Friday 5 April 2013

Como fazer um projeto de pesquisa

O Que é Projeto de Pesquisa

 
De acordo com Aurélio (2001, p. 1647)

Projeto é a “ideia que se forma de executar ou realizar algo, no futuro; plano, intento, desígnio. Empreendimento a ser realizado dentro de um esquema”.

Projeto de Pesquisa

O projeto é uma das etapas para a elaboração, a execução e apresentação de uma determinada pesquisa.

Dentro de uma determinada pesquisa alguns itens se faz necessário tendo em vista a sua organização: a escolha do tema, o estabelecimento dos objetivos, a coleta dos dados, a análise, a interpretação, todos esses itens precisam estar claros e previstos através do projeto de pesquisa.

Perguntas necessárias para a organização de um projeto de pesquisa:


PROJETO DE PESQUISA: PLANO DE AÇÃO



Etapas Pergunta Descrição

Assunto O que estudar? 1. TÍTULO

Objetivo Para que? 2. OBJETIVO GERAL

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Justificativa Por que? 3. JUSTIFICATIVA

Formulação do problema 4. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Hipóteses 5. HIPÓTESES

Método Como? 6. METODOLOGIA

6.1. Métodos de abordagem

6.2. Métodos de procedimentos

6.3. Técnicas

Local Onde? 7. DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

Sequencia Quando? 8. CRONOGRAMA

Custo Quanto? 9. ORÇAMENTO



ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA





• Sobre o tema e o título


Quando se começa um trabalho de pesquisa científica, o primeiro item a ser pensado é o tema que se deseja desenvolver.

A partir do tema é feita a delimitação que precisa ter um sujeito e um objeto. O título tem que vir acompanhado ou não por subtítulo e difere do tema.

Para resumir, tem-se o seguinte parecer:

“o tema sofre um processo de delimitação e especificação para torná-lo viável para a realização da pesquisa e o título sintetiza o conteúdo da mesma”.

• Objetivos (para que?)

Objetivo Geral

Os objetivos estão relacionados com o conteúdo dos fenômenos e das idéias a serem estudadas. Os objetivos estão vinculados com o significado da tese proposta pelo projeto. Deve-se iniciar com um verbo de ação.

• Objetivos Específicos

Os objetivos específicos possuem funções intermediárias e de instrumental, permitindo de um lado, atingir o objetivo geral e, de outro, aplicar este a situações particulares.

Exemplos aplicáveis aos objetivos:

a) Quando a pesquisa tem o objetivo de conhecer: apontar, citar, classificar, conhecer, definir, descrever, identificar, reconhecer, relatar;

b) Quando a pesquisa tem o objetivo de compreender: compreender, concluir, deduzir, determinar, diferenciar, interpretar, localizar, reafirmar;

c) Quando a pesquisa tem o objetivo de aplicar: desenvolver, empregar, estruturar, operar, organizar, praticar, selecionar, traçar, otimizar, melhorar;

d) Quando a pesquisa tem o objetivo de analisar: comparar, criticar, debater, diferenciar, discriminar, examinar, investigar, provar, ensaiar, medir, testar, monitorar, experimentar;

e) Quando a pesquisa tem o objetivo de sintetizar: compor, construir, documentar, especificar, esquematizar, formular, produzir, propor, reunir, sintetizar;

f) Quando a pesquisa tem o objetivo de avaliar: argumentar, avaliar, contrastar, decidir, escolher, estimar, julgar, medir, selecionar.


Justificativa (Por que?)


A justificativa é um dos elementos mais importantes de um projeto de pesquisa, porque é através dele que a pesquisa será aceita pela entidade ou pelas pessoas que irão financiá-la.

A justificativa consiste em uma breve exposição das razões de ordem teórica e dos motivos de ordem prática que tornam importante a realização da pesquisa.

