CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
Resenha
“A insuficiência da política”
Resumo
A obra de Manuel Castells surgiu num momento importante
para o sistema democrático devido ao instante conturbado porque passa e também
pelo processo de erosão que seu conceito mais tradicional vem sofrendo. Embora a obra pareça uma crítica contumaz à democracia liberal, ela
significa muito mais que isso, na medida em que aponta para um determinado
horizonte político. O terrorismo, o medo e a incapacidade da política de dar
respostas positivas ao cidadão comum contribuíram para o solapamento da democracia
contemporânea e também foram os responsáveis pelas eleições de Trump, Macron e
muitos outros líderes políticos de vocação pouco democrática que ascenderam
ao poder.
Palavras-chave[Av.1] : Democracia; Terrorismo; Medo; Poder; Crise do sistema democrático;
Democracia liberal;
Resenha
A obra Ruptura: a crise da democracia liberal, escrita
pelo renomado espanhol Manoel Castells, surgiu em uma hora decisiva da
política mundial, não só [Av.2] porque o sistema democrático passa por uma crise sem precedentes na
história, mas porque também novas lideranças políticas com viés autoritárias
vêm aparecendo no cenário político de forma mais ostensiva e sistemática,
contribuindo para a hecatombe (continuar o parágrafo)
Nesse contexto, muitas
obras políticas surgiram no mercado editorial nacional e internacional na
tentativa de explicar o frenesi
causado pelo avanço da direita no cenário político mundial, suscitando a morte
dos sistemas democráticos e ao mesmo tempo resgatando o fenômeno das ideologias,
que pareciam estar em dormência desde a década de 90, quando a social democracia,
através do voto, chegou ao poder e se disseminou mundo afora. Digo em dormência
porque durante os últimos vinte anos o mundo parecia fadado ao marasmo político
e assentado sobre o discurso de Francis Fukuyama de “fim da história”, mas a
história mais uma vez mostra que nada na política é em definitivo, e não existe
dono da verdade. Desse modo, a democracia não poderia ser considerada um fim em
si mesma era necessário ter-se reinventado, ter-se criado novas alternativas
para as crises enfrentadas. Processos de criação e novas formas de
desenvolvimento são salutares e necessários até para poder continuar existindo
e dar as cartas do jogo.
Nesse sentido, a obra de
Castells cumpriu seu papel de forma significativa e não pode ser visto apenas
com uma crítica ao sistema democrático, que serve para justificar o crescimento
da direita no cenário político contemporâneo, mas porque suas críticas não são
direcionadas à democracia em si, mas à democracia liberal – por democracia
liberal, entendem-se eleições regulares, representação política e funcionamento
adequado das instituições políticas.
Se a questão central da
crise da democracia é o fenômeno da representação política e sua relação com as
instituições políticas, as críticas já vêm sendo construídas há bastante tempo
e não podem ser consideradas algo novo, assim como as consequências que levaram
ao crescimento da direita na política, como muitos adeptos da esquerda estão
querendo acreditar. O desgaste do sistema democrático liberal já sofreu críticas
contumazes há bastante tempo e vem se desgastando no cenário mundial de forma
vertiginosa.[Av.3]
Na obra As consequências da modernidade escrita
no começo dos anos 90, o sociólogo inglês Anthony Giddens já apontava para esse
cenário de desgaste da democracia liberal, quando estabelecia a diferença entre
o tempo da política e o tempo da economia.[Av.4] Para Giddens, o tempo da economia é curto, o tempo da política é longo.
Como o tempo, na sociedade contemporânea, é considerado “dinheiro”, a
democracia liberal empurrou para “debaixo do tapete” as atribuições da
representação política, na medida em que não havia tempo para negociações e
discussões de projetos e, dessa forma, turbinou as ações do Poder Executivo,
simplificando as ações e direcionando responsabilidades, deixando a política
mais longe do cidadão comum e dificultando a visão dos olhos do senso comum a
capacidade da política de interferir de forma positiva na vida do cidadão. Em suma,
se todos os problemas são econômicos e podem ser resolvidos em curto espaço de
tempo,
porque é necessário debater com mais de quinhentos deputados uma determinada
proposição política? [Av.5] É preciso considerar que fazer política é dialogar, debater, se
posicionar e apresentar argumentos e como fazer isso sem a questão do tempo?
Envolver muitas pessoas numa discussão de um projeto pode atingir os interesses
econômicos mais urgentes. É nesse contexto que se desenvolve a hegemonia do
Poder Executivo, uma vez que é mais fácil personalizar uma decisão do que organizar
um debate para que uma decisão seja tomada.
Nesse contexto, a política
não seria necessária, e, não sendo necessária, transformou-se um grande risco para o sistema
democrático como um todo, na medida em que os governos autoritários se
sustentam na ausência das bases da democracia, que é a junção entre participação
popular e interferência nas questões do Estado.
Na visão de Castells,
existe uma democracia real, que é a democracia liberal, mas ela ultrapassa os limites institucionais
estabelecidos, abrindo caminho para novos líderes políticos, como Trump,
Brexit, Le Pen e Macron.[Av.6] Os limites institucionais são quebrados quando o Poder Executivo passou
a assumir o protagonismo da política, jogando para segundo plano o Poder
Legislativo e o Poder Judiciário. Atualmente, o Poder Executivo também propõe
leis e as executam em nome da tal “governabilidade”, dificultando os passos da
oposição e desenvolvendo a sensação de hegemonia política. Esse tema já foi
amplamente discutido na obra de Clemerson Merlim Cleve a “A atividade
legislativa do Poder Executivo” escrita no começo dos anos 2000.
