Monday 4 June 2007

O Estudante



















O ESTUDANTE

Alexandre José Pierini















Personagens

Asdrubal
Genésio
A Secretária
A Professora Maria
Belarmino
Devedores e Inadimplentes
O aluno sarrista

1º Ato

Em Curitiba. Sala da Pró-Reitoria de assuntos financeiros da Universidade do Futuro Incerto. Duas salas. Uma mesa cada sala. Um computador em cada sala. Uma cadeira cada sala. Uma foto de Guevara. O retrato do Reitor. Uma secretária caxias. Um microcomputador. Um telefone. Porta de vidro que corre pela lateral e que permite o reconhecimento do ambiente. Listagem com o nome dos alunos devedores com os seguintes cabeçalhos: um mês de atraso, dois meses de atraso, três meses de atraso. Listagem com o nome dos alunos inadimplentes, aqueles que possuem mais de três meses de atraso do pagamento das mensalidades.
Asdrubal, Genésio e Secretária

ASDRUBAL – (Em pé conversando com a Secretária que está sentada. Ouvem um bater na porta). Mande entrar o próximo. (Diz à Secretária)
SECRETÁRIA – (Diz à Genésio) . Pode entrar!
GENÉSIO – (Todo tímido diz) Dá licença.
ASDRUBAL – (Com o olhar atento diz) Fale seu nome, o nome do curso, o registro de matrícula e se está com a mensalidade em dia!
GENÉSIO – (Com a bolsa de lona sobre o ombro, calça jeans batida, camisa para fora da calça e óculos fundo de garrafa) – Genésio Deatolado. Sou estudante de Engenharia, o número de matrícula é 171171 e vim conversar com o senhor sobre as mensalidades atrasadas.
ASDRUBAL – Quantas mensalidades em atraso?
GENÉSIO – Seis...
ASDRUBAL – O que?...quantas? Seis? É meio ano cara! Deixe-me ver aqui (olha na lista dos alunos inadimplentes). Então já é inadimplente! Caso sério...
GENÉSIO – A situação está difícil. O desemprego esta aí... batendo na porta. A minha mãe tinha uma loja de confecção que ficou dois anos aberta. Praticamente pagamos para trabalhar. Durante esse período não trabalhamos com capital de giro e não conseguimos financiamento do governo para tocar o negócio. Deu que a gente teve que fechar e ainda ficar com dívidas para pagar. Eu estou no segundo ano da Faculdade, no ano passado paguei com muito sacrifício, mas paguei. Hoje, eu trabalho como operador de caixa em um supermercado, mas o dinheiro que eu ganho preciso ajudar no pagamento das dívidas da loja e o que sobra mal dá para comer, quem me dera para fazer poupança! Nesse momento tenho dois desempregados em casa e não sobra para pagar a Faculdade.
ASDRUBAL – Olhe isso (mostra a listagem) como é mesmo seu nome... Gervásio, Geraldo...(demonstrando estar confuso).
GENÉSIO – Meu nome é Genésio, por favor!
ASDRUBAL – Então, Genésio. Olhe isso aqui (mostra a listagem novamente). Você fez a matrícula para iniciar os estudos e não pagou mais. Aqui está apontando que você fez um acordo no terceiro mês para quitar as mensalidades atrasadas e não cumpriu.
GENÉSIO – Pois é...Eu havia feito um trabalho para um empresário aí... eu achei que fosse receber e ele me deu calote. Então, não consegui pagar o acordo. Tentei emprestar dinheiro do meu padrasto, mas o cara só me enrolou, maldito o seja. Então foi uma empreitada mau sucedida!
ASDRUBAL – Você sabe que os nossos cursos são semestrais e já estamos praticamente no final do semestre, você vem aqui para parcelar o semestre que está passando e assim poder efetuar a matrícula para o próximo semestre e continuar tendo acesso às aulas! Em primeiro lugar, quero lhe dizer que isso é tática e em segundo lugar quem é vai pagar os juros de seis meses?
GENÉSIO – Não há a menor condição de eu pagar juro. Principalmente se for esse juro exorbitante aí...de mercado. Isso é uma aberração. Fique sabendo o senhor que tem dia que eu não tenho dinheiro nem para o transporte, nem para comer! Se o senhor olhar aí nessas planilhas, verá que o ano passado foi todo pago, que não devo nada. Agora! Esse ano as coisas estão um pouco mais difíceis, mas há de a situação melhorar e aí eu consigo pagar isso tudo!
ASDRUBAL – Mas são seis meses...mais os juros...e tem mais, quando a situação vai melhorar? Isso é uma incógnita. Nas leis do mercado não existe incerteza. O que vale é o pagamento. O resto gera turbulência! Não se esqueça, educação é negócio! O que vale é lei de mercado!
GENÉSIO – Sr Diretor, eu me inscrevi no programa do governo para fins de obter financiamento para os meus estudos. Mas..veja só... é uma demora tremenda. E eu não posso ficar esperando...
ASDRUBAL – (Irônico) Olhe aqui, caro amigo, você acredita em financiamento de governo? Pode esquecer, isso é para uma minoria e só sai para miseráveis. Para conseguir, você tem que levar uma procuração de preferência autenticada em cartório de que você realmente é miserável. Uma declaração dizendo que você mora em casa emprestada, vive com menos de um salário mínimo, tem quatro ou cinco filhos para criar e ainda tem que estar na lista dos que precisam ter a benevolência das empresas fornecedoras de água e de luz que é para obter condições mínimas de sobrevivência. Além do que, nesses programas, o governo demora uma eternidade para repassar a verba para a instituição, nos gerando ainda mais despesas!
GENÉSIO – É... a Assistente Social da Universidade esteve em casa fazendo um levantamento da situação, fiquei até com vergonha, a situação é tão ruim...mas...Sr. Diretor, preciso me formar para melhorar de vida, ganhar mais...Se eu não conseguir fazer esse acordo, ponho o meu futuro e o da minha família em risco...O futuro é tudo...
ASDRUBAL – Aqui...não se tem acordo, tem-se apenas pagamento. Nessa Universidade, o futuro é apenas pagamento...Melhorar de vida é uma equação, meu caro amigo!