Na justificativa deve-se enfatizar:

• O estágio em que se encontra a teoria que dão suporte ao tema estudado;

• As contribuições teóricas que a pesquisa pode trazer: confirmação geral, confirmação na sociedade particular em que se insere a pesquisa, especificação para casos particulares;

• A importância do tema do ponto de vista geral;

• Possibilidade de sugerir modificações no âmbito da realidade abarcada pelo tema proposto;

• Descoberta de soluções para casos gerais e/ou particulares

Formulação do problema

A formulação do problema está ligado ao tema de estudo. Através dele expõe-se a dificuldade com a qual se defronta e que se pretende resolver por intermédio da pesquisa. Para ser válido, um determinado problema de pesquisa deve passar pelo crivo das seguintes questões:

Hipóteses

As hipóteses são formuladas com base em respostas provisórias aos problemas. Elas são formuladas na tentativa de explicar o problema. Como resposta e explicação provisória, relaciona-se duas ou mais variáveis do problema levantado. Deve ser testável e responder ao problema. Serve de guia na pesquisa para verificar sua validade.

Método científico

Método científico é o conjunto de processos ou operações mentais que se deve empregar na investigação. É a linha de raciocínio adotada no processo de pesquisa.

Tipos de pesquisa

• Pesquisa básica: objetiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais.

1. Objetiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática prevista.

1. É feita para aumentar o conhecimento sobre algum assunto, sem que se tenha na pesquisa uma aplicação imediata.

1. Aplica o conhecimento pelo conhecimento

1. Busca o conhecimento para a difusão deste na comunidade

• Pesquisa aplicada: objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática dirigida à solução de problemas específicos.

1. Objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática dirigida à solução de problemas / objetivos específicos.

1. É realizada com objetivo de obter conhecimento que será usado a curto ou médio prazo.

1. É uma investigação original concebida pelo interesse em adquirir novos conhecimentos.

1. É realizada ou para determinar os possíveis usos para as descobertas da pesquisa básica ou para definir novos métodos ou maneiras de alcançar um certo objetivo específico e pré-determinado.

1. Envolve conhecimento disponível e sua ampliação

1. Aplica o conhecimento visando utilidade econômica e social

1. Busca o conhecimento pela apropriação do "know how" e/ou patentes

• Pesquisa quantitativa: considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-los e analisá-los. Requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão, etc.)

• Pesquisa qualitativa: considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicos no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de técnicas estatísticas.

• Pesquisa exploratória: visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou construir hipóteses. Envolvem levantamento bibliográfico; entrevistas, com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado.

• Pesquisa descritiva: visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolvem o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática. Assume em geral, a forma de levantamento.

• Pesquisa explicativa: visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos, aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão, o porque das coisas. Quando realizada;

• Pesquisa bibliográfica: quando elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente com material disponibilizado na internet;

• Pesquisa Documental: quando elaborada a partir de materiais que não receberam tratamento analítico;

• Pesquisa Experimental: quando se determina um objeto de estudo, seleciona-se as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, define-se as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto;

• Levantamento: quando a pesquisa envolve a interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer;

• Estudo de caso: quando envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento;

• Pesquisa ex-pos-facto: quando o experimento se realiza depois dos fatos;

• Pesquisa ação: quando concebida a realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo. Os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo;

• Pesquisa participante: quando se desenvolve a partir da interação entre pesquisadores e membros das situações investigadas;

RESUMO

Trata-se de um tipo de redação informativo-referencial que se ocupa de reduzir um texto a suas idéias principais. Em princípio, o resumo é uma paráfrase e pode-se dizer que dele não devem fazer parte comentários e que engloba duas fases: a compreensão do texto e a elaboração de um novo. A compreensão implica análise do texto e checagem das informações colhidas com aquilo que já se conhece.

Para que serve o resumo?


SUGESTÕES PARA APRESENTAR TRABALHOS



1. Preparação do material (transparências, slides, cartazes)



• Ser generalista – não estatístico

• Usar gráficos, esquemas, figuras, preferencialmente aos textos;

• Tentar manter a uniformidade do material;

• Não colocar muitos dados em uma mesma transparência, não usar texto normal;

• Explorar a possibilidade das cores. É aconselhável fundo claro e letras escuras;


Observe a regra do sete:


• Utilize no máximo sete palavras por linha e sete linhas por slide;

• Evite embaralhar texto e imagens;

• Seja breve;

• Dê espaço entre as linhas para maior legibilidade;

• Balance textos e imagens;

• Seja consistente;

• Cheque a ortografia;

• Dê vida ao material


REFERÊNCIAS


GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2010.



