Tuesday 29 October 2013

A Democracia Ateniense

Sobre a democracia grega: a) Os cidadãos devem ser suficientemente harmoniosos em seus interesses de modo a compartilhar um sentido forte de um bem geral que não esteja em contradição evidente com seus objetivos e interesses pessoais; b)Dessa primeira condição, advém a segunda: os cidadãos devem ser notavelmente homogêneos no que tange às características que, de outra forma, tenderiam a gerar conflito político e profundas divergências quanto ao bem comum. De acordo com essa visão, nenhum Estado pode ter a esperança de ser uma boa pólis se os cidadãos forem imensamente desiguais em seus recursos econômicos e na quantidade de tempo livre de que dispõem, se seguirem religiões diferentes, se falarem idiomas diferentes e apresentarem grandes diferenças em sua educação ou ainda e forem de raças, culturas ou (como dizemos hoje) grupos étnicos diferentes. c) O corpo de cidadãos deve ser bem pequeno, idealmente ainda menor que os quarenta ou cinquenta mil da Atenas de Péricles. O tamanho reduzido do demos era necessário por três motivos: ajudaria a evitar a heterogeneidade e, por conseguinte, a desarmonia resultante de uma expansão das fronteiras, bem como a evitar a inclusão de pessoas de línguas, religiões, história e etnias diversas - pessoas com quase nada em comum - como ocorreu na Pérsia. Esse tamanho também era necessário para que os cidadãos adquirissem o conhecimento de sua cidade e de seus concidadãos, a partir da observação, da experiência e da discussão, conhecimento esse que lhes permitiria compreender o bem comum e distingui-lo de seus interesses privados ou pessoais. Finalmente, o tamanho reduzido era essencial para que os cidadãos se reunissem em assembléia de modo a servir como governantes soberanos de sua cidade. d) Em quarto lugar, portanto, cidadãos devem ser capazes de se reunir e decidir, de forma direta, sobre as leis e os cursos de ação política. Tão profundamente arraigada era essa concepção que os gregos achavam difícil imaginar um governo representativo, muito menos aceitá-lo como uma alternativa legítima à democracia direta. É certo que, de vez em quando, formavam-se ligas ou confederações de cidades-Estado. Mas, aparentemente, os sistemas genuinamente federativos, como governos representativos, deixavam de se desenvolver em parte porque a idéia da representação não conseguia competir com a crença profunda na vantagens e na legitimidade do governo direto com assembléias primárias. e) Todavia, a participação dos cidadãos não se limitava às reuniões da Assembléia. Ela também incluía-se uma participação ativa na administração da cidade. Estima-se que em Atenas, mais de mil cargos tinham de ser ocupados - alguns por eleições, mas a maior parte por sorteio - e quase todos esses cargos eram para mandatos de um ano e podiam se ocupados apenas uma vez na vida. Até mesmo no demos relativamente grande de Atenas, era quase certo que cada cidadão ocuparia algum cargo durante um ano, e vários desses cidadãos tornar-se-iam membros do importantíssimo Conselho dos Quinhentos, que determinava a agenda da Assembléia. f) Por último, a cidade-Estado deve, ao menos idealmente, permanecer completamente autônoma. Ligas, confederações e alianças podem ser necessárias, às vezes, para a defesa ou a guerra, mas não se deve permitir que elas sobrepujem a autonomia definitiva da cidade-Estado e a soberania da assembléia naquele Estado. Fonte: DAHL, Robert. A democracia e seus críticos. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

Wednesday 16 October 2013

O Poder Executivo, a corrupção e a transparência política

Agora pela manhã, quando abri um portal de notícias me deparei com a seguinte informação: Prefeitos de 12 cidades de Goiás são presos por fraudes em licitação de remédios. É claro que tal notícia não espanta mais ninguém, tendo em vista a banalidade e a futilidade que reveste a corrupção no Brasil. No entanto, a questão cerne do problema não é com a indignação que a notícia gera, mas sim com o poder que o Poder Executivo "ganhou" nos últimos anos, beirando até mesmo ao despotismo de fazer inveja a alguns reis da Idade Média, tendo em vista a legalidade que o cerca. Hoje, o Poder Executivo, governa, legisla e executa e está cabendo à Polícia Federal investigar as suas ações. Ora, quem tem que "investigar" as ações do Poder Executivo é a população através de mecanismos de transparência política. A democracia brasileira precisa de forma urgente criar mecanismos de transparência para que a população possa "controlar" as ações dos políticos, tanto do Poder Executivo, quanto do Poder Legislativo e não ficar dependendo de investigações da Polícia Federal que deveria se preocupar com outras coisas: tráfico de drogas, contrabando e outros crimes. Obs: A corrupção vai ser extinta quando a democracia se aproximar da população.

Friday 4 October 2013

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei de Responsabilidade Fiscal regulamenta a Constituição Federal sobre a questão da Tributação e do Orçamento. Ela atende ao artigo 163 da Constituição Federal, que estabelece: Lei complementar disporá sobre: I – finanças públicas; II – dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias, fundações e demais entidades controladas pelo poder público; III- concessão de garantias pelas entidades públicas; IV – emissão e resgate de títulos da dívida pública; V – fiscalização das instituições financeiras; VI – operações de câmbio realizadas por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; VII – compatibilização das funções das instituições oficiais de crédito da União resguardadas as características e condições operacionais plenas das voltadas ao desenvolvimento regional. A Lei de Responsabilidade fiscal prevê a ampliação do controle nos gastos públicos e estabelece rigidez para que os governos de uma forma geral não façam dívidas. Ela estipula duas questões fundamentais: a fiscalização e a transparência nos gastos. A LRF como é conhecida a Lei de Responsabilidade Fiscal apresenta alguns instrumentos para a sua organização, são eles PPA – Plano Plurianual, a LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias e a LOA - Lei Orçamentária Anual. A organização da Lei de Responsabilidade Fiscal visa focar a atividade de organização do planejamento e estabelecer a correlação com a execução do gasto público. A LRF estabelece em seu bojo correlação com a responsabilidade social. Tendo em vista a responsabilidade social, a lei estabelece que: • A participação popular na discussão e elaboração dos planos e orçamentos já referidos; • A disponibilidade das contas dos administradores, durante todo o exercício, para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade; • A emissão de relatórios periódicos de gestão fiscal e de execução orçamentária, igualmente de acesso público e ampla divulgação.