Castells não se furta em apontar
o caminho futuro da democracia mundial. Para ele, surgirá num horizonte próximo
uma nova ordem pós-liberal que tem como pano de fundo as políticas organizadas
pela China e pela Rússia e que apresentam regras políticas mais autoritárias,
mas, de qualquer forma, elas se apresentam como uma alternativa real à
democracia liberal.
Nesse sentido, Castells
aponta que existe uma ruptura entre cidadãos e governos, para quem os políticos
se ocupam dos problemas do mundo, não das pessoas – para ilustrar a sua
opinião, o autor traz dados interessantes sobre os países europeus que dão
conta da insatisfação extensiva da população com a democracia liberal, mas que
essa insatisfação não está relacionada com nenhum tipo de ideologia política,
seja de direita ou de esquerda.[Av.7]
Castells tece uma crítica
contumaz à democracia liberal, na medida em que o autor coloca, no
epicentro das discussões, a ideologia do consumo como valor e do dinheiro como
medida do sucesso. Para Castells, o modelo neoliberal centra no indivíduo a sua
linha de pensamento mais intensa e na sua satisfação imediata monetizada,
dificultando a relação com as questões coletivas.
De forma singular,
Castells trabalha no sentido de organizar os pensamentos sobre a influência da
mídia e a sua interferência no universo político. Nesse sentido, Castells
aponta que a
política, na mídia em geral, [Av.8] é feita através de imagens e se caracteriza como basicamente emocional.
Para o autor, a forma de luta política mais eficiente é a destruição moral da
imagem de quem se postula como líder, gerando um sentimento de desconfiança e
reprovação sobre a classe política em geral.
Terrorismo, medo e
política andam juntos, formando o que Castells denomina de “ménage à trois” sinistro. O terrorismo
indiscriminado que atua na sociedade contemporânea por aqueles que se sentem
discriminados pela democracia liberal, leva ao medo permanente, fazendo
com que a política se manifeste no sentido de restringir os processos de
liberdade. “Um estado de emergência permanente justifica no imaginário coletivo
a restrição sistemática das liberdades civis e políticas, criando uma ampla
base para a islamofobia, a xenofobia e o autoritarismo político”.[Av.9] (CASTELLS, 2018, p. 36 ).
A presença de novos
líderes políticos como Trump e tantos outros se justifica,
segundo Castells, pelo temor ocasionado pela globalização. O multiculturalismo,
a imigração, a desconfiança dos partidos e das instituições levam o medo à
sociedade como um todo, o que remete à busca incessante pela volta do Estado e
aos valores originários, estes, por sua vez, solapados pelo processo de
globalização, o que abre espaços para novos líderes políticos.
A eleição de Trump para
presidente dos EUA, assim como o plebiscito do Brexit e a entrada de Macron na
França são dissecados por Castells e, como pano de fundo, todos
eles são motivados pelo medo do terrorismo e do mundo desconhecido proposto
pelo fenômeno da globalização.[Av.10] A globalização revestida com as diretrizes do neoliberalismo, leva o
cidadão comum à sensação de desproteção, ocasionada pelo desmonte do papel do
Estado e pelo solapamento dos direitos sociais e por consequência o medo do
futuro. As eleições recentes, apontam para a tentativa de retomada do papel do
Estado a qualquer custo, não importando a ideologia política.
Por conseguinte, Castells
tece uma crítica ao fenômeno da União Européia, desde o processo de organização,
pensada mais na sua capacidade econômica do que nas ideias políticas que
revestiram a frágil união – para quem o ideal de uma unidade fosse organizada
sem levar em consideração a opinião da população, com seus preconceitos,
valores e ideais. Desse modo, Castells aponta a União Européia como um “projeto
de construção política a serviço de valores identificados com a civilização foi
um projeto elitista e tecnocrático, imposto aos cidadãos sem um debate e com
escassa consulta”[Av.11] . (CASTELLS, 2018, p.
A obra de Castells é uma
viagem aos problemas políticos mundiais e muito significativa para as ciências
humanas em geral, pois alia política, democracia e economia, além de contar com
uma critica muito racional ao sistema e aos problemas existentes.
Referências
CLEVE, Clemerson Merlin. A atividade
legislativa do Poder Executivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.
GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991.
[Av.1]Reveja
as palavras-chave, pois estas não dão conta do objeto em destaque na resenha
[Av.3]As
ideias no parágrafo encontram-se amontoadas, separadas por vírgula, mas não se
conectam para fazer sentido ao que você quer dizer. Transforme essas vírgulas
em pontos-finais, e faça as conexões para que o parágrafo faça sentido
[Av.4]Só
coloca a ideia, mas não desenvolve.
[Av.5]Explique
isto.
[Av.6]Não
há continuidade no desenvolvimento do parágrafo.
[Av.7]Faça
conexão entre os parágrafos, desenvolva a ideia presente neles.
[Av.8]O
que você quer dizer aqui: “a política, na mídia, em geral é...” ou “a política,
na mídia em geral, é...”
[Av.9]36
[Av.10]Não
desenvolveu o parágrafo
[Av.11]Aponte
autor-ano-página.
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