Monday 18 September 2023

 


Mario José Pinto e as maratonas aquáticas

                                                    

Mario Pinto e natação são sinônimos, tal a simbiose que tomou conta de ambos, na cidade de Araraquara quando se fala no nome de Mario, automaticamente já se liga ao universo aquático e essa trajetória começou ainda menino nas piscinas da Associação Ferroviária de Esportes.

Desde o começo com os ensinamentos dos mestres Piscinão e Orselli, Mario Pinto já demonstrava a vocação para a natação, talvez por isso, nunca mais a deixou, aliás, foi aperfeiçoando a sua formação nas piscinas até chegar nas disputas das competições de natação de longo alcance, as chamadas “maratonas aquáticas”.

Foi aí que surgiu o sonho de atravessar o Canal de Mancha, espaço marítimo que liga a França à Inglaterra – um verdadeiro desafio tendo em vista as condições nada favoráveis de temperatura e pressão, uma vez que o mar naquela região costuma ser gelado e de intensa vibração, o que dificulta e muito e valoriza demais o sucesso na empreitada.

O livro Travessia do Canal da Mancha está dividido em 5 (cinco) partes, na primeira parte, o autor começa falando sobre a escolha pela natação e a história da carreira.

Na segunda parte do livro, aborda as maratonas aquáticas e as trajetórias em águas abertas, assim como da decisão de fazer a travessia do Canal da Mancha.

Na terceira parte, o auge do livro, onde o autor aborda a preparação para a travessia, os momentos de tensão, solidão e o medo que toma conta do cenário, assim como a realização, e a sua relação com o profissional Igor Souza que conduziu todo o processo de preparação para a travessia.

Na quarta parte do livro, Mario aborda as maratonas aquáticas e a sua relação com a psicologia esportiva, o que pode ser considerado muito significativo uma vez que o autor possui extensa formação profissional na área e a utiliza como ferramenta para superar as grandes dificuldades que as maratonas aquáticas apresentam.

Na quinta parte do livro, o autor apresenta um álbum de fotos e imagens do sonho realizado, o que torna o livro mais atrativo e de leitura fácil.

Superar o medo, a ansiedade e as dificuldades para a realização de um sonho é a lição que o livro apresenta, e a pergunta que pode ser fazer em cima da obra é a seguinte: até onde você está disposto a ir para realizá-lo? O livro de Mario Pinto tem tudo a ver com essa pergunta na medida em que a resposta é extremamente positiva, pois ela consegue unir, determinação, perspicácia, planejamento e perseverança em busca de um objetivo maior que é a concretização de um sonho.

 

 

Sunday 17 September 2023

Thomas Hobbes

 




O Estado em Thomas Hobbes (1588-1769)

 

Porque as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia, a piedade, ou, em resumo, fazer aos outros o que querem que nos façam) por si mesmas, na ausência do temor de algum poder capaz de levá-las a ser respeitadas, são contrárias a nossas paixões naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, o orgulho, a vingança e coisas semelhantes. E pactos sem a espada não passam de palavras, sem força para dar qualquer segurança a ninguém. Portanto, apesar da leis de natureza (que cada um respeita quanto tem vontade de respeitá-las e quando pode fazê-lo com segurança), se não for instituído um poder suficientemente grande para nossa segurança, cada um confiará e poderá legitimamente confiar apenas em sua própria força e capacidade, como proteção contra todos os outros (HOBBES, cap. XVII, p. 103)

Para começarmos a entender o pensamento de Thomas Hobbes é necessário salientar que ele faz parte de uma gama de pensadores conhecidos como contratualistas . Os contratualistas vêem a sociedade e o Estado através de um contrato. Em linhas gerais, o pensador escreve que seria impossível a convivência humana sem a aplicação de regras e normas e que para cumprir esses contratos e normas era necessário existir uma “entidade” que estivesse situada acima dos homens para que os obrigassem a cumprir as regras estabelecidas.

É nesse contexto que reside o entendimento sobre o seu pensamento. Thomas Hobbes parte para a construção das suas idéias através do estado de natureza humana.

