Friday 22 June 2007

O fim das ideologias

O fim das ideologias surge na história das doutrinas políticas a partir dos anos cinquenta com a crise estabelecida sobre o Estado de bem-estar social, ou Welfare State. Daniel Bell, em O fim das ideologias apresenta argumentações sobre o assunto que posteriormente vão tomando corpo e que se agiganta algumas décadas depois com o advento da queda do muro de Berlim.
A história do fim das ideologias surge logo após a Segunda Guerra Mundial. As décadas que seguem dos anos 30 aos 50 foram palco para o desfile de armamentos, mortes e sobretudo da elevada ignorância humana. Esse período apresentou uma depressão mundial, a ascensão do nazismo e do fascismo. No período pós-guerra, o keynesianismo, teoria que propõe a intervenção do Estado na sociedade começa a ser contestada.
Através da críticas às propostas marxistas, uma nova ideologia se descortina. Se na visão marxista, os homens se compunham em classes sociais na nova ideologia impera o individualismo. Se as verdades na concepção marxista se revestiam em verdades de classe e as verdades individuais se apresentavam como mascaramento, na nova ideologia toda a ênfase está situada nas questões individuais. Se o Estado para Marx estava atrelado às questões da vontade geral, para a burguesia o Estado se apresenta com as características da neutralidade.
A desmistificação da religião torna-se uma questão de princípio. O homem passa a ser o “centro” do universo através do processo de racionalidade. A racionalidade “substitui” as questões da tradição. A economia precede as questões políticas. O Estado começa ser de forma sublime a ser substituído pelas leis do mercado.
Os novos parâmetros ditados para a sociedade criam forças maiores a partir dos governos Tatcher e do cowboy Ronald Reagan no final da década dos 70. Esses governos marcam com veemência a implantação do liberalismo exacerbado, proporcionando contornos cada vez mais fortes às cores apagadas do neoliberalismo.
A partir dos governos Tatcher e Reagan o neoliberalismo assume uma feição moderna e consegue adeptos através de suas propostas. O Estado de certa forma se ausenta das relações econômicas e o mercado torna-se o príncipe, assumindo a coroa do capitalismo moderno.
Por conseguinte, enquanto as relações econômicas se “modernizam” em países como os Estados Unidos e Inglaterra, assumindo uma característica global, na União Soviética o socialismo caminha a passos cada vez mais lentos rumo ao processo de degradação, através de uma sociedade economicamente falida e burocraticamente problemática.
Uma divisão do mundo está estabelecida: o capitalismo, ancorado pelas superpotências mundiais, Estados Unidos e Inglaterra e o socialismo, determinado e imposto pela potência russa. As ideologias contrárias travam batalha em busca da hegemonia. A Guerra Fria se estabelece.
O debate contemporâneo sobre o fim do Estado, nasce com a queda do muro de Berlim em 1989. Foi quando Francis Fukuyama escreveu um artigo dizendo que a história havia chegado ao seu fim e o capitalismo permeado pela democracia se perpetuaria.
Os argumentos pró Fukuyama sustentam que atingimos o máximo no processo de evolucionismo social, os argumentos contrários se sustentam sobre a frase marxista de que a história pode se repetir seja como farsa ou como tragédia.
Apesar da tese de Francis Fukuyama ser bem elaborada e fundamentada sobre todos os aspectos, não se pode levar em consideração a bondade ou maldade que os corações humanos carregam em seu interior.
Muito embora, Francis Fukuyama tenha afirmado em recente entrevista ao jornal Folha de São Paulo que nenhuma ideologia contrária tenha se colocado com ênfase contra o sistema capitalista, percebe-se não uma polarização entre duas ideologias distintas, mas uma transformação em seu próprio interior.
Ralph Miliband em seu artigo denominado Fukuyama e a alternativa socialista, afirma que “em oposição a essa linha de raciocínio, gostaria de demonstrar que realmente existe uma alternativa radical de esquerda à democracia capitalista. Essa alternativa é a democracia socialista que não guarda nenhuma relação com o comunismo de tipo soviético, e que Fukuyama falha completamente por não considerá-la”[1].
Nesse sentido, acontecimentos recentes demonstram o quanto é imprescindível a participação do Estado, seja na condução da formulação de políticas ou mesmo da economia.
Torna-se inviável pensarmos sobre o fim das ideologias com as evidentes desigualdades sociais existentes. Mas pensar em um mundo com processos de ruptura no sentido marxista a priori me parece um tanto utópico. Por utópico tem-se a proposição de Mannheim, ou seja, que possui uma relação com o mundo das idéias. Não por acreditar que a história não possa se repetir, mas muitos são os meios de manipulação existentes na sociedade e carregam inúmeros interesses de caráter capitalista. A princípio acreditava-se que o Estado no sentido keynesiano fosse capaz de resolver os problemas da sociedade, mas muitos foram as crises, tanto políticas quanto econômicas. No sentido político pode-se citar os monstros do nazismo e do fascismo, na economia, o processo de depressão econômica. Nos últimos 30 anos pensou-se que a política neoliberal como a supremacia do mercado sobre as questões do Estado fosse capaz de erradicar os problemas econômicos. O que se percebeu foi o estabelecimento da crise da democracia e o crescimento vertiginoso da desigualdade social.
Muito embora tese marxista do materialismo histórico seja latente na sociedade contemporânea ela já não atua sobre determinadas classes, mas principalmente sobre indivíduos. A tese dos proletários unidos, não faz mais sentido em mundo cada vez mais individualizado. Talvez fosse mais correta na contemporaneidade seja, “indivíduos do mundo todo uni-vos”.
Nesse sentido, cabe ressaltar que as ideologias não morrem, elas se transformam, não rompem, mas se entrelaçam buscando cada vez mais o aperfeiçoamento, demonstrando um certo evolucionismo social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Miliband, Ralph. Fukuyama and the socialiste alternative. New Left Review, London, 193: 108-113, may/june, 1992.

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