Monday 4 June 2007

O silêncio do caloteiro

O SILÊNCIO DO CALOTEIRO
A.J. PIERINI


Ouviu bater três vezes na porta e foi atender. Olhou pelo olho mágico e viu que era o cobrador. Fez silêncio. A respiração ofegante podia denunciar a presença. Por alguns segundos suspendeu a respiração. O telefone toca a quatro passos dali.
Porra! não posso atender! Será que é Vera? Não posso perder esse encontro!! Pensou. E esse cobrador que insiste em bater na porta. Bem que ele podia ir embora e me deixar em paz. Essas malditas contas. Não sei porque elas existem!
Espiou de novo pelo olho mágico. O cobrador estava com os olhos arregalados e as mãos na cintura e com certeza pensando: será que esse desgraçado não está em casa? O cobrador continua batendo na porta. O bater na porta soava como uma intimação.
Poxa! Como viver é caro! Pensou. A conta de luz que está por vencer, a de água que já venceu, o telefone está para ser cortado. Preciso arrumar um jeito de ganhar mais grana! Talvez se eu fizer aquele curso profissionalizante as portas se abram para mim! Não sei não! A situação anda tão difícil!
Andou até o sofá na ponta dos pés, segurando a respiração. Sentou, pegou a almofada e a colocou sobre as pernas. Deitou e escondeu o rosto com a almofada. Que situação difícil. Matteo levantou-se bruscamente e jogou a almofada no chão. A televisão ligada no meio da sala apresentava a imagem apagada do político. Matteo diz em voz baixa:
_ Cambada!
_ Não se esqueçam, eu também quero o meu! bando de safado!
O cobrador bate três vezes na porta.
Sabe de uma coisa, eu tenho vontade de ir até lá e dizer a ele que eu não tenho dinheiro para pagá-lo. È exatamente isso que vou fazer. Caminhou lentamente até a porta e espiou pelo olho mágico. O cobrador estava com a mão na parede, fazendo bico com os lábios e olhando fixamente para a porta. Colocou a mão de leve sobre a maçaneta! Não, eu não posso fazer isso! Com certeza se eu disser a ele que não tenho grana, o que é que ele vai pensar de mim? Vou ser taxado como um fracassado. Um homem que não tem profissão ou mesmo que sou um vagabundo ou cafetão. Nessas horas o homem é o culpado, não o sistema! Pensou Matteo.
Já sei, vou dizer ao cobrador que meu salário está atrasado. Sabe como é... a situação do país está difícil, juros altos, recessão, as vendas diminuíram, tudo isso resultou em atraso de salário e que em uma semana você pode voltar para receber o que lhe devo. Quer saber! vai ser mentiroso no inferno Matteo. Vou ter que ficar fugindo desse cara até quando? Não existe previsão para a entrada de receita! Tenho que ser honesto com ele e dizer:
_ Olha aqui meu camarada. Estou desempregado! Ainda não recebi fundo de garantia, multas, férias, ou seja, ainda não fiz o acerto com a firma, por isso não posso lhe dar nem uma previsão! Até ouço a resposta do cobrador:
_ Tudo bem, Sr Matteo! Só não esqueça que o atraso no pagamento acarretará em pagamento de juros! E olha que é juro de mercado o que é pior! O juro anda alto, por isso, veja se acaba com essa dívida. Só assim o senhor se verá livre de mim!
O cobrador se mostra insistente. Bate três vezes na porta.
_ Que cara persistente! Acho que a persistência é a virtude principal do cobrador. Só assim consegue receber! Fico imaginando se abrisse a porta. O cobrador me mostraria a fatura, apontaria o valor e imediatamente estabeleceria um silêncio. O silêncio do devedor. Aquele silêncio que denunciaria a minha total falta de grana. E eu com aquela cara de debochado, lhe diria:
_ È...como é mesmo o seu nome?
_ Joaquim! Meu nome é Joaquim!
A repetição do nome. Essa é a tática do cobrador para que se fixe o nome. O nome da cobrança. Para que toda vez que o nome Joaquim for mencionado próximo a mim, me lembre daquele sujeito encostado à porta do meu apartamento, fazendo bico com os lábios e com a fatura à espreita, pronta a ser mostrada com volúpia.
_ Olhe seu Joaquim! Esse valor é muito alto. Não tenho dinheiro para pagá-lo, vou ter que pedir uma renegociação. Dou algum dinheiro de entrada e parcelo o restante em sete ou oito vezes! É o único jeito que vejo para poder pagar essa conta. Me dê o telefone da financeira que logo entrarei em contato!
Mas, para isso vou ter que negociar com Madalena. Não! Sofro tudo na vida, menos negociar com a mulher o pagamento da própria dívida. Receber dinheiro da esposa para pagar uma dívida minha! De jeito nenhum! Prefiro ficar devendo! Mas! Sabe até que não é uma má idéia! As mulheres hoje trabalham, bebem, fumam, tem um número grande de parceiros e ainda mais lutam para conquistar o seu espaço. Então, não vejo porque não pegar dinheiro da Madalena para pagar minhas contas. Tudo bem! Pode não ser ético, mas, quem é que liga para a questão ética quando o assunto é grana! Para pagar conta vale tudo! É lei de mercado!
_ Não. Acho melhor dizer a ele que agora virei dono de casa. As tarefas de casa agora sou eu que faço, lavo louça, limpo o chão da casa, lavo os banheiros, tiro o pó dos móveis, dou uma arrumada no quintal, faço café, almoço e janta, enfim, dou conta das tarefas do cotidiano e que o chefe da família no momento não se encontra, por isso se faz necessário que volte outrora. O cobrador responde:
_Essas tarefas são femininas! Na minha casa quem desempenha essas tarefas são as mulheres. Só as mulheres! O homem tem ganhar grana! Disse de forma enfática.
_ Estás muito enganado! Os tempos são outros. Inversão de papéis, ou melhor, de alguns papéis! Deus me livre fossem todos estávamos fritos! Não é mesmo! O cobrador olha sério e com certeza pensa: esse filho da puta não quer pagar e está só me enrolando!
Uma solução eficaz para esse problema de grana é pedir dinheiro emprestado para agiota. Juro exorbitante. Mas, e daí para quem já está em situação ruim, piorar um pouquinho não tem problema. Está aí a solução, vou abrir essa porta com tal velocidade e dizer ao cobrador que irei fazer empréstimo em agiota para poder pagá-lo. Ele vai me dizer:
_ Sr Matteo eu não quero saber de onde o senhor vai retirar o dinheiro, o que eu preciso é receber, não importa de onde venha! Entendeu! Mas, como é que é, vai me pagar ou não?
Ouve passos no corredor e ao fundo o som de um samba, provavelmente do Zeca.. A voz da sogra soa ao longe. To ferrado!! Será a primeira a denunciar a minha presença. Não seja tolo, Matteo, ela não fará isso. Ela sabe que estás desempregado. Mas o que é pior é que ela conhece o cobrador. A discussão do final de semana surtirá efeito agora. Se ela ainda estiver magoada comigo com certeza vai me denunciar. Maldita hora que fui arrumar amante. Desempregado, sem bens, conta bancária a zero, ainda metido a arrumar caso extra. É tudo de pior que um homem pode arranjar! Pensou.
Observou novamente pelo olho mágico. Viu o cobrador virado de costas e com a mão na cintura. Provavelmente a escutar a conversa entre a minha sogra e a vizinha Matilde. Fuxiqueira do caramba! Velha caduca, sem educação, mal criada. Tem uma língua que Deus me livre! Estou salvo, acho que já está indo embora.