Para compreender o que Thomas Hobbes quer dizer com estado de natureza humana é preciso salientar que o mesmo não enxerga diferenças entre os homens - todos são iguais e que em linhas gerais, estes não mudam seu comportamento através dos tempos.

De acordo com Ribeiro (1995, p. 54)

A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte do corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isso em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa também aspirar, tal como ele.

O cerne do pensamento de Hobbes está relacionado com a seguinte questão: nenhum homem é superior e não pode triunfar sobre outro.

Nesse contexto, o Estado precisa se impor “se não há um Estado controlando e reprimindo, fazer a guerra contra os outros é a atitude mais racional” (RIBEIRO, 1995, p. 55).

No entanto, a fundamentação teórica de Hobbes nos remete ao medo. Na visão de Hobbes, o medo faz parte da natureza humana e o estado natural é capaz de propor a insegurança, o medo e a angústia.

O medo que se instala sobre os homens durante o estado de natureza é decorrente da igualdade natural – sendo os homens iguais, estes podem ferir ou serem feridos, tendo em vista a fragilidade do corpo, que se derrotado atinge também a força, a sabedoria e o vigor.

O medo do exercício da guerra de todos contra todos é e isso fica explicita na frase “minha mãe pariu gêmeos e eu o medo”. È sobre esse pano de fundo que vai se desenvolver a criação do Estado e a visão de Sociedade Civil hobbesiana.

A sociedade civil vai nascer da racionalidade humana, sendo assim de forma artificial. No entanto, é necessário vincular a racionalidade humana hobbesiana com o desenvolvimento das ciências. Hobbes viveu em um período de intensa transformação científica, onde o uso da razão era prevalecente. A racionalidade aplicada ao meio científico tinha que ser transportada para o interior das relações humanas e sendo assim, a formulação de pactos e contratos sobre a atuação de um Estado forte era fundamental para a regulação da vida, evitando assim, a guerra de todos contra todos.

A organização do estado racional será capaz de colocar um freio nas relações humanas, uma vez que o pensamento para Hobbes estabelece o homem como um ser egoísta e que só pensa em seus interesses pessoais. Bueno (2010, p. 4) define estado natural hobbesiano, quando aponta que “no estado, a força de cada um é medida por seu poder real; cada um tem exatamente tanto de direito quanto de força e todos só pensam na própria conservação, nos interesses pessoais”

É certo salientar que o homem vai estabelecer a criação de um Estado racional tendo como ponto fulcral, o medo. Medo de ser morto e escravizado e o Estado vai servir para proporcionar a segurança necessária para viver em sociedade.

O Estado racional vai se fundamentar no monopólio da força, portanto, o Estado será soberano e o direito vai criar as bases e as regras das ações da sociedade.

É sobre esse contexto que nascerá o Leviatã, monstro bíblico onde o mesmo se trata de um animal monstruoso, invencível e cruel.

Na visão de Bueno (2010, p. 6)

O monstro foi criado – o Leviatã, o homem artificial, que encarna o poder absoluto – do acordo coletivo, em que os homens entregaram ao Estado todo o seu poder e sua vontade , e o fato de cada homem ser co-autor desta soberania torna seu poder indivisível.

O Estado para Hobbes se estabelece através da vontade humana e vai refletir os interesses da sociedade, sendo assim, será o agente que garantirá a paz, a segurança, a liberdade de expressão e a liberdade das relações econômicas.

 

Referências

 

BUENO, M.M. Medo e liberdade no pensamento de Hobbes. In: Revista Primus Vitam, n. 1, v. 2, 2010.

HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Nova Cultural, 1983.

RIBEIRO, R. J. Hobbes: o medo e a esperança. IN: Os clássicos da política. 5 ed. São Paulo: Ática, 1995.

 

Max Weber

 




WEBER, Max. A ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1997.

 

Max Weber nasceu quase no final do século XIX e faleceu pouco tempo depois do término da I Guerra Mundial. Esse período de vida de Max Weber, representou uma mudança significativa tanto em solo europeu quanto mundial, no que diz respeito ao conceito de Estado.

 

Os movimentos sociais de final do século XIX e o desencadeamento da I Grande Guerra Mundial, foram molas propulsoras para que Max Weber apresentasse a sua concepção de Estado.

