MONTEIRO, Carlos Fernando
Rego. Morada de gigantes: histórias de Araraquara e do Basquetebol da
Uniara. Rio de Janeiro: Via Escrita, 2002.
Resenha
A
obra Morada dos gigantes de Carlos Monteiro é mais uma que estabelece a relação
significativa entre a política e o esporte da cidade de Araraquara e mais uma
que é construída por um não araraquarense...Monteiro é carioca de origem que
por si só merece o crédito de obra tão significativa e importante onde retrata
a passagem meteórica tanto da cidade quanto da Universidade pelo mundo do
basquete.
Na
primeira parte da obra Monteiro busca contar em poucas palavras a história da
cidade de Araraquara, aborda os aspectos políticos que organizaram o seu desenvolvimento
e ao mesmo tempo busca a relação com o esporte como um todo, escreve sobre a origem
do nome Araraquara, pincela a vida de Pedro José Neto fundador da cidade, e a
influência dos vários movimentos políticos sobre o município.
Na
segunda parte da obra, o autor aborda o surgimento do basquete e o seu crescimento
na cidade, trabalha de forma profícua e assídua a trajetória do basquetebol da
Uniara, traz relevantes opiniões e vida dos personagens que construíram essa
história.
Monteiro
ainda traz as estatísticas e curiosidades que permearam a história da Uniara no
mundo do basquete.
Uma
obra cheia de ilustrações que abordam cada momento, o Ginásio Gigantão sempre
lotado para os jogos, os campeonatos disputados e as colocações alcançadas.
Terra
de gigantes é uma obra singular, narrada em linguagem simples e acessível a
todos e que merece todo o crédito possível, uma vez que resgata a história
significativa do Basquete na cidade de Araraquara. Creio que seja uma obra que
todos aqueles que se interessam pelo basquete e pela cidade deveriam ler, tendo
em vista a sua significativa relevância para a sua construção histórica.
Falando
um pouco mais sobre esse tema, foi organizado um podcast com o reitor Fernando
Mauro, onde se discutiu os investimentos feitos pela Uniara no Basquete e a
relação construída com o município. Vale demais assistir o podcast!
FRAJÁCOMO, Mauricio Tadeu. Braçadas para o sucesso.
Curitiba: Appris, 2022.
Resenha
A
obra de Maurício Frajácomo discorre sobre o universo da natação, esporte
significativo no contexto social brasileiro tendo em vista os resultados
vultuosos conquistados nas Olímpiadas dos últimos anos.
Mauricio
Frajácomo é professor e coordenador do curso de Educação Física da Universidade
de Araraquara – UNIARA e desenvolveu a obra no decorrer da organização da
docência e acumula experiência profissional exercida em várias cidades:
Araraquara, São Carlos, Fortaleza e Campinas.
O
livro é composto por 11 (onze capítulos).
No
primeiro, o autor escreve sobre a importância da natação, busca elementos para
solidificar seus argumentos de que como base terapêutica o esporte é
fundamental, além de contribuir de forma significa para combater problemas como
asma, bronquite e muito mais.
No
segundo, Frajácomo busca fatos históricos da natação, a origem do nado estilo crawn
e a sua importância para a ciência da natação, além de escrever sobre a
natação competitiva no Brasil e a regulamentação no ano de 1912, além de
apontar o nascimento da Confederação Brasileira de Natação (CBN).
No
terceiro capítulo da obra, Frajacomo aponta as propriedades da água, a
densidade adequada, pressão, turbulência, temperatura e a resistência na água,
esses podem ser considerados elementos fundamentais para o exercício da natação.
No
quarto capítulo, o autor traz elementos fundamentais para o planejamento do
programa de iniciação à natação, um dado interessante nessa parte é que existem
várias imagens e fotos explicando as posições necessárias para que se desenvolva
a natação de forma correta, o que dá ao livro a impressão de um manual do
esporte. Isso soa de forma muito convidativa para quem quer iniciar no universo
da natação.
No
quinto capítulo, o autor faz menção da natação para bebês e a sua importância
significativa para o crescimento e o desenvolvimento das crianças, também
acompanha ilustrações de como proceder, o que enfatiza a ideia do manual de
natação, esse é um ponto muito importante a se considerar na obra, então, quem
lê o livro de Frajácomo não se depara apenas com ideias sobre o mundo da
natação, se depara com elementos de como praticar o esporte, fazendo com que
sua aquisição por aqueles que gostam do esporte seja fundamental.
No
sexto capítulo, o autor busca o aperfeiçoamento em natação, o aprimoramento das
técnicas e o entendimento de cada estilo praticado na natação, esse é um ponto
importante pois cada estilo possui suas características e suas peculiaridades e
cada praticante possui uma “vocação” dentro do esporte e identificar o estilo a
ser praticado é fundamental para o sucesso dentro do esporte.
Importante
mencionar que no sétimo capítulo o autor discorre sobre os exercícios de
correção dentro da natação e é significativo apontar que vem acompanhado de
desenhos ilustrativos dos exercícios e de como devem ser praticados.
Do
oitavo ao décimo primeiro capítulo Frajacomo vai apontar as regras da natação e
a função dos árbitros, a iniciação ao treinamento e traz até exemplo de ciclos
semanais de treinamento, com detalhes exclusivos a serem aplicados a cada
etapa.
