Wednesday 4 October 2023



CIRINO, Marcelo Inaco Luis. Fonte Luminosa – Ferroviária. Campinas: Pontes, 2005.



Dos trilhos à Fonte Luminosa

 

Escrever sobre a Associação Ferroviária de Esportes para quem mora na cidade de Araraquara pode parecer ser uma missão não muito complicada, tendo em vista a aparente proximidade entre a agremiação e a torcida, mas, no futebol, o fato de jogar em casa, nem sempre significa ser favorito, é assim a obra escrita pelo meu amigo Doutor Marcelo Cirino.

Digo isso pela complexidade que reveste a sua obra, fruto de pesquisa intensa, consulta a jornais da época, às atas existentes, às fichas dos jogos, não foi nada fácil reunir a documentação relacionada à Associação Ferroviária de Esportes, foi necessário a construção de um personagem que embora tenha adoração pela medicina também fosse capaz de adotar as sandálias humildes da história para entendê-la, interpretá-la e depois escrevê-la.

Quem navega sobre as águas do livro Fonte Luminosa – Ferroviária de Marcelo Cirino mergulha em uma fonte de água cheias de luzes e histórias de Araraquara e da Associação Ferroviária de Esporte, Cirino foi buscar ainda nos trilhos da antiga Fepasa elementos que ressaltam o nascimento da agremiação.

O futebol em Araraquara, antes mesmo da Associação Ferroviária de Esporte é descrito de forma sublime pelo autor, assim como o nascimento do time de futebol e a construção da linda Fonte Luminosa, a presença ilustre do genial Pereira Lima, figura ímpar que sem as suas ações, seria impossível pensar a própria existência da agremiação e que se hoje o estádio resplandece de luz e grandeza, muito se deve à sua persistência em construir o time grená.

O autor construiu uma verdadeira viagem na história pelos trilhos da araraquarense. Foi buscar elementos para ressaltar as excursões da Ferroviária em terras estrangeiras, relacionou a ADA (Associação Desportiva Araraquarense) e os dérbis com a Ferroviária, traz inúmeras fichas de jogos, cita os anos difíceis e fotos memoráveis de times espetaculares que foram montados no decorrer da história.

A obra de Cirino é de leitura obrigatória para todos aqueles que se interessam pela Associação Ferroviária de Esportes e pela Morada do Sol -  afinal de contas, o autor conseguiu relacionar os trilhos da Fepasa, o nascer do sol na Morada com a mesma felicidade daqueles que já embarcaram em trens de passageiros e conseguiram curtir demais a paisagem da janela.

 

Monday 2 October 2023

 

O Cine Veneza, o Cine Capri e o canal 100: o futebol e a arte nos cinemas de Araraquara


 

Na rua três em Araraquara entre as avenidas Espanha e Duque de Caxias ficava o antigo cine Veneza. O cine Veneza representava muita coisa para o jovem da época, aliás, não apenas o Veneza, mas também o Cine Capri que ficava a duas quadras de distância, isso porque ambos os cinemas eram sinônimos de diversão e com baixo custo, atraía demais o público.

Os cinemas apresentavam os seus cartazes, já na época muito bem construídos e simples apresentavam os filmes à disposição e os horários das sessões – ambos eram grandes e os tapetes vermelhos apresentavam um charme de época, as poltronas confortáveis, as telas gigantes e imponentes faziam a diferença, logo na entrada, as bombonieres se faziam presentes e vendiam balas de leite kids, balas soft, drops, e chocolates em um pequeno balcão com vidros, não existia nada de pipoca e refrigerante, era a “felicidade” que existia naquele momento.

Os filmes passavam em rolo, era comum as vezes “ouvi-lo” nessa missão – a figura do lanterninha sempre era um problema para os mais assanhados, quando começava o rala e rola, lá vinha ele com a sua luz impertinente e justificada cortando o barato da moçada. Era gostoso frequentá-los e depois dar uma passada na livraria Vamos Ler que ficava ao lado do Cine Veneza, dar uma “folhada” nas revistas da semana era certeiro, afinal, elas eram caras para assinar e ficar sabendo das últimas notícias era fundamental.

Quando as cortinas se abriam logo de cara o Canal 100 de Carlos Niemeyer pintava na telona tendo como pano de fundo a música “Na cadência do Samba” de Luiz Bandeira na voz de Waldir Calmon – o Canal 100 mostrava  a sutileza dos movimentos dos jogadores de futebol, geralmente do Flamengo e do Vasco, o Zico com aparência serena e Roberto Dinamite apreensivo eram presenças constantes  sob o barulho ensurdecedor das torcidas no Maracanã, os geraldinos tensos com os rádios de pilha no ouvido protagonizavam cenas que ficaram para a história e construíram a saudade de um estádio que já não existe mais.

O Canal 100 era dramático com suas câmeras lentas, aproximava atacantes e goleiros em hora de definição do lance, os gestos dos juízes aplicando gritos aos jogadores ecoavam nas salas dos cinemas, a decepção da perda do gol, a alegria de uma defesa retratada de forma clara e objetiva pelas suas lentes encantava a todos numa época em que o futebol representava a arte, os jogadores eram os Chaplins em tempos que o artista da bola se assemelhava a Van Damme, a Stallone ou mesmo à Edson Arantes do Nascimento e talvez por isso, desfilavam seus talentos nas telas dos cinemas.

 

 

Tubaína, mortadela e um jogo na Fonte Luminosa

  O ano, ele não se recorda de maneira exata, mas tem a certeza de que aquela partida de futebol entre a Ferroviária de Araraquara e Palmeir...