"Enterrei Meu Coração na Curva do Rio" é uma obra impactante e poderosa, escrita por Dee Brown, que retrata a história dos povos indígenas norte-americanos durante o século XIX. Publicado originalmente em 1970, o livro oferece uma perspectiva detalhada e empática sobre as lutas e injustiças enfrentadas pelos nativos americanos frente à expansão colonial e militar dos Estados Unidos. Este livro é uma leitura essencial para aqueles que buscam compreender melhor a história ocultada sobre os direitos e as terras indígenas.
A narrativa ocorre durante o período de expansão para o oeste dos Estados Unidos, quando os colonos e o governo federal avançavam sobre terras indígenas. O livro cobre eventos históricos cruciais, como as Guerras Sioux e a batalha de Little Bighorn, além de abordar tratados quebrados e deslocamentos forçados, como a Trilha das Lágrimas.
Dee Brown utiliza uma abordagem cronológica para narrar os eventos, com capítulos dedicados a diferentes tribos e líderes indígenas. Personagens icônicos, como Red Cloud, Sitting Bull, e Geronimo, ganham vida através de descrições vívidas e emocionantes. A obra se destaca por utilizar fontes primárias, como discursos, cartas e relatos pessoais, para dar voz aos próprios indígenas, algo raro nas narrativas históricas sobre essa época.
Um dos principais temas da obra é a injustiça perpetrada contra os povos indígenas. Brown detalha como os tratados eram constantemente violados e como as promessas feitas pelo governo raramente eram cumpridas. Essa falta de respeito e a ganância por terras e recursos são retratados de maneira a provocar reflexão e indignação no leitor.
Apesar das adversidades, o livro também destaca a resistência e a resiliência dos povos indígenas. As histórias de líderes corajosos que lutaram por suas terras e culturas são inspiradoras e mostram a determinação inabalável desses povos.
Desde seu lançamento, "Enterrei Meu Coração na Curva do Rio" tem sido aclamado por sua capacidade de mudar a percepção do público sobre a história dos Estados Unidos. A obra ajudou a fomentar uma maior consciência sobre as injustiças enfrentadas pelos nativos americanos e continua a ser uma referência importante para estudos sobre os direitos indígenas.
"Enterrei Meu Coração na Curva do Rio" é mais do que um simples relato histórico; é um convite à reflexão e à empatia. A leitura deste livro é uma experiência transformadora que ilumina aspectos da história que muitas vezes são negligenciados. Dee Brown oferece uma narrativa poderosa e necessária que continua a ressoar com leitores ao redor do mundo
CRÔNICAS
Tuesday, 19 August 2025
Resenha da obra "Enterrei meu coração na curva do rio" de Dee Brown
Thursday, 14 August 2025
Sabugo: A vida no ritmo das ruas
Era manhã cedo quando Sabugo, um
nome que mais parecia saído de uma história de aventura, começava seu dia. A
barba longa e desgrenhada, que lhe valera o apelido, era sua marca registrada.
Ele a cultivava com um certo orgulho, embora não houvesse muito que pudesse
fazer para domá-la.
Sabugo era catador de papelão. Seu
carrinho, um veículo improvisado para transportar seus achados, rangia e gemia
a cada movimento, como se estivesse contando histórias de suas próprias
batalhas diárias. Juntos, eles deslizavam pelas ruas da cidade, uma dupla inseparável
no ritmo frenético de Araraquara.
Ao meio-dia, Sabugo fazia uma
pausa. Sentado na beira da calçada, geralmente na esquina da rua três com a
avenida Osório, embaixo da marquise onde os taxis ficavam estacionados, abria
um embrulho de papel que guardava os restos de comida que conseguira recolher.
Para muitos, aquilo poderia parecer pouco, mas para Sabugo, era o suficiente
para matar a fome e seguir adiante.
Com sua caneca em mãos, ele
observava o vai e vem das pessoas, cada uma com sua pressa e preocupações.
