No box
19 tem vida, lá, tem máquinas também. Máquinas de todos os tipos e gostos a fim
de salvar vidas e deixar outras aflitas, mas enfim, esse é o box 19. Lá tem
esperança, tem Deus de todas as religiões, tem orações e preces, tem fé e divindade.
No box
19 tem sorrisos também, pode parecer uma contradição, mas o sorriso faz a vida
e desperta a esperança, muitas vezes é onde se pode ver a presença divina, mas
tem lágrimas também, onde se expressa a dor, o vazio da ausência e a incerteza
do futuro. A vida e a morte estão lado a lado e são concorrentes.
O sangue
corre para todos os lados no box 19, sai do humano e vai para a máquina, mas
também faz o caminho inverso. O sangue esquenta e esfria de acordo com a
necessidade, o frio e o quente que se sente, filtrá-lo é essencial para a
continuidade da vida, creio que pode ser chamada de máquina da vida para aqueles
cujo sangue se torna um problema devido às impurezas que carrega - bendita seja
a máquina.
O
suporte suporta as necessidades: aminoácidos, antibióticos, soros, enfim, medicamentos
de todos os tipos e leva consigo leveza às dores do mundo. Os medicamentos
correm por uma serpentina e entram pela via sanguínea, o seu fluxo é direto e
certeiro - eles se misturam ao sangue, corrigindo percursos e aliviando
aflições.
Não
existe silêncio no box 19, todas as máquinas se manifestam, cada uma em seu
tempo e razão, cada uma carrega em si, números importantes. Descobri depois de
longa data que os números refletem a saúde que temos - posso dizer que ter saúde
é uma questão numérica, e os números traduzem os nossos hábitos, costumes e
jeito de ser.
As noites
no box 19 são longas, um entre e sai de gente o tempo todo. Coloca medicamento,
tira medicamento. A cadeira para dormir não é tão ruim quanto se pensa, ela tem
suas limitações, mas o que irrita mesmo é a luz acesa do corredor, ela é capaz
de causar um transtorno mental, tal a sua luminosidade intensa e impertinência – eu olho para ela, ela olha
para mim e parece que me solta um sorriso sarcástico e filho da mãe, dizendo:
_ Vou te
ferrar essa noite!! Kkkkkk.
E como
dizia minha tia:
_ Eu
xingo! Mas nada posso fazer, a não ser trocar o lado de dormir e ter a
paciência para que o sono chegue depressa. O ar-condicionado costuma ficar sem
controle. O frio toma conta do quarto. O cobertor ralo e de tom amarelo do
Hospital não dá conta, outros são necessários, além de ter que dormir de calça,
camiseta e meias nos pés, um desconforto geral. O “sono” termina quando o Doutor
entra para dar notícias que nem sempre são boas, mas são esperadas como nunca e
assim, o dia se faz presente.