Na
rua três em Araraquara entre as avenidas Espanha e Duque de Caxias ficava o
antigo cine Veneza. O cine Veneza representava muita coisa para o jovem da
época, aliás, não apenas o Veneza, mas também o Cine Capri que ficava a duas
quadras de distância, isso porque ambos os cinemas eram sinônimos de diversão e
com baixo custo, atraía demais o público.
Os
cinemas apresentavam os seus cartazes, já na época muito bem construídos e
simples apresentavam os filmes à disposição e os horários das sessões – ambos
eram grandes e os tapetes vermelhos apresentavam um charme de época, as
poltronas confortáveis, as telas gigantes e imponentes faziam a diferença, logo
na entrada, as bombonieres se faziam presentes e vendiam balas de leite
kids, balas soft, drops, e chocolates em um pequeno balcão com vidros, não
existia nada de pipoca e refrigerante, era a “felicidade” que existia naquele
momento.
Os
filmes passavam em rolo, era comum as vezes “ouvi-lo” nessa missão – a figura do
lanterninha sempre era um problema para os mais assanhados, quando começava o
rala e rola, lá vinha ele com a sua luz impertinente e justificada cortando o
barato da moçada. Era gostoso frequentá-los e depois dar uma passada na
livraria Vamos Ler que ficava ao lado do Cine Veneza, dar uma “folhada” nas
revistas da semana era certeiro, afinal, elas eram caras para assinar e ficar
sabendo das últimas notícias era fundamental.
Quando
as cortinas se abriam logo de cara o Canal 100 de Carlos Niemeyer pintava na
telona tendo como pano de fundo a música “Na cadência do Samba” de Luiz
Bandeira na voz de Waldir Calmon – o Canal 100 mostrava a sutileza dos movimentos dos jogadores de
futebol, geralmente do Flamengo e do Vasco, o Zico com aparência serena e
Roberto Dinamite apreensivo eram presenças constantes sob o barulho ensurdecedor das torcidas no
Maracanã, os geraldinos tensos com os rádios de pilha no ouvido protagonizavam cenas
que ficaram para a história e construíram a saudade de um estádio que já não
existe mais.
O
Canal 100 era dramático com suas câmeras lentas, aproximava atacantes e
goleiros em hora de definição do lance, os gestos dos juízes aplicando gritos
aos jogadores ecoavam nas salas dos cinemas, a decepção da perda do gol, a
alegria de uma defesa retratada de forma clara e objetiva pelas suas lentes
encantava a todos numa época em que o futebol representava a arte, os jogadores
eram os Chaplins em tempos que o artista da bola se assemelhava a Van Damme, a
Stallone ou mesmo à Edson Arantes do Nascimento e talvez por isso, desfilavam
seus talentos nas telas dos cinemas.
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