Sabugo, no entanto, tinha um outro tempo. O tempo dos que vivem à margem, dos
que enxergam o mundo por outra perspectiva.
Sabugo era um observador. Enquanto
mastigava lentamente, seus olhos acompanhavam o movimento ao seu redor. Via a
cidade acordar e adormecer, os rostos que passavam, as histórias que se
cruzavam sem jamais se tocarem.
Ele sabia que sua vida era simples
e humilde. Sabia que muitos o olhavam com desdém ou pena. Mas ele não se
importava. Sabugo tinha a liberdade dos que não têm nada a perder, a sabedoria
dos que aprenderam a encontrar beleza nas pequenas coisas.
Com a caneca na mão, Sabugo
refletia sobre a vida. Pensava em como, apesar de tudo, ele tinha sorte. Sorte
por ter saúde para continuar empurrando seu carrinho, por encontrar sempre
algum alimento, por poder ver o mundo de uma maneira que poucos se permitiam.
Para Sabugo, a vida era isso: um
dia após o outro, um passo de cada vez. E, no final do dia, era o sorriso que
ele lançava ao carrinho, seu fiel companheiro, que dizia tudo sobre sua
jornada. Em sua simplicidade, Sabugo encontrava uma paz que muitos ainda
buscavam. E, quem sabe, essa fosse a verdadeira riqueza da vida.
Wednesday, 13 August 2025
Tuesday, 12 August 2025
Crônica de uma morte anunciada
Resenha
"Crônica de uma Morte Anunciada", escrita por Gabriel García Márquez, é uma obra extraordinária que mistura jornalismo, literatura e o inconfundível realismo mágico característico do autor. Publicada em 1981, a novela explora temas como honra, destino e a inevitabilidade da morte, mergulhando profundamente nas complexidades da sociedade e da moralidade.
A narrativa gira em torno
da morte de Santiago Nasar, um jovem de ascendência árabe, em uma pequena
cidade costeira. O livro começa com a notícia da morte de Santiago e, como o
título sugere, todos na cidade parecem estar cientes de que ele será assassinado.
No entanto, uma série de mal-entendidos e a apatia coletiva levam ao trágico
desfecho.
Santiago é acusado de
desonrar Angela Vicario, uma jovem que, após ser devolvida ao lar no dia de seu
casamento, revela que ele foi o responsável por tirar sua virgindade. Para
restaurar a honra da família, os irmãos de Angela, Pedro e Pablo Vicario, decidem
matá-lo. O mais intrigante é que, apesar de suas intenções serem amplamente
conhecidas, ninguém na cidade intervém de forma efetiva para impedir o crime.
Um dos temas centrais da
obra é a noção de honra, que conduz as ações dos personagens. A honra da
família Vicario é posta em xeque, e o ato de vingança é visto como um meio
necessário para restaurá-la. García Márquez critica essa visão distorcida de
moralidade, onde a reputação se sobrepõe à vida humana.
Outro tema relevante é o
destino. Desde o início, o destino de Santiago parece selado, e a narrativa
apresenta um forte senso de inevitabilidade. A forma como os eventos se
desenrola sugere que todos os esforços para alterar o curso dos acontecimentos
são inúteis.
Embora "Crônica de
uma Morte Anunciada" seja mais uma investigação jornalística do que uma
obra de ficção fantástica, elementos do realismo mágico permeiam a narrativa. A
atmosfera onírica e a representação de eventos extraordinários como corriqueiros
reforçam a sensação de fatalismo e a complexidade da realidade.
García Márquez usa uma
estrutura não-linear, começando pelo fim e explorando os eventos que levaram ao
assassinato de Santiago. Essa técnica aumenta a tensão e o mistério, mantendo o
leitor envolvido do início ao fim. O estilo é direto, mas poético, com descrições
vívidas que capturam a essência da vida na cidade e a psicologia dos
personagens.