O Welfare State e a política social

A política social no período entre o final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX bem como o Estado foram marcados por um padrão autoritário e paternalista que respondeu ao processo de transformações e mudanças estruturais produzidas pelo conjunto das relações econômicas, políticas e sociais no seio desta sociedade em mutação. A eclosão da questão social e suas manifestações expressaram a luta de classes e as condições de opressão e desigualdades vividas pela classe trabalhadora que demandaram a intervenção estatal através da mediação legal e política. Se por um lado o processo de industrialização foi visto como condição para a modernidade, como progresso técnico e democracia por outro se constituiu como um mecanismo de empobrecimento, de subalternidade e de desumanização. A partir do momento que a classe trabalhadora coloca esse contexto em questão, problematizando-o e se fortalece politicamente é que no século XIX se criam as condições favoráveis para a construção de um sistema de proteção social. No entanto se as características das políticas sociais no século XIX eram orientadas pela lógica punitiva e coercitiva, de moralização da questão social e responsabilização do indivíduo pela sua condição de pobreza, é possível perceber que no final desse mesmo século já se inicia um processo de ampliação da intervenção estatal para além da moralização da questão social. Pierson (1991) detecta três fatores que se inter-relacionam para explicar as origens deste Estado: a introdução do seguro social; a extensão da cidadania e o crescimento do gasto social. Compreendemos, portanto que essa ampliação se deve se deve tanto pelas pressões que o Estado vinha sofrendo frente à questão social e o desenvolvimento do capitalismo quanto também pela extensão dos direitos de cidadania. É importante destacar que essa ampliação não ocorre de uma forma homogênea entre os países. As respostas que cada país vai dar para esse contexto são variáveis e obedecem às suas particularidades, à capacidade de resistência e organização da classe trabalhadora. Alguns países já começam a organizar o sistema de proteção social de forma ampliada no final do século XIX como, por exemplo , os países da Europa Ocidental e outros, como o Brasil, apenas no século XX. Assim o final do século XIX constituiu “um manancial de promissoras conquistas sociais e políticas, mesmo no âmbito de um Estado restrito, o que autorizou vários estudiosos a falar na formação do Welfare State naquela época” (POTYARA, 2008, p. 43). Embora alguns autores façam uma associação direta entre política social e Estado de Bem-Estar, Potyara (2008) entende que não é possível estabelecer tal relação. Os dois não são a mesma coisa, embora tenham se encontrado num momento histórico específico. No entanto é a partir da Segunda Guerra Mundial que o sistema de proteção social se consolida. Esse momento conhecido como “era dourada” significou, nas palavras de Esping Andersen muito mais do que um simples incremento das políticas sociais no mundo industrial desenvolvido, mas representou um esforço de reconstrução econômica, moral e política. As crises econômicas mundiais vivenciadas nas primeiras décadas do Século XX, com destaque para a crise de 1929, provaram que a economia capitalista livre de qualquer controle ou regulação geravam o acirramento das desigualdades sociais podendo colocar em xeque a estabilidade política do sistema. Aliado as crises somam-se as ameaças comunista e fascista que levaram muitos países a se auto-proclamarem Welfare States não tanto pelo interesse em ampliar os gastos com as políticas sociais, mas pela busca da integração social nacional. O Welfare State como ficou conhecido, embora alguns países se refiram também ao Estado Social ou Estado Providência, se consolidou nos marcos do capitalismo monopolista entre 1940 e 1970. As principais características desse modelo são: o crescimento econômico sem inflação, através da ampliação do mercado de trabalho e de consumo crescente e o pleno emprego baseado principalmente no trabalho assalariado. Keynes, na Inglaterra, ao procurar encontrar respostas para a crise propôs uma mudança na relação do Estado com o sistema produtivo, rompendo com os princípios do liberalismo. Assim, segundo a análise Keynesiana, a operação da mão invisível do mercado não necessariamente produziria a harmonia entre o interesse egoísta dos agentes econômicos e o bem-estar global, como o demonstraram a grande depressão e a guerra. As escolhas individuais entre investir ou entesourar, por parte do empresariado, ou entre comprar ou poupar, por parte dos consumidores e assalariados poderiam gerar situações de crise, em que haveria insuficiência de demanda efetiva e ociosidade de homens e máquinas( desemprego). A demanda efetiva, segundo Keynes, é aquela que reúne bens e serviços para os quais já a capacidade de pagamento. Quando há insuficiência de demanda efetiva, isso significa que não existem meios de pagamento suficientes em circulação, o que pode levar à crise. Nesse sentido, o Estado deve intervir, evitando tal insuficiência. (BEHRING E BOSCHETTI, 2007, p.85) A proposta se consolidou em um programa fundado em dois pilares: pleno emprego e maior igualdade social que poderia ser alcançado se a ação estatal usasse duas vias: gerar emprego dos fatores de produção via produção de serviços públicos, além da produção privada e aumentar a renda e promover maior igualdade, por meio da instituição de serviços públicos, dentre eles as políticas sociais. As economias políticas contemporâneas combinam estruturas do estado de bem-estar e estruturas econômicas; as duas estão essencialmente encadeadas e provêem traços definidores das democracias industriais avançadas. Enquanto o Estado do século XIX, como observou Marx, podia ser significativamente distinguido da economia de mercado característica daquelas sociedades, a economia política do pós-1945 impede esta fácil distinção. Mudanças nos padrões de emprego — do mercado para o setor público — e, conseqüentemente, nas fontes de renda, bem como no tamanho do setor público implicam uma unidade entre estado de bem-estar e economia no período contemporâneo. Em alguns países o emprego público e, por conseguinte, as fontes de renda pública ou salário social constituem mais de 50% do emprego e da renda. Esta é uma mudança notável com implicações sobre a atividade política, a cultura política e a experiência social. (KING, 1988, p.54) Com o Welfare State, a partir da proposta do pleno emprego, há a universalização das políticas sociais, principalmente da educação e da saúde, e, consequentemente a melhoria dos padrões de vida dos cidadãos que passam a se sentir mais protegidos através do acesso a serviços e benefícios tais como: seguro social obrigatório, leis de proteção do trabalho, salários mínimos, programas de habitação subsidiados ( POTYARA, 2008). Ao keynesianismo também agregou-se o pacto fordista da produção em massa para o consumo de massa. Essa aliança foi marcada pela onda longa expansiva: “os anos de ouro” do capital. Nesse período foi visível a melhoria das condições de vida dos trabalhadores com acesso a serviços que antes inexistiam o que levou a diminuição das lutas levando os trabalhadores a crerem na possibilidade da combinação entre acumulação capitalista e proteção social. Emergem também nesse contexto as políticas beveridgianas que passam a conviver com algumas políticas bismarckianas (contributivas). O Sistema de Seguridade Social de Beveridge, nos anos de 1940, inovou por ser nacional e unificado e conter um eixo distributivo, seguindo uma lógica do direito social e não mais só do seguro social. As políticas sociais e o Estado de Bem-estar não são heterogêneos e uniformes. Como já assinalado cada país implementa o conjunto de políticas sociais a partir de alguns determinantes podendo ser mais ou menos generosos. Assim, destaca-se os estudos de Titmuss(1981) que apresenta três modelos de políticas sociais dos Estados de Bem-Estar. São eles: o residual; o industrial e o institucional redistributivo. Para ao autor, citado por Potyara, o residual é baseado na premissa de que há duas instituições naturais ( ou socialmente dadas) mediante as quais as necessidades dos indivíduos são adequadamente atendidas: o mercado e a família. Somente quando essas duas instituições falham é que o Estado deverá interferir e, mesmo assim, temporariamente pra não competir com as formas espontâneas e mais dignas de auto-ajuda”(2008, p. 186). Nesse caso as políticas sociais precisam ser mínimas ou escassas onde o Estado é visto como árbitro e onde há a individualização dos problemas sociais. No segundo modelo, baseado no desempenho e performance industrial, significa “que as necessidades sociais devem estar submetidas à lógica da rentabilidade econômica e, portanto, devem ser atendidas de acordo com o mérito do trabalhador- ou com a produtividade e resultados alcançados por este no seu posto de trabalho” (2008, p.186). E no modelo institucional redistributivo “elege o bem-estar social como o principal tipo de proteção, incumbindo o Estado o papel de regulador das leis de mercado e de provedor de bens e serviços universais baseado no critério das necessidades sociais” (2008, p. 186). Essa classificação, conforme Titmuss é apenas um recurso explicativo e não uma forma estanque de pensar a política social. Não são modelos excludentes e nem sugerem uma evolução, ou seja, não significa que se trata de etapas a serem ultrapassadas pelos países. Esping Andersen também construiu uma tipologia, três mundos de bem-estar capitalista ou regimes de bem-estar: o liberal; o conservador-corporativo e o social-democrata. No regime liberal o Welfare State é dominado pela lógica do mercado e os benefícios sociais são ínfimos, atendendo critérios de seletividade, ou seja, voltados pra os grupos de baixa renda; No regime conservador-corporativo predomina a subordinação dos direitos de cidadania ao status quo e não a mercadorização da política social. As políticas sociais são usadas como estratégia de desmobilizar a classe trabalhadora, como por exemplo, as políticas bismarckianas. Nesse regime há o apelo à subsidiaridade que segundo Peter Abrahamson (1995), citado por Potyara (2008),refere-se à prática de proteção em que a instância mais próxima do necessitado é que deve procurar auxiliá-lo, como a Igreja, o vizinho, a família, por exemplo.A atuação do Estado também é pequena e residual. E, finalmente, o regime social-democrata, onde o Estado é o principal agente da provisão social, oportunizando o acesso aos serviços sociais universais e zelando pelo pleno emprego. O bem-estar é visto como direito de cidadania e, portanto, desmercadorizado. Esse modelos e classificações nos ajudam a compreender, a partir dos anos de 1940, como os países -em diferentes partes do mundo capitalista- vem implementando suas políticas sociais seja usando um modelo isolado ou mesclando-os. A partir de uma leitura crítico-dialética entendemos que embora o Estado de Bem –Estar tenha representado uma mudança do padrão de proteção social e ganhos sociais e políticos para a classe trabalhadora ele não representou uma alteração na estrutura de dominação burguesa e nas relações de propriedade capitalistas. Sabe-se que o Welfare State com as suas políticas; seu aparato institucional, suas justificações teóricas e ideológicas e seu acervo técnico-profissional é parte integral do sistema capitalista. Isso quer dizer que ele, como um complexo moderno de proteção social, ancorado nos conceitos de seguridade e cidadania social, não surgiu, resgatando Frase, como um coelho da cartola de um mágico. (POTYARA, 2008, p. 87) A contradição presente no Welfare State pode ser compreendida no registro de Medeiros. Além de instrumento de política macroeconômica, o Welfare State é também um mecanismo de regulação política da sociedade. A partir do momento em que a negociação coletiva dos níveis salariais e das condições de trabalho se generaliza na sociedade, o processo de barganha entre capitalistas e trabalhadores passa a ser tratado como assunto público. Assim, o crescimento da organização política dos trabalhadores faz que o Estado passe a incluir na agenda política nacional os interesses dos trabalhadores organizados. Vacca (1991), por exemplo, aponta que o Welfare State surgiu como mecanismo de controle político das classes trabalhadoras pelas classes capitalistas: a intervenção no processo de barganha limita institucionalmente a capacidade de organização extra-estatal dos trabalhadores. (2001, p. 07) Se o surgimento do Welfate State está relacionado a demandas que pedem reconhecimento dos direitos sociais e maior igualdade também é uma demanda do capital para manter-se vivo, íntegro.

Tipos de políticas públicas

Tipos de Políticas Públicas Elenaldo Teixeira (2002) caracteriza as políticas públicas da seguinte forma: Quanto à natureza ou grau da intervenção: a) estrutural – buscam interferir em relações estruturais como renda, emprego, propriedade etc. b) conjuntural ou emergencial – objetivam amainar uma situação temporária, imediata. Quanto à abrangência dos possíveis benefícios: a) universais – para todos os cidadãos b) segmentais – para um segmento da população, caracterizado por um fator determinado (idade, condição física, gênero etc.) c) fragmentadas – destinadas a grupos sociais dentro de cada segmento. Quanto aos impactos que podem causar aos beneficiários, ou ao seu papel nas relações sociais: a) distributivas – visam distribuir benefícios individuais; costumam ser instrumentalizadas pelo clientelismo; b) redistributivas – visam redistribuir recursos entre os grupos sociais: buscando creta eqüidade, retiram recursos de um grupo para beneficiar outros, o que provoca conflitos; c) regulatória – visam definir regras e procedimentos que regulem comportamento dos atores para atender interesses gerais da sociedade; não visariam benefícios imediatos para qualquer grupo. Com o desenvolvimento do capitalismo e a aplicação da receita neoliberal nos últimos anos, não é fácil pensar um cenário de céu azul para a organização das políticas públicas Em seu receituário, o neoliberalismo aplica a redução do papel do Estado nas relações sociais. Em um país como o Brasil marcado pela desigualdade social abissal, esse receituário é considerado um tanto quanto preocupante, tendo em vista que o papel do Estado é trabalhar no sentido de diminuir as diferenças sociais e estabelecer um certo nível de igualdade entre as classes fins tanto para a manutenção da paz social, quanto no sentido de distribuição da renda.