LAKATOS, E.M.; MARCONI, M. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas, 2006.



O Estado em Antonio Gramsci

Antonio Gramsci (1891 – 1937)


Antonio Gramsci nasceu no final do século XIX, foi militante político e revolucionário e ficou conhecido no mundo como discípulo de Karl Marx. Militou no Partido Comunista Italiano, foi preso por Benito Mussolini após a criação do Partido Fascista e desenvolveu a sua teoria política dentro do calabouço.

Gramsci se tornou um grande teórico político na medida em que conseguiu fazer uma releitura das obras de Karl Marx. A grande contribuição do pensamento de Antonio Gramsci para a sociedade, foi separar a figura do Estado, da Sociedade Civil – enquanto Marx, havia se debruçado e traçado linhas para a conquista do Estado como ponto fulcral das transformações sociais, Gramsci focou no desenvolvimento da sociedade civil.

Para Gramsci, o Estado possui a característica de ampliado, ou seja, se compõe de dois segmentos: Estado e Sociedade Civil. É necessário esclarecer que o Estado para Gramsci é composto pela sociedade política – nesse contexto, existem duas sociedades: a sociedade política e a sociedade civil.

Vale ressaltar que a sociedade civil é ponto central do pensamento de Antonio Gramsci, o que vai ser o grande diferencial do ponto de vista estabelecido por Karl Marx.

Na visão de Gramsci (2004), sociedade civil é

o conjunto de organismos designados vulgarmente como “privados” formados pelas organizações responsáveis tanto pela elaboração quanto pela difusão das ideologias, compreendendo assim o sistema escolar, as igrejas, os sindicatos, os partidos políticos, as organizações profissionais, a organização material da cultura (que se dá pelos jornais, revistas, editoras, meios de comunicação de massa), etc. Em suma, os ditos “aparelhos privados de hegemonia” – organismos sociais coletivos voluntários e relativamente autônomos em face da sociedade política (GRAMSCI, 2004)


A sociedade política na visão gramsciana é composta pelo conjunto de mecanismos através dos quais a classe dominante consegue manter e deter o monopólio do uso da força – através da organização burocrática e do aparelhamento da polícia e do exército.

Como a sociedade civil vai ser o ponto central do pensamento político de Antonio Gramsci – ele desenvolve outro conceito importante que irá caminhar conjuntamente com a sua visão de sociedade civil: o conceito de hegemonia.

A hegemonia para Gramsci é concebida através da capacidade de estabelecer o consenso, da persuasão, mas, não somente do ponto de vista econômico como pensava Karl Marx, mas também pelo modo de pensar, pelos pontos de vistas ideológicos e a visão de mundo, nesse contexto, a cultura passa a influenciar as relações políticas.

A hegemonia para Gramsci em linhas gerais é a “capacidade de unificar através da ideologia e de conservar unido um bloco social, não se restringindo ao aspecto político, mas compreendendo um fato cultural, moral, de concepção do mundo”.

Por conseguinte: qual a grande importância da sociedade civil para Gramsci? Gramsci conseguiu enxergar que é na sociedade civil que se estabelece a luta pela conquista da hegemonia política e que essa luta acontece entre as classes sociais.

Vale ressaltar que a luta para Gramsci, possui um nome: ação política. A ação política vai ser ponto importante porque será através dela que se estabelecerá o consenso, a negociação – o que de certa forma contribuirá para o desenvolvimento da democracia.

Nesse contexto, se estabelece a ligação entre o conceito de hegemonia gramsciano e a democracia uma vez que na visão de Gramsci esse seria o primeiro passo rumo a uma sociedade socialista.

A progressão do sistema democrático passa pela ampla participação da população nas tomadas de decisão do Estado.


Referências


GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 2ª edição, 1978.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, vol. 1, 3ª edição, 2004.

 

O Estado em Max Weber

Max Weber (1864 – 1920)


Max Weber nasceu quase no final do século XIX e faleceu pouco tempo depois do término da I Guerra Mundial. Esse período de vida de Max Weber, representou uma mudança significativa tanto em solo europeu quanto mundial, no que diz respeito ao conceito de Estado.