"Crônica de uma
Morte Anunciada" é uma obra-prima que desafia as convenções tradicionais
de narrativa e oferece uma crítica profunda à sociedade. Gabriel García
Márquez, com sua habilidade única, cria uma história que é, ao mesmo tempo, um
relato policial e uma reflexão filosófica sobre a condição humana. Com
personagens memoráveis e uma trama envolvente, este livro é essencial para
qualquer amante da literatura
Narciso: o tecedor de ilusões
Na
cidade onde o sol parecia brilhar menos, vivia um homem cujo nome era sinônimo
de confusão e engano: Narciso. Não era um nome de batismo, mas um apelido que a
comunidade lhe dera, pois sua habilidade em manipular e tecer tramas era
lendária.
Narciso
era um verdadeiro artista das palavras. Sua especialidade era vender sonhos,
não daqueles que se realizam, mas os que se desfazem como fumaça ao primeiro
toque de realidade. Ele tinha uma habilidade notável de fazer com que suas
mentiras soassem como a mais pura verdade. Quem o conhecia sabia que precisava
ter cuidado, mas poucos resistiam ao seu charme sedutor e ao seu olhar
magnético que prometia mundos e fundos.
Manipular
era para Narciso tão natural quanto respirar. Ele entendia as fraquezas humanas
e as explorava com precisão cirúrgica. Suas palavras eram armas afiadas,
capazes de cortar através das defesas mais robustas. Amigos e familiares, todos
já haviam sido vítimas de suas artimanhas, mas muitos escolhiam ignorar, talvez
por medo, talvez por esperança de que um dia ele mudasse.
Narciso
tinha uma maneira peculiar de virar uma situação a seu favor. Quando
confrontado, desviava o olhar, mudava de assunto ou fazia com que a culpa
caísse sobre o outro. Seu jogo era complexo, um xadrez emocional onde ele
sempre estava muitos passos à frente.
Wednesday, 6 August 2025
Ele, a bola, o goleiro e o gol: a decisão nos pênaltis
O jogo chegou ao seu clímax com o empate persistente, levando à decisão nos pênaltis. Em campo, o nervosismo era palpável. O goleiro, embora sentisse as pernas tremerem, mantinha uma confiança inabalável. Do outro lado, o centroavante estava tenso, mas determinado a cumprir seu objetivo.
O centroavante se preparou para a cobrança. O goleiro, tentando desestabilizá-lo, avançou um passo à frente. O juiz interrompeu a jogada, anulando o chute. O centroavante, confuso, percebeu que o goleiro tentava desorientá-lo. Com um sorriso provocador, o goleiro murmurou algo inaudível enquanto devolvia a bola.
A torcida estava em polvorosa, reagindo com vaias. O goleiro, agora advertido com um cartão amarelo, voltou para sua posição, continuando a indicar o canto em que esperava o chute. O centroavante, por sua vez, se concentrou, ajustando os meiões e o calção, tentando não se deixar afetar pelo turbilhão à sua volta.
Quando o apito do juiz soou novamente, a surpresa tomou conta do campo: um torcedor invadiu o gramado, ajoelhando-se diante do centroavante e sussurrando palavras de apoio. A segurança rapidamente interveio, mas o gesto já havia acendido uma faísca de confiança no jogador.
Com a situação sob controle, o juiz sinalizou para que a cobrança fosse retomada. O centroavante ajeitou a bola, enquanto o goleiro, com uma atitude desafiadora, trocava palavras ríspidas com o árbitro. O silêncio tomou conta do estádio, enquanto o centroavante se preparava para o momento decisivo.
A pressão sobre os ombros do centroavante era imensa. Lembranças das narrações da infância, a responsabilidade pelo destino do time e a expectativa da torcida ressoavam em sua mente. O goleiro, ciente de seu papel crucial, também estava em seu próprio conflito interno, equilibrando a esperança e a tensão.