Nesse
sentido, percebe-se um intenso trabalho de Frajácomo no sentido de estabelecer
diretrizes em todos os sentidos para a prática da natação, a utilização de
ampla referência para a execução do livro é a demonstração do autor de que
houve pesquisa, dedicação e amor a um esporte tão praticado no Brasil e com
significativa relevância para a saúde a qualidade de vida.
CIRINO, Luis Marcelo Inaco. Araraquara, futebol e
política. São Paulo: Editora SJS, 2008.
Resenha
Araraquara:
futebol e política do médico e cirurgião torácico Marcelo Cirino é marcada pela
ampla pesquisa realizada, usando tanto fontes primárias, quanto secundárias,
desenvolveu uma obra histórica de suma importância para a cidade tendo em vista
a singular relação entre ambos os elementos. A paixão que reveste tanto a política
quanto o futebol foi exaltada na obra de forma profícua e sustentada com argumentos
científicos que foram buscados tanto em jornais da época quanto em atas que refletiam
e desenhavam o cenário da época.
Fica
evidente o árduo trabalho de pesquisa realizado pelo autor, quando logo de cara
o leitor se depara com os agradecimentos, nomes como Paschoal Gonçalves da
Rocha, Aldo Comito, Wilson Silveira Luiz aparecem dentro do contexto da obra,
pois foram figuras com significativo destaque nos meios esportivos de Araraquara,
além de nomes de historiadores, como o Professor e Jornalista esportivo Celso
Unzelte e Rodolpho Telarolli Junior.
A
obra de Cirino está dividida em 58 (cinquenta e oito) mini capítulos e
apresenta duas fases, na primeira, trabalha a questão política, estabelece a
relação entre a imigração, os militares, a Revolução de 1924, Revolução de 1930
e a influência da fase histórica para a construção do futebol na cidade.
Na
segunda parte do livro, Cirino mergulha de cabeça na história da cidade, buscando
o nascimento do Estádio Municipal, o antigo Tenente Siqueira Campos, que hoje é
sede do clube araraquarense que fica próximo ao cemitério São Bento no centro
da cidade. Apontou que o Araraquara College foi o berço do esporte na cidade. O
College foi fruto da elite araraquarense que trazia seus filhos para estudar na
cidade e servia como meio de instrumentalizá-los a adentrar nas Faculdades de
Direito ou Medicina do Estado de São Paulo e trazia em seu bojo antigos integrantes
da Organização Mackenzie de Ensino, tradicional Universidade da cidade de São
Paulo.
Após
buscar os primórdios do futebol na cidade de Araraquara, Cirino destrincha o
nascimento do Paulista, importante time de futebol da cidade, menciona os
títulos conquistados, os jogos históricos e casos curiosos envolvendo a agremiação,
além das fichas técnicas dos jogos com dados completos.
Na
fase seguinte da obra, Cirino busca elementos históricos para narrar o
nascimento da ADA (Associação Desportiva Araraquarense), traz em seu bojo os jogadores
importantes, as fichas técnicas dos jogos e sua relação conturbada com a AFE
(Associação Ferroviária de Esportes).
Importante
mencionar as fotografias que permeiam o livro. Elas são significativas para
ilustrar o momento histórico e carregar a obra de autenticidade e relevância
que merece.
Em
alguns mini capítulos, o autor traz histórias de jogadores importantes da época
como Maurinho, ex São Paulo e Boca Juniors; Lorico e Hermínio, além de outras
figuras históricas para o futebol da cidade, como Antonio Tavares e Doutor
Oswaldo Sant’anna.
No
contexto geral, a obra de Cirino é significativa do ponto de vista da história,
pois traz em seu bojo uma importante relação entre o futebol e a política e
creio que seja relevante mencionar que sem os devidos fatos e da forma que eles
ocorreram dificilmente o futebol teria a relação supra mencionado na obra, de
qualquer forma não se pode mudar a história e respeitá-la é fundamental, e creio
que seja essa a mensagem trazida na obra.
Tuesday, 27 September 2022
DARNTON,
Robert; DUHAMEL, O. Democracia. Rio de Janeiro: Record, 2001.
Resenha
A
obra coordenada por Darnton e Duhamel trata-se de um debate sobre o tema
“Democracia”. Para organizar esse debate eles colocaram em evidência textos de renomados
autores e que discutiram a democracia em várias frentes. Os principais são os
seguintes:
A
primeira delas está relacionada com a perspectiva histórica da democracia. A
história da democracia pode ser considerada complexa e que reserva várias
surpresas, nesse sentido, como aprender o essencial da democracia, um fenômeno
que muda constantemente de caráter?
O
segundo ponto colocado está relacionado com a seguinte questão: se uma assembléia
de representantes exprime a vontade suprema de seu povo, como poderia ver-se
limitada em suas ações por uma constituição – e frequentemente por uma velha
constituição ratificada pelos bisavós dos atuais eleitores?
Em
terceiro lugar, se os tribunais podem frear a ação do governo, não seriam um obstáculo
à democracia em vez de servir-lhe de garantia? Caso contrário, será que o
essencial da democracia – e as vezes mesmo o direito de legislar – existe antes
no poder judiciário que no poder legislativo? Que fazer quando a vontade de uma
assembléia se manifestam contraos
direitos do homem?
