Quando
pequeno se acostumou a ver o estádio do Maracanã de forma romântica. Assistia
aos filmes nos Cines Capri ou Veneza em Araraquara, nas telas as imagens
projetadas em câmera lenta do Canal 100 protagonizavam um estádio recheado
de “Geraldinos”, com esperanças sempre renovadas e terços em mãos, esperando um
gol salvador e a explosão da alegria.
Depois,
um pouco mais jovem, aprendeu nas crônicas de Nelson Rodrigues que o futebol
carioca representava a síntese da malandragem brasileira, com a sua ginga e
capacidade de improvisação. Esse era o Maracanã, palco de artistas, de quando
ainda o futebol era técnica e pagava-se ingresso para assistir um verdadeiro
show de bola.
Se
emocionou quando percebeu que poderia ir ao Maracanã naquela tarde abrasiva de
domingo, de fevereiro de 1991, Fluminense x Botafogo se enfrentariam pelo
Campeonato Brasileiro, rapidamente passou em sua mente as telas dos cinemas e
as crônicas do “Anjo pornográfico”, aquilo o emocionou e o deixou com um leve
frio na espinha, que só os emotivos de corpo e alma sentem quando as memórias
da infância lhe batem à porta.
Pegou
o ônibus em Olaria, em direção à Quinta da Boa Vista, lugar mais próximo ao
Maracanã – o restante do trajeto faria a pé mesmo, ele queria acompanhar a
atmosfera da partida, sentir os botafoguenses e os tricolores chegando ao
estádio com euforia. As cores das camisas proporcionavam alegria ao ambiente,
embora a tensão sempre tenha sido constante devido ao alto índice de violência
com as torcidas rivais e seus encontros fortuitos.
A
pressão começou na fila dos ingressos, botafoguenses e fluminenses se
provocavam sem constrangimento, mastros de bandeiras, repliques, tamborins,
bumbo e outros instrumentos agitavam a galera em meio aos insultos e palavrões
de todas as ordens, que dominavam o ambiente. Ficou com medo, era melhor pegar
logo o ingresso, subir a rampa de acesso e ver o Maracanã em cores.
Quando
subiu a rampa de acesso e avistou as torcidas, chorou copiosamente ao ver as
bandeiras coloridas no estádio, de um lado, os tricolores, do outro, os
botafoguenses. O seu sonho de conhecer o Maracanã havia se realizado, aquilo o
deixou em êxtase e eufórico.
Seria
melancólico assistir ao primeiro jogo no Maracanã e não ver gols, afinal, o que
vale no futebol é bola na rede e, em pouco tempo, o Fluminense abriu o placar e
a massa tricolor se levantou em alegria e explosão. O seu sonho já estava
completo. Ele voltaria para casa feliz da vida, mas quando o jogo caminhava
para o final, o Botafogo em um lance de falta empatou a partida, a metade
botafoguense fez a festa, pronto, resultado mais que justo pelo futebol
praticado pelas equipes, felicidade plena e nada melhor que ter tomado um
chopinho gelado no final do jogo no boteco em frente ao Maracanã.