O apito do juiz rompeu o silêncio. O centroavante correu, chutou, e a bola seguiu uma trajetória dramática: tocou na trave, na outra, bateu nas costas do goleiro e, finalmente, cruzou a linha do gol. A explosão de alegria da torcida foi ensurdecedora. O goleiro, deitado no gramado, socou o chão em frustração, enquanto seus companheiros se reuniam para consolá-lo.
A cena era um verdadeiro espetáculo de emoções, onde os heróis e vilões se confundiam em meio ao caos e à euforia. O futebol, com toda sua imprevisibilidade, havia proporcionado mais um capítulo inesquecível. Naquele momento, a alegria do gol e a tristeza do goleiro simbolizavam a beleza e a crueldade do esporte.
Monday, 4 August 2025
Desejo e traição
Ela estava casada há mais de dez anos, vivendo uma vida que muitos chamariam de comum, mas que para ela tinha seu próprio encanto. Com um cotidiano que girava em torno da casa e da família, sua rotina era previsível, mas segura.
Passava longas horas na casa da mãe, um refúgio de afeto e apoio. Gostava de ajudar nas pequenas tarefas e compartilhar as novidades do dia. As conversas fluíam naturalmente, entre risos e recordações, até que o relógio a lembrava de sua outra missão: buscar a filha na creche.
Antes de retornar ao lar, sempre se certificava de que tudo estivesse em ordem para a chegada de Beto, seu marido. A casa limpa, o jantar pronto, e a filha feliz; tudo cuidadosamente alinhado para que pudessem desfrutar de uma noite tranquila em família.
Apesar de sua dedicação à família, ela não era imune aos encantos do mundo exterior. Havia algo nas ruas da cidade que a atraía e a fazia sentir-se viva de uma maneira diferente. Trocas de olhares, sorrisos e pequenos flertes eram uma parte secreta de seu dia, uma brincadeira inofensiva que nunca cruzava a linha do respeito que tinha por Beto.
Esses momentos de sedução passageira eram quase um segredo íntimo, algo que existia apenas em sua mente e nas conversas informais com as amigas. Ela assegurava a elas que essas aventuras eram apenas tolices, uma forma de lembrar-se de que ainda tinha poder de atração, mas que, no final do dia, o verdadeiro amor e segurança estavam em casa, ao lado de seu marido.
Para ela, esses pequenos gestos com outros homens não significavam uma traição real. Eram, na verdade, uma forma de reafirmar seu compromisso com Beto, lembrando-se de que, apesar das tentações do mundo, seu coração e lealdade pertenciam a ele. Ela encontrava paz nessa certeza, sabendo que, apesar das distrações, o amor verdadeiro era o que realmente importava.
Em suas palavras às amigas, ela repetia que as pequenas aventuras eram apenas besteiras, e que homem bom mesmo era o seu marido. Essa convicção a sustentava e a fazia acreditar que a vida que escolheu era a melhor para ela, recheada de simplicidade, amor e um toque de mistério que apenas ela entendia.
Thursday, 31 July 2025
Travessuras de uma Menina Má
"Travessuras
de uma Menina Má", do famoso escritor peruano Mario Vargas Llosa, é
um romance que transborda ironia, paixão e uma incessante busca por um amor que
se revela tanto idealizado quanto elusivo. Publicado em 2006, o livro mergulha
o leitor na vida de Ricardo Somocurcio, um tradutor e intérprete que, desde a
adolescência em Lima, se vê irremediavelmente enfeitiçado por uma misteriosa e
volátil mulher, que ele carinhosamente apelida de "a menina má".
A
narrativa, contada em primeira pessoa por Ricardo, abrange várias décadas e
cenários internacionais, desde a efervescência de Paris nos anos 60 até a
Londres boêmia, a Tóquio exótica e a Madri cosmopolita. Essa "menina
má", cujo nome real nunca é o mesmo por muito tempo – Lily, Nidia, Cármen,
Otília, entre outros –, é a personificação da inconstância. Ela surge e
desaparece da vida de Ricardo com a mesma facilidade, sempre motivada por
interesses pragmáticos e uma ambição quase predatória. Seja casando-se com
homens ricos, envolvendo-se em causas revolucionárias ou buscando ascensão
social, ela usa seu charme e inteligência para manipular e prosperar, deixando
um rastro de corações partidos, mas, paradoxalmente, nunca perdendo a admiração
e a devoção de Ricardo.
