Wednesday 18 July 2007

Dialética


A grande contribuição de Marx para as ciências humanas foi a elaboração do Método dialético. O Método Dialético não é um método apenas para se chegar à verdade, é uma concepção do ser humano, da sociedade e da relação ser humano-mundo. Baseado em Hegel, Marx sustenta a tese de que o movimento se dá pela oposição dos contrários – pela contradição.
Na dialética materialista expressão em O Capital, Marx afirma que não existem fato em si, é o próprio ser humano que figura como ser produzindo-se a si mesmo. Pela sua própria atividade, pelo modo de produção da vida material. A condição para que o Ser Humano se torne Ser Humano é o trabalho, a construção da sua história. A mediação entre ele e o mundo é a atividade material.
Nesse sentido, Marx não nega o valor e a necessidade da subjetividade no conhecimento. O mundo é sempre uma “visão” do mundo para o Ser Humano, o mundo refletido. A dialética não é um movimento espiritual que se opera no interior do entendimento humano. Existe uma determinação recíproca entre as idéias da mente e as condições reais de sua existência, o essencial é que a análise dialética compreenda a maneira pela qual se relacionam, encadeiam-se e determinam-se reciprocamente, as condições de existência social e as distintas modalidades de consciência.
A dialética considera cada objeto com suas características próprias, o seu devir, as suas contradições. Não existem regras universais fixas. O método dialético busca captar a ligação, a unidade, o movimento em que engendra os contraditórios, que os opõe, que faz com que se choquem, que os quebra ou os supera.
O método dialético não considera a matéria e o pensamento como princípios isolados, mas com aspectos de uma mesma natureza que é indivisível, duas formas diferentes: uma material e outra ideal; a vida social, uma e indivisível se exprime em duas formas diferentes: uma material e outra ideal. O materialismo dialético considera a forma das idéias tão concretas quanto a forma da natureza. O método dialético tem duplo objetivo:
como dialético, estuda as leis mais gerais do universo, leis comuns de todos os aspectos da realidade, desde a natureza física até o pensamento, passando pela natureza viva e pela sociedade.
Como materialismo, é uma concepção científica que pressupõe que o mundo é uma realidade material (natureza e sociedade), onde o Ser Humano está sempre presente e pode conhecê-la e transformá-la.
A dialética marxista não separa teoria (conhecimento) e prática (ação). A questão de saber se cabe ao pensamento humano uma verdade objetiva não é uma questão teórica, mas prática. É na praxis que o Ser Humano deve demonstrar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensamento. A Dialética é a unidade dos contrários.
Engels em A dialética da natureza – formulou três leis gerais da dialética a saber:
Lei da conversão da quantidade em qualidade: significa que na natureza, as variações qualitativas podem ser obtidas somente acrescentando-se tirando-se da matéria ou movimento por meio de variações quantitativas;
Lei da interpenetração dos opostos, esta é a lei da unidade e da luta dos contrários, que garante a unidade e a continuidade da mudança incessante na natureza e nos fenômenos;
Lei da negação da negação que garante que cada síntese é a tese de uma nova antítese, reproduzindo indefinidamente o processo.
Esses são alguns princípios gerais ou características da Dialética:
Tudo se relaciona (Princípio da totalidade) – a natureza se apresenta como um todo coerente, onde objetos e fenômenos são ligados entre si, condicionando-se reciprocamente.
“A compreensão dialética se encontra em relação de intensa interação e conexão entre si e como o todo, mas também que o todo não pode ser petrificado na abstração situada por cima das partes, visto que o todos se cria a si mesmo, na interação das partes.”[1]

Tudo se transforma (princípio do movimento) devir. A afirmação engendra a sua negação, porém a negação não prevalece como tal: tanto a afirmação como a negação são superadas e o que prevalece é uma síntese, é a negação da negação. O calor só pode ser entendido em função do frio.
Mudança qualitativa – dá-se pelo acúmulo de elementos quantitativos que num dado momento produzem o qualitativamente novo.
Unidade e luta dos contrários (Princípio da contradição) – A transformação das coisas só é possível porque, no seu próprio interior coexistem forças opostas tendendo simultaneamente à unidade e à oposição.
1 – Contradição é a essência, a lei fundamental da dialética.
2 – Os elementos contraditórios coexistem numa realidade estruturada, um não podendo existir sem o outro.
3 – A existência dos contrários não é um absurdo lógico, ela se funda no real.
REGRAS PRÁTICAS DA DIALÉTICA:
Dirigir-se à própria coisa – análise objetiva;
Apreender o conjunto das conexões internas da coisa, de seus aspectos; o desenvolvimento e o movimento (devir) da coisa.
Apreender os aspectos e movimentos contraditórios, a coisa como totalidade e unidade dos contrários.
Analisar a luta, o conflito interno das contradições, o movimento, a tendência (o que tende a ser e o que tende a cair no nada).
Não esquecer: tudo está ligado a tudo; - uma interação insignificante, negligenciável num momento pode tornar-se essencial e importante em outro.
Não esquecer também de captar as transições dos aspectos e contradições; passagens de uns nos outros, transições no devir.
Não esquecer ainda que o processo de aprofundamento do conhecimento que vai do fenômeno à essência e da essência menos profunda à mais profunda é infinito. Jamais estar satisfeito com o obtido.
Penetrar mais fundo do que a simples coexistência observada. Penetrar sempre mais profundamente na riqueza do conteúdo, apreendendo conexões e movimento.
Em certas fases do próprio pensamento, este deverá transformar-se, superar-se: modificar ou rejeitar sua forma, remanejar seu conteúdo – retomar seus momentos superados, revê-los, repeli-los, mas apenas aparentemente, com o objetivo de aprofundá-los mediante um passo atrás rumo às suas etapas anteriores e, por vezes, até mesmo rumo ao seu ponto de partida.
Segundo Chauí:
“O marxismo permitiu compreender que os fatos humanos são instituições sociais e históricas produzidas não pelo espírito e pela vontade livre dos indivíduos, mas pelas condições objetivas nas quais a ação e o pensamento humanos devem realizar-se.”[2]


[1] Kosik, Karel. Dialética do concreto. 2 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1976. Pág. 42
[2] Chaui, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994. Pág. 275

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