Ouço barulho de maçaneta. Acho que a vizinha já entrou! Não ouço mais a voz da minha sogra. Mas ouço alguém se aproximando. Tenho que disfarçar meu nervosismo. Ainda bem que o almoço está pronto! O cobrador foi embora. A casa está imunda! Vou ouvir impropérios. Quer saber, não vou ouvir não, vou mandá-la para aquele devido lugar! Quem é ela para vir aqui, na minha casa e me dar ordem! Preciso arranjar um emprego! Mas, está tudo tão difícil. A televisão está com problemas, a pia está entupida e ainda por cima o computador com vírus! Quer saber, não estou nem aí! Pensou em correr para o sofá e fingir que estava lendo, pegou o Neruda que estava em cima da mesa da sala, colocou as mãos sobre a cintura e ficou parado olhando fixamente a réplica de Dali na parede.
Ouviu bater três vezes na porta e foi atender. Olhou pelo olho mágico e viu o rosto nefasto da sogra. Será que eu abro ou não a porta! Se eu não abrir, vou comprar briga com Madalena. Não tenho escolha! Virou a chave da porta lentamente e com um sorriso sarcástico disse:
_ Bom dia, dona Zulmira! Como vai a senhora? Perguntou, disfarçando interesse.
_ Vou bem Matteo e você? Já arrumou emprego? Perguntou dona Zulmira de forma provocativa.
_ Não, ainda não. A coisa está feia. Deu no jornal que o índice de desemprego aumentou. Disse Matteo, virando as costas para a sogra e escondendo o Neruda. Matteo não queria deixar a sogra perceber que estava lendo, afinal de contas era uma segunda-feira de manhã e era hora de homem estar trabalhando.
_ Vim aqui só para almoçar! Disse a sogra com voz provocativa.
_ Arroz, feijão, salsicha e uma salada de repolho. É esse o cardápio. Se quiser algo mais, por favor, compre e cozinhe. Disse Matteo, visivelmente nervoso.
_ A aparência da coisa está boa! Ainda bem que você leva jeito para fazer algo na vida. Eu disse à Madalena que você era puro encosto, mas, sabe como é, né, esse tal de amor! Agora, está lá, trabalhando enquanto o marido fica pensando besteira em casa!
_ Que besteira, que nada dona Zulmira. Estou aprontando meu curriculum para fazer presença. Sabe como é né, se não tiver curriculum nem adianta.
_ Mas, o que é mesmo que você sabe fazer? Pelo que sei você não sabe nem apertar um parafuso! Disse Zulmira, com jeito de deboche.
_ A minha especialidade é mesmo chutar tampinha de garrafa na rua. Isso faço bem, para cada tipo de tampinha um chute diferente. Respondeu Matteo com um enorme sorriso no rosto.
_ Olha aqui seu moleque, você não debocha de mim. Mais respeito com a sua sogra! Você não é capaz de desentupir uma pia, olhe só o estado daquela cozinha. Disse Zulmira, visivelmente nervosa.
_ O papo está bom, mas está na hora de eu sair. Tenho um compromisso no centro da cidade. É inadiável. Talvez desse encontro sobre algum dinheirinho para mim. Disse Matteo, para se esquivar da sogra.
_ Sei quais são os seus tipos de compromisso. Disse Zulmira com desconfiança.
Matteo se dirigiu até o quarto, pegou a camisa azul que estava na guarda da cadeira, vestiu ligeiro e ainda saiu abotoando-a para não ouvir mais a voz da sogra. Bateu a porta e desceu as escadas do prédio sem tomar conhecimento do que dizia Zulmira.
Levou a mão ao bolso e percebeu que só tinha algumas moedas.
_ Como é que vou me encontrar com Vera? Não, hoje não tem condições de eu encontra-la! Pensou Matteo, visivelmente irritado. Acho que estou com vontade de tomar café. Contou as moedas, viu que sobrava e entrou no café do Arlindo esnobando.
_ Oh! Arlindo, me serve aquele preto com creme, mas capriche no creme hemmm! Disse Matteo esfregando as mãos.
_ Pó, Arlindo a situação ta feia, cara! Não consigo arrumar emprego é dívida em cima de dívida! Não consigo pagar! As vezes penso em fazer besteira, sabe como é! Falou Matteo franzindo a testa e colocando as mãos sobre o queixo, misturando euforia e desânimo.
_ Não está fácil pra ninguém, disse Arlindo. Emprego hoje é artigo de luxo, algo raro. A tendência é a coisa ficar pior. Essa tal modernidade tirou emprego de muita gente! Sabia? Disse Arlindo enquanto servia o café para Matteo.
_ Adoce primeiro o café, para depois eu colocar o creme. Disse Arlindo.
_ Tudo bem! Disse Matteo, observando as pernas da loira que desfilava a olhar vitrine na calçada do outro lado. Conseguiu até derrubar o açúcar sobre o balcão.
_ Pena que estou sem grana, se não chegava naquela loira! Disse Matteo fazendo sinal com a cabeça para Arlindo!
_ Material de primeira! Pena que já tem dono! Disse Arlindo conformado.
_ Não tenho ciúmes não, sabia! Falou Matteo com confiança.
Comeu o creme de forma lenta com a pequena colher para saboreá-lo, mexeu o café e tomou em um só gole. Bateu a xícara sobre o pires no balcão, sacou as moedas do bolso, contou o valor e deixou o dinheiro ao lado.
_ Obrigado Arlindo. Até o próximo. Disse Matteo, fazendo sinal de positivo.
Saiu do café do Arlindo pensando em como ganhar uma grana.
_ Já sei! Vou até o bilhar. Deve ter algum idiota esperando por uma aposta. Treinei muito na casa do padrinho no final da semana passada, tenho certeza que levantarei algum.
_ Boa tarde cambada! Diz em voz alta levantando os braços.
_ Me dê a de sempre aí, Tobias!
_ Chegou o bom de taco, respondeu Tobias, olhando para Pablo que estava sentado junto ao balcão.
Tomou o cálice de cachaça com um único gole batendo-o sobre a mesa.
_ Me dê mais um...porque hoje, preciso arrumar alguma grana aqui...a coisa tá feia, lá em casa.
_ Eu duvido que você bate o Castilho no taco! Disse Pablo, um amigo de infância.
_ É que to sem grana! Se não...apostaria, duvido que ele me bateria no taco! Retrucou Matteo, olhando uma dupla jogar na mesa do lado oposto.
_ Não seja por isso, eu te empresto uma onça para apostar com ele...se perder, você me paga o dobro e se ganhar, fica com a outra metade. Pode ser? Desafiou Pablo.
_ Tudo bem, aposta feita. Disse Matteo.
Matteo foi até o banheiro e enquanto se olhava no espelho, falava em voz alta:
_ Quero ver me livrar desta, o Castilho é bom demais...ganhou até o campeonato do estado no ano passado. Mas eu preciso arrumar uma grana, tenho que sair com a Vera dia desses, faz tempo que eu não dou uma. Complicado vai ser se eu perder, terei que pagar duas onças para o Pablo. Quer saber, Matteo, apontando o indicador para o seu rosto diante do espelho...você joga melhor que o Castilho...e vai ganhar essa parada. Ponha fé em seu taco. Você vai ganhar!
Voltou para o balcão mordendo os beiços e vê Pablo mostrando a onça com soberba.
_ Essa eu quero ver, vai ser o dinheiro mais fácil de ganhar! Disse Pablo, olhando para Matteo.
