Tuesday 12 December 2023

Começando os trabalhos!


Era segunda-feira de carnaval, eu estava me preparando para fazer uma caminhada quando resolvi abrir meu WhatsApp, lá estava um recado do Rodrigo Soró, em meio ao sol quente e o começo da atividade física, ouvi seu convite para fazer parte do projeto de criação de um site de notícias sobre o esporte amador de Araraquara, ele estava propondo que eu escrevesse uma coluna mensal ao site, fiquei muito honrado com o convite e mesmo em meio ao “ofeganismo” da caminhada o respondi de forma positiva. 

Depois disso, passei a caminhar pensando no desafio que é escrever sobre esporte amador e sobre qual escrever. Garanto a vocês que isso não foi fácil, as frentes são múltiplas e as perspectivas são enormes, então pensei: “por que não buscar inspiração nos Jogos Olímpicos?”, daí veio a ideia de pontilhar algumas linhas sobre o atletismo, afinal, os primeiros esportes disputados estão ligados à essa modalidade.
 
Estabelecendo a correlação entre o atletismo e a cidade de Araraquara, não posso deixar de mencionar a relevância do Colégio Florestano Libutti, localizado no tradicional bairro do Carmo e a sua contribuição significativa para o desenvolvimento da modalidade na cidade, nomes como Escamilla e Armando Clemente desfilaram suas competências como professores na escola para descobrir talentos.
 
E para falar em talentos do Atletismo em Araraquara, o nome de José Bonifácio da Silva não pode deixar de ser mencionado, revelado por Escamilla e Armando Clemente quando estudava no Florestano Libutti, ajudou a desenvolver de forma ampla a história do atletismo na cidade e desde 1975 trabalha de forma árdua pelo esporte. Boni, como é conhecido, vem trabalhando a anos na pista de atletismo da cidade e para quem não sabe, treinou juntamente com Joaquim Cruz, atleta brasileiro com medalha de ouro nas Olimpíadas de 1984 e hoje, busca novos talentos para a modalidade.
 
Outros personagens da cidade ajudaram a construir o atletismo no município, entre eles Professor Darwin Ianuskiewtz que praticou salto em distância e que chegou a treinar com João do Pulo e o educador físico Marcelo Cabrini que foi “pupilo” de Boni e que se tornou atleta expoente do atletismo araraquarense, ganhou várias provas na cidade e região, possui marcas expressivas no esporte, hoje, organiza grupos de corrida pela cidade, treina atletas de ponta para Araraquara e entrou para a sucessão do esporte, me parece que uma nova geração no Atletismo surge na cidade e aparece de forma muito significativa no horizonte.
 

O futebol de salão araraquarense, a W&L Decolores e a tradição na modalidade


O futebol de salão é muito tradicional em Araraquara, a primeira liga de futsal do país foi organizada na cidade, isso é muito significativo em termos da prática do esporte e até mesmo em resultados expressivos na modalidade.

Araraquara sempre teve times muito fortes no futsal: Nestlê, 22 de Agosto, Clube Araraquarense, sem contar outros inúmeros times que no momento não me recordo os nomes.
 
Nos anos 80 esses times proporcionavam grandes embates, seja no Gigantão, Ginásio da Pista, no ginásio do Clube 22 de Agosto, quadras muito bem organizadas para a boa prática do esporte.
E quando o assunto é futsal em Araraquara, não pode deixar de ser mencionado a relevância da WL Decolores, um time que vestia camisa cor laranja, a mesma cor da fruta que espalha o odor cítrico por toda a cidade.
 

A WL Decolores era um grande time de futsal, o público araraquarense acompanhava os jogos com atenção e lotava as quadras, era composto por trabalhadores e estudantes que no fim de semana se reuniam para disputar as competições, não existia profissionalismo, os treinos aconteciam geralmente no fim de noite, entre as dez e meia noite, tudo era muita vontade e dedicação, aliada ao forte desejo de conquista dos campeonatos que disputava.
 
Me recordo de um jogo entre a WL Decolores contra o time de Igarapava, foi um jogo épico e decisivo e quando acabou, fui para casa a pé, o caminho era longo até o São Geraldo, parei no pipoqueiro que havia próximo ao Hospital São Paulo, ele me perguntou ansioso o resultado da partida, mais para a frente fiz outro “pit stop” no carrinho de lanche do Bahia, em frente ao Parque Infantil para tomar aquela Tubaina gelada e todos os que ali estavam discutiam a partida de forma acalorada.
 
Hoje, Araraquara possui um bom time de futsal ligado à Fundesportes e à Uniara – Universidade de Araraquara - treinado por Rene Benacci, o time vem conseguindo resultados expressivos nas competições que disputa, demonstrando a tradição conquistada na modalidade.

O campo da Atlética, Jair Bala, a laranja e o gelol!

Quando o assunto é esporte amador de Araraquara, não se pode deixar de mencionar o campo da Atlética que fica próximo à Igreja Santo Antônio no bairro da Vila Xavier, relembrado numa conversa recente com Marinho Rã no Podcast Uniara, cria do Colorado do Zé Lemão e com passagem pela Portuguesa de Desportos e Seleção Brasileira, que inclusive, iniciou sua carreira de jogador no campo da Atlética.

Palco de muitas disputas no futebol amador araraquarense, o campo da Atlética pode ser considerado um símbolo da cidade - muitos atletas que depois vestiram a camisa da Ferroviária desfilaram seus talentos naquele campo.
 
A lembrança afetiva que tenho da Atlética é no remoto final dos anos 70, quando ainda menino sonhava em ser jogador de futebol – a teimosia era maior que a persistência, mas me lembro bem do vestiário da Atlética que cheirava a laranja e Gelol, pomada “mágica” que os aspirantes a jogador passavam com volúpia nas canelas e deixava um cheiro de cânfora no ar.
 
