Ele
sempre chegava em sua magrela azul e com sua pastinha preta embaixo do braço. A
molecada jogando bola – ele estacionava e ficava olhando, não sabia ao certo
quem era o alvo, mas uma coisa tinha certeza, sempre queria um novo talento
para o futebol, assim era o Tota.
Andava
de campinho em campinho, geralmente de terra, os gols feitos de bambu ou com
sobras de madeira, o terreno de forma costumeira era penso para um dos lados,
sem contar a erosão que existia no meio do campo e formava os buracos, a bola
quicava muito e mesmo assim, a persistência era maior que a teimosia e Tota
nunca desistia.
Após
o término das peladas, Tota sempre chamava os talentos para uma conversa ou
para assinar uma ficha e assim, assumir um compromisso com a sua equipe – seria
uma espécie de contrato a ser assinado, a garantia de que aquele talento
vestiria a camisa de sua equipe – a concorrência entre os treinadores da época
era intensa e não podia dar bobeira, garantir os melhores era fundamental para
o sucesso.
Para
Tota, todos os meninos eram iguais, só os distinguia pelo talento aplicado no
campinho, se tivesse talento, jogava em seu time, se não tivesse, podia até ir
treinar, mas dificilmente seria escalado, já que sua personalidade exigente e
vencedora não permitia.
Em
campo, se transformava no banco de reservas, dava de dedo na molecada, chamava
a atenção e cobrava, o jogador de seu time nunca podia chegar atrasado, já era
chamado de lado e muitas vezes nem vestia a camisa do time, podia ser o craque
que for, não interessava, tinha que cumprir o compromisso com a equipe.
Tota
fazia o esforço, levava em um saco o uniforme do time amarrado na garupa da
bicicleta mesmo sob o sol escaldante da Morada, as meias amarradas umas às
outras para não se perderem, as camisas geralmente amarrotadas e os calções de
vários tamanhos misturados, para pegar o de tamanho certo, a sorte precisava
acompanhar, mas estava tudo bem, quem estava no vestiário, estava feliz, pois
estar escalado para participar do jogo já era uma vitória, se iria entrar em
campo ou não, era outra história, mas uma coisa o menino tinha certeza, estava
entre os melhores.
Tota
era muito parceiro de Jair Bala, os dois viviam no buteco que havia ao lado do extinto
Cine Plaza, no alto da rua dois, geralmente tomando uma cervejinha para
refrescar a cuca – santista de coração, fazia questão de exaltar os títulos
conquistados e as proezas de Pelé e sua turma.
Tota
era incansável na busca por talentos, muitos que passaram por suas mãos
chegaram ao profissional, outros tantos, não, mas sempre levaram consigo os
ensinamentos do mestre: a busca pela disciplina, a perfeição nas ações e a
formação do caráter.
E
como diz a poesia de Bertold Brecht:
“Há homens
que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os
que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes
são imprescindíveis!”