_ Então, vamos fazer o seguinte, disse Matteo em tom de deboche. Você marca o duelo com o Castilho para outro dia e nós fazemos um duelo agora. Você aposta uma onça comigo que eu lhe derroto no taco, se eu ganhar você me paga uma onça e se eu perder eu lhe pago três. Pode ser?
_ Mas, eu não jogo muito bem, disse Pablo. Você é que se acha muito esperto, né...Matteo. Eu não topo essa parada, não.
_ Pó...vamos lá Pablo, eu achei que você confiava mais em você mesmo! Exclamou Matteo.
_ Não, pó...eu não quero jogar. Mas, tenho a certeza de que você tem está com medo de enfrentar o Castilho.
Matteo coçou a cabeça preocupado e andava de um lado a outro do bilhar com o taco na mão pensando em como ganhar dinheiro para poder sair com Vera.
_ Você acha que eu tenho medo de jogar com esse cara, aí...aponta o dedo para Castilho. Eu não tenho, não. Disse Matteo.
_ Ué...então porque não aceita o desafio? Perguntou Pablo.
_ Ô...Tobias....ponha uma daquela danada no copo pra mim! Disse Matteo.
Tomou em único gole, batendo o cálice sobre o balcão.
_ Então vamos jogar! Prepare a mesa Pablo. Disse Matteo.
_ É assim que se fala, caro amigo, incentivando Matteo a jogar. Disse Pablo.
_ Só que eu quero a onça caseada sobre aquela mesa, ali. Disse Matteo, apontando a mesa de madeira ao lado.
O ambiente ficou tenso no bilhar. As pessoas que estavam no ambiente admiravam alguém desafiando o melhor taco da cidade. Fez-se rapidamente uma roda em torno da mesa. Matteo acende um cigarro no canto da boca enquanto acaricia a bola sete.
_ Essa vai ser a bola do jogo. Falou olhando para Castilho em tom de provocação.
_ A regra vai ser a seguinte, disse Matteo para Castilho. Vamos tirar par ou ímpar quem ganhar escolhe as bolas de número de par e quem perder fica com as ímpares. Assim que alguém matar as suas bolas entra a bola sete, se este derrubar a bola sete em seguida ganha o jogo. Tudo bem?
_ Ta legal. Disse Castilho.
Castilho muito calmo acende um cigarro e bebe em um só gole o copo de cerveja que estava sobre o balcão.
_ Essa vai ser barbada! Pode crer. Disse à Pablo.
Pablo olha desconfiado para os dois e afasta as pessoas da mesa.
_ Par ou ímpar,Castilho. Disse Matteo.
_ Par. Disse Castilho.
Os dois põem os dedos à prova. Deu quatro. Castilho ganha o par ou ímpar.
_ Você começa, Castilho. Disse Matteo.
Castilho dissipa as bolas na mesa. Mas em toque estratégico para não deixar à boca as bolas de Matteo. Jogada defensiva.
_ Bola três na caçapa do fundo. Disse Matteo, em tom de confiança.
A bola bate na quatro, resvala na quina da caçapa do meio e vai para o fundo, mas a tacada não é forte o suficiente para atingir a caçapa desejada e para no meio do caminho.
_ Acho que precisa tomar mais um trago, Matteo. Diz Pablo tirando um sarro.
_ Cale a boca que você ganha mais, Pablo. Disse com rispidez Matteo.
_ Olhe só como se joga. Falou Castilho dando uma baforada em seu cigarro.
_ Bola quatro na caçapa do meio. Disse Castilho.
Castilho fez um corte com a bola branca no meio. Ela bate na bola seis e empurra a quatro que cai certeira, como Castilho havia falado. Começa o bochicho entre a platéia.
_ Eu não falei que ele joga pra caramba. Disse Pablo.
_ Bola seis no fundo Matteo. Quer ver? Disse com arrogância Castilho.
Castilho bate na bola branca e produz um efeito que a bola faz uma curva, bate na bola seis e cai na caçapa do fundo. A tacada foi tão boa que colocou a bola dez e a doze na mesma reta.
_ Olha só o telefone, Pablo. Disse Castilho sorrindo.
Castilho bate na bola branca, que bate na bola dez, que bate na bola doze e que cai caçapa do meio. A bola dez parou na boca da caçapa, restando Castilho apenas dar um leve toque para jogá-la para baixo.
_ Eu acho que Matteo vai acabar é ficando com todas as bolas na mesa. O Castilho não está dando brecha. Disse Pablo com um sorriso enorme.
_ Agora é a vez da bola oito. Quer ver eu dar um corte na branca lá no fundo e mata-la aqui nessa caçapa! Fala Castilho apontando para a caçapa.
Enquanto isso, Castilho passa giz no taco, o alisa com todo carinho. Acende um cigarro. Dá um trago de leve na cerveja. Olha atentamente a platéia. Faz uma pose sobre a mesa colocando o taco sobre as costas para fazer a jogada.
_ Essa tacada é para o desafiante. Diz Castilho em tom de deboche.
Castilho dá um toque de leve e empurra a bola dois para a caçapa do fundo. A bola branca para estrategicamente para o arremate da bola quatorze na caçapa do meio. Castilho faz uma jogada de mestre. Dá um corte duplo com a bola branca e derruba a bola quatorze.
_ Agora, caro Matteo quero que você coloque a bola sete em posição estratégica. Se você quiser pode coloca-la colada no fundo. Eu vou faze-la repicar e cair na caçapa aqui no meio. Você quer ver? Castilho aponta o taco para Matteo.
Matteo coloca a bola colada no fundo do lado oposto onde estava a bola branca. Castilho da uma tacada de mestre em que a bola branca desvia da bola três de Matteo bate na bola sete, que repica e vai certeira para a caçapa do fundo.
_ Ah...ah....ganhei duas onças de otário. Fala Pablo apontando para Matteo.
_ É... o jogo foi muito fácil. Disse Castilho.
_ Agora....disse Castilho para Matteo. Passe a minha grana, cara!
_ Não...não...disse Pablo, afastando Matteo com a mão direita. Quem vai te pagar sou eu...Pablo retira a onça da carteira e passa para Castilho.
_ Agora, o otário aqui...bate nos ombros de Matteo, dizendo:
_ O otário agora deve para mim....só que ele me deve duas dessas aponta para a onça na mão de Castilho.
_ Por falar nisso, pode me passar o dinheiro...Matteo.
_ Sabe o que é Pablo...agora estou sem condições, cara. Estou duro pra caramba...não tenho dinheiro nem pra tomar uma cachaça. Tanto é assim que vou pedir pro Tobias pendurar os dois tragos que tomei aqui!
Castilho pegou o dinheiro de Pablo, e saiu lentamente do bilhar dizendo:
_ Ô Pablo, fala para o nosso amigo, aí, treinar um pouco mais. Essa não deu nem pra esquentar. Deu uma risadinha pelo canto da boca.
_ Pode deixar que eu vou ter uma conversinha com ele. Disse Pablo batendo nos ombros de Matteo.
_ Cara, eu quero a minha grana. Disse Pablo demonstrando estar nervoso.
_ Me dê alguns dias para lhe pagar. Respondeu Matteo apreensivo.
_ Eu vou lhe dar dois dias. Quero que você não se esqueça que eu sei onde você mora. E se você não aparecer aqui em dois dias eu lá te cobrar. Só que vai ser diferente. Está entendendo? Falou Pablo.
_ Pó...que é isso, Pablo. Sabe que eu não sou de ficar devendo. Sempre honro meus compromissos. Ainda mais com você que é amigo de ginásio. Você acha que eu vou ficar lhe devendo? Disse Matteo dando um abraço em Pablo.
