Wednesday 22 August 2007

Lábios cor de sangue

Elas se prepararam como se fossem ir à festa. Salto alto, chapinha no cabelo, batom nos lábios e bolsa a tiracolo. Saíram de casa rumo ao ponto de ônibus. No caminho, um carro passou em baixa velocidade e cheio de rapazes. Um deles mais afoito fez beicinho para chamar a atenção das meninas. Leandra, a mais velha, fuçou na bolsa, tirou um calibre trinta e oito e apontou para o carro. Um dos rapazes viu a arma, pôs as mãos sobre a cabeça e o carro saiu em disparada. Leandra olhou a arma, assoprou o cano, caiu na gargalhada e disse à Marcela:
_ Esses caras não são de nada mesmo. E ainda tem a coragem de fazer biquinho. Que vão todos se foderem. Isso sim! Bando de idiotas. Guardou a arma, ajeitou o cabelo e saiu andando.
Marcela ficou calada. Nem esboçou um sorriso. Quando chegaram ao ponto, Marcela disse à Leandra:
_ Você faz o motorista. Eu faço o cobrador. Entendido?
Leandra simplesmente concordou balançando a cabeça. As duas sentaram no ponto, cruzaram as pernas. Marcela tirou um pequeno estojo de maquiagem da bolsa, retocou a maquiagem, mordeu os lábios para repassar o batom, guardou e ficou pacientemente esperando a lotação.
Quando esta chegou, estava lotada. Leandra disse:
_ É perigoso demais a gente pegar este bonde!
Marcela respondeu:
_ Viver é perigoso. Vamos nessa!
O motorista abriu a porta. Leandra sacou a arma, colocou-a na cabeça do motorista e lhe disse:
_ Não quero uma palavra, entendeu. Isso é um assalto. Diz Leandra com firmeza. Leandra olha para Marcela e faz sinal com a cabeça apontando o cobrador.
_Vamos logo! Diz Leandra para Marcela.
Um passageiro que estava ao lado, saca o rosário do bolso e começa a cantilenar aves-marias sem parar. Marcela diz para ele:
_ É melhor você parar se não ela não vai ser capaz de lhe salvar. Cale a boca. É serviço rápido. Fast-food, entendeu?
O motorista olhou atentamente a arma de Leandra, mas não se moveu. Uma senhora de idade que estava ao lado disse em voz alta:
_ É o fim do mundo. Até vocês?
Leandra respondeu prontamente:
_ Cala a boca tiazinha. Se não lhe mando para a terra do pé junto rapidinho, está ouvindo?
O cobrador assustado falou à Marcela:
_ Eu só tenho cinco reais em dinheiro. O resto é passe.
Marcela não falou nada ao cobrador apenas pegou o dinheiro e os passes em um saco plástico e ordenou o motorista que parasse. Quando ambas desceram do ônibus um policial que estava dentro do ônibus sacou a arma e quando foi atirar a arma estava travada. Apenas um tiro conseguiu dar. A arma caiu no chão. Marcela e Leandra se olharam e deram um tiro para cima.

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