. Os outros cargos do Poder Judiciário e que são considerados de menor escalão passam pela aprovação em concurso público.
Nesse sentido, a proposição exposta acima está relacionada com as questões do poder e do controle que se exerce sobre a utilização do poder. Montesquieu consagrou o sistema da Separação dos Poderes, para que o Poder fosse controlado. Na visão de Montesquieu era preciso que os poderes se controlassem reciprocamente, porque a concentração gera sobretudo a tirania. Na realidade, a separação (independência e harmonia, CF, art. 2o ), no Brasil, não funciona, e os abusos se multiplicam, nos três Poderes. No Judiciário, o abuso das liminares. No Executivo, o abuso das medidas provisórias. No Legislativo, o abuso da legislação em causa própria, como na recente anistia das multas eleitorais.

Ideologia e política


Não podemos comparar a palavra ideologia com outras que possuem o mesmo sufixo. Compará-la com palavras como biologia por exemplo, é fazer com que o seu significado crie uma exatidão tal que acabe por desconstituí-la e tornando-a sem expressão e sem os mistérios que a cercam.
No século XIX, Destutt de Tracy, tentou aplicar um sentido exato à palavra ideologia quando a classificou como sendo um "subtítulo da zoologia" e que a mesma seria o estudo das idéias, relacionada com a natureza, os organismos vivos e o meio ambiente. Segundo Lowy, "é por esse caminho que segue a análise, de um cientificismo materialista e vulgar, bastante estreito, que caracteriza essa obra de Desttut de Tracy".
Por conseguinte, tem-se para esse trabalho o conceito de ideologia proposto por Stoppino, onde ideologia "é um programa adaptado para a ação de massa, derivado de determinados assuntos doutrinais sobre a natureza geral da dinâmica da realidade social e que combina certos assertos sobre a inadequação do passado e/ou presente com certas tendências explícitas de ação para melhorar a situação e certas noções sobre o estado final e desejado das coisas."
A definição acima exposta proporciona, em última análise, uma visão não estanque da sociedade, ou seja, que a mesma sofre contínuas transformações. Nesse sentido, nas sociedades modernas percebe-se através dos discursos e ações um processo de acatamento e de submissão a uma ordem pré-estabelecida e os processos de ações para a melhoria das condições de vida limitam-se às anteparas de escritórios e repartições públicas.
Nesse sentido, os discursos e as ações propostas nas sociedades modernas são direcionadas ao que podemos denominar de ideologia passiva, onde a transformação da sociedade e a luta pela melhoria das condições de vida são propostas sem sobressaltos de radicalização.
A ideologia passiva contemporânea possui como grande trunfo a falsa idéia de realidade. A ideologia passiva baseia-se em um movimento não retilíneo e uniforme da história, apresenta aspectos de fantasias e ilusões que alteram o comportamento individual e influencia de forma latente o comportamento das massas colaborando para o desencadeamento do processo de alienação.
A ideologia que vem conduzindo o processo de manipulação da história nas sociedades modernas encontra respaldo na definição de ideologia fraca, proposta por Bobbio e citada por Stopino ou seja, "ideologia designa o "genus", ou a species diversamente definida, dos sistemas de crenças políticas: um conjunto de idéias e de valores respeitantes à ordem pública e tendo como função orientar os comportamentos políticos coletivos".
Nas sociedades democráticas, os agentes que possuem a responsabilidade de elaborar propostas de governo são os partidos políticos. As posições adotadas pelos partidos políticos seja de direita, de centro ou esquerda não se fundamentam em posições contrárias ou de caráter extremista, mas sobretudo se estabelecem através do mesmo pano de fundo, ou seja, a manutenção da democracia e a estabilização da economia. A finalidade dos partidos políticos é de transmitir "o que nos livros de sociologia e de política se chama de "questionamento político" da sociedade e que, através dos partidos, as massas, participem no processo de formação das decisões políticas."