 

Nesse contexto, Max Weber foi capaz de revolucionar e influenciar o desenvolvimento do Estado nos quatro cantos do mundo através da proposta de gerenciamento do Estado por meio racional – por racional, entende-se sistema burocrático de gerenciamento.

 

A sua ideia de Estado pode ser encontrada no texto: “ A política como vocação”, onde o autor ressalta a necessidade da criação do Estado Moderno – mas, o que seria o Estado Moderno para Max Weber?

 

O Estado para Weber é “uma relação de homens que dominam seus iguais, mantida pela violência legítima”.

 

Por conseguinte, Max Weber legitima o uso do poder da força pelo Estado. O Estado é o único que deve possuir o poder de utilização da força para poder colocar em prática as suas idéias – a legitimidade da ação do Estado aparece através da concessão da sociedade.

 

Para entendermos o conceito de Estado de Weber é necessário conhecermos a noção de domínio para o autor. O domínio está relacionado com a possibilidade de uma determinada vontade de se sobrepor à outra.

 

A concessão da utilização da força para o Estado pela sociedade pode ser estabelecida através de 3 tipos puros de dominação:

 

• Dominação tradicional

 

• Dominação carismática

 

• Dominação legal

 

A dominação tradicional está relacionada com a passagem do poder através dos costumes e da cultura;

 

A dominação carismática através da influência de líderes políticos. (No Brasil e na América Latina aconteceu de forma contumaz, principalmente no período da abertura política democrática que vai de 1945 a 1964). Como exemplo podemos citar: Getulio Vargas, Janio Quadros e mais recentemente Luis Inacio Lula da Silva. Essas figuras são consideradas e rotuladas em território brasileiro como populistas. Na visão de Weffort, no livro O Populismo na política brasileira, o populismo é um fenômeno político, pois os líderes se põem acima das massas, atraindo para si o papel de salvador da pátria.

 

Na visão do autor, Estado Moderno significa desenvolvimento do sistema burocrático – a burocracia seria a grande arma para a administração do Estado – mas, em linhas gerais, o que significa burocratização? Seria a definição de cargos, atividades e salários dentro do próprio Estado com um fim específico, ou seja, atender as necessidades do próprio Estado e mais do que isso, serve para limitar a atuação do Estado.

 

A burocracia é para Max Weber um processo de gerenciamento das relações de poder e trata-se de um produto histórico do desenvolvimento do Estado Moderno.

 

 

Referências

 

WEBER, Max. A ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1997.

 

 

 

Rene Dreifuss

 


Dreifuss, René Armand. As transformações. In: A Época das perplexidades. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 133-177.

 

 

No século XX a internacionalização foi sustentada por atores empresariais que atuavam com agentes centrais da produção, mas também como atores políticos junto a sindicatos e partidos políticos.

Os motores da internacionalização foram as empresas domésticas que visavam o mercado nacional como campo de atuação e as empresas exportadoras que se lançavam ao mercado externo.

As empresas multinacionais que marcaram os anos 60 e 80 buscaram diversos tipos de vantagens comparativas: matéria-prima abundante ou exclusiva, salários baixos, proximidade de mercado consumidor e trabalharam com produtos de destaque individual.
Para enfrentar os novos desafios as empresas multinacionais reformularam as suas premissas organizacionais, redesenharam o mercado, buscando alongar a base social, ultrapassando os limites nacionais.

As empresas multinacionais dinamizaram três grandes processos de transformação: mundialização de estilos, usos e costumes, de globalização tecnológica, produtiva e comercial; e de planetarização da gestão.

Esses processos permitem vislumbrar movimentos diferentes e potencializadores: o nascimento de um tecnoeconomia global, rede de sociedades e comunidades ciber-espaciais e a configuração de um esboço político planetário que condicionam as rearticulações político estratégicos.


