Lançamento do e-book do Caderno de Resenhas
ARENDT, Hannah. O que é política? Fragmentos
das obras póstumas compilados por Ursula Ludz. 7 ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2007.
Conceito
de Política
O
conceito de política está organizado em 7 sete tópicos no I fragmento do livro,
foi escrito originalmente em agosto de 1950.
No
primeiro tópico, Arendt começa expondo que a política baseia-se na pluralidade
dos homens. Deus criou o homem, os homens são um produto humano mundano, e
produto da natureza humana. A filosofia e a teologia sempre se ocupam do homem,
e todas as suas afirmações seriam corretas mesmo se houvesse apenas um homem,
ou apenas dois homens, ou apenas homens idênticos. Por isso, não encontraram
nenhuma resposta filosoficamente válida para a pergunta: o que é política? Mais,
ainda: para todo o pensamento científico existe apenas o homem – na biologia ou
na psicologia, na filosofia e na teologia, da mesma forma como para a zoologia
só existe para o leão.
No
segundo tópico, Arendt aponta que a política trata da convivência entre
diferentes. Os homens se organizam politicamente para certas coisas em comum,
essenciais num caos absoluto, ou a partir do caos absoluto das diferenças.
Enquanto os homens organizam corpos políticos sobre a família, em cujo quadro
familiar se entendem, o parentesco significa, em diversos graus, por um lado
aquilo que pode ligar os mais diferentes e por outro aquilo pelo qual formas
individuais semelhantes podem separar-se de novo umas das outras e umas contra
as outras.
No
terceiro tópico, Arendt aponta que quando se vê na família mais do que a
participação, ou seja, a participação ativa na pluralidade, começa-se a bancar
Deus, ou seja, a agir como se se pudesse sair, de modo natural, do princípio da
diversidade. Ao invés de se gerar um homem, tenta-se criar o homem na imagem de
si mesmo. Nesse sentido, sob o ponto de vista prático-político, a família ganha
sua importância inquestionável porque o mundo assim está organizado, porque
nele não há nenhum abrigo para o indivíduo – vale dizer para os mais diferentes.
As famílias são fundadas como abrigos e castelos sólidos num mundo inóspito e
estranho, no qual precisa ter parentesco. Esse desejo leva à perversão
fundamental da coisa política, porque anula a qualidade básica da pluralidade
ou a perde através da introdução do conceito de parentesco.
No
quarto tópico Arendt, escreve que o homem, tal como a filosofia e a teologia o
conhecem, existe – ou se realiza – na política apenas no tocante aos direitos iguais
que os mais diferentes garantem a si próprios. Exatamente na garantia e
concessão voluntária de uma reivindicação juridicamente equânime reconhece-se
de que a pluralidade dos homens, os quais devem a si mesmos sua pluralidade,
atribui sua existência à criação do homem.
No
quinto tópico, Arendt diz que a filosofia tem duas boas razões para não se
limitar a apenas encontrar o lugar onde surge a política. A primeira é:
a) Zoon
politikon: como se houvesse algo político que pertencesse à sua essência –
conceito que não procede; o homem é a-político. A política surge no
entre-os-homens; portanto, totalmente fora dos homens. Por conseguinte, não
existe nenhuma substância política original. A política surge no intra-espaço e
se estabelece como relação.
b) A
concepção monoteísta de Deus, em cuja imagem o homem deve ter sido criado. Daí
só pode haver o homem, e os homens tornam-se
sua repetição mais ou menos bem sucedida. O homem, criado à imagem da solidão
de Deus, serve de base para a guerra natural entre todos, conforme afirma
Hobbes.
Arendt
aponta que a solução ocidental dessa impossibilidade da política dentro do mito
ocidental da criação é a transformação da política pela História.
No
sexto tópico, aponta que só existe liberdade no âmbito particular do conceito
intra da política. Nós nos salvamos dessa liberdade justo na necessidade da
História. Para Arendt, um absurdo abominável.
No
sétimo tópico Arend diz: a política se organiza, de antemão, as diversidades
absolutas de acordo com uma igualdade relativa e em contrapartida às diferenças
relativas.