O desenvolvimento clássico das desigualdades entre os partidos de direita, centro e esquerda encontra-se sobretudo nas composições internas dos mesmos, ou seja, nas respectivas bases sociais. De acordo com Lipset " a esquerda socialista deriva sua força dos trabalhadores manuais e dos estratos rurais mais pobres; a direita conservadora é sustentada pelos elementos provavelmente abastados – donos de grandes indústrias e fazendas, o estrato gerencial e as profissões liberais... o centro democrático é apoiado pelas classes médias , especialmente os pequenos negociantes, os empregados de gravata e os setores anticlericais das classes profissionais".
A luta por igualdade das condições de vida na sociedade moderna está estabelecida e centralizada sobre as condições econômicas. Tal fato afasta de forma veemente a imprescindibilidade das relações políticas e transmiti à sociedade o espírito do "homem empreendedor", aquele capaz de conseguir tudo na vida, somente na base da vontade.
Nesse sentido, a ideologia na sociedade moderna se constrói através do pensamento e da ação. A relação entre pensamento e ação precisa necessariamente estar estritamente vinculada com aspectos da vida real. Em uma reportagem sobre o caso de Timothy McVeigh, o terrorista de Oklahoma, Contardo Calligaris, elaborou a seguinte frase: "no mundo do qual fazemos parte, é inaceitável agir por idéias. Só se age por interesse ou por problemas psicológicos".
Nesse sentido, percebe-se de forma objetiva a relação de alijamento com os processos de cunho ideológico, seja de caráter direitista, esquerdista ou centrista, e um viés conformista e determinista que enfatiza a ideologia do interesse.
A ideologia do interesse se estabelece devido ao processo de ausência de identidade. Identidade em relação a uma causa, a uma classe, a uma proposta de governo. Por conseguinte, os responsáveis pela intermediação entre o Estado e a sociedade, ou seja, os partidos políticos possuem certamente uma parcela de culpa considerável sobre as mazelas da representação política na sociedade democrática.
Segundo Campilongo, a representação política não deve somente estar calcada sobre os aspectos do direito, preocupada apenas com a unicidade do voto de cada cidadão. A representação política deve estar centralizada e enfocada sobre os aspectos de input, output e feedback, para possuir credibilidade as ações políticas.
Especificamente no Brasil, o caráter da representação política apresenta aspectos de peculiaridade, uma vez que o país não possui tradição, no que diz respeito ä democracia. Em última análise, não há sistema de representação política sem democracia.
Por democracia tem-se um processo que "reduz racionalidade à maximização de interesses individuais em conflito". Por conseguinte, para se desenvolver a "democracia depende, não apenas daqueles processos que ocorrem no sistema político strictu senso – aglutinação da opinião pública em partidos, atividades parlamentares e eleições -, mas depende também dos processos de formação e renovação de uma cultura política democrática.
O que se torna ponto fulcral de discussão na sociedade contemporânea é a intermediação entre as políticas elaboradas pelo Estado e a inserção da sociedade civil. O desmantelamento do Estado e a consequente dispersão dos interesses da sociedade, proporcionaram um viés de pessimismo sobre as relações políticas e o fortalecimento assíduo do processo mercadológico. Por conseguinte, a relação entre Estado e sociedade civil adquiriu uma face em que se estampa os dois lados da irresponsabilidade. Em primeiro lugar tem-se um Estado que se exime da relação com a sociedade civil, mas não abre mão do processo exploratório, seja através de aumento dos impostos ou mesmo de legislar a favor de outras nações e a sociedade civil que não aceita a relação de intervenção do Estado, mas que solicita a todo instante proteção para os desígnios da sua própria vontade, com característica de cunho particular.
A crise do processo ideológico na sociedade contemporânea, está instalada e alicerçada sobre duas palavras chaves, público e privado. Por público tem-se o conceito clássico que serve ou é relativo a todos e privado relaciona-se com o que não é público, não possui caráter público, ou seja é pessoal, particular.
Em última análise, o processo de racionalidade do qual se imbuíram os Estados Nacionais e a relação intrínseca com os processo da administração moderna provocou o que denominamos de pensamento mercadológico na sociedade contemporânea. Princípios administrativos, como por exemplo maximização de lucros e minimização dos gastos passaram a ser não só expressões utilizadas corriqueiramente pelas autoridades de plantão, como acima de tudo direcionados no sentido político da questão, ou seja, adquiriram processos de atitudes. Verifica-se constantemente a luta pelo aumento da arrecadação por parte do Estado, mas os gastos são ínfimos com a sociedade e dessa forma a desculpa está relacionada com a saúde financeira do Estado.