Em
quarto lugar, será realmente democrática a regra da maioria?
Em
quinto lugar, como raciocionar a democracia com os preconceitos, especialmente
os de uma maioria eleitoral que se arma do escrutínio para oprimir os cidadãos
sem voz?
Em
sexto lugar, a democracia é permeada pela força do dinheiro? Isso quer dizer
que as eleições são dominadas pelos lobbies e pelo dinheiro? A força da
televisão reforça a personalização do poder, em detrimento dos partidos e dos
debates sobre os problemas substanciais. Estariam os partidos políticos a ponto
de sofrer uma mudança política fundamental?
Em
sétimo lugar, os problemas de dinheiro levam-nos aos problemas do Estado previdenciário.
A direita, exige seu desmantelamento; à esquerda, sua ampliação. Será que o
Estado previdenciário mina suas próprias bases, custando caro demais? Ou será o
progresso se faz passando dos direitos cívicos aos direitos políticos e
finalmente aos direitos sociais, que garantem para todos um mínimo de bem-estar,
ainda que necessário obrigar os ricos a contribuir para tal?
O
livro é dividido em 5 partes:
1
– Uma história da democracia, os autores buscam no iluminismo o nascimento da democracia,
passa pelas revoluções e depois chega nos ciclos revolucionários do século XIX
e termina nas ideias do totalitarismo;
Na
segunda parte os coordenadores trabalham o mundo das ideias democráticas, começam
escrevendo sobre a democracia dos antigos, buscam na Grécia elementos
fundamentais para o entendimento, depois falam sobre a democracia dos modernos,
a questão da representação política, depois buscam as bases da democracia
liberal e social e por fim, repensam a democracia.
Na
terceira parte, escrevem sobre as instituições democráticas, falam sobre os direitos
fundamentais, as eleições e os partidos, a democracia direta, os regimes constitucionais,
a legislação e a justiça.
Na
quarta parte, os coordenadores organizaram um capítulo denominado “um combate
da sociedade consigo mesma” e discutem a fraternidade e o racismo, o civismo, a
corrupção, os meios de comunicação e a imprensa, o poder e as mulheres, a
democracia no trabalho, assim como a democracia social em crise.
Na
quinta e última parte, apontam que a democracia trata-se de um desafio
mundial...tratam dos nacionalismos e integrismos, a democracia e o seu
desenvolvimento a organização do mundo.
Monday, 29 August 2022
O Poder Executivo: conceitos e
discussões
A regra dos três
poderes que permeia e fundamenta a democracia foi estabelecida a priori por
Montesquieu no século XVII. De acordo com Montesquieu (1977, p. 156), “há em
cada Estado, três espécies de poderes: o poder legislativo, o poder executivo
das coisas que dependem do direito de gentes, e o executivo das que dependem do
direito civil”. Segundo Montesquieu (1997), cada poder possui uma área de
atuação específica, mas com regras entre estes para que não haja sobreposição
de poderes (o direito denomina essa regra de lei de pesos e contrapesos). Tal
teoria foi formulada para proporcionar a estabilidade aos governos.
De acordo com a teoria
de Montesquieu, a função do Poder Executivo é executar as leis, a função do
Poder Legislativo é de elaborá-las e a do Poder Judiciário é de julgá-las. No
entanto, a relação não é tão simples como se aparenta. Entre o Poder Executivo
e o Poder Legislativo existe uma função que é atribuída a ambos, a de elaborar
as leis. Isso ocorre, segundo Cleve (2000, p. 99), porque o “Executivo chama
para si tarefas que, na doutrina liberal, não cabiam no espaço funcional
reservado ao Estado, além de outras antes perfeitamente realizáveis pelos
particulares.
Esse poder, igualmente, invade o território
funcional tradicionalmente reservado ao legislador”. No Brasil, especificamente
desde a elaboração da primeira Constituição em 1891, o Poder Executivo é
revestido de poderes sobre a confecção das leis. A Constituição de 1934
propunha ao Poder Executivo à iniciativa de projetos de lei que aumentavam
vencimentos de funcionários, criação de empregos e a lei de fixação das forças
armadas. Na Constituição de 1937, o ato de legislar estava previsto ao Governo,
refletindo a concepção do governo da época.
Na Constituição de
1967, era conferida a iniciativa das leis que dispunham sobre: criação de
funções e cargos, organização administrativa e judiciária, matéria tributária e
orçamentária etc. Na Constituição de 1967, era conferida a iniciativa das leis
que dispunham sobre: criação de funções e cargos, organização administrativa e
judiciária, matéria tributária e orçamentária etc.
Na Constituição de 1988
é: [...] mantida a técnica de reservar ao Executivo a iniciativa de algumas
matérias. São de iniciativa exclusiva do Presidente, no plano federal, as leis
que disponham sobre: a) criação de cargos, funções ou empregos na administração
direta e autárquica ou aumento de sua remuneração; b) organização
administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços
público e pessoal da administração dos territórios; c) servidores públicos da
União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e
aposentadoria; d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da
União, bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da
Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; e)
criação, estruturação e 30 Ciências Sociais em Perspectiva Ciências Sociais em
Perspectiva (7) 12 : 1º sem. 2008 27-36 atribuição dos Ministérios e órgãos da
Administração Pública; f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico,
provimento de cargos, promoções, estabilidade, remuneração, reforma e
transferência para a reserva (CLEVE, 2000, p. 109).
