Thursday, 15 August 2019
Lançamento do ebook - Políticas Públicas da Criança e do Adolescente: casos e experiências
https://www.amazon.com.br/Pol%C3%ADticas-P%C3%BAblicas-Crian%C3%A7a-Adolescente-experi%C3%AAncias-ebook/dp/B07WG98FY6/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&keywords=alexandre+pierini&qid=1565879564&s=books&sr=1-1
Textos do curso de pós-graduação em Políticas Públicas da Criança e do Adolescente que foram compilados para a organização do livro!! Esses trabalhos foram apresentados no Congresso de Políticas Públicas que ocorreu na Unesp - Campus de Franca no ano de 2016.
Friday, 8 February 2019
O Conservadorismo político: conceitos e discussões
O Conservadorismo político: conceitos e discussões
O termo “Conservadorismo” foi
criado pelo jornal de Chateaubriand na França em 1820, com a ideia de programar
a restauração política e clerical. Na Grã-Bretanha, apareceu pela primeira vez
no jornal Quarterly Review em 1830. Em meados da década de 1830 tornou-se a
designação oficial do partido Tori.
A
utilização do termo a partir de 1832 tentava sobretudo expurgar do partido as
antigas associações e trabalhar cuidadosamente um não rompimento com o passado,
mas uma certa alteração de rumo.
A
linha divisória que marca o pensamento conservador está centralizada sobre o
advento da Revolução Francesa. Um dos precursores do conservadorismo, Edmund
Burke se opunha às concepções elaboradas pela Revolução Francesa, que propunha
que os "homens eram iguais e sobretudo passíveis de aperfeiçoamento. Tal
aprimoramento podia ser desenvolvido pelo refinamento da razão humana e pela
reforma das instituições sociais e políticas". De certa forma, a Revolução
Francesa através de seu discurso modernizante fez com que os homens
acreditassem no auto-interesse racional e que este constituía a base suficiente
para a vida social, o seu bem-estar e sobretudo a felicidade. Nesse sentido,
tanto o pensamento como a ação de característica individual precisava se
libertar das questões tradicionais.
Por
conseguinte, o pensamento de Burke se apresenta com um posicionamento contrário
aos ideais revolucionários. Segundo Burke, os poderes racionais de todos os
indivíduos são limitados. A sociedade está interligada não pelas questões
racionais, mas pelas questões morais e pela força das tradições. O progresso da
civilização depende da manutenção da ordem social.
A
ideologia conservadora se caracterizou durante todo o século XIX pela defesa de
políticas com sentido negativo, entre elas cita-se a dificuldade de se adaptar
ao crescimento da democracia, a relutância em proporcionar sentido à soberania
popular ao imanente sufrágio masculino. Uma das características do
conservadorismo naquele contexto era apresentar distinções entre ricos e pobres.
Aqueles que não obtinham posse automaticamente ficavam excluídos do processo
político. A estabilidade e o interesse no bem comum estavam atrelados à
propriedade.
A
visão de conservadorismo que apresentou aspectos relevantes e se colocou no
contexto mundial como precursora do desenvolvimento tanto político quanto
econômico está atrelada ao pensamento inglês. Nos Estados Unidos vários
conservadores de renome defenderam a proposta do liberalismo clássico.
De
acordo com Vincent, o pensamento conservador pode ser classificado de cinco
formas distintas: conservadores, tradicionalistas, românticos, paternalistas,
liberais e da Nova Direita. A proposta que apresenta aspectos de hegemonia está
concentrada sobre o conservadorismo liberal. De acordo com essa visão, a
economia precede sobre todos os aspectos às questões políticas, a obrigação
precede o direito. "O conservadorismo liberal tende a aceitar a maior
parte dos dogmas formais do liberalismo clássico: ênfase no individualismo,
direitos pessoais e legislação mínima do Estado".
De
acordo com Hayek existem duas filosofias políticas que proporcionam suporte ao
liberalismo: a que se "baseia em uma interpretação evolucionária de todos
os fenômenos da cultura e da mente e numa visão introspectiva dos limites dos
poderes do raciocínio humano. E a que se baseia no "racionalismo
"construtivista", uma concepção que leva ao tratamento de todos
fenômenos culturais como produto de desígnio deliberado".
No
primeiro momento, o conservadorismo liberal se opôs às políticas liberais
apresentando teorias que não convergiam com as propostas liberais. O
conservadorismo se opunha sobretudo contra os aspectos históricos, tradicionais
e morais que regiam a sociedade.
De
acordo com Giddens, os principais conceitos do conservadorismo são: a
autoridade que está relacionada com os contratos, a lealdade que se relaciona
com a subserviência e submissão às questões da autoridade e a tradição, que se
refere aos costumes e cerimoniais. O ponto de divergência cabal entre o
conservadorismo e o liberalismo situa-se sobre as questões que se referem à
racionalidade. A dicotomia entre a teoria e a prática.
O
conservadorismo não está concatenado com a questões racionais, com o domínio
cognitivo da natureza e sim sedimentado sobre as questões práticas e
sentimentais do cotidiano. O processo de racionalização do mundo ocidental
parte portanto, "da necessidade das religiões mundiais de subsistir a
magia pelo domínio cognitivo da natureza e por uma explicação ética capaz de
ser justificada".
Se
para Oakeshott, o conservadorismo se apresenta como algo avesso às mudanças,
para o conservadorismo moderno a mudança é de vital importância para sua
sobrevivência. Sem o processo de alterações constantes da sociedade, sem a
apresentação do novo, o conservadorismo moderno está fadado ao fracasso.
De
acordo com Giddens, o velho conservadorismo "defendia a hierarquia, a
aristocracia, a primazia da coletividade, ou do Estado, sobre o indivíduo, e a
importância proeminente do sagrado". Por conseguinte, um questionamento se
faz necessário nesse momento. Até que ponto existem convergências entre o
conservadorismo e a nova direita?. Um ponto de convergência crucial que os
tornam praticamente inseparáveis está relacionado com a questão libertadora do
empreendimento mercadológico. A posse da propriedade enfocado pela nova direita
reforça a tese conservadora e promove sobretudo o bem-estar familiar. O novo
mercado pregado pela nova direita não se compatibiliza com a intervenção do
Estado. A intervenção do Estado só é cabível para a manutenção da ordem e da
lei que se relaciona com os princípios hierárquicos conservadores. Tendo em
vista o declínio da família, instituição a qual é defendida ferozmente pelos
conservadores a nova direita atribui a culpa aos intelectuais e ao
permissivismo da esquerda. Segundo Giddens, "as mudanças estruturais que
afetam a família, e outras áreas da vida social fora da esfera do trabalho
assalariado, são estimuladas pelas próprias influências promovidas pela Nova
Direita e o seu disfarce neoliberal.
Nesse
sentido, as alterações e mudanças sociais provocadas pela nova direita choca-se
com a visão mais arcaica do conservadorismo, ou seja, aquela ligada com as
questões referentes à tradição. Internacionalização do capital, comunicação
eletrônica, mercado financeiro, são atuações marcantes do discurso hegemônico
liberal. No entanto, proporcionam o que Giddens denomina de destradicionalização
para quem significa uma "aceleração da reflexividade social
intensificada". Tal visão se contrasta com a proposta de Oakeshott para
quem o conservadorismo "prefere o conhecido ao desconhecido, o que foi
experimentado ao que não o foi, o fato ao mistério, o real ao possível, o
limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao superabundante, o
conveniente ao perfeito, o riso de hoje à felicidade utópica".