De acordo com Avritzer " com a institucionalização legal do meio monetário, a ação orientada para o sucesso e guiada pelas considerações egoístas do cálculo da utilidade perde a sua conexão com a ação orientada para o entendimento mútuo." O processo desencadeado pela financeirização do Estado Nacional provoca sobretudo uma crise proporcionada pela igualização no que diz respeito aos papéis encenados na sociedade, não possuindo uma relação entre
segmentos distintos mas sobretudo entre iguais. Quando o Estado está sujeito a trabalhar, a funcionar como uma empresa privada, ele está sobretudo se igualando nas relações mercantis e perdendo estritamente no campo das relações políticas e proporcionando uma relação de racionalização na sociedade. Racionalização essa concatenada com o processo de desenvolvimento econômico, vinculada com o mercado.
O processo de racionalização constituído provoca a crise da individualização fomentada pela sede constante de consumo, retirando de forma veemente o poder de grupos. " O fato de que o mercado, ao isolar as decisões dos indivíduos das suas interconexões com os outros indivíduos, cria uma arena na qual o indivíduo pode tomar as decisões independentemente dos demais indivíduos".
Nesse sentido, a história do Brasil republicano divide-se em várias fases e se caracteriza sobretudo pelo processo ditatorial e pelas concessões políticas: de 1889 a 1930, a República Velha, se caracteriza pela supremacia das oligarquias no comando do país, de 1930 a 1945, o período da ditadura Vargas, de 1945 a 1964, um breve período de abertura democrática, 1964 a 1985 período marcado pela Ditadura Militar e 1985 até os dias atuais, reabertura do processo democrático.
Analisando o desenvolvimento republicano brasileiro, percebe-se um extenso período de ditadura, seja de cunho personalista ou militar em detrimento de um processo democrático mais extenso. Em última análise, o processo de desenvolvimento político e o consequente amadurecimento das relações democráticas no Brasil, está sendo estabelecido, não por uma conquista do povo brasileiro, mas sim pelas concessões manipuladas pelo Estado.
Na sociedade contemporânea é necessário levar em consideração não somente as políticas formuladas pelo Estado em detrimento dos interesses da sociedade. Um terceiro elemento se faz presente nas relações do processo democrático, o mercado. "As sociedades modernas passaram a diferenciar a condição de membro político da comunidade da condição de agente econômico na sociedade civil".
Nesse sentido, "a política na sociedade burguesa é inefetiva porque a participação do ser-genérico na política enquanto indivíduo auto-interessado retira da política a capacidade de discutir os interesses gerais da comunidade" e transfere para o setor econômico os possíveis interesses de caráter geral e particular. A separação de interesses entre a particularidade e a universalidade se estabelece tornando prescindível as relações políticas.
As relações proporcionadas na política pela introdução e ênfase do fator econômico nas relações sociais ocasionou um estremecimento das ideologias ditas clássicas, socialismo, anarquismo, conservadorismo e muitas outras, estabelecendo a crise dos paradigmas.
Em última análise, o processo de desenvolvimento das sociedades democráticas perpassa o aspecto moral que condiciona a democracia e estabelece de forma contínua a árdua luta para coibir através de legislação as vontades próprias de cada indivíduo, ou seja, impor limites de atuação para os cidadãos.
Mas, como estabelecer limites sem parâmetros de coletividade?. O ponto fulcral para os partidos políticos se estabelece sobre esse ponto.
O caminho a ser seguido por este trabalho, segue os passos da teoria marxista, uma vez que a mesma apresenta aspectos relevantes para o desenvolvimento do tema. Aspectos como as diferenças sociais ocasionada pela desigualdade econômica, necessariamente precisam ser relacionado quando se discute o conteúdo da palavra ideologia. Em última análise, não podemos ater-se somente à concepção marxista para pensarmos e darmos volume ao trabalho, é necessário olhar a ideologia como nos propõe Eagleton, ou seja, precisamos olhar que a palavra legitima o poder de uma classe sobre outra. De acordo com Eagleton " para terem êxito , as ideologias devem ser mais do que ilusões impostas e, a despeito de todas as suas inconsistências, devem comunicar a seus sujeitos uma versão da realidade social que seja real e reconhecível o bastante para não ser peremptoriamente rejeitada".