Os movimentos sociais de final do século XIX e o desencadeamento da I Grande Guerra Mundial, foram molas propulsoras para que Max Weber apresentasse a sua concepção de Estado.

Nesse contexto, Max Weber foi capaz de revolucionar e influenciar o desenvolvimento do Estado nos quatro cantos do mundo através da proposta de gerenciamento do Estado por meio racional – por racional, entende-se sistema burocrático de gerenciamento.

A sua ideia de Estado pode ser encontrada no texto: “ A política como vocação”, onde o autor ressalta a necessidade da criação do Estado Moderno – mas, o que seria o Estado Moderno para Max Weber?

O Estado para Weber é “uma relação de homens que dominam seus iguais, mantida pela violência legítima”.

Por conseguinte, Max Weber legitima o uso do poder da força pelo Estado. O Estado é o único que deve possuir o poder de utilização da força para poder colocar em prática as suas idéias – a legitimidade da ação do Estado aparece através da concessão da sociedade.

Para entendermos o conceito de Estado de Weber é necessário conhecermos a noção de domínio para o autor. O domínio está relacionado com a possibilidade de uma determinada vontade de se sobrepor à outra.

A concessão da utilização da força para o Estado pela sociedade pode ser estabelecida através de 3 tipos puros de dominação:

• Dominação tradicional

• Dominação carismática

• Dominação legal

A dominação tradicional está relacionada com a passagem do poder através dos costumes e da cultura;

A dominação carismática através da influência de líderes políticos. (No Brasil e na América Latina aconteceu de forma contumaz, principalmente no período da abertura política democrática que vai de 1945 a 1964). Como exemplo podemos citar: Getulio Vargas, Janio Quadros e mais recentemente Luis Inacio Lula da Silva. Essas figuras são consideradas e rotuladas em território brasileiro como populistas. Na visão de Weffort, no livro O Populismo na política brasileira, o populismo é um fenômeno político, pois os líderes se põem acima das massas, atraindo para si o papel de salvador da pátria.

Na visão do autor, Estado Moderno significa desenvolvimento do sistema burocrático – a burocracia seria a grande arma para a administração do Estado – mas, em linhas gerais, o que significa burocratização? Seria a definição de cargos, atividades e salários dentro do próprio Estado com um fim específico, ou seja, atender as necessidades do próprio Estado e mais do que isso, serve para limitar a atuação do Estado.

A burocracia é para Max Weber um processo de gerenciamento das relações de poder e trata-se de um produto histórico do desenvolvimento do Estado Moderno.


Referências

WEBER, Max. A ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1997.



O Estado em Tocqueville

Alexis de Tocqueville (1805-1869)


"Mais que as idéias, são os interesses que separam as pessoas."

Alexis de Tocqueville

Alexis de Tocqueville foi um importante teórico do Estado. Trata-se de um francês que se aventurou em terras americanas no século XIX e através de uma viagem aos Estados Unidos conseguiu entrar no âmago da sociedade americana, extraindo diretrizes para a organização do seu pensamento político.

Baseando-se nas obras de Rousseau e na filosofia do século XVIII, Tocqueville desenvolveu o seu pensamento político e tornou-se um dos filósofos mais importantes de sua época - não só por que foi capaz de escrever uma importante obra, mas, sobretudo porque defendeu a existência de um sistema político, que nas próximas décadas e séculos se desenvolveu e se espalhou para os quatro cantos do mundo.

Alexis de Tocqueville escreveu uma importante obra chamada Democracia na América. Nessa obra, destaca a sua simpatia pela organização da sociedade americana, os hábitos desenvolvidos, a cultura, a estrutura social, as instituições políticas e a relação da sociedade com o Estado baseada na liberdade e na igualdade.

Estabelecer a correlação entre a liberdade e a igualdade tornou-se um desafio para Tocqueville tendo em vista que os pensadores mais antigos, como os contratualistas apontavam para a discrepância entre ambas. Os contratualistas não enxergavam muita lógica na existência da liberdade – uma vez que as concepções de Estado até então desenvolvidas apontavam para a relação de poder entre Estado e sociedade, mas uma relação de poder tendo como ponto central, a força.