Mundialização de usos e costumes

 

A mundialização compreende a generalização e uniformização de produtos, instrumentos, informação e meios à disposição de importantes parcelas da população mundial.
A mundialização trabalha com a população mundial a despeito das suas diferenças históricas (culturais, sociais, nacionais religiosas) e das distâncias físicas – consome e reconhece como “seus” os mais diversos objetos e procedimentos.
Neste sentido, a mundialização lida com a massificação e homogeneização cultural, que se explicita nos hamburguers, pizzas, sorvetes. Mas a mundialização também incorpora as particularidades locais , regionais, nacionais. A mundialização é portanto é desdobramento da economia e da política. Refere-se a valores e referências, a produtos e métodos desejados e passíveis de utilização, nos mais diversos países sem ater-se à sua origem nacional ou cultural.

A mundialização tem como eixo de consituição – ao invés dos produtos mecânicos e dos instrumentos-objeto – os produtos “inteligentes” – os instrumentos sistema (computadores, telefones, tevês, fax , controladores) que fundem num só, os instrumentos-conhecimento e os serviços-sistema baseados na indústria da informação – aos quais são inerentes uma série de insumos e apoios múltiplos para a sua produção e manutenção.
A mundialização se realiza também por vias de macrossistemas infotelecom permitindo a difusão instantânea da informação (atuação transnacional da mídia visual e transmissão e disseminação cultural transfronteiras em tempo real), potencializada pelas diversas redes de serviços on-line, que inauguraram novas modalidades de compras, consultas, notícias, entretenimento, intercâmbio social e acadêmico.

A mundialização também se organiza e se faz a partir de megaespaços urbanos, diferenciados por sua localização física e sua história. Esses espaços-cidades concentram e agregam funções financeiras, industriais, científicas, tecnológicas, culturais e políticas – que se articulam e se inter-relacionam “por sistemas de formação que fornecem os quadros e os dirigentes das empresas e dos Estados”.


Globalização Tecnoprodutiva


A globalização é alavancada num novo tripé financeiro: o sistema bancário, que está assentado sobre muitos bilhões de dólares dos vinte maiores bancos do planeta, e da enormes quantias depositadas que chegam a mais de 6 trilhões de dólares; os fundos mútuos de ação; e as seguradoras.


A globalização traz consigo a concentração de capitais, reforçada por processos de associação e incorporação de diversos tipos (fusões de iguais, absorções hostis) e outras variadas razões: adição de valor às posições dos acionistas, redução de custos, ganhos de escala, tomada de posição em novos mercados, penetração regional ou nacional alcance multinacional, aumento da produtividade.


A globalização financeira, num mercado mundial inter-relacionado de capitais e serviços, escapa ao controle dos Estados e de seus bancos centrais, mesmo das instituições financeiras internacionais e multilaterais, graças aos recursos da teleinfocomputrônica e das novas tecnologias financeiras.

A globalização também se refere a uma multiplicidade de processos interativos (sinergias, coalizões, alianças, redes) preconizados por “produtores” e “gestores” transnacionais, que formulam diretrizes num universo sistêmico de decisões, refletindo uma interação seletiva e excludente das corporações estratégicas, centradas no espaço triádico.
Outro aspecto importante da globalização produtiva e de mercados se assenta na padronização de produtos, e por sua vez,é sustentada pela comunidade de consumo. A padronização é induzida pelos “fabricantes globais”. Ela traz consigo, num ritmo intenso, a globalização do varejo, principalmente através de empresas poderosas norte-americanas.
A globalização econômica exige a padronização de serviços e produtos , mas precisa lidar com a variedade de sociedades dos diferentes países. Nesse sentido, Estados e sociedades nacionais não podem ser padronizados por decretos, indução ou constrangimento. No entanto, a globalização coexiste, portanto, com realidades singulares e com processos de afirmação de particularidades que antecedem( ou se apresentam como reação ao fenômeno da mundialização).

A diversidade cultural também orientará o processo de globalização econômica, embora – num aparente paradoxo – passe a a introduzir novas formas de atividades, singularmente territorializadas: produção localizada baseada em recursos locais e até normas locais.