Me lembro também da figura folclórica de Jair Bala, treinador da Ponte Preta de Araraquara, que dentro do vestiário da Atlética passava com vontade o “Gelol” nas pernas, colocando uma redinha de guardar laranja na cabeça e tomando água na moringa. O detalhe é que ele tomava no “bico”, sem haver protestos pelos outros jogadores.
 
Naquela época, a gente chegava para jogar com as chuteiras entre os dedos, a camisa era grande demais, as meias imensas e incabíveis, o gramado cheio de folhas de eucalipto e que muitas vezes produzia escorregões homéricos – o ponto de ônibus ficava ali perto, em frente à Igreja e geralmente demorava um tempão para passar, enquanto isso, o “hit”de sucesso da época tocava insistentemente na vitrola do bar: “Todo menino é um rei” de Roberto Ribeiro, e a gente ia para casa achando que a letra da música era absolutamente verdadeira.

O basquetebol de Araraquara e seus protagonistas


 Quando o assunto é basquete, me recordo das aulas de Educação Física da Escola Narciso da Silva Cesar no bairro do Santana com o “excelente” seu Carlos, professor comprometido com a cultura corporal e com o desenvolvimento do espírito esportivo de seus alunos - os exercícios repetitivos de arremesso e posicionamento em quadra nunca mais seriam esquecidos.

Os amistosos entre as escolas eram frequentes, me recordo dos nomes simbólicos do basquete araraquarense, Professor Urias e Onofre, quando enfrentávamos as equipes desses professores, sabíamos que a derrota era iminente, então, era jogar apenas por diversão, pois os times eram bons demais para poder competir.


 
O basquete araraquarense tem história, nomes como Roseli Gustavo que teve carreira longínqua e vencedora na Seleção Brasileira de Basquete, juntamente com seu sobrinho Nezinho que fez história jogando pelo COC de Ribeirão de Preto, Luis Fernando, ex-jogador do time de basquete da Uniara e da Seleção Brasileira são pratas da casa e de qualquer forma, deixaram um legado significativo para o esporte.
 
O Basquete de Araraquara ganhou proeminência no início dos anos 2000 (dois mil), quando a UNIARA – Universidade de Araraquara através do Professor Fernando Mauro e do Professor Onofre organizaram um time para disputar o Campeonato Brasileiro. O Ginásio da Pista e o Gigantão ficavam lotados, times como COC de Ribeirão Preto, Flamengo, Vasco entre outras grandes equipes jogaram em solo araraquarense e os jogos eram acirrados e protagonizaram bons confrontos – essa história ficou imortalizada através do livro publicado pelo carioca Carlos Fernando Rego Monteiro, cujo título é “Morada de Gigantes” leitura de obra obrigatória por quem se interessa pelo basquete de Araraquara.
 

O time de futebol de salão da W&L Decolores e o “Alma Brasileira”: a união entre o samba e o futebol em Araraquara

 A relação entre o futebol e o samba no Brasil sempre foi muito próxima, tão próxima que já foi capaz de gerar livros, debates, documentários e influenciar gerações – para o brasileiro em geral, o futebol não é capaz de sobreviver sem a “cadência do samba”.

Me recordo da Copa do Mundo de Futebol de 1982, eu ainda era menino e assisti o lateral esquerdo Junior “capacete”, da seleção brasileira, entoar o seu samba em terra espanhola, pedindo para o canarinho voar. Depois, já crescido e cheio de contas para pagar, vi a seleção de Felipão, na Copa de 2002, cantando “Deixa a vida me levar”, de Zeca Pagodinho, dentro do ônibus da seleção brasileira.
 
Pois bem, em Araraquara essa relação entre o samba e o futebol ficou marcada na história. Ela representou o nascimento de um grupo de samba que ficou muito famoso no final dos anos 80, o “Alma Brasileira”.
 
O “Alma Brasileira” foi fruto do trabalho desenvolvido no time de futsal da WL Decolores, que encantou a cidade naquela época – os jogadores faziam samba dentro dos ônibus e se divertiam em meio ao trajeto que percorriam para disputar as competições.
 
A diversão se tornou mais séria quando receberam um convite para tocar na sede de campo do tradicional Clube 22 de Agosto. A apresentação foi um sucesso e depois passaram a frequentar a sede social do clube, que ficava na Av. Brasil, próxima à Igreja São Bento, no centro da cidade. Nascia ali um dos grupos de samba mais famosos da cidade no final dos anos 80, e que ficou imortalizado na voz de Marli Francisco.

Os trampolins da Ferroviária!




Quem era jovem e passou as tardes de domingo no final dos anos 80 na cidade de Araraquara, com certeza não deixou passar imune os trampolins das piscinas da Associação Ferroviária de Esportes.

Os trampolins significavam muita coisa para o jovem:, coragem, audácia, dinamismo e, acima de tudo, “autoestima”. Existiam três trampolins: de cinco metros, de sete metros e de dez metros. Cada um com a sua intensidade e tensão – o medo da barrigada era insano -, afinal, havia plateia. “Já pensou fazer ‘feio’ e cair de qualquer jeito?”. Para cada pulo era um olhar surpreso e o pessoal comentando, seja para o bem ou para o mal. Por isso, fazer “bonito” era fundamental e não podia exibir cara de medo.
 
Mas nem só de natação os trampolins viviam, muita gente ia assistir os jogos da Ferroviária lá de cima – dava para ver “metade” do campo de futebol. Então, sempre havia uma torcida “molhada”, e entre um gol e outro, um “pulinho básico” na piscina. Depois descobriram a artimanha e passaram a fechá-los em dias de jogos.


 
Me lembro das apresentações dos Aqualoucos nos trampolins, que com suas bicicletas faziam parecer que pular daquela altura era fácil – nunca foi fácil me convencer a pular, sempre fui muito medroso, a altura nunca esteve ao meu alcance, gostava mesmo era de espantar o calor da Morada na água e depois ir comer a pipoca do seu Luiz Fiorini.
 