A participação do Poder Executivo na elaboração das leis opera-se, de acordo com Cleve (2000, p. 99), "ou intervem em uma das fases do procedimento de elaboração da lei, ou (ii) exerce, ele mesmo, a função de elaborar o ato normativo (dotado ou não de força de lei)". A relação entre os poderes foi se modificando , uma vez que as atribuições do Estado foram sendo ampliadas. As atribuições impostas ao Estado modificaram o papel exercido pelas instituições políticas que sustentam a democracia, pois estabeleceram novos papéis a serem desempenhados. De acordo com Cleve (2000, p. 102), "o crescimento das funções do Estado tornou obsoleta a tese do monopólio do exercício das iniciativas pelos membros das câmaras legislativas. Aliás, nesse território, cada vez mais o Executivo foi se afirmando, até o ponto em que, atualmente, quase todas as Constituições conferem também a ele a iniciativa".
Friday, 19 August 2022
Lançamento do e-book do Caderno de Resenhas
ARENDT, Hannah. O que é política? Fragmentos
das obras póstumas compilados por Ursula Ludz. 7 ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2007.
Conceito
de Política
O
conceito de política está organizado em 7 sete tópicos no I fragmento do livro,
foi escrito originalmente em agosto de 1950.
No
primeiro tópico, Arendt começa expondo que a política baseia-se na pluralidade
dos homens. Deus criou o homem, os homens são um produto humano mundano, e
produto da natureza humana. A filosofia e a teologia sempre se ocupam do homem,
e todas as suas afirmações seriam corretas mesmo se houvesse apenas um homem,
ou apenas dois homens, ou apenas homens idênticos. Por isso, não encontraram
nenhuma resposta filosoficamente válida para a pergunta: o que é política? Mais,
ainda: para todo o pensamento científico existe apenas o homem – na biologia ou
na psicologia, na filosofia e na teologia, da mesma forma como para a zoologia
só existe para o leão.
No
segundo tópico, Arendt aponta que a política trata da convivência entre
diferentes. Os homens se organizam politicamente para certas coisas em comum,
essenciais num caos absoluto, ou a partir do caos absoluto das diferenças.
Enquanto os homens organizam corpos políticos sobre a família, em cujo quadro
familiar se entendem, o parentesco significa, em diversos graus, por um lado
aquilo que pode ligar os mais diferentes e por outro aquilo pelo qual formas
individuais semelhantes podem separar-se de novo umas das outras e umas contra
as outras.
No
terceiro tópico, Arendt aponta que quando se vê na família mais do que a
participação, ou seja, a participação ativa na pluralidade, começa-se a bancar
Deus, ou seja, a agir como se se pudesse sair, de modo natural, do princípio da
diversidade. Ao invés de se gerar um homem, tenta-se criar o homem na imagem de
si mesmo. Nesse sentido, sob o ponto de vista prático-político, a família ganha
sua importância inquestionável porque o mundo assim está organizado, porque
nele não há nenhum abrigo para o indivíduo – vale dizer para os mais diferentes.
As famílias são fundadas como abrigos e castelos sólidos num mundo inóspito e
estranho, no qual precisa ter parentesco. Esse desejo leva à perversão
fundamental da coisa política, porque anula a qualidade básica da pluralidade
ou a perde através da introdução do conceito de parentesco.
No
quarto tópico Arendt, escreve que o homem, tal como a filosofia e a teologia o
conhecem, existe – ou se realiza – na política apenas no tocante aos direitos iguais
que os mais diferentes garantem a si próprios. Exatamente na garantia e
concessão voluntária de uma reivindicação juridicamente equânime reconhece-se
de que a pluralidade dos homens, os quais devem a si mesmos sua pluralidade,
atribui sua existência à criação do homem.
No
quinto tópico, Arendt diz que a filosofia tem duas boas razões para não se
limitar a apenas encontrar o lugar onde surge a política. A primeira é:
a)Zoon
politikon: como se houvesse algo político que pertencesse à sua essência –
conceito que não procede; o homem é a-político. A política surge no
entre-os-homens; portanto, totalmente fora dos homens. Por conseguinte, não
existe nenhuma substância política original. A política surge no intra-espaço e
se estabelece como relação.
b)A
concepção monoteísta de Deus, em cuja imagem o homem deve ter sido criado. Daí
só pode havero homem, e os homens tornam-se
sua repetição mais ou menos bem sucedida. O homem, criado à imagem da solidão
de Deus, serve de base para a guerra natural entre todos, conforme afirma
Hobbes.
Arendt
aponta que a solução ocidental dessa impossibilidade da política dentro do mito
ocidental da criação é a transformação da política pela História.
No
sexto tópico, aponta que só existe liberdade no âmbito particular do conceito
intra da política. Nós nos salvamos dessa liberdade justo na necessidade da
História. Para Arendt, um absurdo abominável.
