A solidão da noite diz muita coisa. Até a luz da lua fica mortiça e embaçada. A TV não para nos canais, é um zap zap sem fim. O desassossego é eminente. Café e cigarro fazem companhia em momento impróprio, mas ele sempre acha que o álcool não será uma boa companhia. O café tira o sono e o cigarro é nostálgico.
Ele lembrou da definição de Carlos Heitor Cony para quem nostalgia é saudade de um tempo que já se foi e a melancolia, a saudade de um tempo nunca vivido. Na noite, melancolia e nostalgia sem unem em torno de um não sei que sem fim e os cigarros vão se avolumando no cinzeiro. A casa cheirando a fumo e café o lembrou de um tempo que ficava sentado à frente da máquina de escrever esperando as ideias chegarem e os papéis se amontoarem na lixeira após o erro gramatical.
Agora, a situação era outra, a máquina de escrever está na bagunça do escritório, as ideias, perdidas no tempo e no espaço infinito da noite, as palavras sumiram, desapareceram e os textos rarearam e quase não existem mais, o que restou, foram apenas o cigarro, o cinzeiro e o café de cor desbotada e ralo, quase um chafé.
O sono, desapareceu, o que resta para ele é a existência, o pensamento vago, perdido e o silêncio. O silêncio é tudo e nem a bagunça das redes sociais com suas futilidades chamam a atenção no momento.
O silêncio e a solidão são irmãos na noite. As taças não são sinônimos de felicidade. Até tempos atrás, felicidade era encaixar a palavra perfeita em um texto literário, agora, tudo mudou, nem sabe ao certo se esse conceito ainda existe, tal o desassossego que o habita e o corrói de forma agressiva.
A ansiedade é a mãe das horas difíceis - ela acelera o coração e distorce os pensamentos e quando se olhou no espelho, a frase do poeta lhe veio à mente "eu vi cara da morte e ela estava viva".