Segundo Dreifuss, a globalização e um termo que expressa a dualidade do fenômeno – o customizing (ajuste ao sabor local) e a harmonização (global) do produto e do produtor, dos procedimentos e das percepções – operando dentro de um mesmo processo de globalização.
Estimula-se a diversidade estrutural e recusa-se a padronização para combinar e fazer convergir as demandas específicas. Esta será a marca da primeira década do século XXI: o preparo do terreno para a nova mundialização de consumo e conjunção de singularidades , para a consolidação da globalização tecnoprodutiva e para a nova mentalidade planetária de gestão e percepção de si próprio na gaia da terra.
Planetarização político-estratégica

Os processos de mundialização e globalização se desdobram em diversas “horizontalizações” sistêmicas e espaciais: econômicas, políticas e societárias. Este conjunto de mutações em processo é coroado e sintetizado na noção de planetarização.
A planetarização trata de vínculos expressos na trama de organizações transnacionais e de instituições supranacionais que fazem parte de um novo tecido político e de gestão, e dá outro significado à noção de pertencer , resignificando a multiplicidade de inserções sociais e nacionais.

A planetarização envolve os perímetros intangíveis de infomação e a colossal influência cultural multicruzada – abrindo o capítulo das relações intersocietais. Nesse sentido, a planetarização lida com conflitos e contenciosos transnacionais e transfronteiriços.


Amyr Klink

 


KLYNK, Amir. Cem dias entre céu e mar. São Paulo: Companhia das Letras, 1995

 

Resenha

 

Quando era jovem lá pelo final dos anos 80, ouvi nos telejornais da época que um jovem desafiava o Oceano Atlântico sozinho.

O nome dele era Amyr Klynk, não era um nome muito convencional para um menino do interior de São Paulo, mas o assunto era deveras interessante, pois desafiar o Atlântico era um propósito gigante para um jovem e de certa forma, o assunto me interessou.

Pesquisando sobre Amyr descobri que a missão era gigante para os “normais”, não para Amyr Klink, pois ele sempre foi diferente, inteligente, sagaz, perspicaz e obstinado em busca de seu objetivo: atravessar o Oceano Atlântico sozinho em um barco.

O projeto do barco foi feito por ele mesmo, nos mínimos detalhes, o traçado da viagem foi meticulosamente estudado, a ciência sempre foi sua companheira, nada passava ao olhar crítico de Amyr.

Nas discussões das esquinas, a obsessão em conhecer Parati só aumentava, pois era a cidade do velejador solitário que queria desbravar o Atlântico.

Pois bem, Amyr construiu o barco, atravessou o Atlântico sozinho e me recordo da cobertura televisiva da época mostrar um Amyr barbudo e remando em seu pequeno barco com uma bandeira do Brasil tremulando na proa de sua pequena, mas versátil e organizada embarcação.

Tempo depois, entrei na livraria da Universidade Estadual Paulista na cidade de Marília onde fazia graduação e me deparei com uma obra intitulada “Cem dias entre céu e mar” de Amyr Klink, fruto da “viagem” pelo Atlântico.

Fiquei encantado, pois poderia conhecer com detalhes os bastidores da criação do barco e os preparativos, as dificuldades da viagem, as tempestades, os tubarões, as baleias e como se safava de forma fria e calma mesmo diante da solidão permanente e os problemas com a alimentação.

A obra de Amyr vale apena ser lida não apenas por mostrar o quanto é válido um sonho e o processo de organização para realizá-lo, mas acima de tudo uma lição de como é viver com adversidades permanentes da vida e ter estratégias para contorna-las, mesmo que as vezes pareça estar fora de controle – afinal, controlar o Oceano Atlântico não me parece ser uma tarefa nada fácil, mas para Amyr não me pareceu muito difícil, tal seu comportamento resiliente, obstinado e científico.

Em 1997 fui visitar Parati no litoral do Rio de Janeiro e para minha surpresa estava ocorrendo uma exposição do barco de Amyr Klink no museu da cidade, tive o privilégio de ver o quão pequeno era o barco e passei a imaginar como deveria ter sido a vida ali nos cem dias de travessia, realmente fiquei impressionado como para tudo existia um lugar no barco, só não consegui imaginar que ali poderia viver um ser humano, por menor que fosse o tempo, tendo em vista as condições de temperatura e pressão, só Amyr Klink realmente para cumprir a missão.

 


Alexis de Tocqueville (1805-1869)

 

 

"Mais que as idéias, são os interesses que separam as pessoas."