A
nova direita se relaciona com a supremacia econômica devido ao seu caráter
prático, imediatista, de tempo real. Nesse sentido, se opõem às questões
longínquas da política. A política para a nova direita se relaciona com os
aspectos teóricos das questões da vida e se identifica com o processo da razão
abstrata, tão refutada pela ideologia conservadora.
Uma
das características do antigo conservadorismo concentra-se sobre a busca
constante pelo equilíbrio da identidade. O novo conservadorismo se fortalece
com a quebra, com a ruptura das identidades. A identidade para o novo conservadorismo
é sempre transitória, fugaz, uma vez que a busca incessante pelo inexplorado
apresenta-se de forma latente na sociedade.
A
homogeneização dos discursos é um dos trunfos da nova direita. A supressão das
culturas e o desprezo pelas questões locais são características marcantes do
neoliberalismo vigente. Tal característica diverge da proposição política dos
conservadores que a veêm somente com características artísticas e de
conversação.
O
ponto de convergência central entre a democracia e o conservadorismo se
estabelece na esfera da individualidade. O termo democracia não se relaciona
com a democracia dos antigos propostas por Bobbio, aquela cuja centralidade
está no indivíduo, mas sim aquela que se denomina como democracia
representativa.
Nesse
sentido, o elo entre o conservadorismo e o sistema democrático está em que
ambos enxergam o indivíduo dotado de aspectos morais e permeado pelas questões
do direito que lhe é inerente por natureza.
Na
democracia moderna como expõe Bobbio " o soberano não é o povo, mas são
todos os cidadãos". Nessa mesma linha de raciocínio Bobbio continua
"a democracia moderna repousa em uma concepção individualista da
sociedade"
O
Estado para o velho conservadorismo era centralizador e autoritário,
apresentando uma idéia de república unitária, sendo o Estado o regulador da
própria sociedade.
Nesse
sentido, o velho conservadorismo apropria-se do discurso de Hobbes, assumindo
um Estado absolutista, não só impedindo a "guerra de todos contra
todos", mas principalmente para a manutenção do "status quo" da
elite dominante.
O
novo conservadorismo apresenta aspectos que de certa forma "rompem"
com os discursos do velho conservadorismo. O novo não se apropria do Estado,
mas utiliza-o para os seus próprios interesses. O novo conservadorismo não
busca na religião os seus anseios. A racionalidade proporciona sentido à vida.
A técnica se sobrepõe ao nepotismo.
O
novo conservadorismo ao contrário do velho, "incorpora" as massas nas
decisões políticas. Cabe ressaltar que essa incorporação está restrita somente
às questões de representação e não sobre a perspectiva de efetividade.
Por
conseguinte, a sociedade contemporânea passa por momentos de transformações. De
acordo com Giddens "as transformações institucionais, particularmente as
que sugerem que estamos nos deslocando de um sistema baseado na manufatura de
bens materiais para outro relacionado mais centralmente com informação."
As transformações institucionais
ocasionadas pelo mundo pragmático da informação, transformou também as relações
políticas. A vivência do mundo em tempo real, a relação espaço-tempo marcou um
processo revolucionário, não no sentido marxista de ruptura, mas sim um
processo de transformação extrema sobre as verdades políticas, antes expressas
tanto por membros da direita, quanto por membros da esquerda.
Se o
velho conservadorismo apoderava-se do Estado e impunha uma visão nacionalista,
o novo conservadorismo apóia-se sobre o Estado dando-lhe um viés
internacionalista. Uma relação de subserviência para com as políticas ditadas
pelo exterior.
As
transformações ocorridas na sociedade através do que podemos denominar de
modernidade, serviram para estabelecer conexões sociais com conotação
internacional.
Thursday, 31 January 2019
Discussão sobre Grupos de pressão, grupos de interesses e lobbyng
Grupos de Pressão, Grupos de Interesses e Lobbyng: conceitos e discussões
Muito se discute na literatura
política a respeito de grupos de interesses. As discussões mais freqüentes
sobre o tema está relacionado com a posição do Estado. O Estado serve para
estabelecer parâmetros sobre a coisa pública ou sobre a coisa privada. Até que
ponto ambos, o público e o privado se fundem.
Distinções
são estabelecidas entre grupos de interesses, grupos de pressão e lobbying. No entanto, para um leitor
leigo no assunto, todas as definições relacionadas fazem parte do mesmo
fenômeno, ou seja, o uso de quaisquer dos termos não faz diferença, uma vez que
possuem características semelhantes. Os termos grupos de interesses e grupos de
pressão apresentam semelhanças entre si. Muito embora as denominações possam
variar, os conceitos apresentam semelhanças, o que proporciona o entendimento
de que o problema se caracteriza apenas como semântico. O conceito relacionado
ao lobbying se distingue dos outros
dois por se tratar de um processo utilizado para a obtenção dos resultados
desejados.
Grupo
de interesse, segundo BOBBIO (1985, p. 563), "é qualquer grupo que, à base
de um ou vários comportamentos de participação leva adiante certas
reivindicações em relação a outros grupos sociais, como fim de instaurar,
manter ou ampliar formas de comportamento que são inerentes às atitudes
condivididas". Grupos de pressão, para TOLEDO (1985, p. 3),
"constituem-se em organizações ou entidades que procuram influenciar no
processo de decisão de órgãos estatais, visando ao atendimento de seus
objetivos específicos". Lobbying,
no trabalho de BOBBIO (1985, p.564), "é o processo por meio do qual os
representantes de grupos de interesses, agindo como intermediários, levam ao
conhecimento dos legisladores ou dos decision-makers
os desejos de seus grupos".
Muito
embora a literatura seja vasta sobre o tema, os conceitos expostos no trabalho
possuem o intuito de fundamentar metodologicamente o trabalho. Quanto ao termo
escolhido para o desenvolvimento do assunto, faz-se necessário salientar que se
trata apenas de uma questão semantica, mas que leva em consideração os
mecanismos utilizados para a conquista de objetivos. Isso quer dizer que
poderia ser utilizado o termo grupo de interesse para a consecução dos
trabalhos. O termo grupo de pressão se caracteriza como um processo mais enfático
de atuação, possuindo um perfil mais adequado para os objetivos do presente
trabalho. Os vocábulos, interesse e pressão se caracterizam como antagônicos,
ou seja, o termo interesse é mais sublime, sutil, enquanto pressão se
caracteriza como uma palavra forte e que esboça uma determinada reação ou não
por parte de quem sofre o intento.
No
entanto, para o referido trabalho será utilizado a expressão grupo de pressão.
A expressão grupo de pressão será utilizada pois acredita-se que a mesma
apresenta um conceito mais relacionado com os assuntos estatais. A utilização
do termo grupo de pressão está baseada no conceito de Toledo, ou seja, o autor
relaciona o grupo de pressão com os assuntos inerentes ao Estado.
O
que encontra se em evidência no referido trabalho é o poder do Estado e os
grupos que de alguma forma tentam influenciá-lo quanto às tomadas de decisão.