Nesse sentido, Eagleton rejeita a idéia proposta por Mannheim, quando discute a influência da falsa consciência na atuação do indivíduo no cotidiano. De acordo com a idéia de Eagleton, a ideologia precisa fincar raízes no cotidiano para se prevalecer entre os homens, ou seja, o autor estabelece raízes com a realidade e assume a face conformista dos pós-modernistas.
É certo que não podemos caracterizar toda discussão como sendo pontos de vista ideológico. Uma briga entre irmãos por exemplo, não podemos caracterizar como sendo uma questão ideológica. O ponto a ser ressaltado por essa pesquisa, é que será considerado ideológico, somente aquilo que diz respeito a uma transformação no sentido social da realidade em que vivemos. Nesse sentido, o ponto fulcral da pesquisa sobre o termo ideologia está concentrado na luta entre as classes sociais e a luta pela manutenção do poder existente.
A palavra ideologia é revestida de representações, idéias e conceitos que o indivíduo tem sobre a sua condição material de vida. Quando um indivíduo aponta uma condição crítica sobre esses aspectos, está sobretudo obtendo um ponto de vista ideológico.
Segundo Marx, "a maneira como os indivíduos manifestam sua vida reflete exatamente o que eles são. O que eles são coincide, pois, com sua produção, isto é, tanto com o que eles produzem quanto com a maneira como produzem. O que os indivíduos são depende, portanto, das condições materiais da sua produção."
Analisando a relação ideológica sobre o ponto de vista marxista, mas contextualizando-a com a realidade contemporânea, percebemos que existem outros fatores que contribuem para o processo de alienação do indivíduo, além de sua longa jornada de trabalho. Um fator preponderante que atua no cotidiano das pessoas e exerce grande influência, são os meio de comunicação. Lógico que não podemos pensar que a mídia existe somente para a preservação do mal. Quando ela trabalha aspectos que leva o indivíduo a refletir sobre determinados aspectos da vida, ela está colaborando significativamente para a fermentação do processo ideológico do indivíduo. O que se percebe é que esses momentos proporcionados pelos meios de comunicação são mínimos, se fizermos uma comparação com a quantidade de assuntos banais apresentados pelos mesmos. O grande número de comerciais apelativos, a banalidade do cotidiano nas grandes novelas, a perpetuação de costumes e a implementação de novos hábitos, considerados como "modernos", são alguns dos aspectos a serem mencionados sobre a influência na grande massa e que na verdade, acabam contribuindo com a perpetuação da ideologia do poder existente no cenário nacional e mundial.
No entanto, aquilo que os homens são depende não somente das condições materiais de sua produção, mas também daquilo que aparece em seu mundo como representações, como idéias previamente estabelecidas. Essas idéias são trabalhadas pelos meios de comunicação de uma forma que não podem ser contestadas, que são verdades absolutas e que qualquer coisa que distorça aquilo apresentado pode ser caracterizado como ideológico, ou seja, como algo surrealista e fora dos padrões estabelecidos e "verdadeiros".
A ideologia é um processo que desce do céu para a terra, ou seja, ela é imposta por uma minoria sobre uma maioria, assim como também designou a teoria das elites de Mosca. Nesse sentido, pensar que um indivíduo que faz um discurso na rua solitariamente contra o governo, está estabelecendo uma relação ideológica é tautologia. Pois ideologia, em determinado sentido, significa pensar e propor ação para que aquele determinado pensamento passe a ser realidade. Lenin em seu livro "O trabalho do partido entre as massas", trabalha com muita propriedade a construção da ponte entre a ideologia e a ação para a modificação do quadro social russo daquele momento. Em certo sentido, o discurso do homem solitário só faz sentido se ele conseguir aglutinar, reunir adeptos e séquitos para a consecução dos seus ideais.