Em Tocqueville esse pensamento se altera, a relação de poder entre Estado e sociedade continuará existindo, mas possuindo como foco a lei – a lei e a sua aplicação norteará as relações entre o Estado e a sociedade e nesse contexto desenvolve-se as bases para a liberdade e a igualdade. Falar da liberdade e da igualdade, em Tocqueville, é necessariamente falar de democracia. Em primeiro lugar porque Tocqueville identifica, esclarecendo, igualdade com democracia. Em segundo lugar porque ao não trabalhar apenas com indagações abstratas procura entender a questão da liberdade e da igualdade, onde acredita, elas não são contraditórias. Isto é, onde um processo de igualização crescente se dava o mesmo tempo em que preservava a liberdade, melhor dizendo, onde a democracia se realizava com liberdade. (QUIRINO, 1993, p. 152)


Tocqueville destaca que o sistema democrático é condição sine qua non para o desenvolvimento da igualdade entre os homens, por isso, vai defendê-la de todas as formas possíveis. Os Estados Unidos se transformam para o autor em um exemplo de desenvolvimento político e social e que deveria servir como modelo para o mundo.

O ponto fulcral do pensamento de Alexis de Tocqueville está no desenvolvimento político do sistema democrático e se centraliza na questão da soberania da população. Através da lei, o povo é chamado para tomar decisões políticas e é nesse contexto que vai se desenvolver o sufrágio universal e proporcionar as diretrizes para a liberdade.

Tocqueville consegue a compreensão exata do sistema político americano quando escreve:

o povo participa da composição das leis, pela escolha dos legisladores, da sua aplicação pela eleição dos agentes do poder executivo; pode-se dizer que ele mesmo governa, tão frágil e restrita é a parte deixada á administração, tanto se ressente esta da sua origem popular e obedece ao poder de que emana. O povo reina sobre o mundo político americano como Deus sobre o universo. É ele a causa e o fim de todas as coisas; tudo sai do seu seio, e tudo se absorve nele.(TOCQUEVILLE, p. 52)


A obra de Tocqueville não é considerada importante somente por causa da identificação e do estudo que realizou sobre a sociedade americana, trata-se de uma obra que iria influenciar a expansão do sistema democrático pelo mundo.

A sua intenção não foi estabelecer um modelo ideal de democracia e que o mesmo deveria ser copiado por outras nações e muito menos pela França, seu pais de origem, mas apenas a ideia de um modelo, pois cada país constrói a democracia conforme sua própria cultura, seus ideais e hábitos.

O grande mérito do autor, foi estabelecer que a democracia é um processo de caráter universal e não apenas um fenômeno apresentado ao mundo pela sociedade americana.

Para entender o conceito de democracia exposto por Tocqueville é necessário compreender que “a existência de seu processo igualitário, como se fosse uma lei necessária para se compreender a história da humanidade” (QUIRINO, 1993, p. 154).

No entanto, Alexis de Tocqueville aponta em sua obra as dificuldades encontradas na sociedade americana para a manutenção e a expansão do processo democrático – dificuldades essas que não encontram respaldo nas diferenças econômicas existentes na sociedade americana da época, aliás, para o autor está excluída a possibilidade da igualdade econômica e o que vai prevalecer segundo as suas idéias são os aspectos culturais e políticos - estes irão fazer a diferença em prol do desenvolvimento da sociedade democrática.

Como exemplo, o autor utiliza a questão da escravidão existente em solo americano, para ele, após o termino da escravidão, a diferença da cor da pele iria ser argumento para a distinção e desencadeará preconceito e discriminação, dificultando assim as relações sociais e proporcionando dessa forma, um sério problema político.

Tocqueville aponta para a existência de dois tipos de democracia: a democracia tirânica e a democracia liberal – de uma forma geral, para Tocqueville o caminho do paraíso democrático está sempre sendo ameaçado se levar em conta o processo de igualização – o desenvolvimento da igualização pode desencadear a democracia tirânica por parte da maioria, sendo necessária a aplicação de uma ação política (desenvolvimento da cidadania) para defender o bom andamento do sistema democrático.

A ação política está relacionada para Tocqueville com a atividade da cidadania – a cidadania e a descentralização do Estado vão ser cruciais para o desenvolvimento da democracia.