Por conseguinte, cabe aqui
distinguir dois tipos de grupos de pressão: os que agem com finalidades
econômicas, ou seja, aqueles que trabalham para conseguir recursos provenientes
do Estado e que têm uma previsão de curto prazo para a realização dos seus
interesses, e os grupos de pressão, que agem com finalidades políticas, ou
seja, atuam junto ao Estado para conquistar os seus interesses com uma visão de
longo prazo e de uma forma mais permanente, atuando na elaboração de
determinadas políticas, ou muitas vezes aplicando-as. Contudo, precisa ser
esclarecido que a atuação junto à formulação de políticas não dispensa o
usufruto econômico das questões do Estado, a mesma serve apenas de um porto
seguro para as pretensões de determinados grupos quanto às questões de
perspectivas de futuro, enquanto os grupos de pressão com características
econômicas atuam de uma forma imediata explorando apenas os processos de
licitação do Estado. A questão econômica para os grupos de pressão com
características políticas torna-se uma relação posterior ao êxito político,
cuja previsibilidade de investimento e perspectiva já estarão de certa forma
garantidas.
Parte-se
da prerrogativa de que existem grupos de pressão que se formam de maneira
exógena ao Estado e que sobretudo tentam influenciar as tomadas de decisão, no
sentido de beneficiar-se de alguma forma, seja no âmbito econômico ou mesmo no
âmbito político. Parte se da prerrogativa de que existem núcleos de poder
exógenos ao Estado. O Estado não se caracteriza como única fonte de poder. Os
vários segmentos do mercado possuem cada um com suas próprias características
seus próprios núcleos de poder e lutam sobretudo não somente para a manutenção
de seus interesses, mas sobretudo pela ampliação dos seus objetivos.
Os
grupos que se apresentam como endógenos ao Estado, possuem uma característica
distinta. Esses grupos atuam através dos aspectos legais do Estado, ou seja,
atuam sobre o consentimento do próprio Estado. Por consentimento de Estado,
tem-se que inúmeros cargos políticos são da ordem de indicação do Poder
Executivo. Um determinado ministro ou secretário de Estado pode ser ligado a um
determinado grupo de pressão e ser nomeado pelo Poder Executivo.
Os
grupos de pressão não agem somente através dos partidos políticos, não que
houvesse ou haja uma receita para a atuação de um determinado grupo de pressão,
cada grupo delineia a sua própria forma de atuar, seja junto ao Executivo de
forma direta, ou mesmo sobre o Poder Legislativo ou sobre o Poder Judiciário.
O
principal questionamento dos grupos de pressão é sobre o local da tomada de
decisão. A partir da localização do núcleo de poder, elabora-se um plano de
ação que será alvo das pressões para a conquista de um determinado intento.
O
grupo de pressão pode atuar de várias formas quanto à abordagem do objetivo a
ser alcançado. Pode lutar para a inclusão de seus membros na Assembléia
Legislativa e através deles apresentar propostas que lhe beneficiem de forma
direta, ou mesmo financiando campanhas de deputados ou vereadores que
compartilham o mesmo ideal. Os grupos de pressão podem atuar junto às várias
comissões de orçamento das Câmaras Legislativas que pode ser tanto do âmbito
municipal, estadual ou mesmo federal, que possuem a missão de avaliar não
somente os assuntos econômicos, mas sobretudo os aspectos de regulamentação de
um determinado assunto específico utilizando a prática do lobbying onde se
discute de forma direta o assunto desejado, ou mesmo na abordagem direta dos
membros do Poder Executivo, utilizando as Secretarias de Estado para levar os
seus intentos adiante.
Os
grupos de pressão agem sobre um determinado alvo (instituição pública), que
pode ser o Poder Executivo, o Poder Legislativo ou o Poder Judiciário, para
atingir determinados objetivos. Com a redução dos poderes do Poder Legislativo
a influência dos grupos de pressão recaiu sobre o Poder Executivo, de acordo
com CLEVE (2000 p. 101): "...com a redução da capacidade do Congresso em
legislar sobre matéria econômica e financeira, as entidades privadas deslocaram
o lobby do Legislativo para o Executivo, onde é mais, muito mais fácil
influenciar um técnico que vai emitir um parecer do que influenciar quatrocentos
e vinte deputados e sessenta e sete senadores".
Os
grupos de pressão agem sobre o Poder Executivo por ele possuir prerrogativa
muito forte de poder de influência. DAHL (1983, p. 26), define "Influência
é uma relação entre atores tal que os desejos, preferências ou intenções de um
ou mais atores afetem a conduta, ou a disposição de agir, de um ou mais atores
distintos". O que se caracteriza como influência para Dahl, se apresenta
para Bachrach e Baratz como poder. Poder para ambos se apresenta como um aspecto
relacional dependendo do caso específico a ser estudado. "Se A tem poder
sobre B simplesmente porque B, ansioso por evitar sanções se submete a uma
determinada política A" BACHRACH e BARATZ (1983 p. 47).
Apesar
do conceito de poder ser importante para o desenvolvimento de nossas reflexões
é sobre a questão da influência que recai a maior preocupação. Como Dahl
"equaciona poder com influência coercitiva, "ligando-a"
especificamente ao estado" WOOTON (1969 p. 134), o conceito de influência
se desenha da seguinte forma, uma "relação entre atores em que um ator
induz outros atores a agirem de algum modo que, em outras circunstâncias, não
agiriam" WOOTON (1969 p. 135).
Segundo
WOOTON (1969 p. 139), são quatro as medidas possíveis de influência dos grupos
de pressão:
I – Quantos alvos esse grupo de
pressão pode influenciar?
II – Até que ponto o alvo
específico teve de mudar de posição sob o impulso do grupo de pressão?
III – O que a mudança em II custou
ao alvo em termos de compromisso normativo?
IV – Em quantos campos de ação (ou,
em que extensão total) pode um grupo de pressão agir?
Os
grupos de pressão se dividem em "duas grandes categorias: os permanentes e
os temporários" WOOTON (1969 p. 135) . Devido a instabilidade do
comportamento dos diferentes grupos existentes torna-se difícil uma
classificação exata dos mesmos, onde atitudes e interesses podem sofrer
modificações constantes mas os grupos permanentes possuem mais condições de
aplicar sanções, pois atuam de forma perene sobre as ações das instituições públicas,
portanto, lutam para a implantação de votação de determinados projetos de lei e
se caracterizam como grupos de pressão político, enquanto que os grupos de
pressão temporário agem mais no sentido de conseguir uma vaga num processo de
licitação específico se caracterizando como grupos de pressão econômico. Vale
ressaltar que tal classificação pode se alterar devido ao processo dinâmico que
permeia tal relação.
Wooton chega a seguinte classificação
dos grupos de pressão:
Grupo de pressão econômico: fábrica,
usinas, minas, escritórios, fazendas, ou as entidades jurídicas (firmas
comerciais, sociedades anônimas);
Grupos de pressão integrados:
instituições jurídicas;
Grupo de pressão cultural (sentido
amplo): famílias, igrejas, escolas.
A
classificação proposta pelo autor assim como exposto anteriormente não se
caracteriza como algo fechado e absoluto. No que diz respeito aos grupos de
pressão econômico, os mesmos podem possuir interesses fugazes, ou seja, estarem
interessados em um determinado processo de licitação específico ou mesmo na
implantação e votação de um determinado projeto de lei específico e agir como
um grupo de pressão político. O que precisa ser salientado é que, seja qual for
a característica do grupo de pressão, o mesmo irá atuar tendo como alvo uma
determinada instituição pública para a obtenção dos seus objetivos.