_ Ô..Tobias...pendura as duas aí...que eu lhe pago a hora que eu vier pagar o Pablo. Disse Matteo para o dono do bar.
_ É bom não se acostumar...heimmm...Na próxima só vai tomar se pagar adiantado. Disse Tobias em tom de repreensão.
Pablo sai desesperado do bilhar, falando sozinho:
_ Entrei sem um puto de grana no bilhar e saí de lá devendo uma nota preta. Onde é que eu estava com a cabeça na hora em que resolvi aceitar o desafio de Pablo. E agora...onde vou arrumar dinheiro para pagar esse cara? Disse colocando as mãos sobre a cabeça em sinal de desespero.
_ O problema não é esse? É que se já estava difícil de arrumar dinheiro para sair com Vera...agora imagina devendo duas onças para o Pablo. Já foi aquela umazinha que eu queria dar...Disse Matteo lamentando.
Matteo pensou que a situação estava péssima. Sem dinheiro, desempregado, vivendo às custas da mulher e ainda por cima tendo um caso extra. Sentou no banco da praça e ficou olhando atentamente a Igreja de Santo Expedito e as pombas ciscando pelo chão e o ambulante gritando:
_ Olha a pilha um real...olha a pilha um real...
_ Que vida de merda que esse cara deve levar, porra. Vendendo pilha a um real. O que esse cara pensa da vida? Eu não entro numa dessas nunca. Exclamou sozinho, no banco da praça.
O celular de Matteo dá sinal de mensagem recebida. Pablo olha o celular e vê a seguinte frase enviada por Vera:
_ Te encontro às quatro lá no bosque da cidade. Tô com saudades.
Matteo olha a mensagem, coça a cabeça e diz:
_ Porra, lá no bosque da cidade? Lá do outro lado...não tenho nem dinheiro pra pegar ônibus. Que situação.
Acho melhor não responder a mensagem. Preciso pensar uma estratégia para poder encontra-la. Ahhhhh, Verinha, como você está gostosa! Não posso perder essa!
_ Já são duas e meia. Falta só uma hora e meia para encontrá-la. Tenho que dar um jeito nessa situação. Falou em voz baixa.
Vou entrar na igreja e ver se consigo rezar um pouco, pensou Matteo. Entrou na igreja e viu um grupo de senhoras participando da novena. Resolveu sentar no banco logo atrás do grupo e percebeu que uma das senhoras deixou a bolsa sobre o banco.
Não, não posso pegar essa bolsa. Pensou Matteo. Já pensou...vou roubar dentro de uma igreja. Uma velhinha ainda por sinal! Esqueça, isso Matteo, esqueça isso, Matteo. Nem morto! É pecar por mil anos, se eu fizer isso. Olhou em volta, olhou para trás e não viu ninguém, mas quando olhou para frente, pareceu ter visto Cristo a olhar de soslaio. Não...não...nem pensar. O homem está de plantão o tempo todo. Lembrou dos tempos de catecismo, quando ficava jogando bolinhas de papel nas costas de Augusto e o Padre Salgado dizendo:
_ Meninos, Deus está em todo lugar...não adianta fugir....pois vigiai-vos. Dizia com aquele queixo tremendo à velhice.
Matteo pôs-se a rezar o Pai Nosso em companhia das velhinhas da novena. Passava uma mão sobre a outra e olhava para bolsa da velhinha. Não podia dar muita bandeira, senão chamaria a atenção. Abaixa a cabeça, olha para o Cristo, as mão suando à frio. As velhinhas com o terço na mão. Que situação chegaste em Matteo. Só mais um pecadinho não faz mal, não é mesmo? Pensou. Olhou para o relógio falta apenas uma hora para o encontro com Vera. Pensou em rezar a Ave Maria, mas logo pensou em Madelena e desistiu da idéia. Então vou rezar a Salve Rainha. Não, essa não é muito difícil, melhor mesmo é ficar é no pai nosso. Mas, um pecadinho só não faz mal pnsou Matteo já pondo as mãos sobre a bolsa da velhinha, colocando-a sobre o lado oposto do corpo e saindo à francesa.
_ Que Deus me tenha...mais vale a Verinha do que a bolsa da velhinha. Disse em voz baixa.
Quando pôs os pés fora da igreja, saiu em disparada em direção ao centro da cidade até encontrar uma sombra onde pudesse descansar e vasculhar a bolsa.
_ Vamos ver o que encontramos aqui. Espero que eu ache logo uma oncinha para safar o táxi e um sorvetinho, aí já ta bom, né. Esfregando a bolsa da velhinha.
_ Vamos ver o que tem...abriu a bolsa da velhinha e encontrou logo um pente cheio de cabelo. Disse em tom baixo.
_ Que nojo...disse Matteo torcendo o nariz.
Encontrou um terço. Uma foto com a imagem de Nossa Senhora Aparecida e uma oração de Santo Expedito. A foto de uma criança, provavelmente o neto, a carteira de identidade e um cepeefe.
_ Até que fim um porta moedas. Disse Matteo.
_ Até parece que foi ela que assaltou a igreja, chacoalhando o porta moedas. Matteo abriu e encontrou só moeda de dez centavos. Ficou por cerca de dez minutos contando um total de cinco reais.
_ Só cinco reais tem nessa bolsa? E eu fiquei pior com Cristo por causa de cinco reais? Pegou a bolsa e jogou no chão com força esparramando os pertences da velhinha, colocando no bolso o porta moedas. Olhou no relógio e faltava apenas meia hora para o encontro com Vera. Por um instante, resolveu mandar uma mensagem pelo celular e avisar que estava em situação difícil e que não poderia ir, mas também percebeu que o celular estava sem crédito. Não havia como avisa-la. Então pensou pedir fiado ao taxista. O que não posso é deixar de ver Verinha hoje...tô numa seca danada. Matteo imaginou falando ao taxista:
_ Olha seu taxista, a situação ta preta, to sem grana. Posso deixar meu endereço. Com certeza eu lhe pago amanhã. Pode ficar despreocupado. É claro que pretendo fazer isso depois te ter feito a corrida, o máximo que pode acontecer é o taxista chamar a polícia e eu ter que dar explicações na delegacia.
Caminhou até o ponto de táxi mais perto. E percebeu que quem estava na vez era o Toninho da Prata, antigo parceiro de bilhar. Matteo chegou de leve, pôs o braço direito no ombro de Toninho e disse:
_ Nem tudo que reluz é prata, ou melhor, é ouro. Não é mesmo meu amigo? Disse Matteo abrindo um enorme sorriso.
_ Pois é Matteo, quanto tempo! Agora estou aqui, fazendo ponto na praça central. Respondeu Toninho da Prata.
_ Então amigo Toninho...tô precisando de uma corrida até o bosque da cidade, será que pode me levar até lá? Só que tem um detalhe...tô sem grana. Mas, pode ficar na susse que eu lhe pago depois. Disse Matteo.
_ Poxa cara...a situação ta preta, mas eu não posso fazer essa corrida pra você. Eu pago aluguel do carro...e se eu não lhe cobrar a situação vai ficar feia pra mim, entendeu?
_ Mas, cara...respondeu Matteo, batendo nos ombros de Toninho.
_ Em nome da nossa antiga amizade, cara! Quebra essa pra mim...eu tenho um compromisso muito importante lá no bosque agora...Falou Matteo quase implorando.
_ Pelo que eu saiba, lá é o lugar da putas. Boa coisa você não vai fazer, não...pode crer!