Thursday 3 October 2013

Os princípios do orçamento público

O orçamento público é dotado dos seguintes princípios: • Princípio da Unidade: de acordo com esse princípio, o orçamento deve ser uno, cada unidade governamental deve possuir apenas um orçamento (Giacomoni, 1992) • Princípio da Universalidade: de acordo com esse princípio, o orçamento deve conter todas as receitas e todas as despesas do Estado. A Constituição Federal de 1988, trata o tema da universalidade de forma muito precisa quando estabelece que: I – o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II – o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III – o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundação instituídos e mantidos pelo Poder Público. • Princípio do orçamento bruto – de acordo com esse princípio, todas as parcelas da receita e da despesa devem aparecer no orçamento em seus valores brutos, sem qualquer tipo de dedução. Esse princípio tem como base impedir a inclusão, no orçamento, de importâncias líquidas, isto é, a inclusão apenas do saldo positivo ou negativo resultante do confronto entre as receitas e as despesas de determinado serviço público.(GIACOMONI, 1992,p. 72) Ainda de acordo com Giacomoni (1992, p. 72) a regra do orçamento bruto e da universalidade, são consideradas, a justo título, como a condição essencial do controle financeiro pelas Assembléias. No momento em que o Parlamento é chamado a votar o imposto e a fixar as despesas que são o seu fundamento e a sua medida, é necessário que o orçamento lhes apresente a lista de todas as despesas e de todas as receitas. Não há razão alguma para subtrair uma despesa qualquer ao controle do Parlamento. • Princípio da anulidade ou periodicidade – de acordo com esse princípio, o orçamento público deve ser elaborado e autorizado para um período determinado de tempo, geralmente esse tempo é de um ano. A Constituição Federal através do seu artigo 165, estabelece que: I – O plano plurianual II – As diretrizes orçamentárias III – Os orçamentos anuais • Princípio da não-afetação das receitas De acordo com esse princípio “nenhuma parcela da receita geral poderá ser reservada ou comprometida para atender a certos e determinados gastos” (Giacomoni, 1992, p. 76). A Constituição Federal de 1988 no artigo 167 estabelece que: IV. a vinculação de receita de impostos a órgãos, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para manutenção e desenvolvimento do ensino, como determinado pelo art. 212, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receitas, previstas no art. 165. Essa determinação da Constituição é significativa no âmbito do orçamento porque impede que as receitas de impostos sofram vinculações e comprometimentos com organismos e programas. • Princípio da discriminação ou especialização De acordo com esse princípio, as receitas e as despesas devem aparecer no orçamento de maneira discriminada, de tal forma que se possa saber, pormenorizadamente, a origem dos recursos e da aplicação. Na visão de Giacomoni a necessidade de discriminação orçamentária deve ser entendida no contexto dos múltiplos aspectos apresentados pelo orçamento: administrativo, econômico, contábil etc. Empregando a linguagem contábil, o orçamento deve ter suas contas classificadas segundo critérios que atendam a seus diferentes papéis”. • Princípio da exclusividade De acordo com esse princípio a lei do orçamento deverá conter apenas matéria financeira, excluindo-se dela qualquer dispositivo estranho à estimativa da receita e à fixação da despesa próxima do exercício. Esse princípio foi desenvolvido com o objetivo de impossibilitar que a Lei de Orçamento em função de sua tramitação no Poder Legislativo, fosse utilizada como meio de aprovação de matérias que nada tinham a ver com as questões financeiras. • Princípio do equilíbrio Esse princípio trata do déficit orçamentário e num contexto geral, esse é o princípio mais polêmico do orçamento. No entanto, a Constituição Federal de 1988 adota seguinte postura de acordo com Giacomoni (1992, p. 82) pela sistemática da classificação das contas orçamentárias no Brasil, o déficit aparece embutido nas chamadas Operações de Crédito que classificam tanto os financiamentos de longo prazo contratados para a realização das obras, as operações de curto prazo de recomposição do caixa e que se transformam em longo prazo pela permanente rolagem e a própria receita com a colocação de títulos e obrigações emitidas pelos tesouros, nacionais, estaduais e, até, municipais. Referências GIACOMONI, James. Orçamento público. São Paulo: Atlas, 1992. Brasil. Constituição Federal.

Sobre o Orçamento Público

O Orçamento Público é o instrumento de gestão de maior importância e é encontrado na Constituição Federal através de 3 (três leis). São elas • O Plano Plurianual (PPA), lei ordinária que estabelece de forma regionalizada as diretrizes, objetivos e metas para as despesas de capital (e outras dela decorrentes) e para os programas de duração continuada. • A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), lei ordinária que estabelece as metas e prioridades do Governo Federal, incluindo as despesas de capital para exercício subsequente, orienta a elaboração do LOA e dispõe sobre alterações na legislação tributária e, ainda, estabelece a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. • A Lei Orçamentária Anual (LOA), lei ordinária que apresenta a estimativa de receira e a autorização para as despesas, composta pelo Orçamento Fiscal e da Seguridade dos Poderes da União, fundos, órgãos e entidades, além do Orçamento de Investimento das empresas estatais.

Sobre o FUNDEF (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino e Valorização do Magistério)

O governo criou um programa de repasse de verbas chamado FUNDEF (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino e Valorização do Magistério). Esse programa estabelece o vínculo com a descentralização do ensino fundamental e a divisão de encargos entre os Estados e os Municípios tendo como base o numero de alunos atendidos por ambos. O FUNDEF estabelece que 25% total das receitas e das transferências serão vinculados a manutenção do desenvolvimento do ensino. A composição do FUNDEF é a seguinte: • A união dará a sua contribuição através do salário-educação; • 18% das receitas de impostos devido à União; • Os Estados e o Distrito Federal contribuirão com 15% do FPE e 15% da parcela do IPI que é devida aos Estados e DF; • Os Municípios contribuirão com 15% do ICMS, 15% do FPE e 15% da parcela do IPI que é devida aos Estados e DF; • Os municípios contribuirão com 15% do ICMS e 15% do FPM Os recursos do FUNDEF são distribuídos aos Estados e Municípios de acordo com o número de alunos matriculados. 60% do total dos recursos devem ser utilizados para pagamento e capacitação dos professores.

Os municípios e as políticas públicas

Os municípios e as políticas públicas Como já exposto em texto anterior a Carta Magna de 1988 estabelece autonomia política aos municípios. Os municípios através da lei orgânica e da eleição direta de seus governantes ampliaram o leque de suas competências, na medida em que ganharam liberdade para a execução da política urbana e mais leis e da escolha direta de seus governantes. De acordo com Teixeira (2013) Apesar do aumento de sua capacidade financeira, a participação dos municípios na receita tributária global não supera os 18 ou 20%. No entanto, eles assumem vários encargos e responsabilidades das outras esferas, o que os obriga a negociar recursos nos diversos programas federais ou estaduais. Os municípios possuem uma base econômica muito frágil e ainda possuem poucos recursos para bancar as determinações da Constituição Federal. Nesse contexto, a dependência de recursos estaduais e federais para gerenciar as políticas públicas é muito grande. Na visão de Teixeira (2000) Os prefeitos, na maioria dos municípios com base político-eleitoral nas elites proprietárias, não assumem os riscos de uma política tributária mais realista. A política econômica neoliberal acentua os impactos sobre o emprego, a renda e as condições de vida nos municípios. Os municípios, até então alheios às questões econômicas, vêem-se pressionados a realizar programas de geração de renda e emprego. Nem assim, eles decidiram-se a qualquer iniciativa na questão agrícola ou rural, apesar de a maioria deles terem sua sustentação econômica nesse setor. O município possui significativa autonomia para definir suas políticas e também aplicar seus recursos, no caso das competências, existem as privativas ou exclusivas. O art. 30 da Constituição Federal, estabelece que: a) legislar sobre assuntos de interesse local, expressão bastante abrangente, detalhada na Lei Orgânica. b) instituir e arrecadar impostos sobre serviços, predial urbano, transmissão intervivos de bens imóveis, varejo de combustíveis líquidos. Na visão de Teixeira nas áreas que são de políticas públicas, como assistência social, meio ambiente, habitação, saneamento, produção agro-pecuária, abastecimento alimentar, educação, saúde, o município tem competência comum com a União e o Estado, a ser exercida com a cooperação dessas esferas de poder, pela transferência de recursos, ou pela cooperação técnica. De uma forma geral, os municípios possuem inúmeras competências, mas o problema maior são os recursos para fazer a máquina administrativa funcionar como estabelecido pela Constituição. O processo de transferência de renda para os municípios envolve muita gente e o processo vai depender das alianças políticas, partidos políticos e as práticas eleitoreiras e clientelista que as revestem. Referências SOUZA, Herbert. Como se faz análise de conjuntura. 32 ed. Petrópolis: Vozes, 2012. TEIXEIRA, Elenaldo. O papel das políticas públicas no desenvolvimento local e na transformação da realidade. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/aatr2/a_pdf/03_aatr_pp_papel.pdf. Acesso em 01 de agosto de 2013.