Tuesday, 29 January 2019
Resenha do livro: Governança democrática e poder local
SANTOS JUNIOR, Orlando Alves dos; RIBEIRO, Luiz Cesar de
Queiroz; AZEVEDO, Sergio de (orgs). Governança democrática e poder
local: a experiência dos conselhos municipais no Brasil. Rio de
Janeiro: Revan, Fase, 2004.
Resenha
A experiência dos Conselhos Municipais no Brasil coincide com o limiar
da crise que aflige o sistema democrático em todo o mundo.
Mesclar
a democracia representativa com a democracia direta foi a alternativa
encontrada para diminuir os impactos causados pela inoperância do
atual sistema. Se for levada em consideração a premissa levantada por Bobbio
(1) de que a democracia não cumpriu as suas promessas e por isso necessita ser
reinventada, os autores do presente livro apontam justamente para o ponto
nevrálgico do sistema – os Conselhos Municipais. Surgem como um ponto de apoio
para a democracia representativa, uma vez que se trata de um mecanismo de
democracia direta inserido no contexto político brasileiro.
A
experiência dos Conselhos Municipais no Brasil, assim como os estudos que
permeiam a referente obra levantam duas questões que trabalham no sentido de
contribuir para a não operacionalização das atividades propostas pelos
Conselhos, mas que convivem conjuntamente para proporcionar a fase inicial de
um processo de transformação política – de um lado, encontra-se o sistema
educacional brasileiro que não apresenta uma formação adequada aos cidadãos, o
que dificulta a inserção dos mesmos nos canais de participação e efetivação do
processo democrático, por outro lado, tem-se a formação do Estado brasileiro
que possui em seu histórico tomadas de decisões com características verticais
sem consulta às bases, fruto de mecanismos políticos autoritários.
Isso
significa que a obra denuncia a gestação de uma transformação do processo
político brasileiro calcada no exercício da cidadania política, mesmo possuindo
pontos de adversidades para o sucesso da empreitada – trabalhando sob a
anuência da Constituição Federal que proporciona respaldo e subsídio através do
macro sistema político, os autores contemplam de forma significativa ascriações políticas
dos governos municipais e da sociedade civil das principais capitais
brasileiras, uma vez que as mesmas fomentam o exercício da cidadania política,
abrindo espaço para a criação de uma sociedade poliárquica (2) no
sentido dahlsiniano.
Ora,
isso não significa que o Brasil se transformará em uma ágora gigante,
nem marca um regresso à democracia dos antigos, como expõe Bobbio, apenas
trata-se de um processo de aperfeiçoamento da democracia – democracia marcada
pela acelerada urbanização e pelo superpovoamento. A obra aponta caminhos para
que a democracia torne a trilogia input, output e feedbackfenômenos
repetitivos e constantes no cenário contemporâneo.
Pretendendo
estabelecer diretrizes para a inserção dos Conselhos Municipais no cotidiano
político brasileiro, os autores trabalharam com muita perspicácia o
conceito de governançademocrática – “padrões de interação entre as
instituições governamentais, agentes do mercado e atores sociais que realizam a
coordenação e, simultaneamente promovam ações de inclusão social e assegurem e
ampliem a mais ampla participação social nos processos decisórios em matéria de
políticas públicas”.
Através do
conceito exposto, percebe-se que os autores contrapõem o Estado, o mercado e a
sociedade civil como atores principais do sistema democrático em voga, mas,
será que os governos municipais são capazes de concatenar e aglutinar os
interesses do poder público, do mercado e da sociedade civil em seu interior?
De acordo com
os estudos referidos na presente obra 62% dos conselheiros possuem alto nível
de escolaridade, desse total, 81% são conselheiros do setor governamental,
representando assim o fenômeno da tutela e da elitização dos mecanismos
democráticos, fomentadores da participação cidadã proposta por Gohn. Muito
embora o quadro apresentado pelos Conselhos Municipais das principais capitais
brasileiras demonstre a forte influência do governo local em suas composições é
justo afirmar que os mesmos também são palcos da luta entre os movimentos
sociais organizados e os grupos políticos locais que lutam de forma constante
para a manutenção ou a ampliação dos seus poderes.
A
obra apresentada por Santos Junior, Ribeiro e Azevedo merece ser vista
como instigante e inovadora, uma vez que apresenta subsídios importantes para
uma sociedade mais democrática e participativa além de nos convidar ao trabalho
do pensamento para a construção de um novo modelo político.
Notas:
1. Na obra “O futuro da democracia”, Norberto Bobbio faz menção de que a
democracia não cumpriu as suas promessas e por isso faz-se necessário
reinventá-la.
2. O conceito de poliarquia é proposto por Robert Dahl na
obra denominada “Poliarquia”, segundo o autor, “poliarquia são regimes que
foram substancialmente popularizados e liberalizados, isto é, fortemente
inclusivos e amplamente abertos à contestação pública” .
Wednesday, 23 January 2019
Andre Trigueiro: Resenha do livro "Meio ambiente no século 21"
TRIGUEIRO, A. Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de conhecimento. 4 ed. São Paulo: Autores Associados, 2005.
“Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de conhecimento” (Armazem do Ipê, 4 ed, 2005, 367 p.) do jornalista André Trigueiro, traz um conjunto de artigos escritos por vários autores sobre o Meio Ambiente.
O autor inicia o livro escrevendo sobre a falta de entendimento sobre o conceito de meio ambiente – de uma forma geral, meio ambiente é confundido com o que as pessoas conhecem como fauna e flora, não relacionando o termo com a amplitude que deveria ser utilizado – na verdade, aponta para a dificuldade em se estabelecer um nível de consciência ambiental.
É sobre essa perspectiva que o livro encontra-se organizado e com 21 textos que nos remete ao século XXI e as discussões relacionadas ao meio ambiente – entre os autores, existem renomados profissionais, como exemplo, podem ser citados: Fritjof Capra, Gilberto Gil, Leonardo Boff, Fernando Gabeira, entre outros.
O primeiro capítulo do livro trata-se de um artigo do renomado físico Fritjof Capra, onde o autor discorre sobre o tema: alfabetização ecológica – nesse contexto, Capra aponta para o nascimento do conceito de sustentabilidade, para isso busca entendimento no Relatório Brundtland organizado pelas Nações Unidas, onde vincula a preservação do meio ambiente como condição necessária para a construção do futuro.
Para Capra, existe uma dificuldade de organizar e operacionalizar o conceito de sustentabilidade e o melhor caminho para isso é a educação, através do que ele denomina de alfabetização ecológica - pois acredita que a compreensão dos princípios de organização dos ecossistemas é fundamental para a manutenção da teia da vida.
De uma forma geral, Capra estabelece a necessidade de organização de um novo curriculum na educação, onde pode se estabelecer padrões e significados diferentes às crianças, através do processo de aprendizagem.
Padrões estes estabelecidos em cima de uma educação ambiental mais prática, como exemplo o autor cita a organização de hortas nas escolas, como condição sine qua non para a construção de uma relação mais sólida entre as crianças e o meio ambiente, tendo em vista o envolvimento estabelecido.