Subitamente Matteo dá um soco no estômago de Toninho e diz:
_ Como podes falar assim de Verinha? Seu filho da puta e sai em disparada pela rua deixando Toninho da Prata no chão falando alguns palavrões.
Matteo caminha até o ponto de táxi mais próximo, chega no motorista de táxi e diz:
_ Por favor, uma corrida até o bosque da cidade! Disse demonstrando estar com pressa. Olha no relógio e é pontualmente quatro horas.
_ Vamos, vamos, vamos amigo. Estou com muita pressa! Tenho um encontro super importante lá...não posso nem chegar atrasado.
_ Mas, é longe amigo. Temos que ter paciência...nessa hora o trânsito já está ruim...Disse o taxista demonstrando paciência.
O carro pára no sinal fechado. Matteo diz nervoso:
_ Vamos, vamos, vamos sinaleiro maldito. Não nem sei nem porque existe essa porra, batendo com a mão no banco do passageiro.
_ Ei...amigo...o carro não lhe pertence. Gostaria que você me respeitasse. Disse o motorista em tom de advertência.
_ Ta bom, ta bom...agora vê se anda mais rápido com essa porra...preciso chegar logo. Disse Matteo.
_ Porra, não! Disse o motorista, já demonstrando estar alterado.
_ A próxima vez que você abrir a boca eu juro que lhe faço descer. Respondeu o motorista.
_ Tudo bem...tudo bem foi mal em amigo...agora...vamos logo amigo, por favor.
Mas, o que mais alterava o humor de Matteo era não ter dinheiro para pagar a corrida. Em alguns segundos pensou em soltar um peido bem fedido no carro nas proximidades do parque...assim pediria ao motorista para descer por causa do cheiro e aí sairia correndo em direção ao parque. O que de ruim poderia acontecer nesse caso é simplesmente o taxista pedir para abrir as janelas para o cheiro sair...daí como é que eu descerei do carro em movimento. Posso ser tudo....menos burro, pensou. Só que aí terei que ser esperto...terei que pegar a Verinha e sair dali do parque rapidinho...pois ou taxista virá atrás de mim...ou ele mandará a polícia vir. Deus me livre isso, já pensou eu ir em cana porque não paguei uma corrida ao taxista. Ainda mais lá para o bosque da cidade? O que é que eu vou dizer à Madalena? E a Zulmira, então, tirando aquele sarro:
_ E aí, meu querido genro. Vai querer que eu leve uma quentinha pra você lá no xadrez?
Não suportaria isso. É mais fácil morrer.
Quando o táxi chegou próximo ao bosque. Matteo fingiu não passar bem e pediu ao motorista para que parasse o carro. O motorista parou o carro, Matteo saiu com as mãos na garganta e se afastou do carro, correndo em direção ao bosque, largando o motorista, reclamando e lhe dizendo impropérios.
Matteo chegou ao bosque da cidade e ficou procurando Verinha. Olhou entre as árvores e não avistou ninguém.
Achou melhor procurar a Verinha lá na lanchonete. Estava com muita sede.
_ Me arrume um copo d’agua aí gente boa., por favor, disse ao atendente.
_ Ta um calor de matar, hem! Não acha não. Disse Matteo esfregando o suor nas têmporas.
_ É...é mesmo disse o rapaz.
_ Por acaso você não viu uma moça loira, alta, lábios carnudos, por aqui, não? Perguntou afoito ao atendente.
_ Não...ninguém com essa discrição por aqui...pelo menos eu não vi...Disse o atendente demonstrando não estar muito interessado.
_ O que será que aconteceu com essa desgraçada. Disse em voz baixa passando a mão sobre à cabeça.
_ Será que ela vai me dar um cano? Matteo balança a cabeça, demonstrando estar nervoso.
O celular dá sinal de mensagem. Matteo de tão nervoso o derruba e sai da lanchonete cabisbaixo.
_ Meu amor, aconteceu um imprevisto e não vou poder ir até o bosque. Te aviso quando puder lhe encontrar, beijos. Verinha.
A mensagem deixou Matteo furioso.
_ Quem essa piranha pensa que é. O que ela quer fazer comigo? Disse em voz alta olhando para as árvores do bosque e jogando o celular no chão.
_ Essa merda que só traz más notícias! Falou em voz alta.
Sentou-se em baixo da árvore e ficou apreciando o vento que soprava com volúpia naquela tarde. Pensou em Madalena e na sogra. Na louça suja que estava à sua espera. Na roupa que tinha que ter lavado durante o dia. No dinheiro que ia pedir à Madalena para comprar cigarro.
_ Pôrra...isso não é vida para homem como eu. Disse olhando para o celular e abrindo os braços.
Vou ter que voltar à pé para casa. Com certeza vou demorar umas duas horas. A tarde está se indo...com certeza vou chegar em casa à noite. Vou ter que olhar para Madalena e arrumar uma justificativa. Se bem que vai ser pior se Zulmira estiver em casa ainda.
Com certeza vou chegar e dizer:
_ Olha Mada...aconteceram alguns imprevistos...sabe...Saí para fazer uma entrevista de emprego e a demora foi por demais. Daí o meu atraso hoje.
Aí aquela bruxa da Zulmira vai olhar para mim e falar:
_ É ruim....de eu acreditar numa história dessas. Mas é ruim...mesmo. Olha a cara dele...é mentira pura...
Aí vou dizer:
_ O que é isso Zulmira...lá sou homem de travessuras. Tenho barba na cara...tenho caráter...
Madalena com certeza tentará por panos quentes:
_ O que é isso mamãe. Deixe o pobre do Matteo em paz. Ele é trabalhador.
_ Só se for na sua terra...Mada...porque nessa daqui...eu hemmm...de encosto já chega o seu pai.
Eu não agüento mais essa situação. Disse Matteo falando sozinho pela rua.
_ Eu vou parar no primeiro bar e tomar um trago. Já estou atrasado mesmo!
Estou me sentindo muito sozinho, preciso falar com alguém, contar estória. E isso, só em possível em buteco. Me amarro em conversa de buteco. Bato aquele samba na caixa de fósforo. Vejo as menininhas que passam de barriga de fora, dou alguns assovios. Assim o tempo passa. Pensou nisso andando pelas ruas.
Daqui até em casa ainda tem um longo caminho. Se bem que eu poderia fazer a volta e ir lá no bairro da irlanda. Lá eu posso encontrar o Orlando, o Machado...até quem sabe jogar um carteado, pensou Matteo Não...balança a cabeça em sinal de negativo. Isso não posso....eles vão pedir pra eu casear algum...tô duro demais...Mas, eu acho que vou procurar um bar qualquer, sabe, batendo com o indicador sobre a cabeça. Assim, posso chamar qualquer um....e perguntar sobre o Flamengo...é o jeito mais fácil de puxar uma conversa. Sabe como é né...futebol é assunto que tudo mundo entende...ainda mais em buteco.... Posso dar a sorte de encontrar um flamenguista doente e ele me pagar uma cervejinha...esse negócio de só tomar cachaça...não dá não...haja fígado.
Matteo parou no primeiro bar que encontrou.
_ E aí amigo...como anda o mengão...tá sabendo? Perguntou ao homem sentado junto ao balcão, batendo em suas costas.
_ Não...meu amigo...não sei não. Respondeu o homem sem dar muita importância. O outro no fundo fala com convicção:
_ Tomô três coco, ontem! Jogo duro. O mengo não jogô nada...Foi um vareio de bola...Falou o homem gesticulando.
_ Chiiiii....a coisa tá feia então....Respondeu Matteo.