No
sétimo tópico Arend diz: a política se organiza, de antemão, as diversidades
absolutas de acordo com uma igualdade relativa e em contrapartida às diferenças
relativas.
DAHL, Robert. A
democracia e seus críticos. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
Resenha
Robert Dahl é um autor
americano, nasceu no ano de 1915, no Iowa, nos Estados Unidos. Professor
emérito de Ciência Política na Universidade de Yale. Escreveu uma das obras
fundamentais para o entendimento da democracia contemporânea, Poliarquia, obra
que o Caderno de Resenha organizou um trabalho específico
A obra escrita por Robert
Dahl, a democracia e seus críticos é um trabalho denso, muito bem construído. A
obra é organizada em seis (6) partes:
Na primeira parte, Dahl
busca as origens da democracia moderna, aponta a transformação da cidade Estado
democrática e posteriormente trata da segunda transformação, ele menciona o
republicanismo, a representação política e alinha os argumentos para discutir a
lógica da igualdade.
Na segunda parte da obra,
Dahl discute os críticos da oposição, cita o anarquismo, a guardiania e cita
elementos das críticas tecidas ao sistema.
Na terceira parte, Dahl
trabalha a teoria do processo democrático – nessa linha, aponta as
justificativas para a construção da ideia de valor intrinsecamente igual e da
autonomia pessoal, constrói a teoria do processo democrático e mais que isso,
discute o problema da inclusão na democracia.
Na quarta parte da obra,
Dahl trata dos problemas no processo democrático. O autor menciona o governo da
maioria e o processo democrático, organiza as seguintes perguntas: haverá uma
alternativa melhor? E quando um povo tem direito ao processo democrático?
Na quinta parte da obra, o
autor discute alguns elementos já traçados na sua obra mais famosa, Poliarquia.
Nessa parte, o autor faz a seguinte pergunta: será inevitável o domínio da
minoria?
Na sexta parte da obra, o
autor fala sobre a terceira transformação, aponta diretrizes para a democracia
no mundo de amanhã e faz um esboço para que um país seja avançado dentro das
diretrizes democráticas.
De forma geral, Dahl
enumera em 3 (três) os críticos da democracia:
1 – Aqueles que se opõem
fundamentalmente à democracia porque como Platão, creem que, embora ela seja
possível, é de forma inerente indesejável;
2 – Aqueles que são
fundamentalmente opostos à democracia, crêem que embora ela talvez fosse
recomendável, se fosse possível, na realidade é inerentemente impossível;
3 – Aqueles que são
favoráveis à democracia e desejam mantê-la, mas que a criticam em algum ponto
importante.
Nesse sentido, Dahl,
expõe que os dois primeiros tipos podem ser denominados de críticos de
oposição, e os do terceiro tipo, críticos favoráveis.
Toda a obra de Dahl está
ancorada e conceituada tendo em vista as noções proporcionadas pela Grécia
antiga, a noção de povo, cidade Estado, Estado, Instituições políticas e
participação política.
O
conceito de revisão de literatura é processo de busca, análise e descrição de
um corpo de conhecimento em busca de uma resposta a uma pergunta específica. Existem
três 3 tipos de revisão de literatura: narrativa, sistemática e integrativa.
Na
revisão narrativa, não precisa esgotar os pontos de informação. Ela é adequada
para a fundamentação teórica de artigos, dissertações, teses e trabalhos de
conclusão de curso.
Na
revisão sistemática já passa a ser uma investigação científica, busca responder
a uma pergunta de pesquisa claramente formulada, faz um levantamento de estudos
relevantes sobre o tema. É considerado a evidência científica de maior grandeza
e são indicadas na tomada de decisões na prática clínica ou na gestão pública.
Na
revisão integrativa são utilizadas diversas metodologias, assim tem o potencial
de promover os estudos de revisão em diversas áreas do conhecimento,
mantendorigor metodológico das
revisões.
Estas
revisões são feitas por etapas e devem respeitar os critérios para que os objetivos
sejam alcançados com excelência.
As
etapas para a organização da revisão de literatura se dividem seis:
Primeira
etapa: identificar o tema e seleção da hipótese ou questão da pesquisa para a
elaboração da revisão integrativa. Nesta etapa a escolha de um tema que
desperte o interesses do revisor torna o processo mais encorajador, outro aspecto
consiste na escolha de um problema vivenciado na prática. Os estudiosos
consideram a primeira etapa como norteadora para a condução de uma revisão
integrada e bem elaborada.
Segunda
etapa: o estabelecimento de critérios para a inclusão e exclusão de estudos (amostragem
ou busca na literatura). Esta etapa está intimamente atrelada à anterior, uma
vez que abrangerá o assunto a ser estudado e determinará o procedimento de
amostragem, ou seja, quanto mais amplo for o objetivo da revisão, mais elevado
e mais seletivo deverá ser o revisor quanto a inclusão da literatura a ser
considerada. Vale salientar que a omissão do procedimento de amostragem pode
por em risco toda a revisão de literatura.
Terceira
etapa: definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados,
categorização dos estudos. Nessa etapa é necessário reunir e sintetizar a
informação “chave”. O nível de confiança será medido através do nível de
evidências dos estudos. O revisor tem como objetivo nesta etapa, organizar e
sumarizar as informações de maneira correta e concisa, formando um banco de
dados de fácil acesso e manejo.