 

Alexis de Tocqueville

 

Alexis de Tocqueville foi um importante teórico do Estado. Trata-se de um francês que se aventurou em terras americanas no século XIX e através de uma viagem aos Estados Unidos conseguiu entrar no âmago da sociedade americana, extraindo diretrizes para a organização do seu pensamento político.

 

Baseando-se nas obras de Rousseau e na filosofia do século XVIII, Tocqueville desenvolveu o seu pensamento político e tornou-se um dos filósofos mais importantes de sua época - não só por que foi capaz de escrever uma importante obra, mas, sobretudo porque defendeu a existência de um sistema político, que nas próximas décadas e séculos se desenvolveu e se espalhou para os quatro cantos do mundo.

 

Alexis de Tocqueville escreveu uma importante obra chamada Democracia na América. Nessa obra, destaca a sua simpatia pela organização da sociedade americana, os hábitos desenvolvidos, a cultura, a estrutura social, as instituições políticas e a relação da sociedade com o Estado baseada na liberdade e na igualdade.

 

Estabelecer a correlação entre a liberdade e a igualdade tornou-se um desafio para Tocqueville tendo em vista que os pensadores mais antigos, como os contratualistas apontavam para a discrepância entre ambas. Os contratualistas não enxergavam muita lógica na existência da liberdade – uma vez que as concepções de Estado até então desenvolvidas apontavam para a relação de poder entre Estado e sociedade, mas uma relação de poder tendo como ponto central, a força.

 

Em Tocqueville esse pensamento se altera, a relação de poder entre Estado e sociedade continuará existindo, mas possuindo como foco a lei – a lei e a sua aplicação norteará as relações entre o Estado e a sociedade e nesse contexto desenvolve-se as bases para a liberdade e a igualdade. Falar da liberdade e da igualdade, em Tocqueville, é necessariamente falar de democracia. Em primeiro lugar porque Tocqueville identifica, esclarecendo, igualdade com democracia. Em segundo lugar porque ao não trabalhar apenas com indagações abstratas procura entender a questão da liberdade e da igualdade, onde acredita, elas não são contraditórias. Isto é, onde um processo de igualização crescente se dava o mesmo tempo em que preservava a liberdade, melhor dizendo, onde a democracia se realizava com liberdade. (QUIRINO, 1993, p. 152)

 

 

Tocqueville destaca que o sistema democrático é condição sine qua non para o desenvolvimento da igualdade entre os homens, por isso, vai defendê-la de todas as formas possíveis. Os Estados Unidos se transformam para o autor em um exemplo de desenvolvimento político e social e que deveria servir como modelo para o mundo.

 

O ponto fulcral do pensamento de Alexis de Tocqueville está no desenvolvimento político do sistema democrático e se centraliza na questão da soberania da população. Através da lei, o povo é chamado para tomar decisões políticas e é nesse contexto que vai se desenvolver o sufrágio universal e proporcionar as diretrizes para a liberdade.

 

Tocqueville consegue a compreensão exata do sistema político americano quando escreve:

 

o povo participa da composição das leis, pela escolha dos legisladores, da sua aplicação pela eleição dos agentes do poder executivo; pode-se dizer que ele mesmo governa, tão frágil e restrita é a parte deixada á administração, tanto se ressente esta da sua origem popular e obedece ao poder de que emana. O povo reina sobre o mundo político americano como Deus sobre o universo. É ele a causa e o fim de todas as coisas; tudo sai do seu seio, e tudo se absorve nele.(TOCQUEVILLE, p. 52)

 

 

A obra de Tocqueville não é considerada importante somente por causa da identificação e do estudo que realizou sobre a sociedade americana, trata-se de uma obra que iria influenciar a expansão do sistema democrático pelo mundo.

 

A sua intenção não foi estabelecer um modelo ideal de democracia e que o mesmo deveria ser copiado por outras nações e muito menos pela França, seu pais de origem, mas apenas a ideia de um modelo, pois cada país constrói a democracia conforme sua própria cultura, seus ideais e hábitos.

 

O grande mérito do autor, foi estabelecer que a democracia é um processo de caráter universal e não apenas um fenômeno apresentado ao mundo pela sociedade americana.