Essa maldita Vera...ela me paga...vai ver só...olha onde eu me enfiei por causa dela, pensou Matteo. Não conheço ninguém por essas bandas.
_ Ô do chapéu...Matteo chamou o dono do bar que usava um chapéu de lona.
_ Meu nome é Armando. Entendeu, cara...Disse o homem em tom ríspido se aproximando.
_ Que bonito seu chapéu em cara...chapéu de lona...de aba larga...Disse Matteo pondo a mão sobre o chapéu...
_ Chapéu de último tipo...Mateo disse ao homem sentado ao lado, fazendo gestos com a boca.
_ Quem me dera ter grana para comprar um chapéu destes, deve ter custado horrores! Mas, que elegância...hemmm amigo! Disse a Armando medindo-o com a mão direita de cima à baixo.
_ Ver se pára de me encher o saco! Disse Armando com rispidez.
_ Deixe de ser grosso, cara! Eu só estou lhe fazendo um elogio à você para o nosso amigo, aqui...companheiro de luta...Não é, não, amigo...Falou para o homem batendo em suas costas.
_ É isso meu...o que vale é o elogio. Disse o homem já com voz de embriaguez.
_ Nada de violência...nada de violência...A violência não leva à nada, pode crer, amigo! O que vale é a gente está em paz. Disse homem embriagado segurando o cálice de cachaça.
Enquanto conversava com o homem, Matteo vê um rapaz vestindo uma camisa vermelha de gola polo e calça jeans, descer de um carro preto. Este olha o ambiente. Armando servia cachaça a um homem no balcão. O flamenguista, olhava o poster do Corinthians na parede resoluto...um homem comia rolmops na mesa à frente com volúpia, bebericando um cálice de cachaça. A noite já se fazia presente. O rapaz chama um homem que estava dentro do bar pelo apelido de Chico Bosta.
_ Que apelido mais estranho...Disse Matteo ao homem com qual conversava.
Quando Chico se aproximou do rapaz, tomou um golpe no estômago que logo o deixou atordoado. Caiu no chão se contorcendo de dor, quando mais dois rapazes desceram do carro e começaram a chutar Chico no chão. Fez-se silêncio naquele instante. Ouvia-se apenas o estalar dos chutes e os gemidos de Chico.
_ Porque é que vocês estão fazendo isso? Perguntou Matteo se aproximando de Chico.
_ Isso não é da sua conta...seu idiota...o rapaz de camisa vermelha desfere um soco em Matteo, em seguida um outro rapaz bate a cabeça de Matteo sobre o chão.
_ Isso é para você não se meter onde não é chamado. Disse o rapaz de camisa vermelha.
O nariz de Matteo começa a sangrar sem parar...encharcando a camisa com o líquido vermelho e viscoso. Chico tenta se levantar mas é empurrado novamente e jogado ao chão.
_ Malditos...vocês me pagam, pode crer! Disse Chico aos rapazes.
Os rapazes entram no carro e saem em disparada à avenida.
_ Seja lá o que você tenha feito...não deve ter sido algo muito bom, disse Matteo para Chico colocando a mão direita sobre o nariz.
Chico se levanta e senta na soleira da porta do bar, põem a mão sobre o estômago e se curva gemendo de dor. Matteo pede gelo para Armando e coloca sobre o nariz, retira a camisa e pede para este deixar lavá-la para tirar o sangue.
_ E agora...como vou chegar em casa? Disse Matteo em voz alta.
Matteo lavou o rosto, pôs a camisa sobre o ombro e saiu do bar em direção à sua casa.
_ Não...hoje eu não posso mais parar em lugar algum. É melhor eu ir para casa e correr para os braços de Madalena. Falou em tom baixo, segurando a camisa com o gelo no nariz.
_ Como isso dói..., mas, tenho que arrumar uma explicação para Madalena.
_ Sabe o que é Madá...eu estava andando de cabeça baixa na calçada e não vi uma placa em minha frente, quando me deparei com ela levantei a cabeça e topei meu nariz contra ela...puro azar...e olha só o que aconteceu...Eu posso dizer isso a ela...se bem que...ela tem que ser muito idiota para acreditar...preciso de uma história mais convincente...Ela pode me olhar e dizer....
_ Conte outra, vai! Como se eu não lhe conhecesse, né Matteo? Madá diria em tom maternal.
Eu poderia dizer que tropecei e caí de cara no chão. Uma fatalidade a qual todo mundo está sujeito. Se bem que tenho que pensar que posso também dar de cara com minha sogra. Imagino as duas sentadas no sofá assistindo a novela, aí eu entro com o nariz inchado e a camisa ensopada de sangue, dizendo à Mada que tropecei e a Zulmira cortando o diálogo e dizendo:
_ Foi nada disso não, Madá...esse traste se enfiou numa briga em algum buteco e tomou um cruzado de direita...pode crer que foi isso que aconteceu...vagabundo é isso aí...Ela dirá isso dando aquela gargalhada...só não vai tirar mais galhofa por respeito à Mada...Aí, eu sou obrigado a dizer...
_Não, não é nada disso não Zulmira...eu sou homem de respeito...Quer ver minha carteira de trabalho. Se bem que não devo explicação à ela...mas que enche o meu saco enche...Até parece que ela tem experiência com homem que tem pouca validade...Até tenho vontade dizer isso a ela...qualquer dia em particular vou chamá-la para o sexo. Vou mesmo, para mim ela é muito mau amada.
Não, não tudo isso não vai dar certo. Pensou Pablo. O melhor a fazer é contar a verdade. Nunca se fica com o rabo preso quando se conta a verdade. Ser desmascarado é muito chato. Se bem que posso receber a visita de Pablo, amanhã em casa. Será um porre ter que olhar pelo olho mágico e ver a figura do Pablo me cobrando as duas onças. Se ele ainda for em casa na hora do almoço, corro o risco dele bater justamente na hora que a minha sogra estiver em casa. Aí então será uma catástrofe. Mas, tenho que deixar isso para depois...o negócio agora é arrumar uma desculpa para tanto sangue e nariz inchado.
_ Acho que quem me vê na rua acha que sou louco! Disse Matteo para si mesmo.
_ Andando sozinho e fazendo tanto gesto. Só pode ser maluco esse cara! Diz Matteo se referindo a si mesmo.
Se bem que amanhã pode ser o dia decisivo para mim. Estou correndo riscos de toda parte. O negócio vai ser acordar cedo e me mandar de casa e ainda vou ter que andar de boné e óculos escuro para não ser reconhecido. Já imaginou eu encontrar o Antonio da Prata na rua, o escândalo que ele vai fazer? Se eu estiver atravessando a rua...tenho a certeza que ele não terá piedade, vai jogar o carro em cima de mim. E o taxista que dei o calote...então...nem se fala...Mas Deus me livre da Madá ficar sabendo! Tô frito! Pensou Matteo colocando as mãos sobre a cabeça.
Fico pensando na cara de Madá se souber que roubei uma velhinha dentro da igreja para me encontrar com minha amante. Por falar nisso, aquele sacana da Verinha nem me deu mais notícias. Com certeza nesse momento deve estar em um boteco tomando todas, dando umas risadas com a sua turma...enquanto eu...estou aqui...todo fodido...arrebentado...com o nariz sangrando. Isso se não estiver trepando com algum gatuno por aí... deixe-a para mim!
_ Poxa vida, ainda falta um bocado para chegar em casa. Não vejo a hora de tomar um banho, trocar de roupa e cair na cama. Estou exausto hoje. Que dia cansativo.