Nomes importantes da natação araraquarense treinavam nas piscinas da Ferroviária e usaram os trampolins como diversão: Orselli e Piscinão, entre outros, se faziam presentes e depois iam treinar a molecada da cidade, usando os seus conhecimentos e habilidades em prol do desenvolvimento do esporte.

O Break: do Melusa Clube às Olímpiadas

Quando o clip da música Thriller de Michael Jackson foi apresentado num programa de televisão em um domingo à noite em meados dos anos 80 (oitenta), todos ficaram sem entender o que estava acontecendo com o universo da dança e da música, mas uma coisa chamou a atenção, a maioria dos jovens da época tentavam a imitação perfeita do Rei do Pop.

Tanto foi assim, que no dia seguinte, me vi na esquina da Cristovão Colombo com a João Gurgel no bairro do Santana junto com outros moleques da mesma idade, tentando imitar os passos do Rei do Pop, os mais habilidosos ficavam no centro da roda enquanto os outros aplaudiam.
 
Fui perceber ainda mais a fascinação por aqueles passos quando comecei a frequentar aos sábados à noite o Melusa Clube e a sua discoteca. As danças em grupo, os passinhos milimetricamente ensaiados, sincronizados e a reverência ao Rei do Pop estavam sempre presentes.
 
O pessoal passava a semana treinando imitações e ensaiando passos para se apresentar no Melusa Clube, o sucesso de um passinho rendia muitas paqueras de ambos os lados e era comum boa parte do pessoal seguir a coreografia do momento, era até bonito de se ver – muitas vezes a dança se arrastava pelo caminho de volta para casa e até fazia pit stop “guloso” no carrinho de lanche do Bahia que ficava nos fundos do Parque Infantil e que estava sempre aberto madrugada adentro.
 
Quase 40 (quarenta) anos depois em uma conversa de botequim, descobri que o Break, aquela dança que ganhou fama nos anos 80 (oitenta) com o rei do Pop e a gente tentava imitar, primeiro na esquina e depois no Melusa Clube havia virado esporte Olímpico.
 
Na tentativa de entender o universo dessa dança e sua transformação em esporte, o Podcast Uniara trouxe para um bate papo Rikardo Lion que conhece mais de perto o universo da dança e do Break, juro que depois dessa conversa fiquei meio confuso, não sei exatamente onde fica a fronteira entre o Break como dança e como esporte, seja lá qual for o limite entre ambos espero que eles ganhem em adeptos, mas de qualquer forma, Michael Jackson se torna cada vez mais lendário com o seu legado para a música e agora para um novo esporte olímpico.

O Sporting Benfica: legado e tradição no futebol de Araraquara




Quando aquele grupo de jovens se reuniu em frente à Praça do antigo Estádio Municipal e decidiu fundar o Sporting Benfica de Araraquara tenho a certeza de que não imaginaram que iriam ultrapassar a barreira do tempo, isso aconteceu no final dos anos 60 (sessenta), e depois de tantos anos, ainda persiste, agora, com nova roupagem e tocado pelos seus filhos, netos e amigos de longa data.

O nome Sporting Benfica surgiu devido ao auge dos times de Portugal nos anos 60, o Benfica por brilhar nas finais do Intercontinental de Clubes contra o Santos de Pelé e companhia e por ter em seu esquadrão, Euzébio, astro da seleção portuguesa e o Sporting por possuir um time de expressão internacional com grande fama e conquistas na época.
 
O grupo de jovens conseguiu um campo de futebol que fica na Rua Engenheiro José Barbugli no bairro do Quitandinha e consolidou suas raízes – muitas partidas do futebol amador da cidade foram disputadas naquele gramado e jogadores que chegaram a grandes times do futebol brasileiro desfilaram seus talentos no Sporting Benfica: Careca, Dorival Junior e Gallo.



Tive o privilégio de vestir a malha do Sporting Benfica do time juvenil no final dos anos 80, ao lado de Asa, Pepa Bergo, Edilson e muitos outros, conseguimos até um vice-campeonato jogando contra o bom time do Atlas dirigido pelo Seu Armando Clemente, um mito do futebol amador de Araraquara, tempo inesquecível da juventude.
 
Hoje, o Sporting Benfica é administrado de forma mais profissional por Lelei, Mazinho, Salame e muitos outros que até por questão de espaço e ordem não tenho condições de citar, mas que de qualquer forma consegue reunir a rapaziada para jogar uma bolinha aos sábados, ouvir um samba de primeira classe, ampliar o legado e a tradição que construiu no futebol amador de Araraquara.

1983: uma noite de Taça de Ouro no Estádio da "Fonte Luminosa"!



 A gente desceu a rua Imaculada Conceição, a famosa rua 12 (doze) que fica na “fronteira” entre o bairro São Geraldo e o Santana em direção à Avenida 36 (trinta e seis), meu finado pai com o radinho de pilha em mãos e em alto volume e eu, moleque, correndo a esmo, às vezes na frente, às vezes atrás, mas sempre de ouvido no que José Roberto Fernandes e sua equipe falavam sobre o jogo.

 Quanto mais subíamos a 36 (trinta e seis) mais o movimento aumentava, as camisas da Ferroviária apareciam em progressão geométrica e por todos os lados. Fizemos uma parada na sorveteria Spumel que havia próxima à rua 3 (três), ganhei um picolé, era mais barato, o sorvete de massa era mais caro, a grana era curta, mas o radinho estava lá, em alto e bom som, anunciando a escalação da partida, a ansiedade só aumentava, mas ainda havia um bom caminho até à Fonte Luminosa, era noite de Ferroviária versus Botafogo do Rio de Janeiro pela Taça de Ouro de 1983.
 