GENÉSIO – Então quer dizer que...quer dizer que não tem acordo!
ASDRUBAL – Isso mesmo, não há acordo. Se quiser, pague tudo o que deve. Só assim vou liberar a matrícula para você! Chega de vocês sacanearem a Instituição. Já basta o governo que trabalha com essa legislação educacional ridícula e que só tem pensado no cliente, enquanto nós aqui da administração ficamos sem receita para aumentar as nossas dependências.
GENÉSIO – Mas...eu ouvi dizer que o senhor era um homem de bom coração, que considerava alguns argumentos e que um acordo não seria tão difícil...
ASDRUBAL – Sou um homem de negócio, caro Genésio. Sou movido a grana...não me comovo com a situação alheia...O que vale é a racionalidade.
GENÉSIO – Não me diga isso, por favor...e os meus estudos, a minha família....
ASDRUBAL – (Interrompendo-o raivosamente). Chega! Estou farto desses seus argumentos...
GENÉSIO – (Em pé e caminhando em direção à porta) Eu juro que se o senhor fizer um acordo eu farei tudo, até o impossível para cumpri-lo, mas, me deixe estudar, por favor! Não tenho culpa da situação do país estar assim. Está todo mundo devendo nesse país...e eu, não sou diferente. É só um momento de dificuldade...daqui a pouco minha mãe arruma uma colocação e meu irmão também e as coisas já melhoram...
ASDRUBAL – (falando de forma ríspida) Você já fez um acordo e não cumpriu, quem me garante que o senhor vai cumprir este? Eu também respondo junto aos meus superiores sobre aquilo que eu faço aqui dentro, se você não pagar quem dança aqui sou eu...
GENÉSIO – (desnorteado) Mas, senhor...
ASDRUBAL (visivelmente irritado) Saia já daqui...chega de argumentos mentirosos...
GENÉSIO – (com raiva) Como pode um homem trabalhar com educação e agir dessa forma. É um contrasenso...Seu capitalista idiota. Vou organizar uma passeata dos alunos e vamos pedir a sua cabeça na Universidade...
ASDRUBAL - (com deboche) Não formamos socialistas, nem marxistas o que nos interesse é formar técnicos. Se quiser protestar fique a vontade. Só não se esqueça que as palavras o vento carrega...
GENÉSIO - (nervoso) Então...o que significa esse retrato do Guevara na parede?
ASDRUBAL – (com deboche) Eu me simpatizo com a personalidade dele não com a suas idéias.
GENÉSIO - Você fala assim comigo por que sou pobre! Não tenho aonde cair morto! Mas, a terra gira...
Menos Genésio
SECRETÁRIA – (abre a porta de vidro e escora no batente) Assim vai ficar difícil. O senhor não fez acordo com ninguém. Hoje, já é o nono aluno que o senhor atende. Acho que o senhor tem que ser mais flexível. A situação está ruim para todo mundo. Estou ouvindo um burburinho ali na fila (aponta para a fila dos Devedores e Inadimplentes) de que não adianta vir aqui falar contigo, pois não há solução e que eles já estão pensando em ir falar direto com o Reitor sobre o problema!
ASDRUBAL – (demonstrando irritação) O que é que você tem a ver com isso? Quem manda nesse setor aqui sou eu! Eu tomo a decisão que quiser. Tenho a anuência do Reitor, e tem outra, não devo muitas explicações para esse bando de caloteiros! Educação cara amiga é negócio...é isso que eu tento dizer a eles. Veja só este Genésio... foi feito um acordo com ele, ele não pagou e vem aqui tentar de novo só para se manter estudando o semestre inteiro, somente com o pagamento da matrícula, veja se isso não é um absurdo! Enquanto nós...(bate na mesa demonstrando nervosismo) aqui, temos que pagar o salário de vocês e o dos professores em dia...e se o seu salário atrasa, você é a primeira que vem me aporrinhar, não é?? Então não me venha dizer estas coisas, pois agindo assim, estou defendendo o meu, o teu e o de todo mundo que trabalha aqui.
SECRETÁRIA – Tudo bem! Desculpe-me por ter me intrometido em assunto que lhe diz respeito, mas é que achei que podia ajudar, gostaria que o senhor soubesse de que acabei de receber um e-mail (apontando para o computador) enviado pela secretária da reitoria sobre o número de alunos que trancaram a matrícula e o número praticamente dobrou do ano passado para esse ano! Outro dado interessante é de que o número de alunos matriculados vem caindo ano a ano e esse ano atingiu índice alarmante!
ASDRUBAL – (apontando para Devedores e Inadimplentes) Pode dizer aí na fila, que no momento não atendo mais ninguém...agora só atenderei no período da tarde! Só avise e volte aqui...
Asdrúbal e a Secretária ouvem coro dos Devedores e Inadimplentes pedindo para que haja negociação. "Queremos negociação, queremos negociação..."
ASDRUBAL – (Com os pés sobre a mesa) Veja só isso aqui...(mostra a relação dos devedores e inadimplentes). A quantidade de nomes colocado nessa listagem representa trinta por cento do número total de alunos que possuímos na Instituição, se esse número não diminuir ficará impossível a gente respeitar os contratos por nós assinados com os fornecedores e consequentemente faltará para o pagamento dos professores e dos funcionários...Se a gente não der um arrocho nesses alunos, com certeza não receberemos...
SECRETÁRIA – (Demonstrando muita calma). É realmente...a situação não está fácil pra ninguém...é uma crise generalizada...
ASDRUBAL – É...é bem por aí, mas, cada um salva-se como puder. É por isso que eu digo, é lei de mercado...Queria que você visse o caso desse rapaz aqui...o nome dele é Feliz Aberto do Rego Barros...esse rapaz negociou fez a matrícula o ano passado, quando chegou na metade do ano, fizemos um acordo para ele pagar o semestre anterior e possibilitamos a ele fazer a matrícula para o segundo semestre ele não pagou uma mensalidade do acordo apenas...aí...quando chegou no final do ano ele voltou aqui para tentar a negociação do segundo mestre para que a gente o deixasse se matricular no novo ano..o que aconteceu? Ele não pagou nada...agora...tenho certeza que se você for olhar aí na fila, está o desgraçado novamente...então quando esse tipo de postura é adotado...somos altamente criticados...mas, vale mais eu ser criticado por ser assim do que não ver a cor do dinheiro...