Leonardo Boff, o teólogo inicia o segundo capítulo tecendo uma crítica ao modelo de desenvolvimento em voga, criticou de forma voraz a cultura do consumismo e com muita perspicácia discorre sobre a importância da espiritualidade para a mudança do paradigma vigente.
A espiritualidade é importante tendo em vista a sua capacidade de alterar o relacionamento entre os homens e a Terra – de acordo com Boff, a espiritualidade é significativa pois passa a transformar e deixar transparente a experiência interior, afastando a relação intelectual e mais científica que determina as ações contemporâneas – nesse contexto, a capacidade de redução do consumo seria significa, uma vez que colocaria limites à voracidade humana, preservando a natureza e contribuindo para o desenvolvimento do conceito de sustentabilidade.
Gilberto Gil utiliza a sua experiência como ex-Ministro da Cultura, ex-presidente da Fundação Gregório de Mattos de Salvador, para escrever sobre o meio ambiente e a cultura. Para Gil, a natureza é uma criação cultural, e que a cada época se constrói uma visão de natureza.
No Brasil, mesmo com o processo de degradação da natureza que marcou a fase inicial de seu descobrimento, existia um certo criticismo contra o desmatamento desmedido. Nesse contexto, Gil cita o historiador e cientista político José Augusto Pádua, onde o intelectual defendia a tese de que a devastação ambiental era um obstáculo ao desenvolvimento econômico do país – dessa forma, o autor sai do lugar comum, onde se apregoa esse criticismo como sendo um fato relacionado à contemporaneidade, o que torna o texto muito interessante.
O autor escreve sobre a sua experiência como Ministro e Secretário da Cultura para falar sobre o processo de intervenção cultural no Brasil – cita vários projetos culturais de integração entre homem e natureza na tentativa de se criar no país um conceito mais profícuo de sustentabilidade – essas experiências de uma forma geral estão atreladas à relação entre a religião e a sociedade, o que resgata um pouco o tema do artigo anterior escrito por Leonardo Boff e que está relacionado à espiritualidade, nesse sentido, vale apena ressaltar a integração e parcimônia entre os textos, estabelecendo um link entre as temáticas – vale ressaltar que as experiências citadas descrevem a atuação das religiões afro, principalmente ao candomblé, onde se ressalta os elementos divinos da natureza.
A proposta inicial levantada por Trigueiro no livro está relacionada com a construção de uma consciência ecológica – nesse contexto, o artigo de Samyra Crespo sobre a evolução da consciência ambiental no Brasil traz uma contribuição significa para o debate sobre a temática, tendo em vista que a autora buscou nas pesquisas de opinião o desenvolvimento do pensamento sobre os problemas ambientais no país.
Samyra organizou pesquisas sobre a temática ambiental e desenvolveu vários trabalhos a partir a Rio 92 – foram três pesquisas, feitas nos anos de 92, 97 e 2001, onde a autora buscou nos quatro cantos do país, a opinião dos brasileiros sobre a relevância ou não da problemática ambiental e o seu constante processo de evolução no país.
Através dessas pesquisas a autora foi capaz de traçar um perfil sobre o quadro ambiental brasileiro, tendo como base as diferenças regionais, as posições das várias classes sociais, assim como o pensamento de homens e mulheres, mas o ponto mais alto dos estudos foi o diagnóstico de que mesmo com todas as dificuldades de um país em desenvolvimento e a ação do poder público, ocorreu um processo de evolução do pensamento ambiental no Brasil.
O pensamento ambiental no Brasil não podia ter se desenvolvido sem o papel significativo da imprensa – é sobre esse tema que o organizador do livro, Andre Trigueiro se debruça em seu texto. Trigueiro destaca o papel fundamental do programa Globo Reporter como meio difusor do meio ambiente no Brasil, cita também a importância do papel da imprensa, como órgão disseminador e educativo que assumiu diante das mazelas trazidas pelo modelo de desenvolvimento: desmatamento, enchentes, raios ultravioletas, poluição, etc.
Um ponto interessante mencionado por Trigueiro, está relacionado com o nível de conhecimento sobre meio ambiente que os jornalistas possuem – aponta que os profissionais que trabalham com a temática atualmente foram auto didatas em adquirir conhecimento e que os mais novos possuem mais vantagens por encontrar a temática dentro da sociedade brasileira mais trabalhada e com os conceitos mais direcionados – essa constatação vem juntamente com as pesquisas mencionadas pela Samyra no texto anterior, onde através das pesquisas, percebeu-se um certo amadurecimento da sociedade brasileira para as questões ambientais.
Tuesday, 22 January 2019
A diferença entre a democracia dos antigos e a democracia dos modernos
A diferença entre a Democracia
dos antigos e a Democracia dos Modernos
O que é que torna os gregos diferentes dos outros povos? A
consideração a ser tecida encontra-se na distinção de seu pensamento. Enquanto
outros povos procuravam em Deus as respostas para as suas perguntas, os gregos
buscavam sobretudo na razão, a saída para os seus problemas com características
políticas. Foi sobre esse prisma que as primeiras linhas sobre a liberdade
foram traçadas e desenvolvidas.
De acordo com Barker (1978, p. 22)
...
o sentido do indivíduo foi, portanto, elemento primordial no desenvolvimento
político do pensamento político helênico. Este sentido se manifestava tanto na
teoria como na prática; e se transformava em ação sob a forma de um conceito
prático de livre cidadania, dentro da comunidade autogovernada – conceito que é
a essência da cidade-estado grega.
Os gregos deixaram um legado político para o ocidente porque
foram capazes de fazer com os homens se submetessem à força da lei como um
ponto em comum. Os homens eram vistos através do ponto de vista da isonomia, ou
seja, todos os homens eram iguais perante a lei. A comunidade grega era formada
por indivíduos e estes formavam o Estado. Assim, delineava o que Barker (1978,
p. 24) “o homem comum, através do princípio da igualdade jurídica encontrava na
prática a superioridade que a riqueza, o nascimento elevado e a cultura da a
alguns”.
A teoria política se desenvolveu de forma contumaz nesse
período, porque algumas questões fundamentais para o debate político se
estabeleceram. A luta pela liberdade, a contraposição impostas pelos aristocratas
aos democratas no sentido de se manterem no poder e lutarem pelos seus próprios
interesses, a questão da individualidade foram alguns pressupostos filosóficos
discutidos que serviram de base para a construção da teoria política.
Em Atenas, a liberdade era um direito de nascença; esta
liberdade significava “viver como se quisesse” na sociedade, e o poder soberano
da maioria, no campo político. O termo “igualdade” era uma senha e significava
“isonomia”, ou a igualdade da Lei para todos os cidadãos; “isotimia”, ou igual
respeito para com todos; e “isagoria”, ou igual liberdade de expressão (BARKER,
1978, p. 35).
A relação entre estado e sociedade na Grécia antiga era
diferente da concepção contemporânea. Na visão grega, o indivíduo era
valorizado pelo que ele representava para a comunidade, embora os gregos na
conseguiram conceber e desenvolver os direitos individuais, mas foram capazes
sobretudo de desenvolver a solidariedade e as questões referentes à cidadania.