Nos sentamos no setor de sócio, era coberto, um luxo para quem frequentava o Estádio e que ficava ao lado das cadeiras azuis da “cativa”. A Fonte Luminosa estava lotada e realmente iluminada, bandeira para todos os lados, fogos de artifício, a rapaziada no alambrado sempre com a língua afiada, destilando impropérios ao árbitro e ao treinador visitante, antes mesmo do jogo começar, era um clima de festa e ao mesmo de apreensão tendo em vista a perspectiva de boa atuação da Ferroviária.
 
A esperança de vitória sempre estava nos pés de Douglas Onça, Claudinho, Bozó e Marcão, era a base do ataque afeano, uma linha fenomenal, mas o time do Botafogo carioca tinha jogadores de seleção brasileira: Paulo Sérgio, Alemão, Josimar, Abel, era um time de respeito.
 
Entre um amendoim e outro, gol, Bozó de perna esquerda, fez um golaço, após passe de Douglas Onça, meu Deus! Achei que a Fonte Luminosa fosse desabar, confesso que não me lembro depois de 40 (quarenta) anos do gol do Botafogo, só sei que foi de pênalti, e depois no segundo tempo, Jorginho decretou o placar final num chute cruzado, final 2 x 1 para a Ferroviária.


O Estádio quase caiu de tamanha euforia da torcida, mas também, quem dera, vencer o Botafogo do Rio de Janeiro, um dos grandes times do país e com tanta tradição no futebol brasileiro! Era a Ferroviária fazendo história no futebol brasileiro!
 
Disputar a primeira divisão do futebol brasileiro é o sonho de qualquer clube de futebol, em 73 (setenta e três) anos de história, essa foi a única participação da Ferroviária no campeonato mais expressivo do país, em 2023, comemora-se 40 (quarenta) anos da disputa e nada melhor do que fazer uma homenagem a esse time fantástico, foi por isso que o Podcast Uniara em parceria com o Museu de Futebol e Esportes Vicente Henrique Barofaldi e Esporte em Ação organizaram uma  exposição sobre aquela campanha e que ficará aberta ao público no Pátio da Uniara Central até o final do mês de agosto, a entrada é gratuita e pode ser visitada durante o horário comercial.

O Clube 22 de agosto: tradição no esporte e na cultura de Araraquara!

Na avenida Prof. Jorge Correa na altura do bairro de Santana em Araraquara está localizado o Clube 22 de agosto. Desde os anos 70, as contribuições do Clube para a cultura e o esporte foram imensuráveis, as práticas de esporte eram rotineiras e ainda continua sendo, mesmo não tendo a volúpia de outrora.

Ainda nos anos 80, o Clube 22 de Agosto que leva a data de fundação de Araraquara era conhecido como Lago Azul, o seu logo da mesma cor tratou de mitificar a existência do lago, que tempos depois seria desfeito tendo em vista as propostas de melhorias do Clube, mas que nunca deixou de exibir seu charme para a cidade e toda região uma vez que possui muita área verde, belas piscinas e alamedas.
 
Do ponto de vista esportivo, contribuiu de forma exemplar, o time de futsal de adultos no final dos anos 80 (oitenta) que possuía em seu elenco Calzinho, Biroca, Sarrinha entre outros fez sucesso na disputa do campeonato estadual da época, sem contar a participação nos torneios de futsal da cidade, elevando o nível da participação e fazendo duelos memoráveis contra os times da WL Decolores e da Nestle que representavam o futsal de Araraquara nas competições pelo Brasil afora.
 
Na cultura, não podia deixar de lembrar do globo que ficava girando na boate da sede social em frente ao Correio, com seus 3 (três) andares, a boate literalmente “lotava” aos sábados e domingos com shows memoráveis e apresentações dos grupos de pagode da época: “Os Magnatas do Pagode”, “Alma Brasileira” e outros que no momento não me recordo, mas que contribuiu de forma intensa para o desenvolvimento cultural de Araraquara.
 
Hoje, os tempos são outros, a sede social não existe mais, foi vendida a alguns anos, mas a sede esportiva na baixada do Santana ainda permanece, não mais com o “glamour” que possuía, mas com a sua estrutura invejável e bem montada, alguns shows e apresentações culturais ainda acontecem no clube, ressaltando a vocação no sentido de contribuir para o desenvolvimento cultural e esportivo da cidade.

O Parque Infantil: corridinha, entretenimento e qualidade de vida em Araraquara!

Uma praça que fica praticamente no “meio” da cidade, assim é o Parque Infantil de Araraquara – uma praça imponente, cheia de Palmeiras altas e vistosas e com uma creche em seu interior, algumas vias em asfalto com bancos verdes para sentar e contemplar a natureza, tudo isso está a vista no Parque.

Alguns se sentam em seus bancos buscando respostas para os problemas da vida, outros para dar aquela “fumadinha” ou mesmo para dar aquela “namorada”, mas enfim, cada qual com a sua situação, o que importa mesmo é contemplar a natureza e buscar o ar refrescante, já que na Morada o sol costuma arder na pele.
 
A banca de jornal na esquina do Parque com a rua três é tradicional na cidade, um ponto de encontro para quem coleciona as figurinhas do momento e quer usá-la como uma base para agilizar as trocas e evitar o gasto de uns trocados e ao mesmo tempo preencher o álbum, mas o bom mesmo é a troca de ideias e das figuras chaves da coleção.
 
Na ânsia de buscar uma vida saudável, muitos optam por usar o Parque Infantil para organizar a qualidade de vida, dar aquela corridinha ou mesmo fazer uma caminhada, outros praticam o tai chi shuan, as árvores exuberantes e seus espaços longínquos permitem a sombra e o frescor que os esportistas de ocasião tanto necessitam.
 