Mais a Professora
O telefone. A secretária atende...
SECRETÁRIA – É a professora Maria. Quer falar contigo. Disse que é urgente.
ASDRUBAL – Mande-a vir aqui que conversaremos!
Menos a Secretária
A PROFESSORA MARIA – Dá licença Professor Asdrúbal!
ASDRUBAL – Vamos...sente-se, desembucha logo que eu estou com pressa! Hoje está um dia terrível!
PROFESSORA MARIA – Vim conversar contigo sobre o problema do aluno Genésio Deatolado!
ASDRUBAL (Demonstrando irritação). Esse cara de novo! O que é que ele aprontou novamente? Ele acabou de sair daqui! Tive quase que escurraça-lo da qui dessa sala! E você me vem trazer o nome desse cara de novo... Acho que nunca mais esquecerei esse nome...Genésio...Até o nome dele é singular, pois se refere a gênese, ao início...É a gênese dos meus problemas...
PROFESSORA MARIA – É sobre isso mesmo que vim falar contigo. Ele está com muitas dificuldades para pagar o curso, mas é um aluno muito bom, gosta muito do curso, tem as melhores notas...e acho que a Universidade poderia ajudá-lo de alguma forma. É muito difícil perder um aluno como esse...ele tem potencial...
ASDRUBAL (nervoso e batendo na mesa). Isso aqui não é uma instituição de caridade...e tem outra, não é só ele que tem potencial...todo mundo tem potencial, basta saber explorar...e nós temos que parar com essa mania de fazer putaria franciscana com esses alunos, esmolas não dão lucro para a instituição...
PROFESSORA MARIA – (demonstrando muita calma). Mas existem casos e casos. O caso do Genésio é singular. É só você olhar a situação dele na Universidade.
ASDRUBAL – Não existem casos singulares. Todos os casos são iguais. Todos eles devem! É o ponto em comum.
PROFESSORA MARIA – Mas...não devem por que querem. Devem por que tem necessidade...Ninguém gosta de ser caloteiro! Além do mais ele é de uma família muito pobre!
ASDRUBAL – Maldito governo e a sua democratização do ensino. Eu não pedi para os pobres estudarem. Além do mais, tenho certeza que não haverá espaço para todos no mercado de trabalho! Vai ser muito cacique para pouco índio! É muita gente querendo mandar e pouca gente para por a mão na massa! Nem todo mundo quer ser doutor, nem todo mundo quer construir dissertações ou teses de mestrado ou doutorado. Isso é para intelectuais. A proposta dessa Universidade não é formar intelectual. A proposta é formar pessoas que saibam resolver problemas do cotidiano e não pessoas para fazer elocubrações! O que vale hoje é grana no bolso. Venho insistindo com os outros reitores para montarmos cursos técnicos de curta duração...Agora veja você...pense comigo...um curso técnico dura menos do que um curso de graduação...sendo assim, a quantidade de mensalidades a ser paga pelo aluno é menor...além do que os trabalhadores hoje arrumam colocação por contrato de trabalho o que impossibilita que os mesmos tenham renda por um período longo de quatro anos... além do mais, o aluno sai habilitado em alguma função...
PROFESSORA MARIA – Mas o acesso a Universidade é o sonho dos jovens, não podemos ir contra os seus anseios....
ASDRUBAL – (demonstrando ironia). O país dos bacharéis é coisa do passado, cara professora. A democratização do ensino não está sendo boa para as classes sociais menos favorecidas, só elas não percebem isso. Elas chegaram atrasadas à Universidade. Chegaram atrasadas por que hoje não se garante melhoria de vida às pessoas somente com um curso universitário. Você pode ampliar o poder cultural das pessoas, talvez uma melhora na renda, mas nada muito significativo. Para melhorar a renda, o governo tem que em primeiro lugar distribuí-la, mas aí é outro papo...
PROFESSORA MARIA – Mas, o caso do Genésio... fica sem solução? Fico sentida com isso, pois ele me procurou, falou da sua situação, fiquei até constrangida de ouvir tudo aquilo!
ASDRUBAL – Ora isso tudo é encenação! Puro teatro! Fica como estava! Se ele não pagar todo o semestre passado não terá como realizar a rematrícula para o semestre atual!
Devedores e inadimplentes aparecem na porta. É uma coletânea de crises e histórias. Gritam "queremos negociação, queremos negociação".
ASDRUBAL (falando com ironia sobre a manifestação) – Bando de caloteiros! Não se esqueçam que as palavras o vento carrega! Mas a dívida de vocês não. Ela permanece em nossos arquivos!
PROFESSORA MARIA (demonstrando resignação) – È uma pena que você pensa assim, professor!
ASDRUBAL – Ora, não me venha com esse seu elitismo barato. Agora, por favor, me dê licença que eu tenho mais o que fazer!
PROFESSORA MARIA – (sai de cabeça baixa) Tudo bem, né...fazer o quê!
O aluno sarrista, com nariz de palhaço encontra a porta aberta entra e fica parado olhando para Asdrúbal com um imenso sorriso no rosto balançando a cabeça em tom de deboche.
ASDRUBAL (batendo a mão sobre a mesa) – Saia já daqui seu debochado, caloteiro! Se você não sair, vou comunicar a segurança!!
O aluno sarrista sai mostrando-lhe a língua e balançando a cabeça.
Asdrúbal e a Secretária
ASDRUBAL – Telefone para o Belarmino para mim, por favor e peça para ele vir até aqui que eu preciso conversar com ele.
SECRETÁRIA – Tudo bem! (pega o telefone)
Menos a Secretária
Belarmino chega à sala de Asdrúbal se escora na porta e põem a mão na cintura e observa a manifestação dos Devedores e Inadimplentes.