A concepção weberiana de que o Estado se fundamenta na força, já demonstra todo o poder da manutenção do processo ideológico existente e a sua renitente e contínua perpetuação. Através dos instrumentos estatais, o governo possui condições e legitimidade para trabalhar o que para ele se estabelece como "verdade". Um senador que viola o painel de votação do senado e assume o "crime" é considerado como um "grande homem" por parte do governo. Mas, que grande homem é esse? Como isso se caracteriza para a sociedade? Qual a opinião da sociedade sobre esse fato?. São perguntas que o governo não faz questão de responder, ou mesmo não demonstra a mínima preocupação se há na verdade um processo de corrupção instalado no país e sobre a lente de seus óculos. No entanto, percebemos nas palavras e nas atitudes do governo a implantação da ideologia da aceitação, ou seja, de que o processo de corrupção instalado faz parte da natureza humana e que contra ela não há remédio que faça efeito.
De acordo com Moraes, "Adam Smith sustentou que haveria uma mão invisível que conduziria os grandes senhores das atividades econômicas, malgrado sempre cuidarem de aumentar os seus lucros, levando-as a agir em benefício da sociedade em geral"
Em última análise, percebe-se que a ideologia é um processo imortal e que não há tempo que a desgaste. Adam Smith escreveu a sua teoria em meados do século XVIII e percebemos que ela continua muito viva e com muito mais vigor do que em tempos atrás. Lógico que esse processo passou por várias transformações até chegar no estágio em que se encontra. Ouve um processo de lapidação da teoria, até a sua imposição de forma voraz e incontestável.
A incontestabilidade do processo de globalização, levou autores como Fukuyama a admitir que chegamos no fim da história. Apesar de seu forte poder de argumentação, não podemos acreditar que a teoria marxista esteja morta e sim que também esteja sofrendo um processo de lapidação. Por conseguinte, não podemos ignorar a observação de Shakespeare de que os sonhos são as matérias de que a vida é feita.
De acordo com Macridis, "a ideologia proporciona um veículo para expressar nossos desejos, nossos interesses e esperanças, a até mesmo nossos impulsos e ansiedades pessoais". Nesse sentido, há a preocupação dos homens em criar organizações, ou seja, entidades em que todos compartilham os mesmos desejos e interesses e lutem para o mesmo bem comum. Podemos citar como exemplo clássico dessas organizações, os partidos políticos, os conselhos das indústrias e um clube social. A ideologia existente proporciona um objetivo comum que os estimulam a executar as tarefas previamente traçadas.
Segundo a teoria marxista, o processo econômico se prevalece sobre os outros fatores que determinam as condições da sociedade. Em última análise, a atuação dos grandes grupos econômicos fortalecem cada vez mais o processo de descentralização do capital, a ausência do papel do Estado na sociedade e consequentemente a explosão da exclusão social. Concomitante a esses fatos proporcionados pela ideologia do poder em voga, esse processo que atingi milhões de pessoas em todo mundo, é legitimado através de um discurso que possui características invisíveis a "olho nú" e é revestido de um simbolismo proporcionado não só pelas imagens das televisões, mas também por um processo psicológico de repetição do que é considerado como um conceito de verdade.
Para a compreensão da sociedade moderna, de acordo com a visão habermasiana é necessário estudar a sociedade, o Estado e concomitantemente, os efeitos proporcionados pelo mercado. O efeito da economia de mercado na sociedade proporcionou acima de tudo uma visão racional de mundo e a consequente homogeneização dos discursos.
Os processo de racionalização do mundo ocidental segundo Avritzer "partem, portanto, da necessidade das religiões mundiais de substituir a magia pelo domínio cognitivo da natureza e por uma explicação ética capaz de ser justificada".
Nesse sentido, o processo de racionalização da sociedade moderna é disseminado pelo sistema econômico. De certa forma, o sistema econômico tem a capacidade de gerar um processo de racionalidade, seja através da supressão de mão-de-obra, ou mesmo através da tomada de decisão com vistas nos problemas reais do cotidiano. "Com a institucionalização legal do meio monetário, a ação orientada para o sucesso e guiada pelas considerações egoístas do cálculo da utilidade perde a sua conexão com a ação orientada para o entendimento mútuo".