Entre um fim de semana e outro sempre uma rola uma feira de artesanato, alguns vendem pão feito em casa, outros vendem objetos variados, vai de vinis antigos ou cd’s, roupas usadas ou brechós, vez ou outra, algum cantor se apresenta, ou mesmo organizam algumas feiras veganas, seja lá o que for, o bom mesmo é manter a praça movimentada.
 
O bom mesmo era o “box” do Bahia que ficava nos fundos do Parque, lá na rua 4 com seus lanches imensos e saborosos que matava a fome da moçada depois das baladas e o refri gelado para refrescar – tempos áureos!!

Monday 20 November 2023

A ADA – Associação Desportiva Araraquara: o futebol e o resgate histórico



A ADA – Associação Desportiva Araraquara foi fruto da fusão entre o São Paulo e o Paulista Futebol Clube no ano de 1952, teve como patrono Pereira Lima que se opunha ao grupo do então governador Ademar de Barros que “entre aspas” defendia as cores da Associação Ferroviária de Esportes e que havia sido responsável pela construção do Estádio da Fonte Luminosa.

Para não usar as cores preto e vermelho que assemelhavam às do São Paulo e do Paulista, usaram as cores da cidade, o azul e o branco e Pereira Lima foi o responsável pela montagem do elenco. O primeiro treinador da ADA foi José de Andrade e a equipe disputou a divisão de acesso. Pereira Lima foi buscar pelo país reforços para a equipe, trouxe jogadores do Fluminense do Rio de Janeiro, da Portuguesa de Desportos, do Comercial de São Paulo entre outros.

Os primeiros treinos da equipe foram feitos no antigo Estádio Municipal “Tenente Siqueira Campos” e tinham como frequentadores os torcedores dos extintos, São Paulo e do Paulista. O primeiro jogo da ADA aconteceu em 06 de abril de 1952 contra o Noroeste de Bauru e a ADA aplicou uma goleada por 5 x 0, nascia nesse jogo a rivalidade com a Ferroviária – a FERRO-ADA.

O primeiro jogo entre a Ferroviária x ADA aconteceu no dia 10 de agosto de 1952, uma disputa com grande rivalidade e tensão que terminou com a vitória da Ferroviária por 4 x 3 e teve até morte por ataque cardíaco de um torcedor, tal era o clima que revestia a partida. No total foram disputadas 11 partidas entre a ADA e a Ferroviária, entre os anos de 1952 e 1956, a ADA venceu 2 partidas, 2 empates e 7 vitórias da Ferroviária.

Após perder as disputas na divisão de acesso em 1953, a ADA paralisou suas atividades, voltando em 1955, num jogo contra o Internacional e em 1956, a Ferroviária conquistou o acesso à divisão especial e a ADA entregou as faixas, simbolizando a paz entre os times.

Em 1957, em meio à intensa crise financeira a ADA voltou a disputar a Divisão de Acesso e a campanha foi um fracasso, em 16 jogos, foram apenas 2 vitórias, 5 empates e 9 derrotas, depois do fracasso, o Departamento de Futebol da ADA foi extinto, mas ela continuou disputando o futebol amador de Araraquara até a década de 70.

 Referência

 CIRINO, Luiz Marcelo Inaco. Araraquara futebol e política. São Paulo: SJS, 2008.

 


Sunday 5 November 2023

Tota: o mago dos campinhos de Araraquara

 

Ele sempre chegava em sua magrela azul e com sua pastinha preta embaixo do braço. A molecada jogando bola – ele estacionava e ficava olhando, não sabia ao certo quem era o alvo, mas uma coisa tinha certeza, sempre queria um novo talento para o futebol, assim era o Tota.

Andava de campinho em campinho, geralmente de terra, os gols feitos de bambu ou com sobras de madeira, o terreno de forma costumeira era penso para um dos lados, sem contar a erosão que existia no meio do campo e formava os buracos, a bola quicava muito e mesmo assim, a persistência era maior que a teimosia e Tota nunca desistia.

Após o término das peladas, Tota sempre chamava os talentos para uma conversa ou para assinar uma ficha e assim, assumir um compromisso com a sua equipe – seria uma espécie de contrato a ser assinado, a garantia de que aquele talento vestiria a camisa de sua equipe – a concorrência entre os treinadores da época era intensa e não podia dar bobeira, garantir os melhores era fundamental para o sucesso.

Para Tota, todos os meninos eram iguais, só os distinguia pelo talento aplicado no campinho, se tivesse talento, jogava em seu time, se não tivesse, podia até ir treinar, mas dificilmente seria escalado, já que sua personalidade exigente e vencedora não permitia.

Em campo, se transformava no banco de reservas, dava de dedo na molecada, chamava a atenção e cobrava, o jogador de seu time nunca podia chegar atrasado, já era chamado de lado e muitas vezes nem vestia a camisa do time, podia ser o craque que for, não interessava, tinha que cumprir o compromisso com a equipe.

Tota fazia o esforço, levava em um saco o uniforme do time amarrado na garupa da bicicleta mesmo sob o sol escaldante da Morada, as meias amarradas umas às outras para não se perderem, as camisas geralmente amarrotadas e os calções de vários tamanhos misturados, para pegar o de tamanho certo, a sorte precisava acompanhar, mas estava tudo bem, quem estava no vestiário, estava feliz, pois estar escalado para participar do jogo já era uma vitória, se iria entrar em campo ou não, era outra história, mas uma coisa o menino tinha certeza, estava entre os melhores.

Tota era muito parceiro de Jair Bala, os dois viviam no buteco que havia ao lado do extinto Cine Plaza, no alto da rua dois, geralmente tomando uma cervejinha para refrescar a cuca – santista de coração, fazia questão de exaltar os títulos conquistados e as proezas de Pelé e sua turma.

Tota era incansável na busca por talentos, muitos que passaram por suas mãos chegaram ao profissional, outros tantos, não, mas sempre levaram consigo os ensinamentos do mestre: a busca pela disciplina, a perfeição nas ações e a formação do caráter.