Quarta
etapa: A análise deve ser realizada de forma crítica, ou procurando explicações
para resultados diferentes ou conflitantes. A competência clínica do revisor contribui
para uma avaliação crítica dos estudos e auxilia na tomada de decisão.
Quinta
etapa: Interpretação dos resultados. Esta etapa corresponde à fase de discussão
dos principais resultados das pesquisas convencionais. Compara-se a todo conhecimento
teórico, conclusão e implicações resultantes da pesquisa (revisão)
Sexta
etapa: essa fase consiste na elaboração do documento que deve contemplar a
descrição das etapas, os resultados.
A
proposta da revisão integrada é reunir e sintetizar as evidências disponíveis
na literatura e as suas conclusões. Devem incluir informações suficientes que
permitam ao leitoravaliar a pertinência
dos procedimentos empregados na elaboração da revisão.
NOGUEIRA, Marco Aurélio. Em
defesa da política. 2 ed. São Paulo: Senac, 2004.
Resenha
A
obra de Marco Aurélio Nogueira, Em defesa da política trata-se da organização
de uma série de textos em que o autor defende de forma voraz a política. Isso
acontece por causa do desenvolvimento do tema nos últimos anos, tendo em vista
a supremacia das questões econômicas sobre as questões políticas.
O
mercado no mundo globalizado se sobrepôs às questões políticas e por outro lado
uma certa demonização do universo político ocorreu, onde políticos são
queimados nas fogueiras das redes sociais todos os dias, e uma áurea assombrosa
tomou conta da política. Tentando defender o mundo da política, Marco Aurélio
Nogueira construiu sua obra.
O
livro é dividido em 10 textos...o primeiro deles, chama-se crise
A
primeira questão levantada por Nogueira está relacionada com a idéia da
economia, onde o tempo, a racionalidade e a tomada de decisão estão
interligadas, prejudicando tempo da política. O tempo da economia é um...o
tempo da política é outro...a economia precisa de solução para amanhã...na
política é necessário construir o consenso, o que de certa forma leva tempo...e
o tempo é uma ferramenta preciosa para o mercado e que não pode ser
desperdiçado. Nesse contexto, um argumento semelhante a esse é encontrado na
obra de Anthony Giddens, As consequências da modernidade, uma obra também muito
interessante, onde vale a pena a leitura.
Nogueira
deixa claro quando fala “há pouca política no debate político, pois este passou
a depender muito mais do cronômetro que de argumento” (p.21)
No
capítulo chamado Riscos e sentidos, Nogueira aponta para a natureza da
política. Palavras como poder, autoridade, interesses, ambições, força,
persuasão, leis, armas, afeto e repressão fazem parte do universo conturbado da
política. A política exige de acordo com Nogueira uma concessão difícil de ser
organizada, o do pensar coletivo..é necessário que seja lá quem faça a política
pense do ponto de vista do outro e não apenas olhe para os seus próprios
interesses...fazer política é pensar na coletivo, no interesse de todos os
cidadãos.
No
capítulo chamado complexidade e dialética, Nogueira organiza uma crítica ao
processo de tecnicização da sociedade que se desencadeou nos últimos anos com o
desenvolvimento da globalização. Segundo o autor, não tem como pensar a
política como um espaço rígido controlado por técnicos.
O
predomínio das questões técnicas e a autoridade dos especialistas empurraram os
cidadãos para os bastidores das decisões políticas, causando o enfraquecimento
da democracia. Nogueira aponta que a tecnocracia não combina com a democracia
que no limite a sufoca e a liquida.
O
argumento apresentado por Nogueira é de que na democracia todos podem decidir a
respeito de tudo e nesse contexto, ela se choca abertamente com a tecnocracia,
pois esta pretende que as decisões sejam tomadas pelos que detém conhecimentos especializados
e estariam preparados para neutralizar as paixões e os interesses. A política
para Nogueira é um espaço humano por excelência e não tecnológico como querem
fazer parecer.
No
capítulo intitulado Falhas e determinações, Nogueira aponta a principal função
da política: a capacidade de tornar autoconsciente uma determinada comunidade e
diz que se a política falha nessa função, ela se torna inútil e
desinteressante. O argumento usado pelo autor nesse sentido é de que a política
geralmente utilizada, é a política do poder, com pouco diálogo e ao mesmo
tempo, com a ausência da política..e isso nos leva a um ambiente de
dificuldade, uma vez que existe um processo de verticalização da política e uma
certa dose de autoritarismo. Na verdade, existe um processo de demonização da
política na estrutura social, na medida em que tudo pode ser considerado
político...e esse conceito do político é de certa forma discriminado, sem
sentido, inócuo e com a ideia de defesa de interesses de determinados grupos.
Para
melhorar as falhas do sistema político, Nogueira aponta a necessidade de se
organizar uma reforma política, mas de forma crítica aponta que não pode haver
reforma política sem reformar os políticos e o sistema de uma certa forma, já
que o sistema não funciona de forma adequada. É necessário colocar a política e
a vida no mesmo patamar...na visão do autor, a política está acima das
condições na vida, na medida em que é usada como instrumento de perpetuação do
poder...A política não pode ser vista como instrumento de poder, mas sim de
diálogo para que possa ter uma melhor resolução das questões da vida.