Se bem que posso chegar em casa e dizer às duas que não estou a fim de conversa...assim, não serei interpelado e nem terei que dar explicações sobre o ocorrido. Vou direto para o banheiro...tomo um banho e vou para cama. Mas, também tenho que pensar na hipótese de Madá me seguir até o quarto me pedindo explicações.
_ Matteo, você tem que me contar o que aconteceu! Fala Madalena!
Aí posso tentar desconversar, dizendo:
_ Não...não foi nada não, apenas um simples acidente de trabalho. Nada que um bom sono não ajude a recuperar. Boa noite querida...a gente fala amanhã no café.
A vejo resignada voltando para a sala continuando a ver sua novela bem quietinha. Mas tenho que pensar na atuação pérfida de Zulmira...tenho a certeza de que ela estará lá e dira para Madá:
_ Acidente de trabalho...acidente de trabalho. Taí uma palavra que você não conhece a muito tempo...trabalho. Aposto que se ela te pedir um tostão para poder pagar a água amanhã...você dirá que não tem...nem míseros quarentão! Tenho certeza que você não terá...Dirá Zulmira colocando a mão sobre a cintura.
_ Saiba você. Direi a ela, olhando nos olhos. Que tenho uma grana pra receber...daqui a alguns dias...vai servir para pagar todas as contas que temos...pode ter certeza!
Se ao menos eu chegasse em casa e encontrasse somente Madá...já ia me aliviar um bocado. Já chega que vou ter que passar pelo porteiro. Aqueles porteiros tem uma língua que vou te falar. Já ouço aquela voz ridícula do Juvenal, que é o que deve estar lá agora:
_ Boa noite, senhor Matteo. Como vai? Ele me perguntará afoito.
Não vou nem poder olhar para o indivíduo. Imagine só ele falando para os condôminos.
_ Viu seu fulano, o senhor Matteo chegou com a cara toda sangrenta...o que será que aconteceu? No mínimo tomou um pau aí na rua...a boca pequena diz que ele é o maior vagabundo...não trabalha...e vive às custas de Dona Madalena, ela sim mulher trabalhadeira...esse daí é um traste, um cafetão... bon vivant. E a notícia se espalhará pelo prédio.
Quando Matteo chega no prédio. Diz boa noite ao porteiro cabisbaixo. Chama o elevador.
Espero que não encontre nenhum morador, pensa. Eu acho que vou subir pelo elevador de serviços. Se encontrar alguém, é funcionário, a situação não fica tão ruim...se bem que o meu nariz está super inchado e doendo pra caramba e se encontrar alguém no elevador, vou ter que permanecer com a cabeça baixa e lamentar um fato pitoresco ocorrido. Se for algum funcionário que não conheço com certeza pensará. Coitado desse cara, o que será que aconteceu? Darei azar se eu conhecê-lo e o mesmo perguntar...
_ Olá, senhor Matteo. Tudo bem? Mas que pancada em amigo! Deve estar doendo um bocado. Aí vou ter dizer:
_ Pois é rapaz, você não sabe o que me aconteceu. Terei que inventar alguma coisa na hora...é só criar um clima de silêncio para o argumento estupefato sair.
O celular dá sinal de mensagem. O elevador abre.
_ O que foi que aconteceu, senhor Matteo? Perguntou em voz alta Amadeu, funcionário antigo do prédio que trata da manutenção. Foi um acidente e tanto, aposto!
_ Pois é, foi um acidente e tanto...pode ter certeza! Respondi querendo ficar cabisbaixo.
_ Deixe-me dar uma olhada. Tem a Doutora Márcia que mora lá no terceiro andar, acho que ela pode dar uma olhada para você! Quer que eu a chame?
_ Não...não...não precisa se incomodar Amadeu...tudo vai ficar bem...é só eu chegar em casa e tomar um banho...Disse a ele, afastando-o.
_ Quer que eu lhe ajude a chegar em casa? Eu lhe acompanho até à sua porta. Disse Amadeu solícito.
_ Não, não...não se incomode, amigo, está tudo bem!
O celular de Matteo dá sinal de mensagem!
_ Logo aqui, esse celular vai dar sinal de mensagem? Falou em voz alta Matteo. Vamos ver quem é! Diz a Amadeu.
_ Ahaha!!! É a Dona Vera. Que legal...
_ Estou com saudades, beijos. Verinha.
Sádica. Perversa. Pensei comigo naquele instante. Se ao menos chegasse em casa e não encontrasse Zulmira.
Matteo saiu do elevador cabisbaixo e com a mão no rosto se dirigiu à porta do apartamento. Procurou a chave no bolso e não encontrou. Lembrou-se de que quando saiu de casa deixou Zulmira no apartamento esquecendo-se da chave. Apertou a campainha e virou o rosto para trás, caso Madalena ou Zulmira fosse abrir a porta...não percebesse o ferimento. Apertou novamente a campainha e ninguém atendeu a porta.
_ Porra, será que não tem ninguém em casa? Onde será que a Madalena se enfiou? Por que que eu tenho essa merda de celular, então. Essa mulher sai de casa e nem avisa a gente. Agora...eu vou ter ficar para fora...olha que situação. Acho que vou ter que descer à recepção e ficar escondido no jardim ao lado, até que alguém chegue. Já sei, pensou Matteo. Vou falar com o Juvenal para eu usar o banheiro da recepção, assim lavo o ferimento. Eu posso contar a ele uma mentira qualquer e pedir emprestado uma camiseta... até que a Madalena ou a Zulmira chegue.
Matteo desceu até à recepção pelo elevador de serviço. Quando a porta se abriu deu de cara com Juvenal.
_ Olá, Juvenal...vou usar o banheiro de vocês tá...eu preciso lavar esse nariz que está sangrando. Sabe como é né...acidentes acontecem...e será que você não tem uma camiseta para me emprestar...sabe o que é...eu saí de casa e esqueci de levar a chave, agora eu cheguei e a Madalena não estava, então enquanto isso vou ter que passar um tempo aqui com vocês da portaria, sabe como é né...a gente pode bater um papo...jogar conversa fora.
_ Ah! Sim, tudo bem! Seu Matteo, pode ficar à vontade. Eu tenho uma camisa alí...aponta para o armário...eu posso lhe emprestar...se bem que não é muito nova, mas dá para o gasto. Disse Juvenal.
Onde será que anda essa maldita Madalena! Já não chega a Vera que conseguiu atrasar o meu dia, ainda essa! Só faltava eu ter que passar a noite aqui, com os porteiros...eu juro que mato a Madalena a hora em que ela chegar...e mando aquela Zulmira se ela estiver junto para a casa do caramba. Por Deus do céu que eu faço isso.
_ Me conte rapaz...o que é que aconteceu com você? Perguntou Juvenal demonstrando curiosidade.
_ Parece até a história da carochinha, Juvenal. Que seu te contar você não vai acreditar...Eu estava andando na calçada da avenida principal do centro e não um amontoado de pedra, aí dei uma topada e levei um tombo caindo com o rosto no chão, por isso esse sangue todo. Respondi ao Juvenal de forma que até eu acreditasse naquilo.
_ Pois é rapaz...isso pode acontecer com todo mundo. Daqui a pouco o senhor já estará bom novamente...é só por um gelinho aí que melhora.... Disse Juvenal demonstrando sabedoria.
_ Claro...claro foi a primeira coisa que eu fiz. Respondi sem muito interesse.
_ Ah! Sabe quem esteve aqui hoje perguntando por você, senhor Matteo? Perguntou Juvenal!
_ Não tenho nem idéia...faz tempo que ninguém pergunta por mim por aqui! Respondi querendo me safar.