BELARMINO – Está parecendo porta de sindicato! (Diz sorrindo)
ASDRUBAL – Pois é meu amigo, por isso que eu lhe chamei... O que é que nós podemos fazer para resolver o problemas desses caras aí... (mostrando a listagem de devedores e inadimplentes). Porque a situação é insustentável! Eles querem negociar o que estão devendo! Muitos deles não tem dinheiro para quitar! Então eu lhe chamei para ver a possibilidade da gente fazer algum programa na Instituição em que a gente possa oferecer bolsa de estudo...se não para todos os alunos o que é praticamente impossível, mas pelo menos para alguns...assim, nós estaríamos colaborando com esse pessoal. Eu tive uma conversa com o Reitor e ele me disse que você estava fazendo um projeto de iniciação científica. Eu quero saber como está esse projeto e quantas vagas serão disponíveis para os alunos!
BELARMINO – Realmente...esta semana termino o projeto e apresentarei na próxima reunião. Estamos prevendo de quarenta a cinqüenta vagas para alunos. Mas, não sei se o projeto vai passar, pois depende de dinheiro, além de fornecer bolsa aos alunos tem o pagamento de hora aula ao professor, fora os gastos com transporte e investimento em equipamentos para a elaboração da pesquisa. E a situação na Universidade não está fácil, você sabe disso...a inadimplência está alta!
ASDRUBAL – A pressão aqui está grande! Se esse projeto vingar conseguiremos diminuir a pressão! Muito embora esse negócio de pesquisa seja uma tremenda balela, se sair será interessante, pois resolveremos o problema de alguns alunos...você conhece um aluno chamado Genésio Deatolado?
BELARMINO – Sim..sei quem é!
ASDRUBAL – Preciso arranjar uma bolsa para esse aluno. Ele esteve aqui hoje...sua história me entristeceu muito e segundo a Professora Maria ele é um excelente aluno, tem boas notas é dedicado. Embora tenha sido muito duro com ele...tenho que arranjar algum meio de ajudá-lo, agora... o que eu não posso é negociar com ele, pois sei que ele não vai pagar...
BELARMINO – O estudante de engenharia? Sim eu o conheço, tem fama de comedor.Ele esteve envolvido em um namorico com a minha vizinha, muito boa por sinal. A noite no portão era só mão subindo e descendo...sabe que um dia o pai da moça chegou e o pegou com a mão na massa...deu uma confusão que você nem imagina...a vizinhança toda ficou de botuca, mas a moça também não era de boa fama...acamada...Mas, o rapaz é gente boa...Agora, estamos na dependência da aprovação desse projeto, uma vez que as atividades de extensão universitária tiveram uma queda nos investimentos prejudicando os alunos no que diz respeito às bolsas de estudo!
Ouve-se o grito de protesto dos Devedores e Inadimplentes "queremos negociação, queremos negociação!"
ASDRUBAL – (de forma irônica) É...todo mundo querendo ser doutor ou pesquisador...Pobres coitados...esse ramo aí é um misere só...veja só, doutor hoje pra sobreviver da aula em quatro ou cinco faculdades...ou seja, vira dador de aula e pesquisador hoje, coitado! nem sobrevive...vivemos em um país atrasado...quem quer ser pesquisador tem que ir para fora do país senão morre de fome...aí tem aqueles que dizem assim...não...mas veja, se você faz pesquisa ajuda no currículo...ajuda porra nenhuma...o cara assume mais tarefa e não ganha quase nada...isso tudo é conversa para boi dormir...
BELARMINO – Nem parece que você trabalha em uma instituição de ensino, o seu discurso vai contra quem lhe paga o próprio salário...você não está sendo contraditório? Afinal de contas, você acabou de sair do doutorado!
ASDRUBAL – (Em tom irreverente) Ora, ora, ora caro colega... Isso é somente a verdade...somente a verdade...não mais do que a pura verdade! E é por isso mesmo, por eu ter saído do doutorado que lhe digo isso! Agora que todo mundo está tendo título nas mãos, quero ver o que vão inventar dessa vez! Daqui a pouco para eu poder dar uma simples aula de graduação, vou ter que ter o título de pós-doutor ou peagadê, isso para ganhar quase nada...é um tremendo absurdo...
BELARMINO – E o que você pretende fazer com esse pessoal aí? (aponta para os Devedores de Inadimplentes)
ASDRUBAL – Eu estou chamando um a um para discutir as pendências. Está vendo estas listas aqui? (mostra as listas de devedores e dos inadimplentes) eu apresento para cada um quanto cada um está devendo e como pode ser feita uma negociação, acontece que existem casos que não tem como negociar...esses alunos são cheios de truques e artimanhas...temos quer ter cuidado...
BELARMINO – Mas...você não pode perder de vista que os nossos alunos possuem um perfil socioeconômico mais ou menos homogêneo. O nosso aluno geralmente pertence à classes C, D ou E e você sabe o que isso significa...né...segundo grau mau feito...os alunos quase não sabem escrever...emprego de trezentos reais...isso quando tem...mora em casa de aluguel e de preferência na periferia...tudo isso tem que ser colocado na balança quando se vai discutir com eles (aponta para os Devedores e Inadimplentes).
ASDRUBAL – Concordo com você...e tem mais...se não fosse esse pessoal aí, dessas classes, nós nem estaríamos aqui...porque quem estuda em universidade privada nesse país são os pobres...os ricos estão nas universidades públicas...agora...já que essas classes assumem o jogo de mercado, mesmo não suportando-o tem que seguir as regras...
BELARMINO – (Levantando-se diz) Bom...preciso ir almoçar, tenho um compromisso daqui a pouco...
ASDRUBAL – Assim que tiver alguma novidade sobre os projetos de pesquisa, por favor me comunique! (Levantando-se se espreguiça)
BELARMINO – Pode deixar...tchau!(fecha a porta)