O processo de racionalização desencadeado pelo mercado centraliza-se na luta constante pelos recursos escassos existentes na sociedade. Sendo assim, ocorre a luta renitente para a maximização dos interesses individuais e afastando qualquer possibilidade de entendimento coletivo sobre um determinado assunto.
Dessa forma, a ideologia dos partidos políticos se pulveriza sobre as plantações da política econômica, não exterminando as possíveis pragas existentes no cerne da sociedade e nem conseguindo elaborar antídotos que contenham o avanço da doença.
Em última análise, as justificativas na sociedade contemporânea está sobretudo centralizada nos discursos da ciência. O fato da ciência explicar o mundo a partir do que ele é, ou seja, aplicar uma relação racional com base no cotidiano garante a plausibilidade das suas conclusões.
Nesse sentido, percebe-se um discurso ideológico que banaliza o que é a ciência. Através de métodos não muito bem explicitados de pesquisa e de posições antagônicas sobre o mesmo assunto desfaz-se toda a credibilidade que a ciência conquistou nesses últimos anos. Quando uma revista publica que o colesterol faz bem à saúde, e a outra publica que ele faz mal à saúde e que tais estudos foram feitos por uma determinada Universidade americana, coloca-se em questão se há algum problema metodológico de pesquisa, ou se há alguma empresa multinacional de fast-food financiando tal publicação, com vistas a aumentar ainda mais a sua fatia de mercado. Segundo Harvey, "a transitoriedade das coisas dificulta a preservação de todo sentido de continuidade histórica".
Por conseguinte, a história nos mostra alguns momentos específicos de uso e manipulação do termo, seja através de Instituições como a Igreja Católica ou o Estado, ou mesmo através dos meios de comunicação. O que propicia a luta do homem em seu cotidiano é a constante busca pela verdade absoluta, seja das suas idéias ou das suas atitudes.
A disseminação da "verdade" entre as massas relaciona-se com o aspecto da manutenção de poder e a consequente ojeriza de processos de modificações bruscas nos modos de pensamento e comportamento, o que de certa forma determina incertezas do processo que se coaduna com o futuro e estabelece conexão com a formação e o enraizamento da tradição na sociedade.
O processo de desenvolvimento histórico e o consequente posicionamento de classe adotado assume aspecto variável quando se estabelece o fenômeno da mobilização social para o indivíduo. Nesse contexto, o enraizamento da falsa consciência se faz presente e uma sublime movimentação da história se contextualiza.
A rotulação, o enquandramento do indivíduo em determinadas formas de atuação, conservador, progressista, socialista nada mais é do que o estancamento do processo do pensamento histórico pré-estabelecido. Em última análise, apesar do discurso do representante popular estar atrelado ao pensamento de classe o que prevalece é opinião pessoal e a independência sobre os fatores da vida real.
Nesse sentido, o limite estabelecido entre a realidade e o cotidiano no pensamento contemporâneo está entre a concepção de ciência que previamente é dirigido pelo pensamento positivista legitimado e os aspectos filosóficos e contemplativos da indagação que é de forma veemente exposto como uma visão de mundo inoperante e sem parâmetros. A importância do aspecto acima mencionado, é que o posicionamento político contemporâneo adotado por determinados representantes encontra-se baseado no processo de dominação do desenvolvimento histórico, ou seja, é imposto para a sociedade como sendo uma verdade absoluta sobre um determinado fato. Ora, a história não é construída com certezas, seus valores são mutantes e transformam-se constantemente. De acordo com Mannheim " encontrar pessoas em nossos dias tentando disseminar pelo mundo e recomendando aos outros algum elixir do absoluto, que apregoam haver descoberto, não passa de um indício da perda e da certeza intelectual e moral, e da necessidade dela, sentidas por amplos setores da população, incapazes de encarar a vida de frente".
Um dos aspectos que permeiam a sociedade contemporânea é a constante luta pela ascensão social. Nesse sentido, a mobilidade social está alicerçada sobre os padrões de consumo estabelecido pela classe dominante e não em um processo de construção de independência intelectual, não possui bases sobre uma vida de contemplação e elaboração do pensamento. Segundo Bordieu " o que separa as classes populares das outras classes é menos ( e, sem dúvida, cada vez menos) a intenção objetiva de seu estilo que os meios econômicos e culturais que elas podem colocar em ação para realizá-las. Esse desapossamento da capacidade de formular seus próprios fins ( e a imposição correlativa de necessidades artificiais) é sem dúvida, a forma mais sutil de alienação".