Segundo Ober (2001, p. 192)
...a
cidadania não era baseada na riqueza, no lugar do nascimento ou numa linhagem
nobre. Na Atenas clássica, se um homem pudesse demonstrar que seus pais eram
atenienses, se era aceito por um voto de seus vizinhos e se não fora declarado
culpado de algum crime contra o Estado, era um cidadão livre – com um direito
de voto igual e voz igual na assembléia dos cidadãos -, sem levar em conta sua
posição social. A liberdade, a igualdade política e a dignidade – a proteção do
cidadão diante dos ataques públicos dos poderosos – eram marcas da democracia
direta que se desenvolveu inicialmente na Atenas clássica.
Embora os gregos tenha se preocupado com a questão da
individualidade, o norte dos problemas era a relação deste com o Estado. A
questão do Estado era preocupante para os gregos porque ele tinha que possuir
uma linha de ação onde não fosse capaz de atingir os direitos individuais. O
Estado na visão grega tinha que ser capaz de garantir os direitos dos
indivíduos.
O Estado na concepção grega já apresentava sinais de que não
sofria intervenção da religião, portanto, era um indício de que a laicização do
Estado já apresentava sinais claros de que o que determinava as ações deste era
o racionalismo e não as questões religiosas.
Por democracia dos antigos tem-se o sistema de governo
existente na Grécia antiga, mais especificamente o período marcado entre os
séculos VI e IV antes de Cristo. Esse período da humanidade foi marcado por
intensos debates sobre a conduta dos homens tendo em vista as relações
políticas.
A palavra democracia na concepção dos antigos pode ser
interpretada de forma literal como realmente sendo o poder do demos ou do povo,
embora muitas pessoas fossem excluídas das decisões políticas. “Na Atenas,
muitas pessoas eram excluídas da cidadania: os escravos, a maioria dos
estrangeiros e as mulheres” (OBER, 2001, p. 191).
Na
visão de Bobbio (2000, p. 372)
Para os antigos a imagem da democracia era completamente
diferente: falando de democracia eles pensavam em uma praça ou então em uma
assembléia na qual os cidadãos eram chamados a tomar eles mesmos as decisões
que lhe diziam respeito. “Democracia” significava o que a palavra designa
literalmente: poder do demos e não, como hoje, poder dos representantes do
demos.
A questão da soberania do povo só vai nascer no sistema
democrático com a implementação do sufrágio universal . O instrumento do
sufrágio só foi colocado em prática no mundo a partir do século XIX, mas, a
contribuição dos gregos para o desenvolvimento da democracia foi o
estabelecimento da noção de que todos devem participar da decisões políticas,
independentemente de cor, raça e condições de classe social.
Não podemos imaginar ainda na sociedade grega, os implementos
legais estabelecidos através de legislações eleitorais, até porque tratava-se
Atenas de apenas uma cidade-estado, um lugar, com características diminutas se
comparado aos grandes Estados contemporâneos. E por possuir um território
pequeno estabelecia-se facilmente a reunião das pessoas da polis para discutir
os problemas políticos existentes e sobre esse foco residiu uma das críticas
mais contumazes sobre o sistema democrático, estabelecido pelo pensador francês
Jean Jacques Rousseau que viveu no século XVIII, que a democracia plena só pode
ser exercida em um território com dimensões pequenas.
Mais
do que um sistema de governo, a democracia representou o desenvolvimento de uma
filosofia. De acordo com Lipson (1966) a democracia grega em seu bojo, um
contexto social, um sistema governamental e os ideais filosóficos.
Os
critérios da democracia grega, segundo Lipson (1966, p. 51) são os seguintes:
Contexto
social
·
Governo pelos pobres;
·
Exploração pelos ricos,
·
Abolição da escravidão da dívida e das qualificações de propriedade para
exercício de cargos
·
Oportunidade para o talento individual, independentemente da posição de família
ou riqueza.
Sistema
Governamental
·
Deliberação e decisão públicas, por todos os cidadãos, resultando em Governo da
maioria;
·
Maioria de cargos preenchida indiscriminadamente;
·
Todos os funcionários são responsáveis, Júris compostos por grande número de
cidadãos
Ideais
Filosóficos
·
Igualdade;
·
Igualdade (= liberdade) de expressão; tomada negativamente como domínio da
ignorância;
·
Liberdade e versatilidade; encaradas negativamente como licença e desordem;
·
Obediência à autoridade da lei e dos funcionários públicos;
·
Participação constante em atividades cívicas;
A polêmica em torno da democracia se estabeleceu devido ao
processo de liberdade proporcionada ao povo e aos pobres para a tomada de
decisões. Se na atualidade a democracia dos modernos como é chamada por Bobbio
(2000) é vista através de uma perspectiva positiva, na Grécia se estabelecia de
forma distinta e a democracia era vista pela perspectiva negativa. Tanto
Aristóteles, quanto Platão criticavam seriamente os sistema democrático por
suporem que o povo e mais especificamente os pobres não tinham as mínimas
condições para exercerem cargos que exigissem tomadas de decisões.
Segundo Bobbio (2000, p. 375)
...no
tradicional debate sobre a melhor forma de governo, a democracia foi quase
sempre colocada em último lugar, exatamente em razão de sua natureza de poder
dirigido pelo povo ou pela massa, ao qual foram habitualmente atribuídos os
piores vícios da licenciosidade, do desregramento, da ignorância, da
incompetência, da insensatez, da agressividade, da intolerância.
A questão central do pensamento político grego está
fundamentada sobre a concepção de igualdade. A constituição grega pressupõe que
todos os homens nascem iguais, contrariando as outras nas quais levam em
consideração as posições de servos e senhores, desencadeando uma sociedade por
sua vez não igualitária e mais propíciasa à criação e manutenção de
oligarquias.
Democracia
dos modernos
Quando se houve falar de democracia tem-se à priori as
questões relacionadas ao fenômeno da liberdade. Mas, qual liberdade se
estabelece no âmbito do sistema democrático? Democracia e liberdade se
convergem no sentido de proporcionar razão às vontades humanas no que diz
respeito às questões políticas.
Os antigos, ou mais propriamente os atenienses se utilizavam
da agora para se manifestarem politicamente. A democracia era exercida através
do processo de participação direta e diante de todos sob a luz do sol que
iluminava a praça e as idéias dos cidadãos.
Segundo Ober (1991, p. 194)
...o
que impressiona o observador moderno no sistema ateniense é a maneira como o
“poder do povo” manifestava-se tão diretamente. Em vez de eleger representantes
para dirigi-los, os cidadãos atenienses dirigiam-se a si próprios. A principal
instituição era a assembléia dos cidadãos, que se reunia quarenta vezes por
ano. A ordem do dia da assembléia era determinada por um conselho cujos
quinhentos membros escolhidos por ano por sorteio. Todo cidadão com mais de 30
anos podia integrar a loteria do conselho, e as reuniões da assembléia eram
abertas a todos os cidadãos de mais de 18 anos. Assim, num dia de reunião
típico, entre seis e oito mil cidadãos (cerca de um quarto do conjunto de
cidadãos) reuniam-se no grande anfiteatro ao ar livre, o Pnyx).
Os modernos, para utilizar a expressão do filósofo italiano
Norberto Bobbio, se apropriaram da liberdade política como um processo
basicamente denominado “representação política” que é estabelecido através do
mecanismo político denominado eleição.