2º ATO

1º QUADRO
Personagens
Genésio
Dona Doris
Seu Batista
Fulgêncio

A cena se passa no quarto de Genésio. O pôster do time de futebol do Flamengo na parede. Uma mesa.Uma cadeira de plástico. Uma estante com livros. Um telefone. A cama desarrumada. Um travesseiro. A porta entreaberta. A janela aberta. Um guarda-roupa antigo de madeira. Um baú. Um criado mudo de madeira. Um jornal de classificados.
Genésio e Dona Doris
GENÉSIO (sentado sobre a cama com as mãos no rosto demonstrando resignação) – A situação na Faculdade não está fácil. Não consegui parcelar a minha dívida. O diretor colocou uma série de objeções! Agora, não sei o que devo fazer...
DONA DÓRIS – (sentada na cadeira apoiando o braço direito na mesa e segurando a cabeça) Tem que arrumar outra colocação, filho! Trabalhar naquele supermercado não vai lhe dar o que você precisa.
GENÉSIO – (abrindo os braços) Pois é...comprei o jornal de classificados para ver se acho outra coisa para fazer...mas, todos os anúncios pelos quais eu me interessei pedi experiência profissional.
DONA DÓRIS – E o programa do governo no qual você se inscreveu? Já saiu alguma coisa...
GENÉSIO – (Fica em pé e anda de um lado a outro do quarto com o jornal em mãos) Que nada! Esses programas do governo quando saem demoram demais é muita gente precisando e o número de vagas é pequeno. Eu me inscrevi, mas até sair o resultado vai longe. E ainda por cima o diretor me disse que o governo demora demais para repassar a verba o que muitas vezes acaba em prejuízo da Universidade porque ela tem que manter os alunos sem o repasse!
DONA DÓRIS – (Subitamente se levanta da cadeira expressando felicidade tira do bolso uma chave e abre o baú)– Já sei! Tem umas jóias que ganhei de seu pai quando a situação estava boa e você pode penhora-las. Tenho certeza que dará um bom valor e conseguirá pagar se não todas mensalidades em atraso, mas pelo menos uma parte delas. Veja essas jóias (mostrando cinco anéis e seis correntes de ouro) tenho certeza que valem uma fortuna. Leva até um ourives e peça para avaliar!
GENÉSIO – (Demonstrando surpresa deixa o jornal sobre a mesa e pega as jóias das mãos de Dona Dóris) – E eu que pensei durante esses anos todos que esse baú estivesse vazio. Isso aqui (mostrando as jóias) deve valer muito, mas, não posso jamais aceitar essa proposta!
DONA DORIS (Cortando a fala de Genésio) – Porque não?
GENÉSIO (Com lágrimas nos olhos) – Porque isso aqui (mostra as jóias para Dona Doris) é lembrança de meu pai. E eu não gostaria de me desfazer das suas recordações...
DONA DÓRIS (De cabeça baixa) – As melhores recordações estão em nossa mente! O restante é só matéria. Além do mais, você estará investindo-o em seu futuro. Tenho certeza que seu pai, seja lá onde estiver ficará feliz contigo se usar as jóias com essa finalidade, afinal de contas, ninguém mais do que ele se preocupava com o seu futuro...
Mais Seu Batista
SEU BATISTA (encostado na porta com a mão esquerda sobre a cintura) – Ah!Ah! Então quer dizer que temos jóias caras em casa! Nunca pensei que isso fosse possível! E essa daí (apontando em direção à Dona Doris) quer lhe dar para pagar a Faculdade! Que besteira! Se preocupar com um marmanjo como você! Você não é mais criança, sabe muito bem se virar sozinho!
GENÉSIO – (Demonstrando nervosismo e apontando o dedo indicador em direção a Seu Batista) - Cale a boca seu bosta! Senão eu lhe parto essa sua cara! Seu cafetão. Eu enfio esse jornal na sua garganta (amassa o jornal) Gigolô de puta pobre! Fica lá... (olhando em direção ao centro da cidade) na estação pegando o dinheiro dos programas que as garotas fazem...não tem vergonha, não...olha a sua idade...
DONA DORIS (Caminha em direção a Genésio) – Acalmem-se, por favor...com violência não vamos resolver nada...(pega as jóias das mãos de Genésio e fala para Seu Batista, mostrando-as) Essas são jóias que o falecido meu deu e agora estou deixando-as para Genésio!
SEU BATISTA – E porque não vendemos e usamos o dinheiro para acabar a reforma da casa?
DONA DÓRIS – Porque a situação de Genésio tem que ser resolvida. Ele tem que pagar a Faculdade!
GENÉSIO – (parte para cima de Seu Batista, o agarra pelos colarinhos e o joga sobre a porta) – A próxima vez que você abrir a boca eu lhe jogo lá fora (olhando para a janela) seu canalha! Cafetão! Vê se some dessa casa, senão eu vou acabar com você, está me ouvindo?
SEU BATISTA – (Diz com raiva) Me solte, senão eu mando te matar! (empurra Genésio contra Dona Dóris). Quem nasce para caixa de supermercado, não pode ser engenheiro na vida! Você nasceu para ser miserável, rapaz!
GENÉSIO – (Chorando e apontando para Dona Dóris) Se você não largar desse cara, quem sai de casa sou eu...entendeu...
SEU BATISTA (Sai batendo a porta) – Depois a gente conversa seu moleque! Você só está me tratando desse jeito porque não lhe emprestei a grana que você me pediu, se eu tivesse lhe dado, tenho certeza que me trataria de outra forma...
GENÉSIO – (fala demonstrando estar nervoso e deita sobre a cama com as jóias sobre o peito) ) Por favor, preciso ficar sozinho e refletir...
DONA DORIS – (Caminha em direção a porta e fala demonstrando preocupação) – Pense no que eu lhe falei e nisso aí... (aponta as jóias)