O
grande motor da trama é a obsessão de Ricardo. Ele é o anti-herói
romântico, o homem que aceita ser subjugado por um amor platônico e, muitas
vezes, doloroso. Enquanto a menina má avança e se reinventa, Ricardo permanece
ancorado em sua paixão, sempre à espera de um reencontro, sempre disposto a perdoar
e a oferecer seu amor incondicional. Essa dicotomia entre a volatilidade dela e
a lealdade dele cria uma tensão constante e questiona os limites do amor e da
idealização.
Vargas
Llosa, com sua prosa magistral, constrói personagens complexos e um enredo que,
apesar de aparentemente simples, revela camadas profundas sobre a natureza
humana. A linguagem é rica e envolvente, pontuada por descrições vívidas
dos ambientes e um humor sutil que permeia as desventuras do protagonista. O
autor explora temas como o desejo, a memória, a identidade e a busca pela
felicidade, sempre com um olhar perspicaz e, por vezes, melancólico.
Um
dos pontos mais interessantes da obra é a reflexão sobre a identidade. A
menina má, ao mudar constantemente de nome e persona, questiona a própria ideia
de quem somos e como nos apresentamos ao mundo. Para Ricardo, no entanto, ela é
sempre a mesma, a garota de sua juventude, a mulher que o enfeitiçou. Essa
permanência da imagem idealizada dela na mente dele é um tributo à força do
primeiro amor e da memória afetiva.
"Travessuras
de uma Menina Má" não é um romance para quem busca um final feliz
tradicional. É uma obra que convida à reflexão sobre a natureza do amor
romântico e a complexidade das relações humanas. Vargas Llosa, como um
cirurgião da alma humana, dissecou a paixão em suas diversas facetas, mostrando
que o amor, por vezes, é mais sobre a busca e a idealização do que sobre a
posse ou a reciprocidade. É uma leitura cativante, que prende o leitor do
início ao fim, deixando um sabor agridoce e a certeza de ter lido uma obra de
arte literária.
Monday, 28 July 2025
O encontro inusitado
Ele já estava aposentado
e possuía uma vida confortável quando decidiu aventurar-se em um encontro
romântico com ela. Ela sempre sonhou em experimentar o amor em um hotel. Já
tinha visitado motéis, casas de todos os tipos e os mais variados modelos de carros,
mas sempre achou que em um hotel seria diferente. Após muita insistência, ele
finalmente aceitou a ideia.
Era uma noite fria de
sábado e eles combinaram de se encontrar na praça central da cidade. Ansiosa
pelo tão esperado dia, ela decidiu atrasar-se um pouco para aumentar a
expectativa. Ele, que a esperava há quase uma hora, já estava com o apetite
aguçado. Quando ela chegou, ele ficou nervoso. Falou alto, gesticulou, e mesmo
irritado com a demora, a convidou para jantar antes de seguirem para o destino.
Sendo um homem casado,
ele precisava escolher um local discreto para o jantar. Optou pela taverna do
Alemão, um lugar afastado do centro, conhecido pela qualidade da comida, e onde
tinha certeza de que sua presença não seria comentada. Já havia estado lá com
outras mulheres sem que o Alemão mencionasse nada, então se sentiu seguro.
Ele
pediu: Espaguete
Ela
pediu: Peixe assado, acompanhado de vinho branco e seco
Durante o jantar, a
conversa foi leve. Ela tentou saber mais sobre os problemas dele, mas ele,
sempre reticente, mudava de assunto, enquanto discretamente passava a mão pelas
pernas dela debaixo da mesa.