No pensamento de Tocqueville encontra-se mencionado a sua preocupação com o individualismo proporcionado pelas relações econômicas. Na visão do autor, a luta pelo enriquecimento proporciona o abandono dos assuntos públicos por parte dos cidadãos e tornando o Estado, o único responsável pelos assuntos públicos.


Referências


QUIRINO, Celia G. Tocqueville: sobre a liberdade e a igualdade. In: Os clássicos da política. 4 ed. São Paulo: Atica, 1993.


TOCQUEVILLE, Alexis de. Democracia na América. São Paulo: Nova Cultural, 1993.



O Estado em Thomas Hobbes

Thomas Hobbes (1588-1769)

Porque as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia, a piedade, ou, em resumo, fazer aos outros o que querem que nos façam) por si mesmas, na ausência do temor de algum poder capaz de levá-las a ser respeitadas, são contrárias a nossas paixões naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, o orgulho, a vingança e coisas semelhantes. E pactos sem a espada não passam de palavras, sem força para dar qualquer segurança a ninguém. Portanto, apesar da leis de natureza (que cada um respeita quanto tem vontade de respeitá-las e quando pode fazê-lo com segurança), se não for instituído um poder suficientemente grande para nossa segurança, cada um confiará e poderá legitimamente confiar apenas em sua própria força e capacidade, como proteção contra todos os outros (HOBBES, cap. XVII, p. 103)

Para começarmos a entender o pensamento de Thomas Hobbes é necessário salientar que ele faz parte de uma gama de pensadores conhecidos como contratualistas . Os contratualistas vêem a sociedade e o Estado através de um contrato. Em linhas gerais, o pensador escreve que seria impossível a convivência humana sem a aplicação de regras e normas e que para cumprir esses contratos e normas era necessário existir uma “entidade” que estivesse situada acima dos homens para que os obrigassem a cumprir as regras estabelecidas.

É nesse contexto que reside o entendimento sobre o seu pensamento. Thomas Hobbes parte para a construção das suas idéias através do estado de natureza humana.

Para compreender o que Thomas Hobbes quer dizer com estado de natureza humana é preciso salientar que o mesmo não enxerga diferenças entre os homens - todos são iguais e que em linhas gerais, estes não mudam seu comportamento através dos tempos.

De acordo com Ribeiro (1995, p. 54)

A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte do corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isso em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa também aspirar, tal como ele.

O cerne do pensamento de Hobbes está relacionado com a seguinte questão: nenhum homem é superior e não pode triunfar sobre outro.

Nesse contexto, o Estado precisa se impor “se não há um Estado controlando e reprimindo, fazer a guerra contra os outros é a atitude mais racional” (RIBEIRO, 1995, p. 55).

No entanto, a fundamentação teórica de Hobbes nos remete ao medo. Na visão de Hobbes, o medo faz parte da natureza humana e o estado natural é capaz de propor a insegurança, o medo e a angústia.

O medo que se instala sobre os homens durante o estado de natureza é decorrente da igualdade natural – sendo os homens iguais, estes podem ferir ou serem feridos, tendo em vista a fragilidade do corpo, que se derrotado atinge também a força, a sabedoria e o vigor.

O medo do exercício da guerra de todos contra todos é e isso fica explicita na frase “minha mãe pariu gêmeos e eu o medo”. È sobre esse pano de fundo que vai se desenvolver a criação do Estado e a visão de Sociedade Civil hobbesiana.

A sociedade civil vai nascer da racionalidade humana, sendo assim de forma artificial. No entanto, é necessário vincular a racionalidade humana hobbesiana com o desenvolvimento das ciências. Hobbes viveu em um período de intensa transformação científica, onde o uso da razão era prevalecente. A racionalidade aplicada ao meio científico tinha que ser transportada para o interior das relações humanas e sendo assim, a formulação de pactos e contratos sobre a atuação de um Estado forte era fundamental para a regulação da vida, evitando assim, a guerra de todos contra todos.