Genésio e Fulgêncio

O telefone toca.
GENÉSIO (deitado sobre a cama, atende o telefone) – Alô!
FULGÊNCIO – E aí cara! como vai? Tudo bem?
GENÉSIO (demonstrando resignação e mexendo as jóias sobre o peito) Que nada cara. As coisas vão de mal a pior. Não consigo colocação melhor, o que ganho é muito pouco. Não consegui parcelar a dívida na Universidade, agora estou aqui na difícil missão de olhar os classificados do jornal e pincelar uma boa proposta de emprego...
FULGÊNCIO – Você sabe que a minha situação também não é muito diferente da sua. Só que eu consegui parcelar a dívida que eu tinha lá na Faculdade, se bem que aquele diretor casca grossa, colocou uma série de empecilhos, mas mesmo assim, consegui firmar um acordo. Agora... eu estou mais preocupado porque também estou sem emprego e isso significa que esse semestre também estará comprometido. Você ainda tem aquele emprego no supermercado, e eu? Eu tive que arrumar um outro meio de ganhar grana...se bem que se eu te contar, você vai me chamar de maluco, tenho certeza que você não concordará, mas o que vale é eu estou conseguindo levantar uma grana boa com isso...
GENÉSIO – Então me conte qual é a receita...
FULGÊNCIO – Eu estou desesperado para arrumar emprego, né...a situação em casa anda muito ruim, muita cobrança...aí comprei um jornal de classificados e estava fazendo algumas notações, quando vi o anúncio de um cara se colocando a disposição para fazer programas com mulheres...aí resolvi ir até o jornal e colocar um anúncio também. Pois bem, passaram-se alguns dias e recebi a ligação de um cara, querendo que eu fizesse um programa com ele e a mulher. Só que eu pensei que fosse só com a mulher, quando acabei o serviço com a mulher o cara me ofereceu uma grana preta, quinhentas pratas, para fazer com ele também...no início falei que não, que eu era hetero, me justifiquei, mas aí quando o cara falou quanto me pagava, aceitei no ato...sabe como é, né...não é todo dia que se encontra uma oferta dessas...
GENÉSIO (sentou-se sobre a cama rapidamente) – Não acredito...o cara te pagou quinhentas pratas para come-lo, fora a mulher?
FULGÊNCIO – Fora a mulher! Com a mulher, deu seiscentas pratas...
GENÉSIO – É muita grana, cara! (tentando desamassar o jornal) Com a mulher tudo bem, mas com o cara...Você é louco, não faria isso nunca...se bem que se levar em consideração a grana e a situação....vale a pena...
FULGÊNCIO – Mudando de assunto! Hoje tem a festa do pessoal da engenharia, lá no prédio central, você vai? Se for nos encontramos lá...um abraço...tchau!
GENÉSIO – (desliga o telefone, deita-se na cama e fala em voz alta) Do jeito que as coisas estão indo, não vai me restar outra alternativa! É melhor guardar essas jóias senão aquele crápula é capaz de roubá-las! (Guarda as jóias embaixo do travesseiro)
GENÉSIO – (levanta-se pega o livro A Hora da Estrela de Clarice Lispector e deita-se na cama) – Não é possível que eu seja igual a Macabéa! (Lê um pouco fecha o livro sobre o peito e adormece)

2º QUADRO

Personagens
Genésio
Amadeu Tododado
Daniela Galinácea
Mico-leão dourado

A cena se passa em um quarto de motel. Cama redonda. Espelhos nas quatro paredes e no teto. Um banheiro. Uma Banheira. Uma mesa pequena redonda com pequenos objetos, sabonete, pente, caixa de fósforo. Objetos de sexshop, um pênis de plástico, um chicote e algemas. Um frigobar. Uma algema.

