TRIGUEIRO, A. Meio
ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas
áreas de conhecimento. 4 ed. São Paulo: Autores Associados, 2005.
“Meio ambiente no século 21: 21
especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de conhecimento”
(Armazem do Ipê, 4 ed, 2005, 367 p.) do jornalista André Trigueiro, traz um
conjunto de artigos escritos por vários autores sobre o Meio Ambiente.
O autor inicia o livro
escrevendo sobre a falta de entendimento sobre o conceito de meio ambiente – de
uma forma geral, meio ambiente é confundido com o que as pessoas conhecem como
fauna e flora, não relacionando o termo com a amplitude que deveria ser utilizado
– na verdade, aponta para a dificuldade em se estabelecer um nível de
consciência ambiental.
É sobre essa perspectiva que o
livro encontra-se organizado e com 21 textos que nos remete ao século XXI e as
discussões relacionadas ao meio ambiente – entre os autores, existem renomados
profissionais, como exemplo, podem ser citados: Fritjof Capra, Gilberto Gil,
Leonardo Boff, Fernando Gabeira, entre outros.
O primeiro capítulo do livro
trata-se de um artigo do renomado físico Fritjof Capra, onde o autor discorre
sobre o tema: alfabetização ecológica – nesse contexto, Capra aponta para o
nascimento do conceito de sustentabilidade, para isso busca entendimento no
Relatório Brundtland organizado pelas Nações Unidas, onde vincula a preservação
do meio ambiente como condição necessária para a construção do futuro.
Para Capra, existe uma dificuldade
de organizar e operacionalizar o conceito de sustentabilidade e o melhor
caminho para isso é a educação, através do que ele denomina de
alfabetização ecológica - pois acredita que a compreensão dos princípios
de organização dos ecossistemas é fundamental para a manutenção da teia da vida.
De uma forma geral, Capra
estabelece a necessidade de organização de um novo curriculum na educação, onde
pode se estabelecer padrões e significados diferentes às crianças, através do
processo de aprendizagem.
Padrões estes estabelecidos em cima
de uma educação ambiental mais prática, como exemplo o autor cita a
organização de hortas nas escolas, como condição sine qua non para
a construção de uma relação mais sólida entre as crianças e o meio ambiente,
tendo em vista o envolvimento estabelecido.
Leonardo Boff, o teólogo inicia o
segundo capítulo tecendo uma crítica ao modelo de desenvolvimento em voga,
criticou de forma voraz a cultura do consumismo e com muita perspicácia
discorre sobre a importância da espiritualidade para a mudança do paradigma
vigente.
A espiritualidade é importante
tendo em vista a sua capacidade de alterar o relacionamento entre os homens e a
Terra – de acordo com Boff, a espiritualidade é significativa pois passa a
transformar e deixar transparente a experiência interior, afastando a relação
intelectual e mais científica que determina as ações contemporâneas – nesse
contexto, a capacidade de redução do consumo seria significa, uma vez que
colocaria limites à voracidade humana, preservando a natureza e contribuindo
para o desenvolvimento do conceito de sustentabilidade.
Gilberto Gil utiliza a sua
experiência como ex-Ministro da Cultura, ex-presidente da Fundação Gregório de
Mattos de Salvador, para escrever sobre o meio ambiente e a cultura. Para Gil,
a natureza é uma criação cultural, e que a cada época se constrói uma visão de
natureza.
No Brasil, mesmo com o processo de
degradação da natureza que marcou a fase inicial de seu descobrimento, existia
um certo criticismo contra o desmatamento desmedido. Nesse contexto, Gil cita o
historiador e cientista político José Augusto Pádua, onde o intelectual
defendia a tese de que a devastação ambiental era um obstáculo ao desenvolvimento
econômico do país – dessa forma, o autor sai do lugar comum, onde se apregoa
esse criticismo como sendo um fato relacionado à contemporaneidade, o que torna
o texto muito interessante.
O autor escreve sobre a sua
experiência como Ministro e Secretário da Cultura para falar sobre o processo
de intervenção cultural no Brasil – cita vários projetos culturais de
integração entre homem e natureza na tentativa de se criar no país um conceito
mais profícuo de sustentabilidade – essas experiências de uma forma geral estão
atreladas à relação entre a religião e a sociedade, o que resgata um pouco o
tema do artigo anterior escrito por Leonardo Boff e que está relacionado à
espiritualidade, nesse sentido, vale apena ressaltar a integração e parcimônia
entre os textos, estabelecendo um link entre as temáticas –
vale ressaltar que as experiências citadas descrevem a atuação das religiões
afro, principalmente ao candomblé, onde se ressalta os elementos divinos da
natureza.
A proposta inicial levantada por
Trigueiro no livro está relacionada com a construção de uma consciência
ecológica – nesse contexto, o artigo de Samyra Crespo sobre a evolução da
consciência ambiental no Brasil traz uma contribuição significa para o debate
sobre a temática, tendo em vista que a autora buscou nas pesquisas de opinião o
desenvolvimento do pensamento sobre os problemas ambientais no país.
Samyra organizou pesquisas sobre a
temática ambiental e desenvolveu vários trabalhos a partir a Rio 92 – foram
três pesquisas, feitas nos anos de 92, 97 e 2001, onde a autora buscou nos
quatro cantos do país, a opinião dos brasileiros sobre a relevância ou não da
problemática ambiental e o seu constante processo de evolução no país.
Através dessas pesquisas a autora
foi capaz de traçar um perfil sobre o quadro ambiental brasileiro, tendo como
base as diferenças regionais, as posições das várias classes sociais, assim
como o pensamento de homens e mulheres, mas o ponto mais alto dos estudos foi o
diagnóstico de que mesmo com todas as dificuldades de um país em
desenvolvimento e a ação do poder público, ocorreu um processo de evolução do
pensamento ambiental no Brasil.
O pensamento ambiental no
Brasil não podia ter se desenvolvido sem o papel significativo da imprensa – é
sobre esse tema que o organizador do livro, Andre Trigueiro se debruça em seu
texto. Trigueiro destaca o papel fundamental do programa Globo Reporter como
meio difusor do meio ambiente no Brasil, cita também a importância do papel da
imprensa, como órgão disseminador e educativo que assumiu diante das mazelas
trazidas pelo modelo de desenvolvimento: desmatamento, enchentes, raios
ultravioletas, poluição, etc.
Um ponto interessante mencionado
por Trigueiro, está relacionado com o nível de conhecimento sobre meio ambiente
que os jornalistas possuem – aponta que os profissionais que trabalham com a
temática atualmente foram auto didatas em adquirir conhecimento e que os mais
novos possuem mais vantagens por encontrar a temática dentro da sociedade
brasileira mais trabalhada e com os conceitos mais direcionados – essa
constatação vem juntamente com as pesquisas mencionadas pela Samyra no texto
anterior, onde através das pesquisas, percebeu-se um certo amadurecimento da
sociedade brasileira para as questões ambientais.
No comments:
Post a Comment