Após o jantar, ele pagou
a conta. Em um gesto carinhoso, ela tentou segurar sua mão, mas ele rapidamente
a tirou e colocou no bolso. Tentou segurar seu braço, mas ele se esquivou
dizendo com um sorriso malicioso:
_ "Hoje quero
comê-la da cabeça aos pés!"
Ela o olhou com
curiosidade enquanto ambos se dirigiam ao carro. No caminho até o hotel, o
silêncio era quebrado apenas pela música suave que tocava ao fundo.
Ao chegar ao hotel, ele
pediu a chave na recepção e a abraçou enquanto chamava o elevador. Quando a
porta se abriu, ele se deparou com sua sobrinha saindo abraçada com dois
rapazes. O choque foi mútuo, mas ela rapidamente sinalizou silêncio levando o
dedo aos lábios. Ele, ainda espantado, abaixou a cabeça e, ao levantá-la,
piscou para ela, imitando o gesto.
Thursday, 24 July 2025
Coisas ruins que vem de você!
"Você acha que não vai me prejudicar agindo assim?", Daniela perguntou, olhando fundo nos olhos de Benito.
Benito retribuiu o olhar. "Por que você acha que eu a prejudicaria?"
"Você sabe que sou casada. Isso me afetará muito se você continuar agindo dessa forma!", Daniela sussurrou.
"De que forma?", Benito respondeu, se aproximando. "A única coisa que penso em te dar é o meu silêncio." Ele colocou o indicador sobre a boca.
"Não posso me aproximar mais de você. Você sabe disso!", Daniela falou, colocando a mão sobre os ombros de Benito.
"Você pode escolher, Dani, entendeu? Respeitarei sua decisão. Vou ficar magoado e triste se tiver que ficar longe de você, mas ficarei", disse Benito, levando a mão ao rosto.
"Vai ser difícil para mim também ficar longe de você. Você tem a capacidade de aumentar minha autoestima. Eu gosto disso. Me sinto paquerada, desejada, e você me faz sentir sempre melhor. Gosto de te procurar. Sempre quero saber se você está me olhando. Sabe, por incrível que pareça, não tenho ciúmes de você. Fiquei magoada quando começou a me ignorar, a fingir que eu não existia. Não me contive, tive que falar com você", Daniela disse, apreensiva.
"Eu não quero servir só para aumentar sua autoestima! E eu, como fico?", Benito respondeu, levando as mãos ao peito.
"Estou assustada. Você chega assim e diz, sem mais nem menos, que está apaixonado por mim! Eu não estava preparada para isso. Você me entende?", Daniela disse, com uma expressão aflita.
"Só fiquei muito brava uma vez com você. Uma vez que passei por você e você nem me olhou. Eu até bati firme com o pé no chão para ver se chamava sua atenção e você nem aí... nem me deu trela. Fiquei muito brava", Daniela falou com ternura.
"Eu vou tirar você da minha vida!", Benito respondeu, parecendo nervoso.
"Você ficou dois meses sem aparecer. E quando vem quer que eu jogue confete para cima de você. Eu vou mesmo é fazer de tudo para tirar você da minha vida, mesmo que você nunca tenha entrado", disse Benito, segurando a mão de Daniela.
"Nós nunca tivemos nada. Você sabe disso, Benito! Não pode me obrigar a nada", Daniela retrucou, nervosa.
"Por isso mesmo é que de agora em diante... quero que você fique com o seu marido...", Benito retrucou, nervoso.
Daniela olhou fixamente nos olhos de Benito. Deu dois passos, beijou-lhe a boca e o abraçou.
"O que você pretende com isso, Daniela?", perguntou Benito.
"Para você não me esquecer e sempre achar que terá a chance de ter algo comigo. É sempre... nosso eterno jogo de sedução", Daniela respondeu, sorrindo.
"Não vou servir de massagista para o seu ego inflado", disse Benito, desapontado.
"Eu sei que você não me resiste. Basta eu olhá-lo nos olhos e pronto. Você se derrete todo", Daniela respondeu com empáfia.