A organização das políticas públicas

Para organizar as políticas públicas de acordo com Teixeira (2013) é necessário levar em conta algumas questões, são elas: • A identidade da política pública; • A organização das plataformas políticas; • As mediações institucionais; • A dimensão estratégica; A identidade da política pública vai ser capaz de responder quem são os atores sociais que vão fazer parte da referida política. As plataformas políticas vão responder quais são as concepções que os grupos envolvidos na organização da política pública possuem sobre o Estado e nesse contexto será visível a sua forma de atuação. As mediações institucionais vão vincular os autores das políticas públicas ao grupos de interesses que agem de forma a influenciar a organização no sentido de tirar a maior vantagem possível. A dimensão estratégica de uma forma geral, está relacionada com as questões de interesses envolvidos e nesse contexto, compete salientar a importância dos efeitos que a política pública irá estabelecer sobre a sociedade, ou seja, quais as consequências de sua aplicação, quem serão os vencedores e os perdedores no âmbito político. Considerando o ambiente político em que as políticas públicas se desenvolvem há a necessidade de uma leitura e organização de análise de conjuntura. De acordo com Souza (2012, P. 7), “análise de conjuntura é uma mistura de conhecimento e descoberta, é uma leitura especial da realidade e que se faz sempre em função de alguma necessidade ou interesse”. E quando se fala de análise de conjuntura, algumas categorias expostas por Souza (2012) precisam ser ressaltadas, são elas: acontecimentos, cenários, atores, relação de forças e a articulação entre a estrutura e a conjuntura. Essa análise de conjuntura se caracteriza como fundamental, tendo em vista que a organização da política pública como um todo se estabelece em um ambiente de pressão, de alianças mas também e principalmente de interesses, o que requer maior ação dos órgãos institucionais e maior participação da população. Referências SOUZA, Herbert. Como se faz análise de conjuntura. 32 ed. Petrópolis: Vozes, 2012. TEIXEIRA, Elenaldo. O papel das políticas públicas no desenvolvimento local e na transformação da realidade. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/aatr2/a_pdf/03_aatr_pp_papel.pdf. Acesso em 01 de agosto de 2013.

Monday 26 August 2013

Seminário sobre "Política"

Ocorrerá na Uniara (Centro Universitario de Araraquara) palestras sobre os seguintes temas: Reforma Política e Participação Popular (dia 05/09/2013) às 19:00 h. Palestra do Professor Milton Lahuerta de Teoria Política da UNESP Redes Sociais e a democratização da mídia (dia 06/09/2013) às 19:00 h. Palestra do Jornalista Amaury Ribeiro Junior As inscrições podem ser feitas na Coordenadoria do Curso de Direito da Uniara.

Friday 5 July 2013

O conceito de participação política

O conceito de Participacao Politica

O tema participação política é deveras enorme, tendo em vista a vasta dimensão que o cerca. Essa dimensão se estabelece devido a algumas peculiaridades porque coloca em xeque a questão da individualidade e também passa pelo conceito mais amplo de cidadania, ou seja, por que eu devo me importar com o problema alheio? O que me liga ao outro cidadão, se nem mesmo eu o conheço?

De acordo com Avelar (2004) “Participação é uma palavra latina cuja origem remonta ao século XV. Vem departicipatio, participacionis, participatum. Significa "tomar parte em", compartilhar, associar-se pelo sentimento ou pensamento. Entendida de forma sucinta, é a ação de indivíduos e grupos com o objetivo de influenciar o processo político. De modo amplo, "a participação é a ação que se desenvolve em solidariedade com outros no âmbito do Estado ou de uma classe, com o objetivo de modificar ou conservar a estrutura (e portanto os valores) de um sistema de interesses dominantes"

Nesse sentido, para estabelecer relação com  as palavras de Avelar é necessário correlacionar a participação e a política, pois ambas estão relacionadas tendo em vista que participar é influenciar questões relacionadas ao poder. Por política temos o conceito estabelecido por Dallari (1984, p. 10) onde estabelece que política “é a conjugação das ações dos indivíduos e grupos humanos, dirigindo-as a um fim comum” é muito importante, tendo em vista que é capaz de estabelecer o elo entre o homem e a comunidade.

Esse conceito nos estabelece um viés importante, tendo em vista que o homem, como salienta Aristóteles é um “animal político”, ou seja, não possui a capacidade de viver sozinho, o homem possui em sua própria natureza a necessidade de viver em grupo, logo, com vontades e perspectivas diferentes diante da vida.

Entendendo que a perspectiva de vida do homem está relacionada com a sociedade, a luta é para a organização da vida em comum e ligada com as instâncias de tomada de decisão.

As decisões nesse contexto precisam estar relacionadas com o bem comum, ou seja, com aquilo que é de interesse da sociedade. A política se caracteriza como as tomadas de decisões e tem como base um fim em comum, ou seja, precisam estar conjugadas com o interesse geral.

De acordo com a Constituição Federal, todos os homens são iguais, mas é a sociedade que estabelece as diferenças entre eles. Nesse sentido, é fundamental a preservação da individualidade para que possa haver liberdade – nesse ambiente, é justo salientar que os conflitos são iminentes e inevitáveis e precisam ser considerados normais, tendo em vista que as oportunidades são diferentes para cada homem.

A vida em sociedade requer sempre tomada de decisões. Essas decisões são importantes porque encontram-se calcadas na liberdade de uma sociedade pretensamente democrática. Sem democracia, não existe liberdade para a tomada de decisão.

No entanto, essas tomadas de decisões necessitam estar ligadas ao sistema democrático, ou seja, tem que haver responsabilidade, uma vez que não pode ferir as regras em comum de convivência. As tomadas de decisões são importantes, mas é necessário salientar que a ausência de tomada de decisão cria uma sociedade apática, onde os conflitos não serão superados, logo será difícil atingir o bem comum.

No entanto, as democracias de uma forma geral precisam criar mecanismos para que as pessoas possam participar das decisões. Na democracia representativa, a participação política da população de uma forma geral encontra-se delineada nos processos eleitorais que ocorrem de tempos em tempos – mas não é só a participação legal dentro do sistema que pode ser caracterizada como relevante, é necessário que cada indivíduo que a compõem procure influenciar as decisões políticas que são tomadas – a relevância dessa participação está localizada na capacidade de diminuir a influência de determinadas lideranças e abrir caminho para a confecção de ditaduras.

Tipos de participação política: o indivíduo e o coletivo

De acordo com Dallari (1984) existem dois tipos de participação política: a participação individual e a participação coletiva. No contexto da participação política é notório salientar a influência do processo de consciência, lembrando que uma sociedade democrática e tendo como pano de fundo o sistema capitalista se caracteriza como desigual. Para combater essa desigualdade é necessário no primeiro momento o indivíduo ter consciência dessa realidade e posteriormente estabelecer qual a ação mais adequada para estipular as ações - nesse contexto, a participação política aparece no plano de consciência.

No plano da consciência do indivíduo o sujeito se cerca do conhecimento da realidade estabelecendo uma relação crítica e através desse processo passar a definir os objetivos e desencadear formas de luta, seja através de denúncias, cobranças e articulando as pessoas para a luta democrática.

A participação evolui quando sai da esfera do indivíduo e atinge a capacidade do cidadão de se organizar socialmente. É nesse contexto que a participação passa a ser coletiva – o indivíduo se articula com os outros membros, define pauta de reivindicações e ela pode ser construída em escolas, no trabalho, igrejas e em muitos outros lugares. No contexto da sociedade democrática é muito mais salutar organizar os grupos para a conquista dos objetivos traçados, tendo em vista que a capacidade de influenciar as decisões políticas é mais ampla.

A organização da sociedade civil é importante porque é através dela que se lutará contra as injustiças do sistema capitalista. Lembrando que no sistema capitalista o que impera é a luta de classes e a conquista de direitos serve como forma de diminuir as mazelas proporcionadas pelo próprio sistema.

Existem muitos interesses em jogo no sistema e de uma forma geral quem possui maior poder aquisitivo tende a levar mais vantagens, nesse contexto, é salutar a organização da sociedade e formar grupos em torno de uma causa, tendo em vista que o processo de luta se torna mais fácil.

Muitas lutas no interior da sociedade ocorrem de maneira esporádica – isso quer dizer que os movimentos não possuem uma luta contínua para a conquista de seus objetivos – explora-se uma conquista momentânea e depois o movimento se dissipa.

Nesse sentido compete ressaltar a importância de um movimento organizado, porque é através dele que se irá desdobrar outros pontos de luta e fazer com que sempre as conquistas prevaleçam. O indivíduo agindo de forma coletiva é muito mais significativo do que agindo sozinho, esporadicamente, tendo em vista que de forma coletiva conseguirá atingir os seus objetivos.


A participação política no sistema democrático


A democracia de uma forma geral está organizada para que o cidadão de uma forma geral possa participar na eleição dos seus representantes. A cada quatro anos o cidadão é chamado a comparecer às urnas e depositar o seu voto.

Seja no Poder Legislativo ou no Poder Executivo, os cidadãos tem que depositar o seu voto. Na escolha dos seus representantes, o cidadão precisa escolher um candidato e um partido político.

Para escolher o partido político ou o candidato, o cidadão precisa saber qual a plataforma de ação defendida por ele e pelo partido ao qual escolheu agindo dessa forma, estabelecerá um direito de cidadão e será consciente, pois irá agir de forma racional para a escolha daquele que será responsável em representá-lo no parlamento.

No entanto, todos os cidadãos podem participar da vida política da sua comunidade, da sua cidade e também do país em que moram. O cidadão não possui apenas a prerrogativa de votar, ele também pode ser votado - para isso, tem que ir até às associações da sociedade. O que precisa ficar claro é que qualquer relação dos cidadãos com qualquer associação, trata-se de um envolvimento político.

A fim de participar das eleições é necessário o cidadão estar filiado a um determinado partido político que possui uma plataforma de ação, nesse contexto o cidadão tem que estar afinado com a proposta para poder seguir em frente em sua vida política.

