Quando
era jovem lá pelo final dos anos 80, ouvi nos telejornais da época que um rapaz desafiava o Oceano Atlântico sozinho.
O
nome dele era Amyr Klynk, não era um nome muito convencional para um menino do
interior de São Paulo, mas o assunto era deveras interessante, pois desafiar o
Atlântico era um propósito gigante para um jovem e de certa forma, o assunto me
interessou.
Pesquisando
sobre Amyr descobri que a missão era gigante para os “normais”, não para Amyr
Klink, pois ele sempre foi diferente, inteligente, sagaz, perspicaz e obstinado
em busca de seu objetivo: atravessar o Oceano Atlântico sozinho em um barco.
O
projeto do barco foi feito por ele mesmo, nos mínimos detalhes, o traçado da
viagem foi meticulosamente estudado, a ciência sempre foi sua companheira, nada
passava ao olhar crítico de Amyr.
Nas
discussões das esquinas, a obsessão em conhecer Parati só aumentava, pois era a
cidade do velejador solitário que queria desbravar o Atlântico.
Pois
bem, Amyr construiu o barco, atravessou o Atlântico sozinho e me recordo da
cobertura televisiva da época mostrar um Amyr barbudo e remando em seu pequeno
barco com uma bandeira do Brasil tremulando na proa de sua pequena, mas
versátil e organizada embarcação.
Tempo
depois, entrei na livraria da Universidade Estadual Paulista na cidade de Marília
onde fazia graduação e me deparei com uma obra intitulada “Cem dias entre céu e
mar” de Amyr Klink, fruto da “viagem” pelo Atlântico.
Fiquei
encantado, pois poderia conhecer com detalhes os bastidores da criação do barco
e os preparativos, as dificuldades da viagem, as tempestades, os tubarões, as
baleias e como se safava de forma fria e calma mesmo diante da solidão permanente
e os problemas com a alimentação.
A
obra de Amyr vale apena ser lida não apenas por mostrar o quanto é válido um
sonho e o processo de organização para realizá-lo, mas acima de tudo uma lição
de como é viver com adversidades permanentes da vida e ter estratégias para contorna-las,
mesmo que as vezes pareça estar fora de controle – afinal, controlar o Oceano
Atlântico não me parece ser uma tarefa nada fácil, mas para Amyr não me pareceu
muito difícil, tal seu comportamento resiliente, obstinado e científico.
Em
1997 fui visitar Parati no litoral do Rio de Janeiro e para minha surpresa
estava ocorrendo uma exposição do barco de Amyr Klink no museu da cidade, tive
o privilégio de ver o quão pequeno era o barco e passei a imaginar como deveria
ter sido a vida ali nos cem dias de travessia, realmente fiquei impressionado
como para tudo existia um lugar no barco, só não consegui imaginar que ali
poderia viver um ser humano, por menor que fosse o tempo, tendo em vista as
condições de temperatura e pressão, só Amyr Klink realmente para cumprir a
missão.
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