No
ensaio intitulado “As três políticas”, Nogueira aponta a existência da Política
dos políticos, a Política dos cidadãos, e a Política dos Técnicos.
Sobre
a política dos políticos, o autor aponta que se trata da política com pouca
política. Essa política está atrelada às questões da realidade, com aquilo que
é possível abrindo caminho para a politicagem dos oportunistas de plantão.
A
política dos cidadãos, a política que busca o bem comum, no aproveitamento
civilizado do conflito e da diferença, no valor dado ao diálogo, do consenso e
da comunicação. É a política com muita política.
A
política dos técnicos, essa política é a não política, ela se apóia na
valorização da técnica, da gestão, da administração sobre o governar, o
articular. Para a política dos técnicos “onde há política ou poder, há
corrupção”.
No
capítulo denominado “A globalização da política”, Nogueira traça um lugar comum
dentro do tema, onde suas críticas já são conhecidas do imenso público, mas o
ponto fundamental está atrelado à desmontagem do processo de representação
política e a imersão de sociedades complexas e desterritorializadas,
desenvolvendo o ciberespaço.
Segundo
Nogueira, a globalização da política produz crise porque é capaz de
desconstruir o espaço de mediação política, ela coloca em xeque a capacidade
societal de produzir símbolos unificadores e de relacionamentos.
No
capítulo Cidadania travada, Nogueira aponta a luta pela extensão da cidadania,
pela transformação de todos em cidadãos e faz parte do conflito social da época.
A luta pela cidadania é uma constante dentro do processo político moderno. Na
visão doautor, a extensão da cidadania
vincula-se à dinâmica democrática e vai depender sobretudo da instauração de
regimes representativos e do fortalecimento dos mecanismos de participação no
interior do diferentes Estados: da dissolução das diversas formas de poder
concentrado, de uma maior socialização da política, da conciliação da ideia de
que o poder pode ser limitado.
No
ensaio “Governar”, o autor aponta que a Política tem no ato de governar um de
seus atributos mais importantes, complexos e sofisticados. A associação do
político ao governante é muito comum na sociedade moderna. A interação entre
boas leis e os homens precisa ser uma constante no sentido de construir uma boa
relação. A tomada de decisão é fundamental nesse sentido, pois nem sempre
atende ao interesse de todos os cidadãos.
Diz
Nogueira, governar é antes de tudo, agir sobre recursos e pessoas. Governamos
espaços, territórios, fronteiras e recursos materiais, assim como governamos
paixões, interesses, emoções, grupos e indivíduos.
Uma
questão importante e que é trabalhada por Nogueira é a organização do
e-government. Trata-se de uma exigência da sociedade contemporânea...mas o
autor expõe uma visão crítica do processo uma vez que a sociedade não é
eletrônica..de qualquer forma, existe a necessidade de se adaptar a essa nova
exigência. De qualquer forma, fica difícil o avanço tecnológico sem a retomada
da política. O diálogo e a negociação, vem antes do avanço tecnológico.
No
ensaio chamado Ruídos democráticos, Nogueira aponta que existe um desinteresse
significativo sobre as questões políticas..a supremacia das questões
econômicas..a existência de um grande mercado e pouco Estado. A questão
política atrelada somente ao voto...isso desgastou o cenário da política. A
questão sofrida da representação política..e pouca participação direta da
população nas tomadas de decisões...mas de qualquer forma, existe uma luz no
fim no túnel, já que o desenvolvimento pode acelerar a participação política
direta do cidadão nas tomadas de decisão do Estado.
Para
Nogueira, só existe saída para a retomada da política pela Esquerda...De acordo
com o autor, a defesa da política fica assim suspensa, à espera da plena
reposição da esquerda como força de governo, crítica e contestação.
Morelack e Narita trazem
um pouco de luz para a política contemporânea na medida em que pensaram e se
debruçaram sobre o conceito do populismo. Discutir o conceito e trazer novas
interpretações foi uma missão muito significativa, uma vez que os conceitos
mais antigos estabeleciam relações apenas com as questões políticas, os autores
nessa obra conseguiram abrir o leque e relacioná-lo com as questões econômicas,
a psicologia e todo o contexto sociocultural. Sua leitura é obrigatória para
quem se importa com os rumos da política.
Palavras-chave:
Populismo; Ideologia; Populismo – teoria política
MORELOCK, Jeremiah;
NARITA, Felipe Ziotti. O problema do populismo: teoria, política e
mobilização. Jundiai: Paco, 2019.
Resenha
O populismo
em detalhe
Na
obra “O problema do populismo” percebe-se de forma clara e objetiva que o conceito
do termo não possui apenas um significado. O populismo muitas vezes é utilizado
de forma errônea por parte da população em geral, uma vez que o generalismo que
toma conta do seu significado se sobressai. O seu conceito mais tradicional flutua
entre os adeptos da direita e da esquerda, gerando acusações de ambas as partes
e conflitos intermináveis entre as ideologias políticas.