"Eu não teria tanta certeza", falou Benito, coçando a cabeça. "Eu nunca me interessei em saber o número do seu celular. Nem ao menos o seu endereço de internet."
"Eu jamais os daria a você. Tenho a certeza de que você seria daqueles que ficaria me amolando o tempo todo com história de homem apaixonado", disse Daniela, segurando o celular.
Benito se aproximou de Daniela, a agarrou pela cintura e a beijou. Daniela tentou se esquivar, mas Benito a segurou com força.
"Me solte, seu cretino, idiota. Eu sou uma mulher casada", Daniela falou, tentando empurrar Benito.
"Isso não faz a menor diferença. Eu já lhe disse que não tenho ciúmes de você ou de quem quer que seja", respondeu Benito, confiante.
"Eu preciso ir embora, você quer anotar o número do meu celular?", disse Daniela, se aproximando de Benito.
O Estádio Municipal Tenente Siqueira Campos: um campo de memórias esportivas de Araraquara
O
antigo Estádio Municipal Tenente Siqueira Campos é, de fato, um marco na
história esportiva de Araraquara. Para muitas gerações, seu gramado emblemático
foi o palco onde o futebol da cidade desfilou, criando memórias e tradições.
Sua
localização peculiar, ao lado do Cemitério São Bento, conferia ao Tenente
Siqueira Campos uma atmosfera única, uma fusão de saudosismo e nostalgia. Essa
proximidade, para alguns, evocava a passagem do tempo e a efemeridade das
glórias. A presença de um flamboyant majestoso em frente ao portão principal
não só amenizava o calor dos jogadores e torcedores, mas também se tornou um
símbolo do local, um ponto de referência que guardava inúmeras histórias sob
sua sombra.
Este
estádio tem uma história rica, incluindo ter sido a casa da ADA – Associação
Desportiva Araraquarense. Este time, que vestia azul e branco, construiu sua
trajetória esportiva entre as décadas de 1950 e 1960. Seus duelos contra a
Associação Ferroviária eram lendários, dando origem ao famoso derby FERROADA.
Para
quem teve o privilégio de vivenciar a época áurea do Estádio Municipal Tenente
Siqueira Campos, é impossível não recordar as figuras icônicas que, com suas
personalidades e talentos, transformaram o local em uma verdadeira lenda do
esporte araraquarense. Essas pessoas não apenas fizeram parte da história do
futebol da cidade, mas também encarnavam o espírito do estádio:
O
Petita: O guardião das chaves do estádio, conhecido por sua bravura e por zelar
pelo local como se fosse sua própria casa. Ele era a primeira e a última pessoa
a ver o gramado, um símbolo da dedicação ao esporte.
O
Edimar Claro: Um goleiro lendário, cujas defesas tornavam sua meta quase
intransponível. Sua presença no gol inspirava confiança e era um pesadelo para
os atacantes adversários.
O
Chumbinho: Famoso por seu chute potente e seus gols homéricos, Chumbinho era o
artilheiro que decidia jogos e levava a torcida ao delírio. Seus arremates eram
sinônimos de perigo constante.
Seu
Armando Clemente: Um treinador de grande sapiência e clareza. Sua visão
estratégica e capacidade de transmitir seus conhecimentos aos jogadores eram
fundamentais para a construção das vitórias.
Zé
Lemão: Com seus gritos histéricos à beira do campo, Zé Lemão era um show à
parte. Apesar do jeito expansivo, sua grande capacidade de liderança e paixão
pelo jogo eram inegáveis.
Tota:
Um verdadeiro comandante, Tota tinha um jeito peculiar de liderar, apontando o
dedo e direcionando cada jogador. Sua presença era marcante e sua liderança,
decisiva para as conquistas do time. Entre muitos outros
O
Tenente Siqueira Campos não era apenas um campo de futebol; era um ponto de
encontro, um espaço de convivência e a materialização da paixão de Araraquara
pelo esporte. As histórias de partidas épicas, gols memoráveis e a energia da
torcida ainda ecoam nas lembranças daqueles que tiveram a oportunidade de
vivenciar a magia desse lugar.