O conceito de democracia estabelecido por Lipson nos remete
aos aspectos legais que revestem o tema. De acordo com Lipson (1966, p. 90),
democracia é
...um
sistema regularizado de eleições periódicas, com uma livre escolha de
candidatos, sufrágio universal para adultos, oportunidade de organização de
partidos políticos concorrentes, decisões majoritárias a par de salvaguardas
para a proteção dos direitos das minorias, judiciário independente do Executivo
e garantias constitucionais para as liberdades civis fundamentais.
Percebe-se no conceito de Lipson, a democracia basicamente
voltada para as questões da representação política que necessita em seu
conteúdo de um amplo esquema de organização para poder tornar viável a
participação da população sobre as questões políticas.
O objetivo das eleições no processo democrático é buscar o
consenso possível através da construção da vitória da maioria. Nesse contexto,
busca-se “tornar” infelizes o menor número possível de cidadãos. A vitória da
maioria na democracia proporcionará o que a ciência política denomina de
legitimidade para efetivar as relações de poder conquistadas através do pleito.
Convergindo com o conceito de Lipson, está a definição
proposta por Bobbio (1998, p. 30) para quem democracia pode ser “entendida como
contraproposta a todas as formas de governo autocrático, é o de considera-la
caracterizada por um conjunto de regras (primárias ou fundamentais) que
estabelecem quem está autorizado a tomar as decisões coletivas e com quais
procedimentos”.
Os aspectos legais os quais o autor se refere diz respeito à
Legislação Eleitoral que irá definir as regras do processo de escolha dos
governantes através das eleições, mas, há de se levar em consideração a menção
do autor quanto às formas de governo autoritário. A democracia como sendo capaz
de eliminar os governos com características despóticas.
O conceito estabelecido por Lima
Junior (1997, p. 20) aponta que
Democracia
não significa e não pode significar que o povo governe em qualquer dos sentidos
óbvios de “povo” e de “governo”. Democracia significa apenas que o povo tem a
oportunidade de aceitar ou recusar aqueles que devem governa-lo (...) Assim um
aspecto disto pode ser expresso dizendo-se que a democracia é o governo dos
políticos.
Sobre
esse conceito estabelece-se a distinção entre governo do “povo” e do próprio
“governo”. Uma coisa é o poder do povo eleger o seu governo, outra é a
atividade do poder, que se designa como governo. A característica mais
importante do conceito imposto por Lima Junior reside no fato dele vincular em
seu conteúdo a democracia ao governo dos políticos. Essa união faz com se
perceba e existência de uma elite do poder – aquela que chega ao poder através
dos mecanismos criados pela própria democracia, ou seja, as eleições. É através
das eleições que o povo pode aceitar ou recusar um candidato a um determinado
governo.
Robert
Dahl (1997, p. 25) em sua obra Poliarquia, estabelece que a “democracia é a
contínua responsividade do governo às preferências de seus cidadãos,
considerados como politicamente iguais”.
Através
do conceito exposto, percebe-se que a relação com a democracia, não está
relacionada apenas com as regras do sistema, mas amplamente fundamentada sobre
a função primordial que é a de proporcionar uma relação de feedback político,
ou mesmo de fornecer respostas quanto às necessidades dos cidadãos.
É claro que quanto mais democrático
for um Estado, mas ele sofrerá a interferência dos seus cidadãos na elaboração
de políticas. Para isso, o Estado deve garantir aos cidadãos oportunidades para
viabilizar a participação política.
1. De formular suas preferências;
2. De expressar suas preferências a
seus concidadãos e ao governo através da ação individual e coletiva.
3. De ter suas preferências
igualmente consideradas sem discriminação decorrente do conteúdo ou da fonte da
preferência. (DAHL, 1997, p. 26)
Em
suma, percebe-se através do conceito de Dahl uma mudança substancial no
conceito de democracia. Isso ocorre de forma latente na sociedade
contemporânea, devido ao fato das democracias não estarem apresentando
respostas devidas aos anseios da sociedade, transformando-as em poliarquias.
Segundo Dahl (1997, p. 31) as poliarquias
...podem ser pensadas então como
regimes relativamente (mas incompletamente) democratizados, ou, em outros
termos, as poliarquias são regimes que foram substancialmente popularizados e
liberalizados, isto é, fortemente inclusivos e amplamente abertos à contestação
pública.
O
mecanismo da representação política, por ora existente, não consegue atender as
demandas políticas, por isso uma mudança significativa no conteúdo do sistema
democrático se faz necessário.
Alguns
mecanismos de democracia direta estão sendo implementados no sistema
democrático contemporâneo, no sentido de proporcionar viabilizado o sistema
poliarquico dahlsiano e nesse contexto alguns mecanismos de participação direta
estão sendo mesclados ao sistema democrático em voga. Por democracia direta
tem-se o conceito estabelecido por Aubert (2001, p. 201) com “um suplemento das
democracia, que oferece aos eleitores a possibilidade de estimularem os eleitos
pelo exercício direto de iniciativa ou de controlar seus atos por referendo”.
Segundo Lavalle, Houtzager e
Castelo (2006, p. 78)
Sociedade
civil e participação aparecem como elementos-chave em agendas diversas de
reforma da democracia como, por exemplo, aquelas do aprofundamento da
democracia (deepining democracy), da transparência e controle das instituições
políticas (social accountability), do fortalecimento da capacidade de ação e
participação da sociedade na gestão pública (empowered participation), da
democracia deliberativa e, é claro, nas literaturas da democracia participativa
e da própria sociedade civil.
Nesse
sentido, vale mencionar as distintas visões que o conceito de democracia
apresenta. De um lado, aquela visão institucional, que se preocupa apenas com
os aspectos legais ou as regras do jogo proporcionadas pelo sistema. De outro,
encontra-se as análises que se preocupam com o conteúdo ou a substância do
sistema.
Por conseguinte, os conceitos que
se preocupam com a mudança substancial no sistema democrático trazem em seu
bojo, outras questões para o debate. As principais são os temas da democracia
social e da democracia política.
Apenas
os conceitos prescritivos relacionados à democracia não foram suficientes para
desencadear o sucesso do regime, pois não foram capazes de dar conta das
diferenças sociais existentes nas democracias, sendo assim, como sustentar um
regime democrático com intensas diferenças sociais? E como estabelecer
diretrizes que dão apoio às questões do indivíduo nas democracias?
Vale
salientar, que a revisão bibliográfica por ora trabalhada, não possui a ambição
de se estender para as questões relacionadas ao Estado, por isso, não se faz
absoluta menção ao tema, embora se de fundamental importância a discussão sobre
o tema, tendo em vista que é sobre a direção do Estado que se possa construir
uma sociedade com mais ampla participação nas tomadas de decisão política. Os
mecanismos para a transformação da democracia necessitam da atuação do Estado,
mas por uma questão de coerência e de método não será abordado o tema com a
amplitude que se faz necessário.
O
que aconteceu nos Estados democráticos foi exatamente o oposto dos conceitos
estabelecidos pela democracia, onde os indivíduos eram igualmente soberanos. De
acordo com Bobbio (2000, p. 35) os
...sujeitos
politicamente relevantes tornaram-se sempre mais os grupos, grandes
organizações, associações da mais diversas naturezas, sindicatos das mais
diversas profissões, partidos das mais diversas ideologias, e sempre menos os
indivíduos. Os grupos e não os indivíduos são os protagonistas da vida política
numa sociedade democrática, na qual não existe mais um soberano, o povo ou a
nação, composto por indivíduos que adquiriram o direito de participar direta ou
indiretamente do governo, na qual não existe mais o povo como unidade ideal (ou
mística), mas apenas o povo dividido de fato em grupos contrapostos e
concorrentes, com a sua relativa autonomia diante do governo central (autonomia
que os indivíduos singulares perderam ou só tiveram num modelo ideal de governo
democrático sempre desmentidos pelos fatos).