_ É aí que o senhor se engana. Só hoje vieram dois homens aqui lhe procurar. Tem dois recados ali na agenda dos porteiros. Um é referente ao seu Joaquim...ele esteve aqui na parte da manhã lhe procurando, mas diz que não havia ninguém em casa...deixou um número para você ligar...e o outro saiu daqui não faz muito tempo, foi o senhor Antonio do Ouro...será que é isso mesmo? Coçou a cabeça procurando se lembrar do nome.
_ Não, não Juvenal. É Antonio da Prata. Mas, o que é mesmo que ele queria? Perguntei de forma cínica.
_ Me parece que ele estava um pouco enfezado. Tava com uma cara de poucos amigos...diz que passa aqui mais tarde...ele me disse que teria um acerto de contas para fazer com o senhor. Disse Juvenal.
O problema é que o Juvenal conta até os detalhes. Cretino, isso deve chegar a todo mundo aqui no prédio. Se bem que o Prata deve estar mesmo muito furioso comigo. O negócio é eu viver fugindo dele. O ruim vai ser se ele me encontrar na rua...com certeza vou ter que sair no braço. Acho que essa noite vou ter que passar aqui mesmo, junto com o zelador. Vou ter que dormir no sofá da recepção. Coisa chata isso.
_ Porque esse indivíduo está dormindo no sofá da recepção, Juvenal? Deitado e fingindo estar dormindo, Matteo ouve o síndico interpelar o zelador.
Aquele cretino do Conca...o que ele acha que é...corrupto, ladrão...e ele acha que eu não sei dos esquemas dele...tenho até vontade de denunciá-lo. Aí quando chegar na próxima reunião do condomínio esse vai ser um dos assuntos da pauta: é proibido dormir no sofá da recepção. E aí eu vou ter que intervir e dizer que foi fruto da ocasião e perguntar:
_ Onde é que você queria que eu durmisse? No chão...só prá tua cara, né amigo! Aí no dia seguinte o bilhete bem explícito fará parte da decoração da sala da recepção:
_ É expressamente proibido dormir no sofá da recepção! Estampado em letra quarenta e oito do word e com com certeza só vai faltar o meu nome no recado que é para todo mundo ficar sabendo. Agora passo a ser conhecido como Matteozinho do sofá. Era só o que me faltava!
Matteo pega no sono e acorda com um tremendo safanão.
_ O dia já amanheceu senhor Matteo e não pode ficar aqui a manhã toda. Eu estou saindo por causa da troca e você não pode mais ficar aqui! Disse Juvenal.
_ Você sabe se a Madalena já chegou? Já são sete e meia da manhã! Perguntou Matteo.
_ Não...a Dona Madalena ainda não chegou, senhor Matteo. Respondeu friamente Juvenal.
_ Onde será que aquela desgraçada se enfiou. Mas, eu acho que vou ficar um pouco mais por aqui. Espero que a Madalena não demore muito. Disse Matteo de cabeça baixa e com a mão sobre o nariz.
A campainha do interfone toca.
_ Senhor, Matteo...Disse Juvenal. Aquele tal de Joaquim está querendo falar com você. E eu pedi para ele entrar.
_ Você disse que eu estava aqui? Você deveria ter perguntado seu idiota...e agora... o que é que eu vou dizer a ele? Você sabe o que ele quer de mim? Matteo disse em tom agressivo.
_ Mas...eu não sabia! Respondeu Juvenal.
_ Pois devia ter perguntado seu idiota. E agora, onde é que vou me esconder? Eu não posso falar com esse homem agora... tenho alguns problemas para resolver mais tarde, só depois vou poder falar com ele. Respondeu Matteo visivelmente nervoso e procurando um lugar para se esconder.
Eu acho que vou me esconder atrás do vaso da palmeira ali no canto. A palmeira é grande. Eu posso ficar ali agachadinho que eu tenho a certeza que esse maldito Joaquim não vai me ver. Maldito esse Juvenal, porque foi dizer a ele que eu estava em casa. Agora vai ficar aqui a manhã toda. Se bem que eu posso me esconder no banheiro dos zeladores, mas deixa pra lá...eu não tenho a chave mesmo! Não...não...acho que vou encará-lo e terminar com essa farsa rapidinho, assim ele vai embora e eu fico melhor. Não...não posso fazer isso, o melhor é eu me esconder. Se bem que é aí que eu fico numa pior mesmo. Todo mundo no prédio vai ficar sabendo que eu me escondi do cobrador. A língua do Juvenal não tem fim. Maldita língua.
Matteo ouve passos na recepção e se esconde atrás da palmeira. Se o Joaquim me ver aqui escondido...vou passar muita vergonha. Mas...e daí...não tem problema, não. Encolhe a perna e acompanha a passagem de ambos pela hall de entrada. Juvenal olha para Matteo. Este faz sinal com a mão apontando para o elevador. Eu acho que vou me retirar daqui.
_ Eu só espero encontrar esse cara em casa. Diz Joaquim à Juvenal.
Mas, vai em sacana. Vai é ficar sem receber. Pode me xingar, me ofender...não vou negar que devo não....mas só vou pagar quando tiver algum no bolso. Pode ter certeza. Mas, o lance agora é eu me esconder desse cara. Se eu me enfiar atrás do balcão da recepção talvez fique legal. Tenho a certeza que o Joaquim não vai bisbilhotar. Se bem que eu já imagino o olhar do Juvenal para mim. Mas, também posso ouvir de algum morador do prédio.
_ O que faz aí, senhor Matteo. É uma probabilidade que devo contar...já imagina se é justamente na hora em que o Joaquim está passando? O escândalo que vai ser? Não quero nem pensar. Eu quero é mesmo ficar aqui, escondido esperando o nosso amigo ir embora. Tenho que pensar que Madalena também pode aparecer. Como vou explicar que estou embaixo do balcão da recepção, com o nariz todo inchado e ainda por cima com uma camisa que não me pertence? É realmente, tenho que convir que a situação não é de todo ruim. Se ao menos esse maldito Joaquim fosse embora eu conseguiria me arrumar.
Matteo se escondeu atrás do balcão de recepção e o celular deu sinal de mensagem.
_ Meu amor. Tive que fazer uma viagem de trabalho. Retornarei em dois dias. A chave da casa está com minha mãe. Beijos. Te amo. Madá.
A notícia não podia ser pior. A mulher viaja. Fico sabendo depois. A chave está na casa da maldita Zulmira. Estou escondido do cobrador.
_ Mas...nem tudo está perdido. Fala Matteo em voz baixa colocando as mãos sobre a cabeça. O que eu quero mesmo é que esse cobrador vai-se embora.
_ O que é que está fazendo aqui, Senhor Matteo? Perguntou Juvenal nervoso. Eu já estou saindo. E o senhor não vai me complicar, não. Se o Conca passar por aqui e te pegar aí embaixo, com certeza eu estarei na rua. E a situação vai ficar preta! Eu acho melhor o senhor sair daí. Diz Juvenal apontando o indicador para Matteo.
_ Eu só estou esperando o Joaquim ir embora. Eu não posso falar com ele agora! Respondeu Matteo com voz baixa e gesticulando.
_ Eu não tenho nada a ver com seus problemas. Respondeu Juvenal.
_ É rapidinho, Juvenal...só até esse cara ir embora. Por favor. Diz Matteo, juntando as mãos.
_ Cubra essa pra mim, vai. Eu fico lhe devendo uma. Matteo diz à Juvenal.
_







































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