A organização do estado racional será capaz de colocar um freio nas relações humanas, uma vez que o pensamento para Hobbes estabelece o homem como um ser egoísta e que só pensa em seus interesses pessoais. Bueno (2010, p. 4) define estado natural hobbesiano, quando aponta que “no estado, a força de cada um é medida por seu poder real; cada um tem exatamente tanto de direito quanto de força e todos só pensam na própria conservação, nos interesses pessoais”

É certo salientar que o homem vai estabelecer a criação de um Estado racional tendo como ponto fulcral, o medo. Medo de ser morto e escravizado e o Estado vai servir para proporcionar a segurança necessária para viver em sociedade.

O Estado racional vai se fundamentar no monopólio da força, portanto, o Estado será soberano e o direito vai criar as bases e as regras das ações da sociedade.

É sobre esse contexto que nascerá o Leviatã, monstro bíblico onde o mesmo se trata de um animal monstruoso, invencível e cruel.

Na visão de Bueno (2010, p. 6)

O monstro foi criado – o Leviatã, o homem artificial, que encarna o poder absoluto – do acordo coletivo, em que os homens entregaram ao Estado todo o seu poder e sua vontade , e o fato de cada homem ser co-autor desta soberania torna seu poder indivisível.

O Estado para Hobbes se estabelece através da vontade humana e vai refletir os interesses da sociedade, sendo assim, será o agente que garantirá a paz, a segurança, a liberdade de expressão e a liberdade das relações econômicas.

Referências

BUENO, M.M. Medo e liberdade no pensamento de Hobbes. In: Revista Primus Vitam, n. 1, v. 2, 2010.

HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Nova Cultural, 1983.

RIBEIRO, R. J. Hobbes: o medo e a esperança. IN: Os clássicos da política. 5 ed. São Paulo: Ática, 1995.



O Estado em Nicolau Maquiavel


Nicolau Maquiavel (1469 – 1527)


“O que é certo é que a não ser que haja uma mão firme no leme, a nave do Estado naufraga. A sociedade humana entrará em colapso, terminando em caos e imundície, a não ser que um especialista competente a dirija. E embora Machiavel, pessoalmente, ofereça razões para preferir a liberdade e um governo republicano, há situações nas quais um príncipe forte será preferível a uma república fraca” (BERLIN, 2001, p. 25)

A política encontra-se diretamente relacionada com as questões ligadas ao Estado. Como se trata de um curso de políticas públicas, entender os conceitos e a evolução do conceito de Estado é ponto crucial para o desenvolvimento das atividades.

Para iniciar as discussões, vamos ver o conceito de Estado para os principais autores da ciência política:

Maquiavel não escreveu apenas um conceito de Estado. Para entendê-lo em seu contexto mais amplo, precisamos nos reportar à sociedade da época e suas relações políticas, porque de uma forma geral, ele trabalha com precisão cirúrgica as relações éticas e morais envolvidas na política. Questões como o comportamento dos governantes, levando em consideração a moral cristã que permeava a sociedade florentina é fundamental para entendermos o seu pensamento.

Para contextualizar as idéias de Maquiavel, esboçaremos em linhas gerais o quadro político da sociedade vivida pelo autor:

• Maquiavel e a Sociedade

1. As relações de poder existentes entre a Igreja e o Estado.O poder divino dominava o pensamento político central, onde Deus ainda era o Centro do Universo.

2. O capitalismo mercantilista e a ascensão das relações econômicas;

3. A ascensão da Monarquia, o desenvolvimento dos Estados Nacionais e a criação das Instituições Políticas (Poder Judiciário, Exércitos, Burocracia e as cortes)

4. A ascensão da Monarquia desencadeou o nascimento do Estado absoluto, onde ocorreu a preservação da ordem e os privilégios da classe aristocrática e o controle das classes menos favorecidas – o proletariado.

5. Países como a Inglaterra e a França se consolidaramm em território europeu e se destacaram como poder central.

6. Não existia ainda a Itália como Estado. O que existia era um conjunto de pequenas cidades-estado e que eram rivais entre si e ao mesmo tempo essas cidades-estado eram disputadas pelos rivais: O Papa, a França e a Espanha lutavam constantemente para conseguir dominá-las.

Vimos até o momento o quadro das relações políticas em um contexto mais amplo, agora, vamos entender como Maquiavel olhava o homem e o seu interior. Essa visão será capaz de desmistificar o seu pensamento que ficou marcado de forma negativa através dos tempos. Maquiavel foi muito mal interpretado o que lhe garantiu a fama de mau, mas isso é porque de uma forma geral, não compreendemos a sua visão de homem.