Genésio, Amadeu Todado, Daniela Galinácea, Mico-leão dourado
AMADEU TODODADO – (chama Genésio no banheiro e lhe fala em voz baixa) - Eu acho que vou lhe pagar trezentas pratas pelo serviço. Cem pela minha mulher e duzentos...por mim...
GENÉSIO (contrariado) – Não foi esse o combinado! Você me disse por telefone que eram quinhentas pratas. Duzentos pela mulher e trezentos por você...Por trezentos não tem serviço...
AMADEU TODODADO – (colocando as mãos sobre a cabeça) – Mas...agora que estamos aqui...você vai pular fora...
MICO-LEÃO DOURADO – Pôrra! Logo na primeira vez...é muito azar mesmo! Esse quinhentão vai me ajudar a começar a negociação na Faculdade...
DANIELA GALINÁCEA – (grita do quarto) Vocês vão sair logo desse banheiro...ou não...Será que começaram sem mim!
GENÉSIO (balançando a cabeça) – Não...por trezentos não tem serviço...
AMADEU TODODADO – (acariciando Genésio) – Já vamos querida! Pó... cara..não tenho essa grana toda. Você vai comer a minha mulher, vai me comer e ainda está reclamando...
GENÉSIO (empurra Amadeu) – Tire as mãos de mim! E me passe a grana antes de começar o serviço...
AMADEU TODODADO – (tira o dinheiro do bolso, mostra-o a Genésio. Caminha até a mesa, deixa o dinheiro e tira a camisa) Não fale assim comigo...rapaz...Toma... está aqui. Vou coloca-lo em cima da mesa.
DANIELA GALINÁCEA – (acariciando os seios) Venham logo que estou com vontade de ...(e dá um sorriso malicioso)
MICO-LEÃO DOURADO – Será que vale a pena! Só pense com a cabeça de baixo agora, nada mais...o resto é conversa...
GENÉSIO – (vai até a mesa, pega o dinheiro, tira a calça, se joga na cama, agarra Daniela Galinácea e começa tirar a sua roupa) – Vou arrebentar você...hoje...faz tempo que não dou uma...hoje, tiro o atraso...
MICO-LEÃO DOURADO – Me veio aquele idiota do Asdrúbal na cabeça...logo agora...justo aquele filho da puta...com aquela cara feia, submersa naquela mesa cheia de papel...arrogante...bossal...é melhor nem pensar em adjetivos...
AMADEU TODODADO –(em pé, ao lado da cama, com as mãos na cintura com a calça arriada, mostrando a cueca) – Eu também quero um abraço desses!
DANIELA GALINÁCEA – (grita, olhando para Amadeu Tododado) Não está vendo que ele está ocupado demais!
GENÉSIO – (entre as pernas de Daniela Galinácea, beijando-a ergue a cabeça e olha Amadeu pelo espelho, fazendo um sinal com a mão direita) – Você é pra depois...bem depois...
MICO-LEÃO DOURADO – Ossos do ofício...fazer o quê? Não quer ganhar dinheiro fácil? Se bem que aquela figura do Asdrúbal não me sai da cabeça...
AMADEU TODODADO – (caminha até a mesa, pega a algema e o chicote, olha para Genésio) – Você rapaz...vai fazer do jeito que eu quero...vai usar isso e isso...(mostra a algema e o chicote para Genésio)
DANIELA GALINÁCEA – (nua, olha para Amadeu pelo espelho) – Mas dói muito tudo isso...
AMADEU TODODADO – (sorrindo, fala olhando Daniela pelo espelho) Mas é minha vontade querida...e não se esqueça...nós já tínhamos combinado...
Genésio e Daniela Galinácea se ajoelham sobre a cama e ouvem as instruções de Amadeu Tododado
AMADEU TODODADO – (olhando para Genésio e mostrando os objetos) – Você vai fazer o seguinte: vai algema-la na cabeceira da cama de costas e depois vai bater com o chicote na bunda dela...entendeu...depois vai come-la de quatro ate eu pedir pra parar...estão me ouvindo? (sentando na cadeira e massageando o sexo)
MICO-LEÃO DOURADO – Esse cara pratica voyerismo. É louco...O que não se faz pra ganhar uma grana! Por enquanto...foda-se a faculdade o que vale mesmo é a foda bem feita...
DANIELA GALINÁCEA – (reclama, virando em direção à cabeceira da cama) Acho que não vou agüentar tudo isso! É chicote...é algema...é cacete...é muita coisa...vocês entendem? Além de dar, tem que abrir tudo!
GENÉSIO – (algemando Daniela Galinácea na cabeceira da cama) Vamos fazer o que o patrão fala porque eu preciso ganhar essa grana...
DANIELA GALINÁCEA – (de quatro, fazendo bico e olhando Genésio pelo espelho) Então faça direitinho, pois sou sua patroa, entendeu? Vem comer sua patroa vem, se não fizer direitinho eu não pago, ta...
MICO-LEÃO DOURADO – (grita) Viva a independência! Abaixo a opressão financeira, sexual e do cacete a quatro...
GENÉSIO – (batendo na bunda de Daniela) – Você é muito boa, mas esse seu marido me olhando...não tá legal...
MICO-LEÃO DOURADO – (reclamando) Aonde eu vim me enfiar...meu Deus do céu! É mais fácil fazer os cálculos do que agüentar esse cara me olhando...Prometo que é a última vez que faço isso!
AMADEU TODODADO – (acariciando o sexo, tomando cerveja e olhando para os dois)- Vamos, continue rapaz está indo muito bem...está merecendo a grana...veja como ela olha para você!
GENÉSIO – (pára o ato sexual com Daniela e vira-se para Amadeu) – Cale a boca seu chifrudo...me deixe gozar...essa sua mulher é muito boa...
MICO-LEÃO DOURADO – Quer saber...agora que esse cara me deu a grana...eu não vou fazer com ele não...eu vou é me mandar...mas...e se ele tiver armado? Bom...é o risco... viver é perigoso, mas ganhar dinheiro fácil é mais ainda...Maldito Fulgêncio!
DANIELA GALINÁCEA – (gritando para Genésio) Não pare...me faça gozar, seu puto...isso aqui ta bom demais...vamos que eu vou go...go...gozar...(se joga sobre a cama, afastando Genésio).
AMADEU TODODADO – (esfrega as mãos, tira a camisa e se joga na cama) – Esse teu negócio é muito grande, acho que não vou encará-lo. Primeiro quero lhe dar um beijo, depois me deixe fazer uma (sinal de masturbação) bem caprichada e aí você pode ir...
MICO-LEÃO DOURADO – Proteja a minha consciência por isso! Que o inferno abrace esse Asdrúbal, filho da puta...
GENÉSIO – (sai da cama e caminha até o banheiro) – Já volto seu puto...
AMADEU TODODADO – (fazendo voz de macho) – Não grita comigo não, bofe...eu estou lhe pagando bem pelo serviço...
DANIELA GALINÁCEA – (levanta da cama só de calcinha, põem a camisa de Genésio, se desloca até a mesa,, senta na cadeira e fala em tom de ironia) – Agora vou assistir sacanagem masculina...
GENÉSIO – (sai do banheiro e anda até a cama), olha para Amadeu Tododado fala de forma ríspida) – Esse serviço tem que ser rápido(se ajoelha sobre a cama)...vamos que eu tenho outro compromisso...
AMADEU TODODADO – (ajoelhado sobre a cama abraça Genésio encostando a cabeça em seu peito, olha-o nos olhos) – Me dê um beijo bem molhado...
Genésio e Amadeu Tododado se beijam ajoelhados sobre a cama
DANIELA GALINÁCEA (sentada sobre a cadeira observando o movimento de Genésio e Amadeu Tododado) – Isso aqui está quente, está pegando fogo... (faz gesto com as mãos se abanando).
GENÉSIO – (empurra Amadeu sobre a cama) – Acho que já deu...não deu..hemm!
MICO-LEÃO DOURADO – Será que essa engenharia merece tudo isso?
AMADEU TODODADO – (esparramado na cama, fazendo bico ao falar) Só mais um pouquinho, vai!!
GENÉSIO – (demonstrando nervosismo) – Me faça gozar logo que eu quero ir embora...(tira o pênis para fora)
Amadeu Tododado faz sexo oral em Genésio (ambos ajoelhados sobre a cama)
MICO-LEÃO DOURADO – To ferrado...ainda tenho mais três programas como este para fazer...

