Friday, 19 December 2025

Carta de São Paulo aos ansiosos



Da janela lateral, o mundo vertical paulistano se revela. O concreto e a sombra impõem-se, lançando uma penumbra sobre vidas apressadas. Andar por São Paulo é ter a impressão de que o mundo findará em concreto, restando aos bares a celebração de vidas hedonistas, esvaziadas de sentido.

Os carros, outrora símbolos de passeio, agora apenas labutam, tal qual as motos, sempre à espreita da próxima entrega. O futuro se esvai em São Paulo, onde a vida se resume ao presente fugaz.

Marquises e viadutos amparam vidas estraçalhadas pelo tempo, envoltas em cobertores, travesseiros, papelões e plásticos negros. São Paulo é um incessante ir e vir, um descaso com aqueles que a tornam imponente e, ao mesmo tempo, tenebrosa.

Os grafites, eloquentes, denunciam a tudo e a todos. Em São Paulo, ninguém parece imune à culpa. Na ânsia constante, todos se perdem, a serenidade se cala e a confusão se torna inevitável. O ar rarefeito não nutre esperanças.


O rio Tietê, em sua degradação, ameaça revelar um monstro do Lago Ness 2.0, tamanha a sujeira que o assola e desola. São Paulo, a metrópole de contrastes, onde a beleza se encontra com a decadência, e a esperança, por vezes, se perde em meio ao concreto.

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