E como diz a poesia de Bertold Brecht:

“Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis!”

Tuesday 10 October 2023

Crônica: O menino, a bicicleta e Anésio Argenton!!

 


O menino, a bicicleta e Anésio Argenton

 

Saiu de casa à esmo naquela manhã alegre de sábado com a sua bicicleta, não era preciso ir à escola e não tinha obrigações de casa para fazer, portanto, dar uma volta de bike era convidativo e fundamental, apesar do calor da Morada.

Como morava próximo à rua 1 (um), resolveu subir a Barroso até o cruzamento com a rua 2 e seguiu em direção ao bairro do Santa Angelina, lá em cima, já no caminho da Fonte Luminosa, cruzou a Bento de Abreu rumo à Praça do Paliteiro.

Depois, desceu a rua 3 (três) e entre as avenidas 40 (quarenta) e 42 (quarenta e dois) avistou um senhor sentado na porta de uma bicicletaria, olhou com atenção aquela cena e resolveu parar, afinal, tinha uma bicicleta nova em exposição e resolveu conhecê-la.

_ O senhor trabalha aqui? Perguntou o menino, afoito e curioso!

_ Sim...sou o proprietário!

_ Gostaria de saber mais sobre essa bicicleta que está em exposição, disse o menino.

_ Então, vamos entrar! Falou o homem!

O menino percebeu que havia vários pôsteres nas paredes e alguns troféus espalhados na prateleira e resolveu perguntar:

_ Quem é esse nos pôsteres? Indagou o menino.

_ Sou eu! Disse o senhor.

_ Como é seu nome? Perguntou o menino, apreensivo!

_ Anésio Argenton! Disse o senhor com olhar fraternal!

_ Ah..vai haver uma prova de ciclismo essa semana e ela leva o seu nome, agora entendi tudo! O senhor já foi campeão de ciclismo? Para ter o nome numa prova com certeza deve ter sido alguém bem importante! Bom, pelo menos é o que eu acho! Falou o menino com cara de surpresa!

_ Sim, já ganhei várias provas, mas isso faz muito tempo! Disse Seu Anésio.

_ O tempo não apaga as glórias conquistadas! Retrucou o menino com ar de sapiência.

_ Me conte um pouco de suas conquistas! Tenho tempo o suficiente, hoje é sábado e posso chegar em cima da hora do almoço, minha mãe não vai brigar comigo! Falou o menino!

Seu Anésio olhou para o menino demonstrando paciência e pediu para ele se sentar.

_ Não foram tantas, ganhei os jogos pan-americanos de Chicago em 1959, depois fiquei em quinto nos Jogos Olímpicos de Roma em 1960 e no Jogos pan-americanos de 1963 fiquei com a medalha de bronze, acho que dei alguma contribuição para o ciclismo brasileiro! Falou seu Anésio de forma humilde.

_ Poxa!  Então, parei no lugar certo e ainda conheci um campeão de ciclismo, jamais imaginei isso! Falou o menino em tom de surpresa.

_ Hoje, vivo bem aqui, arrumo algumas bicicletas, outras eu vendo, mas é a vida, eu ainda pedalo, mas só de vez em quando, os joelhos já não ajudam mais, mas vamos fazer o seguinte, sábado que vem, apareça aqui no mesmo horário e vamos pedalar juntos, podemos combinar? Disse seu Anésio com sorriso no rosto.

_ Nossa, nem vou dormir de tanta ansiedade, pedalar com um campeão, realmente é para poucos e claro, está combinado. Disse o menino com sorriso no rosto estendendo a mão para cumprimentar seu Anésio.

O menino saiu da loja em extase e no caminho de volta para casa lembrou-se da poesia que seu professor de literatura havia certo tempo atrás recitado em sala de aula:

Ia pelo caminho calorento,

O sol como um milharal em chamas

E a terra um infinito círculo saboroso com o céu azul em cima, desabitado.

Passaram junto a mim as bicicletas de Argenton!

 

Obs: Poesia de Pablo Neruda adaptada chamada “Ode à bicicleta”

Wednesday 4 October 2023



CIRINO, Marcelo Inaco Luis. Fonte Luminosa – Ferroviária. Campinas: Pontes, 2005.



Dos trilhos à Fonte Luminosa

 

Escrever sobre a Associação Ferroviária de Esportes para quem mora na cidade de Araraquara pode parecer ser uma missão não muito complicada, tendo em vista a aparente proximidade entre a agremiação e a torcida, mas, no futebol, o fato de jogar em casa, nem sempre significa ser favorito, é assim a obra escrita pelo meu amigo Doutor Marcelo Cirino.

Digo isso pela complexidade que reveste a sua obra, fruto de pesquisa intensa, consulta a jornais da época, às atas existentes, às fichas dos jogos, não foi nada fácil reunir a documentação relacionada à Associação Ferroviária de Esportes, foi necessário a construção de um personagem que embora tenha adoração pela medicina também fosse capaz de adotar as sandálias humildes da história para entendê-la, interpretá-la e depois escrevê-la.

Quem navega sobre as águas do livro Fonte Luminosa – Ferroviária de Marcelo Cirino mergulha em uma fonte de água cheias de luzes e histórias de Araraquara e da Associação Ferroviária de Esporte, Cirino foi buscar ainda nos trilhos da antiga Fepasa elementos que ressaltam o nascimento da agremiação.

O futebol em Araraquara, antes mesmo da Associação Ferroviária de Esporte é descrito de forma sublime pelo autor, assim como o nascimento do time de futebol e a construção da linda Fonte Luminosa, a presença ilustre do genial Pereira Lima, figura ímpar que sem as suas ações, seria impossível pensar a própria existência da agremiação e que se hoje o estádio resplandece de luz e grandeza, muito se deve à sua persistência em construir o time grená.