3º ATO

Personagens
Genésio
Asdrúbal
Secretária
Mico-leão dourado
Simplicio
Belarmino
Dona Marisa
Repete o cenário do primeiro ato
Secretária e Genésio

SECRETÁRIA – (abre a porta da sala, põem a mão direita sobre a cintura e com a esquerda aponta Genésio com a caneta) – Aquele aluno está aí...disse que quer falar contigo com urgência...como é mesmo o nome dele...aquele aluno que veio aqui outro dia e o senhor pediu para que ele se retirasse da sala...é...Geraldo...Genilson...não, acho que não é isso...é...
Toca o telefone
Mais Reitor
ASDRUBAL – (cortando a fala da Secretária) – O nome dele é Genésio...por favor, mande entrar...(atende o telefone) – Alô!
REITOR – Olá caro Asdrúbal, tudo bem? Estou te ligando porque o Belarmino me disse que vocês conversaram sobre o programa de bolsa de estudo... gostaria de lhe informar que para esse semestre será difícil a aprovação do projeto de iniciação científica porque a inadimplência está muito alta...talvez no próximo semestre se a situação melhorar será possível que saia...
ASDRUBAL – Tudo bem então... seu Reitor...é o senhor quem manda...
Desliga o telefone
Menos Reitor
GENÉSIO – (senta-se na cadeira, olhando para cima observa o Guevara na parede) – Dá licença, Sr. Diretor

ASDRUBAL – (abrindo os braços) – O que é que lhe traz aqui de novo meu caro jovem?
GENÉSIO – (de cabeça baixa) – Sabe o que é...fiz alguns servicinhos aí e consegui arrumar um dinheiro...e...agora quero conversar contigo para a gente encontrar uma saída para o meu problema!
Mais Simplicio
Toca o telefone
SECRETÁRIA – (aponta o telefone) É o Simplício que está na linha! Você atende?
GENÉSIO – (se espreguiçando na cadeira) – Fala coxa-branca, infeliz...seu time vai mau em cara...! E aí... como é que você está! Quanto tempo não falava contigo...
SIMPLÍCIO – Vai tudo bem...só o meu coxa que anda mau...mas há de melhorar. Bem...sobre o seu Atlético nem comentários eu faço...pois o time vai bem...né...então...é melhor ficar quieto...Mas, eu queria lhe convidar para pescar nesse final de semana. Você já tem algum compromisso agendado? A gente podia ir...tomávamos uma cervejinhas e colocávamos os assuntos em dia...
ASDRUBAL – Estamos aqui...na batalha...né...a Universidade a cada dia crescendo mais...fora a inadimplência alta...o resto vai bem...Mas, eu ligo pra você confirmando. Vou falar com a patroa primeiro, ta bom? Até logo!
SIMPLÍCIO – Faça força pra ir...temos alguns assuntos para conversar! Até mais...
Desliga o telefone
ASDRUBAL – (aponto a caneta para Genésio) Pois é...como estávamos conversando, você aqui para a gente conversar sobre a sua situação. Então...vamos ao que interessa...qual é a sua proposta?
GENÉSIO – (de cabeça baixa) – Como estava lhe dizendo...eu consegui arrumar uma graninha (tira do bolso um monte de notas) e creio que vai dar para começar uma negociação para o pagamento das mensalidades atrasadas...

Toca o telefone

SECRETÁRIA – É o Belarmino...você atende...
ASDRUBAL – Alô!
BELARMINO – Estou sabendo que o reitor já conversou contigo sobre a questão do projeto de iniciação científica, só estou te ligando para dizer que fiz o possível, falei para ele da importância do projeto, apresentei vários argumentos...entre eles o de que vários alunos que estão com as mensalidades atrasadas poderiam ter as suas situações resolvidas, mas mesmo assim ele não se sensibilizou...então gostaria de lhe dizer que não faltou empenho...
ASDRUBAL – Tudo bem! Se reitor disse que não dá, não dá...depois não venha dizer que não foi feito nada no sentido da gente melhorar a qualidade de ensino na Instituição...é uma pena porque tem vários alunos que precisam dessas bolsas para regularizar as suas situações...
BELARMINO – Até breve...
Desliga o telefone
ASDRUBAL – Bom...onde é que nós paramos, mesmo! Eu acho que lhe perguntava qual é a proposta que você tem a fazer! Isso...é... acho que é isso. Agora me conte...
GENÉSIO – (de cabeça baixa) Como eu estava lhe dizendo, consegui arrumar uma grana (tira novamente o dinheiro do bolso) e gostaria de dar esse dinheiro de entrada e parcelar o restante...
Toca o telefone
SECRETÁRIA – É a esposa do senhor...
ASDRUBAL – Alô! Fale...o que você quer dessa vez!
DONA MARISA – Eu quero que você passe no supermercado antes de vir para casa! Traga leite, pão, verduras, yogurte e não se esqueça da cerveja.

SECRETÁRIA (entra devagar na sala, cutuca Genésio) – Você quer um cafezinho?

GENÉSIO – (sai da sala e acompanha a secretária pega a xícara de café, senta-se na poltrona junto à mesa da secretária) – Hoje está difícil!
ASDRUBAL – Ta bom! Deixe-me anotar tudo que você quer...leite, pão, verduras, yogurte e cerveja. Você deu o remédio para a menina, hoje...não se esqueça que esse remédio é importante...tem que tomar na hora certa...o problema dela não é muito simples...

MICO-LEÃO DOURADO –

Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse:
Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos não perguntam nada.
O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do -bigode,
Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo.

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