• Maquiavel e a visão de homem

1. O cerne do pensamento de Maquiavel sobre o homem está centralizado na palavra racionalidade, ou seja, uma ruptura com o pensamento da Idade Média, onde Deus era o centro do Universo. Quando o autor mencionou a palavra racionalidade ele foi na contramão dos princípios cristãos vigentes até então. A partir desse momento, o centro do universo passou a ser o próprio homem;

2. A análise de custo/benefício em Maquiavel precisa ser interpretada do ponto de vista da obra – O Príncipe. No contexto da obra, Maquiavel utiliza duas expressões fundamentais: virtú (não vamos interpretá-la como virtude, pois isso nos remeteria a um conceito cristão e poderia nos deslocar para uma visão de virtude moral) e a expressão fortuna. A Fortuna se trata da ordem das coisas em todas as dimensões da realidade e que influenciam o sistema político. Para interpretarmos a obra de Maquiavel é necessário aliarmos o conceito de virtu com o conceito de fortuna. Onde virtú seria a capacidade do Príncipe de controlar as ocasiões e os acontecimentos e a fortuna seria a sorte em ter êxito em suas ações. A fronteira entre a virtú e a fortuna celebrou a entrada de Maquiavel para a história como “vilão” uma vez que o Príncipe para atingir os seus objetivos não abria mão dos meios mais cruéis, ou seja, que para atingir os fins não importava os meios empregados para conquistá-los.


3. Maquiavel estuda o comportamento humano através da perspectiva da antiguidade clássica, onde o homem possui traços humanos imutáveis: ingratos, covardes, simuladores e volúveis. Esses traços podem levar a conflitos constantes e dentro de um reinado levá-lo a anarquia. É em cima desses traços que os Príncipes deveriam tomar as suas atitudes tendo em vista a preservação do reinado.

A visão de homem fica explicita em Berlin (2001, p.48), onde expõe que em Maquiavel a visão é social e política. Donde o conceito tradicional dele como um simples especialista em como se levar a melhor sobre os outros – um cínico vulgar que afirma que os preceitos da escola dominical são muito bons em si, mas em um mundo cheio de homens maus você também precisa mentir, matar e assim por diante, para poder chegar a algum lugar – ser incorreto.

• A noção de história e de política em Maquiavel

O conceito de história em Maquiavel está centralizado sobre a sua idéia de homem. Maquiavel enxerga o homem através de uma lente pessimista, mesmo ciente de que os valores cristãos: a bondade, a caridade, a complacência são virtudes, mas em sua visão o homem é mal por natureza, por isso, esse pessimismo e esse negativismo na história.

Nesse contexto, a visão de política exposta por Maquiavel é dependente desta posição pessimista e negativa, uma vez que o mesmo passa a ver a política de forma independente da Igreja e como sendo produto do próprio homem. Maquiavel rompe com a visão de política estipulada pela Igreja e causa impacto no mundo cristão, é nesse contexto que se desenvolve a expressão “maquiavélico” que foi disseminada aos quatro cantos do mundo.

Como sendo produto do próprio homem, a política tem a capacidade de ter vida própria, as suas leis, as suas regras que não estão escritas em nenhum manual cristão – a política possui as suas regras particulares e se caracteriza como ponto fulcral de luta pelo poder.

Maquiavel acredita que todo princípio pode ser corrompido, mas que pode ser atenuado ou agravado dependendo da (fortuna ou da virtú).

• O Estado em Maquiavel

Maquiavel não trabalha com a definição explicita de Estado – ele expõe que o Estado em linhas gerais está presente em todos os setores da vida humana. O Estado para Maquiavel é onipresente, exerce uma força superior ao mundo dos homens e tem que ter a capacidade de exercer a sua plenitude.

Em linhas gerais, o Estado está acima do bem e do mal, regulamenta a vida entre os humanos, organiza as leis, rege-as e cumpre-as, por isso é absolutamente normal que o Estado seja o fim de tudo e por isso se justifica qualquer meio empregado.


Referência


BERLIN, I. A originalidade de Machiavelli. IN: O Príncipe. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.



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