O autor construiu uma verdadeira viagem na história pelos trilhos da araraquarense. Foi buscar elementos para ressaltar as excursões da Ferroviária em terras estrangeiras, relacionou a ADA (Associação Desportiva Araraquarense) e os dérbis com a Ferroviária, traz inúmeras fichas de jogos, cita os anos difíceis e fotos memoráveis de times espetaculares que foram montados no decorrer da história.

A obra de Cirino é de leitura obrigatória para todos aqueles que se interessam pela Associação Ferroviária de Esportes e pela Morada do Sol -  afinal de contas, o autor conseguiu relacionar os trilhos da Fepasa, o nascer do sol na Morada com a mesma felicidade daqueles que já embarcaram em trens de passageiros e conseguiram curtir demais a paisagem da janela.

 

Monday 2 October 2023

 

O Cine Veneza, o Cine Capri e o canal 100: o futebol e a arte nos cinemas de Araraquara


 

Na rua três em Araraquara entre as avenidas Espanha e Duque de Caxias ficava o antigo cine Veneza. O cine Veneza representava muita coisa para o jovem da época, aliás, não apenas o Veneza, mas também o Cine Capri que ficava a duas quadras de distância, isso porque ambos os cinemas eram sinônimos de diversão e com baixo custo, atraía demais o público.

Os cinemas apresentavam os seus cartazes, já na época muito bem construídos e simples apresentavam os filmes à disposição e os horários das sessões – ambos eram grandes e os tapetes vermelhos apresentavam um charme de época, as poltronas confortáveis, as telas gigantes e imponentes faziam a diferença, logo na entrada, as bombonieres se faziam presentes e vendiam balas de leite kids, balas soft, drops, e chocolates em um pequeno balcão com vidros, não existia nada de pipoca e refrigerante, era a “felicidade” que existia naquele momento.

Os filmes passavam em rolo, era comum as vezes “ouvi-lo” nessa missão – a figura do lanterninha sempre era um problema para os mais assanhados, quando começava o rala e rola, lá vinha ele com a sua luz impertinente e justificada cortando o barato da moçada. Era gostoso frequentá-los e depois dar uma passada na livraria Vamos Ler que ficava ao lado do Cine Veneza, dar uma “folhada” nas revistas da semana era certeiro, afinal, elas eram caras para assinar e ficar sabendo das últimas notícias era fundamental.

Quando as cortinas se abriam logo de cara o Canal 100 de Carlos Niemeyer pintava na telona tendo como pano de fundo a música “Na cadência do Samba” de Luiz Bandeira na voz de Waldir Calmon – o Canal 100 mostrava  a sutileza dos movimentos dos jogadores de futebol, geralmente do Flamengo e do Vasco, o Zico com aparência serena e Roberto Dinamite apreensivo eram presenças constantes  sob o barulho ensurdecedor das torcidas no Maracanã, os geraldinos tensos com os rádios de pilha no ouvido protagonizavam cenas que ficaram para a história e construíram a saudade de um estádio que já não existe mais.

O Canal 100 era dramático com suas câmeras lentas, aproximava atacantes e goleiros em hora de definição do lance, os gestos dos juízes aplicando gritos aos jogadores ecoavam nas salas dos cinemas, a decepção da perda do gol, a alegria de uma defesa retratada de forma clara e objetiva pelas suas lentes encantava a todos numa época em que o futebol representava a arte, os jogadores eram os Chaplins em tempos que o artista da bola se assemelhava a Van Damme, a Stallone ou mesmo à Edson Arantes do Nascimento e talvez por isso, desfilavam seus talentos nas telas dos cinemas.

 

 

Monday 18 September 2023

 


Mario José Pinto e as maratonas aquáticas

                                                    

Mario Pinto e natação são sinônimos, tal a simbiose que tomou conta de ambos, na cidade de Araraquara quando se fala no nome de Mario, automaticamente já se liga ao universo aquático e essa trajetória começou ainda menino nas piscinas da Associação Ferroviária de Esportes.

Desde o começo com os ensinamentos dos mestres Piscinão e Orselli, Mario Pinto já demonstrava a vocação para a natação, talvez por isso, nunca mais a deixou, aliás, foi aperfeiçoando a sua formação nas piscinas até chegar nas disputas das competições de natação de longo alcance, as chamadas “maratonas aquáticas”.

Foi aí que surgiu o sonho de atravessar o Canal de Mancha, espaço marítimo que liga a França à Inglaterra – um verdadeiro desafio tendo em vista as condições nada favoráveis de temperatura e pressão, uma vez que o mar naquela região costuma ser gelado e de intensa vibração, o que dificulta e muito e valoriza demais o sucesso na empreitada.

O livro Travessia do Canal da Mancha está dividido em 5 (cinco) partes, na primeira parte, o autor começa falando sobre a escolha pela natação e a história da carreira.

Na segunda parte do livro, aborda as maratonas aquáticas e as trajetórias em águas abertas, assim como da decisão de fazer a travessia do Canal da Mancha.

Na terceira parte, o auge do livro, onde o autor aborda a preparação para a travessia, os momentos de tensão, solidão e o medo que toma conta do cenário, assim como a realização, e a sua relação com o profissional Igor Souza que conduziu todo o processo de preparação para a travessia.

Na quarta parte do livro, Mario aborda as maratonas aquáticas e a sua relação com a psicologia esportiva, o que pode ser considerado muito significativo uma vez que o autor possui extensa formação profissional na área e a utiliza como ferramenta para superar as grandes dificuldades que as maratonas aquáticas apresentam.

Na quinta parte do livro, o autor apresenta um álbum de fotos e imagens do sonho realizado, o que torna o livro mais atrativo e de leitura fácil.