É preciso salientar que a democracia vem apresentando um sinal de desgaste no decorrer dos anos. Os partidos políticos perderem a conectividade com os problemas dos cidadãos em geral. Essa crise se estabeleceu porque os partidos políticos se transformaram em trampolim para o poder. Embora ainda seja necessário a participação nos quadros dos partidos políticos para se chegar ao poder, tal prerrogativa anda sendo questionada e o pilar de sustentação do sistema democrático que é a representação político encontra-se em crise permanentemente.

A crise do sistema democrático se sedimenta quando o fazer política se transforma em lutas pontuais – o que precisa ficar claro é que quem exerce cargo político, necessita fazer política o tempo todo, não somente em época de eleição – geralmente o candidato luta para se eleger e depois de eleito desaparece das suas bases e depois de quatro volta à carga para tentar se reeleger.

Esse modelo de sistema democrático está em crise, o que encontra-se em pauta na democracia moderna é a participação direta dos cidadãos nas tomadas de decisão do Estado, para isso, o cidadão precisará participar de forma perene das decisões políticas da sua comunidade, da sua cidade e também do seu país.

Nesse contexto, para que o cidadão participe ativamente das tomadas de decisão do Estado é necessário além do próprio Estado criar instâncias para que essa participação seja motivada o indivíduo precisa ter consciência dos seus direitos e deveres, o que significa ser cidadão no sentido literal da palavra – e além disso, a participação direta precisa ser caracterizada como válida ou seja, tenha legimitidade e respaldo político tendo em vista que ouvir, participar e principalmente influenciar são missões da participação política do cidadão.

Muitos estudiosos acompanham o desenvolvimento da participação política de forma cética, uma vez que ela é capaz de colocar o sistema democrático em posição de xeque mate, uma vez que permite a contestação perene das tomadas de decisão, no entanto, compete ressaltar que sem ela não há como lutar contra a desigualdade do sistema capitalista – haverá maior distribuição de renda na medida em que ocorrer um processo mais evolutivo de conscientização por parte dos cidadãos e que esse conscientização leve a processos de luta no interior da sociedade. No primeiro momento em formato de contestação e posteriormente na organização da sociedade, na participação em movimentos sociais, dessa forma a participação política será significativa para a construção de uma sociedade mais justa.

Referências

Avelar, Lucia; Cintra, Antonio. Sistema político brasileiro: uma introdução. São Paulo: Unesp, 2004.

Dallari, Dalmo. O que é participação política. São Paulo: Brasiliense, 1984.





Thursday 4 July 2013

Renan Calheiros, o aviãozinho da FAB e Pero Vaz de Caminha: um legado cultural

No texto anterior, escrevi sobre o nobre Deputado Federal Henrique Alves e sua proeza em utilizar o avião da FAB para transportar a sua prole, agora, pasmem, o Presidente da Câmara Alta brasileira, Senador Renan Calheiros também utilizou do mesmo serviço, dessa vez foi para ir a um casamento na linda Trancoso na região de Porto Seguro na Bahia.
No caso do Deputado Federal Henrique Alves, estabeleci uma correlação entre o conceito de patrimonialismo e a sua atitude escrevendo que tratava-se de uma "prática cultural" dos políticos brasileiros, afinal, eles detém o poder do Estado.
No caso de Renan Calheiros vou ressaltar a  história e consolidar o legado cultural, escrevendo que a ida do nobre Senador à Trancoso na região de Porto Seguro, não poderia ser mais providencial, tendo em vista que toda a corrupção no Brasil nasceu justamente quando Pero Vaz de Caminha avistou o Monte Pascoal na região e escreveu uma carta ao rei, pedindo entre outras coisas um "empreguinho" para um parente em troca da descoberta das novas terras.
Não sei se Calheiros conseguiu avistar o Monte Pascoal ou mesmo o seu próprio futuro e nem sei se ele já tem alguma carta na manga, o que sei é que em pronunciamento, o nobre Senador justificou o uso do avião, dizendo que o Presidente do Senado possui essa prerrogativa e entre outras coisas, disse que não irá devolver o dinheiro à união por ter realizado tal ato.
Compete salientar que utilizar o bem público em benefício próprio é a característica principal do patrimonialismo e a base da corrupção e que as leis de uma forma geral, não estão conseguindo ser mais eficientes do que o legado histórico. A pergunta que se desenha nesse contexto é a seguinte:
- Será que o legado cultural prevalece diante das leis? A resposta pode estar nas ruas. 

Wednesday 3 July 2013

Henrique Alves, patrimonialismo e corrupção no Brasil

Em meados do século passado, Raymundo Faoro, um renomado advogado e cientista social brasileiro escreveu uma obra intitulada "Os donos do poder" - nesse livro, ele escreve sobre vários temas do Estado e da sociedade brasileira, entre eles, o patrimonialismo.
Raymundo Faoro conceitua patrimonialismo como a ação organizada pelos detentores do poder para a apropriação dos bens do Estado - nesse contexto, se apropriar dos bens do Estado trata-se de uma prática comum por parte dos políticos brasileiros.
Dando sequência a esse "procedimento cultural" o nosso querido Deputado Henrique Alves se "apropriou" nesse fim de semana de um avião da FAB para transportar a sua família para assistir ao jogo da Copa das Confederações entre Brasil x Espanha no Estádio do Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro - o mais interessante é que o mesmo não foi sozinho, o acompanhou a namorada, os filhos, a sogra, o sogro e demais familiares.
Por conseguinte, posso me apropriar do conceito de Faoro e estabelecer relações com a atitude tomada pelo nobre deputado e ainda reforçar a tese de que patrimonialismo e corrupção são filhos das mesmas atitudes.

Considerações sobre a reforma política

Dias atrás, escrevi um texto sobre a reforma política, nele, argumentei sobre o tipo de reforma política que os "governantes" querem fazer e criticava os pontos a serem discutidos. Agora, veio a confirmação, os itens que a Presidenta encaminhou para a Câmara para discussão, são os seguintes:

•Forma de financiamento de campanhas (público ou privado);
•Definição do sistema eleitoral (voto proporcional, distrital, distrital misto, "distritão", proposta em dois turnos);
•Continuidade ou não da existência da suplência no Senado;
•Manutenção ou não das coligações partidárias;
•Fim do voto secreto no Parlamento.

Esses realmente são pontos importantes, no entanto, não resolvem os problemas tendo em vista o tratamento superficial que será dado ao tema. É necessário ir mais a fundo no processo, acabar com a reeleição em todas as instâncias, diminuir o salário dos vereadores, acabar com os cargos comissionados, essas são questões fundamentais para acabar com as regalias políticas existentes no país.
Os pontos colocados pela Presidenta são os que realmente interessam a ela e ao partido a qual é filiada, uma vez que será o maior beneficiado e mais uma vez a reforma política será conduzida do ponto de vista vertical ou seja, de cima para baixo, sem levar em conta os interesses da sociedade, mas terá em seu bojo um verniz democrático, tendo em vista que será homologado pela população.
Nesse contexto se estabelece um jogo de faz de conta, eu faço de conta que faço e você fingi que acredita - a população está cansada dessa situação e se torna muito perigoso para a recente democracia brasileira, tendo em vista que a capacidade da democracia resolver os problemas da sociedade será colocada em xeque e isso é perigoso para o sistema.
O que a população está dizendo nas ruas é de que a base de sustentação do sistema democrático está em crise - a representação política e os governantes precisam perceber isso - democracia para se desenvolver carece de mais democracia - mais participação politica e menos imposição.