Difere-se
de forma categórica a democracia ideal e a democracia real. A democracia real
conta com elementos da economia em seu conteúdo que a difere de forma
significativa da democracia ideal e implementa as discussões sobre os grupos de
interesses que agem no interior do sistema democrático para poder levarem
vantagens sobre as relações de poder, mas que agem sobretudo no âmbito do
Estado. Esses grupos agem de forma variada sobre o Estado sempre tentando fazer
prevalecer os interesses, estabelecendo e perpetuando aquilo que o sociólogo
americano Charles Wright Mills denomina de elite de poder.
Referências
AUBERT, Jean François. Democracia
direta. In: Democracia. São Paulo: Record, 2001.
BARKER, Sir Ernest. Teoria política
grega. Brasília: UNB, 1978.
BOBBIO, Norberto. O futuro da
democracia. 7 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
BOBBIO, Norberto. Teoria geral da
política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Rio de Janeiro:
Campus, 2000.
DAHL, Robert. Poliarquia. São
Paulo: Edusp, 1997.
LAVALLE, A. G., H0UTZAGER, P.P.,
CASTELLO, G. Democracia, pluralização da representação e sociedade civil. In:
Lua Nova: Revista de cultura e política. São Paulo, n. 67, p. 50-103, 2006.
LIMA JUNIOR, Olavo Brasil de. Instituições políticas
democráticas: o segredo da legitimidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
LIPSON, Leslie. A civilização democrática. Rio de Janeiro:
Zahar, 1966.
OBER, Josiah. Democracia direta.
IN: Democracia. São Paulo: Record, 2001.
Sunday, 20 January 2019
Norberto Bobbio - Resenha do capítulo "O futuro da democracia"

BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. In: O futuro da democracia. 7 ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2000.
“Será
que não existe algum critério capaz de distinguir o interesse geral do
interesse particular?”
Resenha do Capítulo 1
“O futuro da democracia”
Em O futuro da
democracia escrito nos anos 90, Norberto Bobbio tenta esboçar através de uma
análise perspicaz dos modelos democráticos existentes como seria a democracia
que estava por vir.
No primeiro capítulo
do livro chamado “O futuro da democracia”, o autor inicia pontuando de forma
objetiva que democracia trata-se de um “conjunto de regras (primárias ou
fundamentais) que estabelecem quem está autorizado a tomar as decisões
coletivas e com quais procedimentos”.
Nesse contexto,
Bobbio salienta as diferenças entre a democracia dos antigos e a democracia dos
modernos para falar sobre o processo de transformação pelo qual passou o
sistema democrático nos últimos anos.
A democracia dos
antigos possuía uma participação mais direta da população nas tomadas de
decisão. A democracia dos modernos trata a participação da população em
processos eleitorais, viabilizando o sistema de representação política.
O autor salienta a
diferença entre a democracia real e a democracia ideal – a relação entre o que
foi prometido e o que realmente ela entrega. Bobbio salienta de forma objetiva
que a sociedade política é o produto artificial da vontade dos indivíduos – e o
que realmente a democracia entrega é a vontade dos grupos, das grandes
corporações, que “brigam” a todo instante para influenciar decisões políticas e
se beneficiar de alguma forma através das políticas organizadas pelo Estado.
A
relação da representação política na democracia moderna estabelece o vínculo
entre o todo e as partes, a representação política na sua forma tradicional
deveria atender o interesse em geral da população, mas esse princípio é o
oposto sobre o qual se funda a representação dos interesses, uma vez que o
representante deverá perseguir os interesses particulares – é o que Bobbio
denomina de mandato vinculado.
De
forma objetiva, os grandes grupos financiam as campanhas políticas de
vereadores, deputados, senadores etc e os políticos ficam “comprometidos” com
esses grupos.
Por
conseguinte, Bobbio indaga: será que não existe algum critério capaz de
distinguir o interesse geral do interesse particular?
A
baixa participação política que ocorre no modelo atual de democracia e os
poucos espaços existentes para participar são motivos que preocupam o autor,
tendo em vista que esses fenômenos juntos podem levar o modelo à exaustão, pois
existirá a pequena capacidade de propor a alternância de poder.
Bobbio
denomina de “poder invisível” alguns grupos que tentam influenciar as políticas
de Estado – como exemplo de poder invisível o autor cita a máfia e os serviços
secretos. A não eliminação desses grupos por parte do sistema democrático é
capaz de fazer sucumbir o modelo, tendo em vista o poder de força criado e a
concorrência do poder do Estado – nesse contexto, vale salientar o conceito
weberiano de que só o Estado deveria utilizar o monopólio da força – esses
grupos são capazes de criar um poder paralelo.
Outro
ponto importante e que a democracia não foi capaz de desenvolver foi a educação
para a cidadania – o modelo democrático vigente trabalhou no sentido de criar
cidadão passivos e não cidadãos ativos para usar a linguagem de Bobbio – nesse contexto,
quanto mais um cidadão é exigente e crítico com a realidade social, maior a
capacidade do sistema se desenvolver. A existência de cidadãos passivos pode
levar o modelo a um sistema amorfo e de baixa capacidade de respostas dos
problemas dos cidadãos.
Embora
o texto possa nos direcionar a uma relação pessimista do modelo democrático, o
autor nos tranquiliza apontando que o projeto político democrático e que está
em vigor não foi idealizado para uma sociedade complexa como a de hoje, por
isso a sensação de que a democracia “não cumpriu suas promessas”
As promessas apontadas não foram cumpridas por
causa de obstáculos que não estavam previstos e que surgiram no bojo das
“transformações” da sociedade civil.
Bobbio
apresenta três “transformações” como principais:
• Ampliação
dos problemas políticos que requerem soluções técnicas;
A
tecnocracia e a democracia são termos antitéticos: o protagonista da sociedade
industrial é um técnico e não um cidadão comum;
• A
burocracia
O
Estado democrático e Estado burocrático estão interligados;
• Rendimento
do sistema democrático como um todo;
A
sociedade civil é uma fonte inesgotável de demandas que são enviadas aos
governos e estes por sua vez apresentam lentidão para tomar decisões e
apresentar respostas e é sobre esse contexto que o Poder Executivo concentra poderes, na medida em que estabelecer discussões com mais de quinhentos deputados para a tomada de decisão é muito mais desgastante e que requer tempo, tempo que a política não dá, não permite, sendo necessário a criação e o desenvolvimento de novos instrumentos legais de atuação dentro do sistema democrático, como por exemplo, o uso de lei, medida provisória e assim por diante.
Embora
o texto de Norberto Bobbio tenha sido organizado no começo dos anos 90 do
século passado os questionamentos apresentados são sempre atuais, tendo em
vista que o sistema embora tenha sofrido algumas modificações, ainda não foi
capaz de dar uma resposta adequada à sociedade, colocando em dúvidas o próprio
futuro da democracia.
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