Thursday 19 July 2007

Amor aos cinquenta I


Chegou em casa e foi logo tirando o palitó. Colocou-o sobre a cadeira e ligou a televisão. As notícias não eram boas. Resolveu desligá-la. Pensou em Cremilda, passou a mão no celular para verificar as mensagens. Havia dez não lidas, entre elas a de Cremilda.
_ Não posso lhe ver hoje. Ligo amanhã para a gente conversar, beijos de seu amor.
Achou estranho já com os cinquenta no lombo ser chamado de amor por alguém bem mais novo mas, não conteve o sorriso sarcástico e o comentário jocoso:
_ Ainda dou no coro prá caramba! Pode crer.
Caminhou até o espelho e ficou se olhando. Percebeu as rugas na face e os dentes já amarelados. Chegou mais perto do espelho. Abriu a boca e esticou a pele do rosto. Fez caretas e chegou a conclusão que já havia chegado a hora de procurar um cirurgião plástico. Achou necessário fazer plástica no rosto para acabar com as rugas e também a necessidade de tornar os dentes mais brancos. Afinal de contas, tinha a pretensão de não ser chamado mais de tiozão pelas moças da cidade. O carro já não era mais problema, havia resolvido isso a alguns meses atrás quando fez o financiamento do honda metálico. A sua única obsessão era excluir as vaginas de aluguel de sua vida, frequentar o ambiente social da cidade com meninas mais novas e adquirir a fama de comedor. Para isso, era necessário dar uma garibada no visual e melhorar a qualidade da roupa.
Foi até o quarto, caminhou até o guarda-roupa, abriu a porta e ficou olhando as camisas no cabide. Passou a mão sobre várias, mas continuou em dúvida sobre qual peça a ser usada àquela hora da noite.A única coisa que possuía em mente era que durante o dia tinha que usar roupas claras e à noite as escuras. Era a regra de etiqueta mais comentada por ele, inclusive em conversas com amigos nas mesas dos botequins. Jogou várias camisas sobre a cama e pensou na melhor combinação possível. Criou-se a dúvida sobre duas peças, a camisa vermelha ou a preta. Levou ambas frente ao espelho e decidiu pela preta.
Trocou de roupa, passou perfume, escovou os dentes e se prostrou frente ao espelho antes de sair. Percebeu que a camisa estava um pouco amassada. Tirou a camisa, ligou o ferro e cuidou para que este não esquentasse muito, justamente para não queimá-la. O celular da sinal de mensagem:
_ Você pode me ver hoje. Estou morrendo de saudades! Mônica.
Colocou a camisa e foi ao espelho. Se olhou de frente, de perfil, verificou se a chave do carro estava no bolso e saiu falando ao celular.
_ Tudo bem, eu saiu com você hoje, Mônica. E o preço é o mesmo? Perguntou preocupado.
_ Se quiser pelos fundos pode aumentar cinquenta, mas, garanto que vou lhe deixar bem louquinho. Vai ser a melhor foda de sua vida.
_ Combinado. Eu passo no lugar de sempre para te pegar daqui a uns dez minutos.
Chegou ao local combinado, abriu a porta do carro e Mônica foi logo dizendo.
_ Estou louca para lhe dar o rabinho, sabia. Colocando a mão sobre o câmbio.
_ Mas, você nem me disse oi! Respondeu
_ Nem preciso, não sou o seu amor. Respondeu Mônica.
_ Mas não vale nem um diálogo? Perguntou.
_ Eu não quero saber dos seus problemas. Eu só quero senti-lo, só isso. Entendeu?
Parou o caro embaixo de uma árvore próximo a avenida central. Ligou o som e estabeleceu-se o silêncio entre ambos.
_ Você não vai querer me comer aqui, não é mesmo? Perguntou Mônica.
_ E vou logo lhe avisando, eu não sou psicóloga, nem terapeuta. Eu só dou prazer.


1 comment:

jpt said...

como já deixei alhures, obrigado pela utilização da imagem. (e gosto do abbey road que anda aqui à solta) cumprimentos

Tubaína, mortadela e um jogo na Fonte Luminosa

  O ano ele não se recorda de maneira exata, mas tem a certeza de que aquela partida de futebol entre a Ferroviária de Araraquara e Palmeira...