A
molecada chegava cedo para a prática da educação física e se aglomerava no
portão do Narciso da Silva Cesar que fica na rua quatorze, entre as avenidas
Cristovão Colombo e Bandeirantes. O portão da escola velho e enferrujado que
era unido por uma corrente cor laranja por causa da corrosão servia de gol
enquanto o professor não chegava.
Em
frente ao portão, tinha o boteco do Pedro cheio de cachaça na estante, uma
gôndola de doces caseiros e de chicletes “Ploc” que fazia a alegria dos
moleques. Pedro era um sujeito gordo, bonachão e austero, com cara de bravo e
que sempre se negava a vender fiado para a molecada. O máximo que fazia era dar
um copo d’água da torneira. A limpeza do copo era duvidosa, a água apresentava
um aspecto turvo e às vezes, esverdeado, mas na ânsia de matar a sede, qualquer
coisa estava certa. De vez em quando, os moleques entoavam o coro: “ei, Pedro,
vtnc” para “homenageá-lo” e os gritos só paravam quando o portão se mexia, o
professor havia chegado.
O
professor era o Seu Carlos, ele usava barba longa e era calvo. Era um sujeito
legal, com seu jeito calmo e fala mansa, conquistava a molecada. Ele ensinava
com maestria, era detalhista nos movimentos dos esportes: um toque no vôlei, um
arremesso no basquete, um chute a gol, tudo era meticulosamente ensinado e
explicado, sua didática era fantástica, valia demais a sua aula.
A
molecada gostava mesmo era de jogar futebol. O vôlei, o basquete e o handebol
eram deixados de lado, portanto, jogar futebol era fundamental na educação
física. Seu Carlos ficava em apuros, dizia que o futebol não precisava ser
explicado e insistia nos treinos de vôlei, o que parecia ser seu esporte
preferido. A molecada ficava brava, mas ninguém se indispunha com o professor,
ele era gente boa demais.
Quando a
educação física acabava, a molecada corria para o bar da Santa Izildinha que
ficava na esquina da rua treze e meio para comer maria mole e tomar tubaína,
muitos iam na sorveteria do Cidão que ficava do outro lado da esquina, tomar
aquele sorvete de origem estranha, mas que era tão bom quanto a um Kibon e
custava bem menos.
Nenhum
dos moleques tinha dinheiro, tudo era resolvido na conversa, as vezes na
porrada mesmo, vire e mexe uma briguinha básica para sair da rotina, mas a
alegria era contagiante e no dia seguinte, tudo estava bem e dentro dos
conformes.