No entanto, a relação do homem com a verdade foi estabelecida não com uma visão racional e científica, mas sim com aspectos do sobrenatural permeado com a insensatez cristã. O indivíduo da Idade Média era obrigado a aceitar a imposição da verdade católica sob ameaça de queimar no fogo do inferno, uma vez que contestasse uma "verdade" que sob a égide da Igreja fosse de caráter absoluto.
A principal característica da filosofia da Idade Média era colocar o homem em uma situação apreensiva, onde a liberdade de sentimento e expressão eram extremamente vigiada sob risco de sofrer punição de um Deus onipresente e onipotente. Segundo Chauí, "quando a interiorização não ocorre, isto é, quando o Sujeito não se reconhece como produtor das obras e como sujeito da história, mas toma as obras e a história como forças estranhas, exteriores, alheias a ele e que o dominam e perseguem, temos o que Hegel designa como alienação". Esse processo retrai o indivíduo interior devido a ausência de objetivos pragmáticos, significativos de vida causando um imobilismo social sem precedentes.
Nesse sentido, a construção do conhecimento não apresenta aspectos sólidos, uma vez que reprime o pensamento individual do sujeito. Dessa forma, passa a ser privilegiado a construção do pensamento coletivo através da falsidade de proposições que vão nortear a vida do indivíduo "eternamente" durante toda a sua existência.
No entanto, quando o indivíduo passa a ser mais reflexivo, um novo modo de pensar passa a ser permeado pela sociedade. Através do movimento iluminista do século XVIII, o homem descobre na razão, uma nova maneira de olhar para Deus e buscar explicações racionais para a existência das coisas. Nesse contexto, o indivíduo passou a ser o sujeito da sua própria história, mas como nos propõe Marx, não a constrói segundo a sua própria vontade.
O homem passou a buscar o significado das coisas, mas não somente o significado exterior, mas sim o que se encontra por trás de determinadas coisas ou fatos. Por conseguinte, a ciência sofreu um processo revolucionário nunca visto antes e de certa forma passou a influenciar de maneira latente as transformações das condições de vida e a propor novas "verdades" para o conjunto da sociedade.
As "verdades" proporcionadas pelo avanço da ciência e o discurso mecanicista encampado pela sociedade estão em simetria com a tecnicização da sociedade e o processo racional assumido. Segundo Morin, "a ciência deve reatar com a reflexão filosófica, como a filosofia, cujos moinhos giram vazios por não moer os grãos dos conhecimentos empíricos, deve reatar com as ciências. A ciência deve reatar com a consciência política e ética.".
Em certo aspecto, dois tipos de processos precisam ser devidamente enfatizados, quando o que se estuda são as formas de relações sociais contemporâneas e o processo ideológico desencadeado. O primeiro ponto a ser traçado e discutido refere-se ao processo de desenvolvimento da ciência e o conseqüente processo de racionalidade trazido para o seio da sociedade. Em segundo lugar, a proposta individualista imposta pelo discurso do capital.
Nesse sentido, a perpetuação do capitalismo centraliza-se na lógica aristotélica da teoria do movimento. Por conseguinte, tal caracterização apresenta fundamento no processo dinâmico proporcionado não somente pelo capitalismo, mas no "desenvolvimento" desencadeado pela ciência. Não obstante, o caráter dinâmico imposto pelo capital encontra-se centralizado no desenvolvimento do processo científico. O desencadeamento do desenvolvimento científico encontra-se monopolizado por quem detém o poder econômico nas relações sociais. Portanto, a não estagnação do pensamento na sociedade hodierna, colabora de forma veemente para o estabelecimento e enraizamento de verdades mutantes. A mutação das verdades na sociedade proporciona um aspecto unilateral de relações quando este provoca a dominação política e consequentemente colabora para a manutenção do poder.
