LEVISTSKY & ZIBLATT. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
“A democracia sem fim”
Resenha
“Quando
as instituições guardiãs fracassam, os políticos das tendências estabelecidas
tem de fazer todo o possível para manter figuras perigosas longe dos centros do
poder”
Em Como as democracias morrem, Levitsky &
Ziblatt partem do pressuposto de que governos eleitos por votos diretos são
capazes de solapar o sistema democrático utilizando as regras do próprio
sistema.
Para isso, utilizam de forma brilhante e detalhista
as histórias de Mussolini, Hitler e Chavez como exemplos de outsiders que emergiram no cenário
político e conquistaram o poder, todos dentro de um processo legal e com
características democráticas.
Levitsky e Ziblatt apontam de forma audaciosa as
características de um político autoritário, como se houvesse uma receita para a
identificação de um tipo ideal que estampasse na face do candidato uma
determinada veia autoritária.
Para os autores, a identificação de um líder
autoritário possui algumas particularidades, são elas:
1. Rejeitam, em palavras e ou ações, as regras do jogo
democrático;
- Negam
a legitimidade de oponentes;
- Toleram
e encorajam a violência;
- Dão
indicações de disposição para restringir liberdades civis de oponentes, inclusive
a mídia
De forma segura, Levitsky e Ziblatt jogam a
responsabilidade nas costas dos partidos políticos sobre o aceno ou não a
políticos autoritários, sendo assim, os responsáveis pelo solapamento do
sistema democrático.
A vocação para o desenvolvimento de ideias
antidemocráticas também atinge a sociedade americana, embora ela possua uma
tradição de governos democráticos, não pode ser considerada imune, os autores
apontam o surgimento de vários líderes políticos autoritários, mas que não
conseguiram chegar ao poder por conta da atuação dos partidos políticos e das
regras políticas que regem a indicação para um candidato à Presidência da
República – essas regras servem como filtragem do sistema político e servem
como clausulas de barreiras para candidatos autoritários.
Sobre Trump, os autores apontam um certo
afrouxamento das regras na convenção para a escolha de candidatos à Presidência
da República e fazem uma certa crítica ao ambiente midiático da sociedade
contemporânea que facilita o acesso de celebridades ao reconhecimento de seus
nomes e abrem caminho para a chegada ao poder de candidatos autoritários. Nesse
sentido, a obra de Castells (2018), apresenta argumento semelhante para quem a
mídia em geral é feita através de imagens e se caracteriza pelas emoções e a
luta política se estabelece através das redes sociais e o que vale é a
destruição moral da imagem de quem se postula a líder.
De forma acentuada, os autores criticam o
posicionamento adotado pelos líderes do Partido Republicano na medida em que os
mesmos não estabeleceram uma relação crítica com as posições políticas de
Trump, assumindo até uma certa neutralidade e não pensando de forma coletiva na
política americana – essa posição pode ser considerada até arriscada por parte
dos autores, na medida em que os objetivos de um partido político é chegar ao
poder, nem sempre pela forma mais ética e nesse contexto, cabe a máxima
maquiavélica “os fins justificam os meios”.
Outro ponto de crítica dos autores está relacionado
com o Poder Judiciário, a atuação de juízes e o processo de interferência na
democracia. Na visão dos autores, o Poder Executivo através de poderes legais,
pode nomear ministros que tenham o mesmo posicionamento ideológico, facilitando
as ações e abrindo caminho para o desenvolvimento de um sistema político mais
rígido e personalista.
No capítulo intitulado “as regras não escritas da
política norte-americana”, Levitsky e Ziblatt entram num terreno pantanoso do
universo político, na medida em que fazem alusão à ética na política. Os
autores pontuam que para fazer o sistema democrático funcionar é necessário
muito mais do que a organização de um sistema regido por leis e instituições –
essa “legislação” tem que ser escrita pela própria sociedade, entre outras
palavras, a sociedade é responsável pelo bom funcionamento do sistema
democrático e quando o processo político se estabelece dessa forma,
dificilmente um “ditador” tomará as rédeas do poder.
O solapamento das instituições políticas
americanas, aliado à degradação das regras não escritas da política abriram
espaço para a chegada de Trump ao poder. De forma detalhista e bem organizada,
os autores contam de forma contumaz o que o Governo de George Bush fez no
sentido de contribuir com o final da reserva política que havia na sociedade
americana, na medida em que atacava de maneira jocosa o então candidato à
Presidência Barack Obama.
Dessa forma, muito antes de Trump ser eleito, a
política americana já se encontrava pavimentada no sentido de receber o
imponderável no cenário político, e realmente aconteceu.
Nesse contexto, os autores não se furtam em acusar
os Republicanos de terem armado uma “guerra política” contra os Democratas,
afrouxando a tolerância mútua e a reserva institucional.
Em outras palavras, a obra é um paraíso para quem
gosta de fatos históricos. Os autores mergulharam de forma contumaz na história
política mundial, não se contentaram apenas em falar sobre a realidade política
americana, embora o livro possua uma certa ênfase na eleição que emergiu Donald
Trump à Casa Branca, o livro aponta as “peripécias” de ditadores em várias
partes do mundo, proporcionando uma visão política internacional aos leitores,
tornando a sua leitura agradável e convidativa.
Referências
CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
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