Sunday 30 June 2013

A cidadania e as suas origens

A cidadania nasceu na polis grega. A pólis era organizada por homens livres e que participavam politicamente de forma ativa numa democracia direta, mas que possuíam direitos e deveres. Nesse contexto, o homem da polis grega se caracterizava como um homem político.
A cidadania está vinculada com o surgimento da vida nas cidades. O homem passou a viver em comunidade e com isso foi imbuído de direitos e deveres.
Em linhas gerais, a cidadania possui duas características importantes:
  • A esfera privada (aquela que se relaciona com o mundo particular de cada indivíduo)
  • A esfera pública (aquela que está relacionada com tudo aquilo que é comum a todos os cidadãos)
Na pólis grega, a esfera pública era frequentada apenas pelos cidadãos que fossem livres. Por cidadãos livres, entenda-se os homens, uma vez que havia restrições na democracia grega, por exemplo: mulheres, escravos e as crianças não participavam das discussões com características públicas.
O conceito de cidadania vai reaparecer durante a Revolução Francesa, uma vez que nesse período ocorre um rompimento com a sociedade feudal e escravocrata. Nesse período, as primeiras cartas constitucionais surgem para acabar com as arbitrariedades dos monarcas e o Direito Constitucional dá os seus primeiros passos.
É nesse contexto que se desenvolve o Estado de Direito e se estabelece que todos os homens são iguais perante a lei. Essa igualdade permeou as cartas que regeram a Revolução Francesa e posteriormente a Constituição norte-americana e mais tarde foi ratificada pela ONU (Organização das Nações Unidas) quando terminou a II Grande Guerra Mundial.
A importância do surgimento do Estado de Direito para a cidadania é de que ele é capaz de servir como limitador do uso do poder, ou seja, estabelece parâmetros para a vivência em sociedade e possui como prerrogativa evitar o uso da força nas relações sociais.
Por conseguinte, através das regras aplicadas, os homens conseguem se “manter” como cidadão na medida em que compartilham essas regras e as utilizam para se defender das arbitrariedades que possam existir na sociedade.
Foi através da ascensão da burguesia ao poder que a cidadania se desenvolveu. E quando escrevo sobre a burguesia, estou querendo falar sobre a Revolução Francesa, foi através dela que a burguesia emergiu de forma significativa, uma vez que estabeleceu uma relação de ruptura com os governos anteriores.
A ruptura se fez necessária uma vez que na sociedade feudal, o homem vivia isolado nas regiões agrárias e durante o desenvolvimento da sociedade capitalista, os homens passaram a formar as cidades e a viver em agrupamentos.
Por conseguinte, a cidadania vai se estabelecer de forma proeminente, mas tendo como fundamento dois pontos importantes:
  • A igualdade perante a lei.
  • A sociedade desigual do ponto de vista social que emerge durante o desenvolvimento do sistema capitalista.
A cidadania vai se desenvolver juntamente com o sistema capitalista e irá absorver o jeito “burguês” de ver o mundo e é essa visão que será  aplicada à cidadania.
A cidadania virá acompanhada do conceito de liberdade. Liberdade que será fundamental para a sobrevivência do sistema capitalista e da sociedade de classes.
O primeiro passo em direção à cidadania foi estabelecido no regramento das liberdades individuais, que é necessariamente vinculado ao direito civil. Lembramos que para a prosperidade da sociedade capitalista, o direito à liberdade foi e é essencial para a sua própria sobrevivência, por isso, tornou-se o primeiro passo em direção para a construção do processo de cidadania.
A revolução do conceito de cidadania vai se sedimentar sobre as relações de trabalho que se desenvolve nas cidades. A vida urbana trará novas relações na sociedade, uma vez que é na cidade que as pessoas ganharão dinheiro, acumularão riquezas, vão fazer comércio e trabalhar para a organização de um Estado.
A concepção de cidadania exposta pelos burgueses terá como ponto central, três tipos básicos:
  • Igualdade perante as leis;
  • Igualdade pelo trabalho e pela capacidade de cada um;
  • Individualidade
Mas, quando falamos em igualdade, o que estamos querendo falar realmente? Igualdade entre quem? Igualdade de que? Lembramos que a sociedade capitalista é movida pelas relações de contradições sociais. A igualdade entre os indivíduos se estabelece a priori diante das leis e posteriormente para que todos possuam as mesmas oportunidades para conquistar uma vida considerada mais digna, ou seja, pela obtenção das condições mínimas de sobrevivência em uma sociedade de classes.
O desenvolvimento do capitalismo e a ascensão da burguesia ao poder, estabeleceram uma nova visão de mundo diante da sociedade. Calcada no individualismo e na racionalidade desenvolveu-se  aquilo que denominamos de ideologia.
            A ideologia se caracteriza como idéias e valores que se querem enraizar e propagar para os demais membros da sociedade. Quem vai ser o responsável pela disseminação dessas idéias e desses valores é o que chamamos de sistema educacional.
            A ideologia se configura como uma visão de mundo, uma visão cultural que pode ter forças contraditórias em seu interior e que vai estabelecer as contradições e gerar os embates dentro da sociedade.
            Embora a cidadania esteja vinculada com o desenvolvimento da sociedade capitalista e da ascensão da burguesia, é sobre as relações de trabalho que o conceito de cidadania vai se desenvolver. Isso porque é sobre as relações de trabalho que vai se originar as desigualdades sociais.
            É no contexto da luta dos trabalhadores por melhores salários e condições de vida, na medida em que possuem os seus direitos civis resguardados, os direitos sociais e os direitos políticos que a cidadania será aplicada em maior ou menor escala.
            É necessário salientar que toda a cidadania vai estar calcada na Constituição e que a mesma é regida e estabelecida por três poderes:
  • Poder Executivo: o exercício das leis pelo Presidente da República;
  • Poder Legislativo: pelos Deputados
  • Poder Judiciário

 
O desenvolvimento do capitalismo e a cidadania

 
O capitalismo é um sistema marcado pela relação: classe burguesa e trabalhadores. Mesmo possuindo notável evolução nos últimos anos, o sistema capitalista é marcado por uma dubiedade: a relação de força daqueles que detém o poder econômico e a pressão exercida pelos menos favorecidos no interior do sistema.
A luta pela melhoria nas condições de vida, ou seja, a luta pela cidadania vai se desenvolver à medida que o sistema apresente leis o suficiente para dar suporte.
O sistema capitalista é marcado pela exploração. O trabalhador vive constantemente com baixos salários, às vezes em péssimas condições de trabalho, seja no ambiente físico ou mesmo nas relações humanas, é nesse contexto que vai se desenvolver os sindicatos, as associações e os partidos políticos, fortalecendo a luta das classes.
Compete salientar que o sistema capitalista é baseado no processo de acumulação. Nesse contexto, o seu desenvolvimento está calcado nas relações de consumo, seja de produtos de necessidades básicas ou de novas mercadorias.
Dentro dessa perspectiva, o conceito de cidadania está ligada a um ponto de vista que ideologicamente podemos denominar de burguesa – isso porque está relacionada com os bens de consumo. Nesse contexto, a cidadania só poderá ser alcançada na medida em que o indivíduo possa consumir.
Por conseguinte, essa relação de consumo imposta pelo sistema, impõe uma dubiedade entre duas palavras chave do processo: consumidor e cidadania. A palavra consumidor tira o aspecto político da cidadania que consequentemente o retira das relações humanas para colocá-la no âmbito comercial, dessa forma, seremos antes, consumidores e posteriormente cidadãos.
O contexto da cidadania se reveste de um cenário de desigualdade social e se estabelece como munição para o desenvolvimento do conceito de alienação e contradiz a Carta de Direito das Organizações das Nações Unidas (ONU), de 1948 que tem suas primeiras diretrizes nas cartas americanas de Direito (1776) e na Revolução Francesa (1789). De acordo com elas, todos os homens são iguais perante a lei, sem discriminação de raça, credo e cor - o Estado de direito foi capaz de unificar o pensamento sobre a igualdade entre os homens.
 De acordo com o ponto de vista marxista, quando alienado, o individuo passa a supervalorizar os bens materiais, como casa, carro, tecnologia e consequentemente os valores éticos são deixados de lado, assim, a luta pelo poder e a ganância por dinheiro se fazem cada vez maiores, uma vez que dessa forma conseguirá o maior acumulo de bens e contribuindo de forma contumaz para a perpetuação da ideologia burguesa.  

 
A cidadania e a tecnologia: aspectos de uma discussão

 
O capitalismo contemporâneo sofreu inúmeras transformações. Dentre elas e a mais importante está relacionado com o avanço das tecnologias. Mas, qual a influência do desenvolvimento das tecnologias sobre a cidadania? Ora, a cidadania está calcada sobre as relações de trabalho, sendo assim, em países em desenvolvimento como o Brasil, gerou muito desemprego e nesse contexto, são pessoas que deixaram de consumir e foram buscar novas fontes de renda para poder ter qualidade de vida.
            Na sociedade dos países em desenvolvimento, o avanço da tecnologia solapou as condições de trabalho, como direito a férias, a carteira assinada foram em partes suprimidas, sucateamento ou mesmo o desaparecimento dos sindicatos, essas mudanças ocasionaram uma transformação na cidadania política sem precedentes na história e também vieram em um contexto de baixo investimento no sistema educacional e a sua incapacidade de qualificar o trabalhador para novas atividades no mercado de trabalho, atingindo de forma significativo a construção da cidadania.
Para o exercício da cidadania  é necessário atingir o homem na visão marxista, ou seja, aquele que é capaz de construir a sua própria história, mesmo que dentro de uma determinada circunstância. É claro que também  temos que analisar as condições impostas e delimitadas pelo Estado. Na visão de Marshall (1967) o Estado tem que servir como agente de transformação da vida do cidadão.
O homem, através da cidadania do ponto de vista marxista será capaz de construir a sua própria história e também estabelecerá uma visão de mundo, onde os outros indivíduos também se tornam importantes, sendo assim, assumirá uma dimensão política e se associará a partidos políticos, associações de moradores, nas fábricas, nos sindicatos ou mesmo tendo uma participação de dimensão.

 

Friday 5 April 2013

Como fazer um projeto de pesquisa

O Que é Projeto de Pesquisa

 
De acordo com Aurélio (2001, p. 1647)

Projeto é a “ideia que se forma de executar ou realizar algo, no futuro; plano, intento, desígnio. Empreendimento a ser realizado dentro de um esquema”.

Projeto de Pesquisa

O projeto é uma das etapas para a elaboração, a execução e apresentação de uma determinada pesquisa.

Dentro de uma determinada pesquisa alguns itens se faz necessário tendo em vista a sua organização: a escolha do tema, o estabelecimento dos objetivos, a coleta dos dados, a análise, a interpretação, todos esses itens precisam estar claros e previstos através do projeto de pesquisa.

Perguntas necessárias para a organização de um projeto de pesquisa:


PROJETO DE PESQUISA: PLANO DE AÇÃO



Etapas Pergunta Descrição

Assunto O que estudar? 1. TÍTULO

Objetivo Para que? 2. OBJETIVO GERAL

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Justificativa Por que? 3. JUSTIFICATIVA

Formulação do problema 4. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Hipóteses 5. HIPÓTESES

Método Como? 6. METODOLOGIA

6.1. Métodos de abordagem

6.2. Métodos de procedimentos

6.3. Técnicas

Local Onde? 7. DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

Sequencia Quando? 8. CRONOGRAMA

Custo Quanto? 9. ORÇAMENTO



ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA





• Sobre o tema e o título


Quando se começa um trabalho de pesquisa científica, o primeiro item a ser pensado é o tema que se deseja desenvolver.

A partir do tema é feita a delimitação que precisa ter um sujeito e um objeto. O título tem que vir acompanhado ou não por subtítulo e difere do tema.

Para resumir, tem-se o seguinte parecer:

“o tema sofre um processo de delimitação e especificação para torná-lo viável para a realização da pesquisa e o título sintetiza o conteúdo da mesma”.

• Objetivos (para que?)