Tuesday, 15 July 2025
O Beijo de Lamourette
"O
Beijo de Lamourette"
Robert
Darnton
Robert
Darnton Robert foi Professor da Universidade Carl H. Pforzheimer e
Diretor da Biblioteca Universitária de Harvard.
"O
Beijo de Lamourette" é uma obra que nos transporta para um período de
intensas transformações na França: a Revolução Francesa. O livro, escrito por Robert Darnton,
não é um romance histórico tradicional, mas sim uma profunda incursão no
universo da história cultural e intelectual.
O
título, intrigante, remete a um episódio real: o Beijo de Lamourette, um
momento de conciliação efêmera e, em última instância, ilusória, entre as
diferentes facções políticas na Assembleia Nacional durante a Revolução. Esse
evento serviu como uma metáfora para a fragilidade dos acordos e a inconstância
dos ideais revolucionários.
A
grande força do livro reside em sua capacidade de explorar as mentalidades, os
discursos e os símbolos que moldaram a experiência revolucionária. O autor se
debruça sobre uma vasta gama de fontes, desde panfletos e jornais da época até
correspondências pessoais e registros policiais, para reconstruir o panorama
intelectual e emocional daquele período. Ele nos mostra como as ideias
circulavam, como as paixões políticas se manifestavam e como a linguagem era
utilizada como arma e escudo.
Em
vez de focar nos grandes nomes e nos eventos macroscópicos, "O Beijo de
Lamourette" se aprofunda nos detalhes da vida cotidiana e nas pequenas
histórias que revelam as tensões e contradições da Revolução. O autor
investiga, por exemplo, a censura, a imprensa clandestina, as sociedades
secretas e a proliferação de boatos, demonstrando como esses elementos
contribuíram para a efervescência e a instabilidade do período.
Para
quem busca uma compreensão mais aprofundada da Revolução Francesa, para além
dos fatos cronológicos e dos nomes dos grandes líderes, "O Beijo de
Lamourette" é uma leitura essencial. É um livro que nos convida a pensar
sobre a natureza da história, a complexidade das mudanças sociais e o poder das
ideias. A escrita é densa, mas recompensadora, exigindo do leitor uma postura
ativa e reflexiva.
Thursday, 3 July 2025
Enquanto o infarto não vem...
Enquanto o infarto não vem, a noite
passa. Noite regada a charuto dominicano e vinho italiano - entre uma baforada
e outra, um gole no vinho encorpado, de vermelho renitente e viscoso.
Quando o dia amanheceu, a sua
cabeça estava parecendo um sino de Belém, tocava a todo instante em um volume e
tom, cujo som repercutia em ondas insistentes, desafiando até o mais precioso
dos diapasões. Era como se ecoasse dentro dos seus ossos.
Ele teve a certeza de que misturar
o aroma do vinho e o paladar do tabaco seria um convite a reflexão sobre
algumas coisas de sua vida. Uma ousadia líquida e sublime descia pela sua
garganta com a promessa de que aqueceria a sua alma.
Ledo engano, quando o sol
apontou no horizonte, a realidade se apresentou com todo o seu peso. À volta do
sofá, as garrafas vazias formavam um mosaico de excessos, testemunhas
silenciosas de uma noite de indulgência. O vinho, o companheiro vibrante e
saboroso, agora servia como lembrança de um prazer que cobrava o seu preço na
forma de ressaca.
No meio do caos matinal, entre os
resquícios de fumaça e o aroma do vinho, lembrou-se do português Osvaldo
Alcântara:
Enquanto o infarto não vem...
"Eu estarei de mãos postas, à
espera do tesouro que me vem na onda do mar...
A minha principal certeza é o chão
em que se amachucam os meus joelhos doloridos,
mas todos os que vierem me
encontrarão agitando a minha lanterna de todas as cores
na linha de todas as
batalhas."