 

Para entender o conceito de democracia exposto por Tocqueville é necessário compreender que “a existência de seu processo igualitário, como se fosse uma lei necessária para se compreender a história da humanidade” (QUIRINO, 1993, p. 154).

 

No entanto, Alexis de Tocqueville aponta em sua obra as dificuldades encontradas na sociedade americana para a manutenção e a expansão do processo democrático – dificuldades essas que não encontram respaldo nas diferenças econômicas existentes na sociedade americana da época, aliás, para o autor está excluída a possibilidade da igualdade econômica e o que vai prevalecer segundo as suas idéias são os aspectos culturais e políticos - estes irão fazer a diferença em prol do desenvolvimento da sociedade democrática.

 

Como exemplo, o autor utiliza a questão da escravidão existente em solo americano, para ele, após o termino da escravidão, a diferença da cor da pele iria ser argumento para a distinção e desencadeará preconceito e discriminação, dificultando assim as relações sociais e proporcionando dessa forma, um sério problema político.

 

Tocqueville aponta para a existência de dois tipos de democracia: a democracia tirânica e a democracia liberal – de uma forma geral, para Tocqueville o caminho do paraíso democrático está sempre sendo ameaçado se levar em conta o processo de igualização – o desenvolvimento da igualização pode desencadear a democracia tirânica por parte da maioria, sendo necessária a aplicação de uma ação política (desenvolvimento da cidadania) para defender o bom andamento do sistema democrático.

 

A ação política está relacionada para Tocqueville com a atividade da cidadania – a cidadania e a descentralização do Estado vão ser cruciais para o desenvolvimento da democracia.

 

No pensamento de Tocqueville encontra-se mencionado a sua preocupação com o individualismo proporcionado pelas relações econômicas. Na visão do autor, a luta pelo enriquecimento proporciona o abandono dos assuntos públicos por parte dos cidadãos e tornando o Estado, o único responsável pelos assuntos públicos.

 

 

Referências

 

 

QUIRINO, Celia G. Tocqueville: sobre a liberdade e a igualdade. In: Os clássicos da política. 4 ed. São Paulo: Atica, 1993.

 

 

TOCQUEVILLE, Alexis de. Democracia na América. São Paulo: Nova Cultural, 1993.

 

 


ALLENDE, Isabel. A Casa dos Espíritos. 41 ed.  Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.

 

Indicação e comentários

 

Isabel Allende nasceu no Chile no dia 02 de agosto de 1942, filha de Diplomata de carreira. Se transformou numa das grandes escritoras da América Latina nos anos 80, quando escreveu a sua principal obra “A Casa dos Espíritos”.

“A Casa dos Espíritos” retrata o cotidiano da família Trueba, como personagem principal conta com Esteban Trueba, latifundiário e posteriormente Senador, a sua mulher Clara, que com a capacidade para perceber o mundo espiritual se transformou na clarividente da obra e sua neta Alba que se tornou adversária política de Esteban.

Mas nem só de ficção vive a obra de Allende, ela coloca os pés na realidade quando retrata a “realidade social” da obra permeada pelas verdades do que realmente acontecia no Chile do General Augusto Pinochet.

A Casa dos Espíritos de Allende ficou imortalizada quando foi para as telas do cinema no ano de 1994 com personagens importantes da indústria do Cinema, Meril Streep; Jeremy Irons; Glenn Close; Antonio Banderas e Wynona Ryder e protagonizaram um belíssimo espetáculo e clássico do cinema.

Quem quiser assistir o filme, o canal TCM o reproduz de forma constante - confrontar o filme com o livro é fundamental para entender as diferenças entre a escrita e o cinema, mas de qualquer forma, a leitura do livro é primordial para o entendimento da trama e do drama que vive a família Trueba nos seus mínimos detalhes.

Com a transformação do livro em filme hollywoodiano, a obra de Allende estava imortalizada e entrava para o hall de best sellers da literatura Latino Americana.

 

 

Tubaína, mortadela e um jogo na Fonte Luminosa

  O ano, ele não se recorda de maneira exata, mas tem a certeza de que aquela partida de futebol entre a Ferroviária de Araraquara e Palmeir...