Objetivo Geral

Os objetivos estão relacionados com o conteúdo dos fenômenos e das idéias a serem estudadas. Os objetivos estão vinculados com o significado da tese proposta pelo projeto. Deve-se iniciar com um verbo de ação.

• Objetivos Específicos

Os objetivos específicos possuem funções intermediárias e de instrumental, permitindo de um lado, atingir o objetivo geral e, de outro, aplicar este a situações particulares.

Exemplos aplicáveis aos objetivos:

a) Quando a pesquisa tem o objetivo de conhecer: apontar, citar, classificar, conhecer, definir, descrever, identificar, reconhecer, relatar;

b) Quando a pesquisa tem o objetivo de compreender: compreender, concluir, deduzir, determinar, diferenciar, interpretar, localizar, reafirmar;

c) Quando a pesquisa tem o objetivo de aplicar: desenvolver, empregar, estruturar, operar, organizar, praticar, selecionar, traçar, otimizar, melhorar;

d) Quando a pesquisa tem o objetivo de analisar: comparar, criticar, debater, diferenciar, discriminar, examinar, investigar, provar, ensaiar, medir, testar, monitorar, experimentar;

e) Quando a pesquisa tem o objetivo de sintetizar: compor, construir, documentar, especificar, esquematizar, formular, produzir, propor, reunir, sintetizar;

f) Quando a pesquisa tem o objetivo de avaliar: argumentar, avaliar, contrastar, decidir, escolher, estimar, julgar, medir, selecionar.


Justificativa (Por que?)


A justificativa é um dos elementos mais importantes de um projeto de pesquisa, porque é através dele que a pesquisa será aceita pela entidade ou pelas pessoas que irão financiá-la.

A justificativa consiste em uma breve exposição das razões de ordem teórica e dos motivos de ordem prática que tornam importante a realização da pesquisa.

Na justificativa deve-se enfatizar:

• O estágio em que se encontra a teoria que dão suporte ao tema estudado;

• As contribuições teóricas que a pesquisa pode trazer: confirmação geral, confirmação na sociedade particular em que se insere a pesquisa, especificação para casos particulares;

• A importância do tema do ponto de vista geral;

• Possibilidade de sugerir modificações no âmbito da realidade abarcada pelo tema proposto;

• Descoberta de soluções para casos gerais e/ou particulares

Formulação do problema

A formulação do problema está ligado ao tema de estudo. Através dele expõe-se a dificuldade com a qual se defronta e que se pretende resolver por intermédio da pesquisa. Para ser válido, um determinado problema de pesquisa deve passar pelo crivo das seguintes questões:

Hipóteses

As hipóteses são formuladas com base em respostas provisórias aos problemas. Elas são formuladas na tentativa de explicar o problema. Como resposta e explicação provisória, relaciona-se duas ou mais variáveis do problema levantado. Deve ser testável e responder ao problema. Serve de guia na pesquisa para verificar sua validade.

Método científico

Método científico é o conjunto de processos ou operações mentais que se deve empregar na investigação. É a linha de raciocínio adotada no processo de pesquisa.

Tipos de pesquisa

• Pesquisa básica: objetiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais.

1. Objetiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática prevista.

1. É feita para aumentar o conhecimento sobre algum assunto, sem que se tenha na pesquisa uma aplicação imediata.

1. Aplica o conhecimento pelo conhecimento

1. Busca o conhecimento para a difusão deste na comunidade

• Pesquisa aplicada: objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática dirigida à solução de problemas específicos.

1. Objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática dirigida à solução de problemas / objetivos específicos.

1. É realizada com objetivo de obter conhecimento que será usado a curto ou médio prazo.

1. É uma investigação original concebida pelo interesse em adquirir novos conhecimentos.

1. É realizada ou para determinar os possíveis usos para as descobertas da pesquisa básica ou para definir novos métodos ou maneiras de alcançar um certo objetivo específico e pré-determinado.

1. Envolve conhecimento disponível e sua ampliação

1. Aplica o conhecimento visando utilidade econômica e social

1. Busca o conhecimento pela apropriação do "know how" e/ou patentes

• Pesquisa quantitativa: considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-los e analisá-los. Requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão, etc.)

• Pesquisa qualitativa: considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicos no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de técnicas estatísticas.

• Pesquisa exploratória: visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou construir hipóteses. Envolvem levantamento bibliográfico; entrevistas, com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado.

• Pesquisa descritiva: visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolvem o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática. Assume em geral, a forma de levantamento.

• Pesquisa explicativa: visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos, aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão, o porque das coisas. Quando realizada;

• Pesquisa bibliográfica: quando elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente com material disponibilizado na internet;

• Pesquisa Documental: quando elaborada a partir de materiais que não receberam tratamento analítico;

• Pesquisa Experimental: quando se determina um objeto de estudo, seleciona-se as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, define-se as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto;

• Levantamento: quando a pesquisa envolve a interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer;

• Estudo de caso: quando envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento;

• Pesquisa ex-pos-facto: quando o experimento se realiza depois dos fatos;

• Pesquisa ação: quando concebida a realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo. Os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo;

• Pesquisa participante: quando se desenvolve a partir da interação entre pesquisadores e membros das situações investigadas;

RESUMO

Trata-se de um tipo de redação informativo-referencial que se ocupa de reduzir um texto a suas idéias principais. Em princípio, o resumo é uma paráfrase e pode-se dizer que dele não devem fazer parte comentários e que engloba duas fases: a compreensão do texto e a elaboração de um novo. A compreensão implica análise do texto e checagem das informações colhidas com aquilo que já se conhece.

Para que serve o resumo?


SUGESTÕES PARA APRESENTAR TRABALHOS



1. Preparação do material (transparências, slides, cartazes)



• Ser generalista – não estatístico

• Usar gráficos, esquemas, figuras, preferencialmente aos textos;

• Tentar manter a uniformidade do material;

• Não colocar muitos dados em uma mesma transparência, não usar texto normal;

• Explorar a possibilidade das cores. É aconselhável fundo claro e letras escuras;


Observe a regra do sete:


• Utilize no máximo sete palavras por linha e sete linhas por slide;

• Evite embaralhar texto e imagens;

• Seja breve;

• Dê espaço entre as linhas para maior legibilidade;

• Balance textos e imagens;

• Seja consistente;

• Cheque a ortografia;

• Dê vida ao material


REFERÊNCIAS


GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2010.



LAKATOS, E.M.; MARCONI, M. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas, 2006.



O Estado em Antonio Gramsci

Antonio Gramsci (1891 – 1937)


Antonio Gramsci nasceu no final do século XIX, foi militante político e revolucionário e ficou conhecido no mundo como discípulo de Karl Marx. Militou no Partido Comunista Italiano, foi preso por Benito Mussolini após a criação do Partido Fascista e desenvolveu a sua teoria política dentro do calabouço.

Gramsci se tornou um grande teórico político na medida em que conseguiu fazer uma releitura das obras de Karl Marx. A grande contribuição do pensamento de Antonio Gramsci para a sociedade, foi separar a figura do Estado, da Sociedade Civil – enquanto Marx, havia se debruçado e traçado linhas para a conquista do Estado como ponto fulcral das transformações sociais, Gramsci focou no desenvolvimento da sociedade civil.

Para Gramsci, o Estado possui a característica de ampliado, ou seja, se compõe de dois segmentos: Estado e Sociedade Civil. É necessário esclarecer que o Estado para Gramsci é composto pela sociedade política – nesse contexto, existem duas sociedades: a sociedade política e a sociedade civil.

Vale ressaltar que a sociedade civil é ponto central do pensamento de Antonio Gramsci, o que vai ser o grande diferencial do ponto de vista estabelecido por Karl Marx.

Na visão de Gramsci (2004), sociedade civil é

o conjunto de organismos designados vulgarmente como “privados” formados pelas organizações responsáveis tanto pela elaboração quanto pela difusão das ideologias, compreendendo assim o sistema escolar, as igrejas, os sindicatos, os partidos políticos, as organizações profissionais, a organização material da cultura (que se dá pelos jornais, revistas, editoras, meios de comunicação de massa), etc. Em suma, os ditos “aparelhos privados de hegemonia” – organismos sociais coletivos voluntários e relativamente autônomos em face da sociedade política (GRAMSCI, 2004)


A sociedade política na visão gramsciana é composta pelo conjunto de mecanismos através dos quais a classe dominante consegue manter e deter o monopólio do uso da força – através da organização burocrática e do aparelhamento da polícia e do exército.

Como a sociedade civil vai ser o ponto central do pensamento político de Antonio Gramsci – ele desenvolve outro conceito importante que irá caminhar conjuntamente com a sua visão de sociedade civil: o conceito de hegemonia.

A hegemonia para Gramsci é concebida através da capacidade de estabelecer o consenso, da persuasão, mas, não somente do ponto de vista econômico como pensava Karl Marx, mas também pelo modo de pensar, pelos pontos de vistas ideológicos e a visão de mundo, nesse contexto, a cultura passa a influenciar as relações políticas.

A hegemonia para Gramsci em linhas gerais é a “capacidade de unificar através da ideologia e de conservar unido um bloco social, não se restringindo ao aspecto político, mas compreendendo um fato cultural, moral, de concepção do mundo”.

Por conseguinte: qual a grande importância da sociedade civil para Gramsci? Gramsci conseguiu enxergar que é na sociedade civil que se estabelece a luta pela conquista da hegemonia política e que essa luta acontece entre as classes sociais.

Vale ressaltar que a luta para Gramsci, possui um nome: ação política. A ação política vai ser ponto importante porque será através dela que se estabelecerá o consenso, a negociação – o que de certa forma contribuirá para o desenvolvimento da democracia.