Superar o medo, a ansiedade e as dificuldades para a realização de um sonho é a lição que o livro apresenta, e a pergunta que pode ser fazer em cima da obra é a seguinte: até onde você está disposto a ir para realizá-lo? O livro de Mario Pinto tem tudo a ver com essa pergunta na medida em que a resposta é extremamente positiva, pois ela consegue unir, determinação, perspicácia, planejamento e perseverança em busca de um objetivo maior que é a concretização de um sonho.

 

 

Sunday 17 September 2023

Thomas Hobbes

 




O Estado em Thomas Hobbes (1588-1769)

 

Porque as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia, a piedade, ou, em resumo, fazer aos outros o que querem que nos façam) por si mesmas, na ausência do temor de algum poder capaz de levá-las a ser respeitadas, são contrárias a nossas paixões naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, o orgulho, a vingança e coisas semelhantes. E pactos sem a espada não passam de palavras, sem força para dar qualquer segurança a ninguém. Portanto, apesar da leis de natureza (que cada um respeita quanto tem vontade de respeitá-las e quando pode fazê-lo com segurança), se não for instituído um poder suficientemente grande para nossa segurança, cada um confiará e poderá legitimamente confiar apenas em sua própria força e capacidade, como proteção contra todos os outros (HOBBES, cap. XVII, p. 103)

Para começarmos a entender o pensamento de Thomas Hobbes é necessário salientar que ele faz parte de uma gama de pensadores conhecidos como contratualistas . Os contratualistas vêem a sociedade e o Estado através de um contrato. Em linhas gerais, o pensador escreve que seria impossível a convivência humana sem a aplicação de regras e normas e que para cumprir esses contratos e normas era necessário existir uma “entidade” que estivesse situada acima dos homens para que os obrigassem a cumprir as regras estabelecidas.

É nesse contexto que reside o entendimento sobre o seu pensamento. Thomas Hobbes parte para a construção das suas idéias através do estado de natureza humana.

Para compreender o que Thomas Hobbes quer dizer com estado de natureza humana é preciso salientar que o mesmo não enxerga diferenças entre os homens - todos são iguais e que em linhas gerais, estes não mudam seu comportamento através dos tempos.

De acordo com Ribeiro (1995, p. 54)

A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte do corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isso em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa também aspirar, tal como ele.

O cerne do pensamento de Hobbes está relacionado com a seguinte questão: nenhum homem é superior e não pode triunfar sobre outro.

Nesse contexto, o Estado precisa se impor “se não há um Estado controlando e reprimindo, fazer a guerra contra os outros é a atitude mais racional” (RIBEIRO, 1995, p. 55).

No entanto, a fundamentação teórica de Hobbes nos remete ao medo. Na visão de Hobbes, o medo faz parte da natureza humana e o estado natural é capaz de propor a insegurança, o medo e a angústia.

O medo que se instala sobre os homens durante o estado de natureza é decorrente da igualdade natural – sendo os homens iguais, estes podem ferir ou serem feridos, tendo em vista a fragilidade do corpo, que se derrotado atinge também a força, a sabedoria e o vigor.

O medo do exercício da guerra de todos contra todos é e isso fica explicita na frase “minha mãe pariu gêmeos e eu o medo”. È sobre esse pano de fundo que vai se desenvolver a criação do Estado e a visão de Sociedade Civil hobbesiana.

A sociedade civil vai nascer da racionalidade humana, sendo assim de forma artificial. No entanto, é necessário vincular a racionalidade humana hobbesiana com o desenvolvimento das ciências. Hobbes viveu em um período de intensa transformação científica, onde o uso da razão era prevalecente. A racionalidade aplicada ao meio científico tinha que ser transportada para o interior das relações humanas e sendo assim, a formulação de pactos e contratos sobre a atuação de um Estado forte era fundamental para a regulação da vida, evitando assim, a guerra de todos contra todos.

A organização do estado racional será capaz de colocar um freio nas relações humanas, uma vez que o pensamento para Hobbes estabelece o homem como um ser egoísta e que só pensa em seus interesses pessoais. Bueno (2010, p. 4) define estado natural hobbesiano, quando aponta que “no estado, a força de cada um é medida por seu poder real; cada um tem exatamente tanto de direito quanto de força e todos só pensam na própria conservação, nos interesses pessoais”

É certo salientar que o homem vai estabelecer a criação de um Estado racional tendo como ponto fulcral, o medo. Medo de ser morto e escravizado e o Estado vai servir para proporcionar a segurança necessária para viver em sociedade.

O Estado racional vai se fundamentar no monopólio da força, portanto, o Estado será soberano e o direito vai criar as bases e as regras das ações da sociedade.

É sobre esse contexto que nascerá o Leviatã, monstro bíblico onde o mesmo se trata de um animal monstruoso, invencível e cruel.

Na visão de Bueno (2010, p. 6)

O monstro foi criado – o Leviatã, o homem artificial, que encarna o poder absoluto – do acordo coletivo, em que os homens entregaram ao Estado todo o seu poder e sua vontade , e o fato de cada homem ser co-autor desta soberania torna seu poder indivisível.

O Estado para Hobbes se estabelece através da vontade humana e vai refletir os interesses da sociedade, sendo assim, será o agente que garantirá a paz, a segurança, a liberdade de expressão e a liberdade das relações econômicas.

 

Referências

 

BUENO, M.M. Medo e liberdade no pensamento de Hobbes. In: Revista Primus Vitam, n. 1, v. 2, 2010.

HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Nova Cultural, 1983.

RIBEIRO, R. J. Hobbes: o medo e a esperança. IN: Os clássicos da política. 5 ed. São Paulo: Ática, 1995.

 

Tubaína, mortadela e um jogo na Fonte Luminosa

  O ano, ele não se recorda de maneira exata, mas tem a certeza de que aquela partida de futebol entre a Ferroviária de Araraquara e Palmeir...