Nesse sentido, a sociologia do conhecimento nos aponta vários caminhos para o entendimento da realidade e a construção do eu. A proposta que viabiliza a construção da realidade para esse trabalho está estampada na obra de Mannheim "quem pensa não são os homens em geral, nem tampouco indivíduos isolados, mas os homens em certos grupos que tenham desenvolvido um estilo de pensamento particular em uma interminável série de respostas a certas situações típicas características de sua posição comum".
Os grupos manifestados por Mannheim estão relacionados de forma expressiva com o que Marx denomina de relações de produção. Nesse sentido, os homens se tornam unidos por algo que os torna comum nas relações sociais, ou seja, com o processo de transformação da matéria prima ou de uma forma mais contemporânea, relacionado com a prestação de serviços.
Por conseguinte, o que faz os homens se unirem não é o fato de possuírem as mesmas "idéias", mas sim a busca constante e renitente pela supremacia financeira, independente da classe social a que pertence. O processo de fusão de empresas, a diversificação dos serviços propostos, a multiplicidade de serviços prestados pelas empresas, contrastam com a defesa de interesses por segmentos. Os interesses se fundem na mesma proporção em que crescem as fusões e a diversificação do mercado gerando a guerra hobbesiana de todos contra todos na sociedade de mercado.
Em última análise, a defesa de determinados interesses estão diretamente relacionados com o processo ideológico nos grupos ou facções que atuam no mesmo ramo comercial e que de forma sorrateira, utilizam os meios políticos para obter vantagens no processo de competição no mercado.
O termo ideologia utilizado nesse trabalho, não possui correlação com a proposta napoleônica, ou seja, não está vinculado ao mundo das idéias, com o pensamento e as atitudes nas nuvens. A ideologia é um processo que desce do céu para a terra e está intrinsecamente relacionada com o mundo real. Não é nosso objetivo aqui procurar saber o que é a realidade, apesar desse trabalho estar procurando identificar algo existente. Mas não no sentido material, porque não podemos identificar o interesse como algo que se materializa. Em última análise, o interesse é um processo de atitude onde estão inseridos verdades e mentiras e a sua identificação só será possível nas entrelinhas de discursos e posições adotadas.
A visão da ideologia pela sociedade contemporânea está estritamente vinculada com a realidade prática pois é a única digna de confiança. Segundo Mannheim " a nova palavra sanciona a experiência específica do político com a realidade, e empresta sustentação à irracionalidade prática, que tem tão pouco apreço pelo pensamento como um instrumento para captar a realidade."
Identificar a diferença entre direita, centro e esquerda no quadro político brasileiro e especificamente no estado paranaense se constitui em uma tarefa demasiadamente árdua, para não dizer muito difícil. Segundo Latour, "tanto a esquerda quanto à direita, as finas redes traçadas pela pequena mão de Ariadne continuam a ser mais invisíveis do que aquelas tecidas pelas aranhas."
A ideologia na sociedade contemporânea,
Nesse sentido, a teoria marxista apesar da sua relevância para o entendimento do pensamento na sociedade, não comporta as transformações ocorridas nas relações sociais atuais. É necessário ressaltar que a realidade social complexa, não suporta grupos definidos de atuação, uma vez que seus interesses perpassaram os limites até então impostos e identificáveis.
É necessário enfatizar que o trabalho aqui proposto tem as suas atenções voltadas para a identificação de grupos de interesses, ou seja, aqueles grupos que lutam para manter o poder hegemônico sobre uma determinada área do setor econômico e que atuam de forma voraz no ambiente político, seja de um estado específico ou mesmo de um país. Obviamente, não pode ser interpretado, como grupos que pensam sobre religião, futebol ou sobre os mistérios sobrenaturais.
Os fatores psicológicos que levam a determinadas posições ideológicas, não serão objetos de análise do proposto trabalho. Por outro lado, faz-se necessário ressaltar que o objeto de estudo está centralizado em objetos materiais elaborados pela atuação política, ou seja, o trabalho possui um pé no pragmatismo e a cabeça na parede invisível dos discursos elaborados.
A atuação parlamentar no Brasil, possui caráter unitário. As posições adotadas no Parlamento muitas vezes possuem caráter individual. Leis e projetos partidários inúmeras vezes não são levados em consideração.

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