Nesse contexto, se estabelece a ligação entre o conceito de hegemonia gramsciano e a democracia uma vez que na visão de Gramsci esse seria o primeiro passo rumo a uma sociedade socialista.

A progressão do sistema democrático passa pela ampla participação da população nas tomadas de decisão do Estado.


Referências


GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 2ª edição, 1978.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, vol. 1, 3ª edição, 2004.

 

O Estado em Max Weber

Max Weber (1864 – 1920)


Max Weber nasceu quase no final do século XIX e faleceu pouco tempo depois do término da I Guerra Mundial. Esse período de vida de Max Weber, representou uma mudança significativa tanto em solo europeu quanto mundial, no que diz respeito ao conceito de Estado.

Os movimentos sociais de final do século XIX e o desencadeamento da I Grande Guerra Mundial, foram molas propulsoras para que Max Weber apresentasse a sua concepção de Estado.

Nesse contexto, Max Weber foi capaz de revolucionar e influenciar o desenvolvimento do Estado nos quatro cantos do mundo através da proposta de gerenciamento do Estado por meio racional – por racional, entende-se sistema burocrático de gerenciamento.

A sua ideia de Estado pode ser encontrada no texto: “ A política como vocação”, onde o autor ressalta a necessidade da criação do Estado Moderno – mas, o que seria o Estado Moderno para Max Weber?

O Estado para Weber é “uma relação de homens que dominam seus iguais, mantida pela violência legítima”.

Por conseguinte, Max Weber legitima o uso do poder da força pelo Estado. O Estado é o único que deve possuir o poder de utilização da força para poder colocar em prática as suas idéias – a legitimidade da ação do Estado aparece através da concessão da sociedade.

Para entendermos o conceito de Estado de Weber é necessário conhecermos a noção de domínio para o autor. O domínio está relacionado com a possibilidade de uma determinada vontade de se sobrepor à outra.

A concessão da utilização da força para o Estado pela sociedade pode ser estabelecida através de 3 tipos puros de dominação:

• Dominação tradicional

• Dominação carismática

• Dominação legal

A dominação tradicional está relacionada com a passagem do poder através dos costumes e da cultura;

A dominação carismática através da influência de líderes políticos. (No Brasil e na América Latina aconteceu de forma contumaz, principalmente no período da abertura política democrática que vai de 1945 a 1964). Como exemplo podemos citar: Getulio Vargas, Janio Quadros e mais recentemente Luis Inacio Lula da Silva. Essas figuras são consideradas e rotuladas em território brasileiro como populistas. Na visão de Weffort, no livro O Populismo na política brasileira, o populismo é um fenômeno político, pois os líderes se põem acima das massas, atraindo para si o papel de salvador da pátria.

Na visão do autor, Estado Moderno significa desenvolvimento do sistema burocrático – a burocracia seria a grande arma para a administração do Estado – mas, em linhas gerais, o que significa burocratização? Seria a definição de cargos, atividades e salários dentro do próprio Estado com um fim específico, ou seja, atender as necessidades do próprio Estado e mais do que isso, serve para limitar a atuação do Estado.

A burocracia é para Max Weber um processo de gerenciamento das relações de poder e trata-se de um produto histórico do desenvolvimento do Estado Moderno.


Referências

WEBER, Max. A ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1997.



O Estado em Tocqueville

Alexis de Tocqueville (1805-1869)


"Mais que as idéias, são os interesses que separam as pessoas."

Alexis de Tocqueville

Alexis de Tocqueville foi um importante teórico do Estado. Trata-se de um francês que se aventurou em terras americanas no século XIX e através de uma viagem aos Estados Unidos conseguiu entrar no âmago da sociedade americana, extraindo diretrizes para a organização do seu pensamento político.

Baseando-se nas obras de Rousseau e na filosofia do século XVIII, Tocqueville desenvolveu o seu pensamento político e tornou-se um dos filósofos mais importantes de sua época - não só por que foi capaz de escrever uma importante obra, mas, sobretudo porque defendeu a existência de um sistema político, que nas próximas décadas e séculos se desenvolveu e se espalhou para os quatro cantos do mundo.

Alexis de Tocqueville escreveu uma importante obra chamada Democracia na América. Nessa obra, destaca a sua simpatia pela organização da sociedade americana, os hábitos desenvolvidos, a cultura, a estrutura social, as instituições políticas e a relação da sociedade com o Estado baseada na liberdade e na igualdade.

Estabelecer a correlação entre a liberdade e a igualdade tornou-se um desafio para Tocqueville tendo em vista que os pensadores mais antigos, como os contratualistas apontavam para a discrepância entre ambas. Os contratualistas não enxergavam muita lógica na existência da liberdade – uma vez que as concepções de Estado até então desenvolvidas apontavam para a relação de poder entre Estado e sociedade, mas uma relação de poder tendo como ponto central, a força.

Em Tocqueville esse pensamento se altera, a relação de poder entre Estado e sociedade continuará existindo, mas possuindo como foco a lei – a lei e a sua aplicação norteará as relações entre o Estado e a sociedade e nesse contexto desenvolve-se as bases para a liberdade e a igualdade. Falar da liberdade e da igualdade, em Tocqueville, é necessariamente falar de democracia. Em primeiro lugar porque Tocqueville identifica, esclarecendo, igualdade com democracia. Em segundo lugar porque ao não trabalhar apenas com indagações abstratas procura entender a questão da liberdade e da igualdade, onde acredita, elas não são contraditórias. Isto é, onde um processo de igualização crescente se dava o mesmo tempo em que preservava a liberdade, melhor dizendo, onde a democracia se realizava com liberdade. (QUIRINO, 1993, p. 152)


Tocqueville destaca que o sistema democrático é condição sine qua non para o desenvolvimento da igualdade entre os homens, por isso, vai defendê-la de todas as formas possíveis. Os Estados Unidos se transformam para o autor em um exemplo de desenvolvimento político e social e que deveria servir como modelo para o mundo.

O ponto fulcral do pensamento de Alexis de Tocqueville está no desenvolvimento político do sistema democrático e se centraliza na questão da soberania da população. Através da lei, o povo é chamado para tomar decisões políticas e é nesse contexto que vai se desenvolver o sufrágio universal e proporcionar as diretrizes para a liberdade.

Tocqueville consegue a compreensão exata do sistema político americano quando escreve:

o povo participa da composição das leis, pela escolha dos legisladores, da sua aplicação pela eleição dos agentes do poder executivo; pode-se dizer que ele mesmo governa, tão frágil e restrita é a parte deixada á administração, tanto se ressente esta da sua origem popular e obedece ao poder de que emana. O povo reina sobre o mundo político americano como Deus sobre o universo. É ele a causa e o fim de todas as coisas; tudo sai do seu seio, e tudo se absorve nele.(TOCQUEVILLE, p. 52)


A obra de Tocqueville não é considerada importante somente por causa da identificação e do estudo que realizou sobre a sociedade americana, trata-se de uma obra que iria influenciar a expansão do sistema democrático pelo mundo.

A sua intenção não foi estabelecer um modelo ideal de democracia e que o mesmo deveria ser copiado por outras nações e muito menos pela França, seu pais de origem, mas apenas a ideia de um modelo, pois cada país constrói a democracia conforme sua própria cultura, seus ideais e hábitos.

O grande mérito do autor, foi estabelecer que a democracia é um processo de caráter universal e não apenas um fenômeno apresentado ao mundo pela sociedade americana.

Para entender o conceito de democracia exposto por Tocqueville é necessário compreender que “a existência de seu processo igualitário, como se fosse uma lei necessária para se compreender a história da humanidade” (QUIRINO, 1993, p. 154).

No entanto, Alexis de Tocqueville aponta em sua obra as dificuldades encontradas na sociedade americana para a manutenção e a expansão do processo democrático – dificuldades essas que não encontram respaldo nas diferenças econômicas existentes na sociedade americana da época, aliás, para o autor está excluída a possibilidade da igualdade econômica e o que vai prevalecer segundo as suas idéias são os aspectos culturais e políticos - estes irão fazer a diferença em prol do desenvolvimento da sociedade democrática.

Como exemplo, o autor utiliza a questão da escravidão existente em solo americano, para ele, após o termino da escravidão, a diferença da cor da pele iria ser argumento para a distinção e desencadeará preconceito e discriminação, dificultando assim as relações sociais e proporcionando dessa forma, um sério problema político.

Tocqueville aponta para a existência de dois tipos de democracia: a democracia tirânica e a democracia liberal – de uma forma geral, para Tocqueville o caminho do paraíso democrático está sempre sendo ameaçado se levar em conta o processo de igualização – o desenvolvimento da igualização pode desencadear a democracia tirânica por parte da maioria, sendo necessária a aplicação de uma ação política (desenvolvimento da cidadania) para defender o bom andamento do sistema democrático.

A ação política está relacionada para Tocqueville com a atividade da cidadania – a cidadania e a descentralização do Estado vão ser cruciais para o desenvolvimento da democracia.

No pensamento de Tocqueville encontra-se mencionado a sua preocupação com o individualismo proporcionado pelas relações econômicas. Na visão do autor, a luta pelo enriquecimento proporciona o abandono dos assuntos públicos por parte dos cidadãos e tornando o Estado, o único responsável pelos assuntos públicos.


Referências


QUIRINO, Celia G. Tocqueville: sobre a liberdade e a igualdade. In: Os clássicos da política. 4 ed. São Paulo: Atica, 1993.


TOCQUEVILLE, Alexis de. Democracia na América. São Paulo: Nova Cultural, 1993.



Tubaína, mortadela e um jogo na Fonte Luminosa

  O ano, ele não se recorda de maneira exata, mas tem a certeza de que aquela partida de futebol entre a Ferroviária de Araraquara e Palmeir...