Os
autores tentam de forma muito perspicaz aplicar um pouco de luz sobre o
conceito, o que por si só, já pode ser considerado válido diante da crise que
assola a política em seu atual estágio. A luz se torna ainda mais importante
porque o populismo é permeado por uma instabilidade abissal em seu conteúdo e
merece um trabalho específico e denso, como é esse que foi escrito por Morelack
e Narita.
Resgatando
autores clássicos como Habermas e Derrida, os autores trabalham o conceito de
forma muito intelectualizada, mas sem perder a capacidade da explicação e do
esclarecimento do termo. Isso precisa ser considerado tendo em vista que não se
trata de uma leitura chata e monótona, mas acima de tudo esclarecedora e dentro
das perspectivas políticas atuais.
Os
autores deixam claro que o populismo é fruto não só do sistema político, mas
principalmente do processo de desenvolvimento sociocultural, o que torna o
conceito mais amplo, isso proporciona um verniz mais moderno ao termo, se
comparado com as construções teóricas passadas, ligadas estritamente ao
universo da política. Importante ressaltar que o conceito trabalhado pelos
autores se encontra recheado com as ideias de Habermas, para quem “as pessoas
comuns experimentam uma forma de alienação em relação ao governo, entendendo as
elites políticas como instâncias de legislação orientadas por uma lógica
deslocada do mundo da vida”.
A
alienação está relacionada com a crescente cisão entre as instituições
objetivas de controle e de governo da população, das estruturas mais orgânicas
da sociedade. O capitalismo tardio de alguns países em condições de
vulnerabilidade, abre o caminho para as crises de legitimação e o seu principal
elemento são as tormentas relacionadas ao processo de representação. As crises
institucionais abertas pelo capitalismo tardio abrem o caminho para diversos
efeitos sociais.
A
perda de aderência das instituições democráticas e a fantasia relacionada com o
sistema de participação, alimentados pelo establishment político pavimentam a
estrada do populismo, que surge em um movimento pendular das sociedades
democráticas. O populismo se estabelece entre as estruturas do sistema democrático
e o salvamento popular proporcionados pela participação política que se estabelece
através do voto direto.
O
populismo por si só é capaz de produzir uma moralidade singular, na medida em
que coloca o povo como opositor da elite, de um lado a pureza da vontade
coletiva, de outro a forma elitista de ser permeada pelo sistema de corrupção.
Nesse
contexto, o populismo representa não somente a implosão do sistema
representativo, mas também uma prática política que não converge com o sistema
político democrático vigente.
Os autores apontam de forma muito significativa que o populismo encontra-se
cravado nas identidades coletivas e solapa os valores da cidadania liberal,
contribuindo para o esvaziamento da participação política.
Historicamente,
o termo populista foi empregado para dar nome aos líderes carismáticos em
países em desenvolvimento, com características nacionalistas, mas que contavam
com forte apoio popular e as oligarquias plantadas. A obra de Francisco
Weffort, O populismo na política brasileira traz uma contribuição significativa
para o entendimento da construção dos líderes carismáticos entre o período que
segue 1945 a 1964, que marca o primeiro período democrático, na medida em que
mergulha no “submundo” da política brasileira, desnudando políticos como Ademar
de Barros, Janio Quadros, Juscelino Kubstchek entre outros.
Nessa
perspectiva, Morelock e Narita resgatam o conceito de Stuart Hall e unem
autoritarismo e populismo – apontam que os contextos sociais e materiais que
desenvolvem o autoritarismo, também podem produzir o populismo. De forma
objetiva apontam que os populistas simplificam os procedimentos formais da
democracia, se colocando acima deles, mas sempre apoiados pelos resultados
majoritários das urnas e nem se importam com os freios e contrapesos colocados
pelo sistema político formal, uma vez que em linhas gerais se encontram em processo
de enfraquecimento causado pelo desgaste da representação política, por isso se
descortinam as relações autoritárias. Nesse sentido, populismo e rompantes
autoritários andam de mãos dadas e se identificam na medida em que coloca de um
lado um grupo identificado como povo e outro elite. Povo e elite se contrapõem
nas políticas ligadas ao populismo.
Os
autores usaram as obras de Habermas e Wallerstein para dar corpo ao processo de
desenvolvimento do populismo, na medida em que as teorias organizadas por ambos
apresentam argumentos palpáveis para o entendimento de como as ações populistas
tomam forma em nações ainda desprovidas de desenvolvimento social e econômico.
Norita e Morelack apontam que a divisão social do trabalho, o desenvolvimento
econômico e a urbanização estão enraizados no mundo da vida e influenciam os
movimentos populistas nesses países. Do ponto de vista de Habermas, a alienação
e o problema da representação de subgrupos na esfera pública contribuem para a
constituição do populismo, pois povo precisa ser defendido das ações antagônicas
provenientes desses elementos, uma vez que a esfera pública é uma forma
democratizante na sociedade moderna.
No
que se relaciona à obra de Wallerstein, os autores apontam que as mudanças que
ocorrem no sistema-mundo e os rearranjos econômicos causam um conjunto de
alterações sociais que por sua vez geram a pressão social. É aí que reside a
crítica dos autores ao sistema na medida em que “países e regiões são
hierarquicamente e funcionalmente divididos em “centros”, “semiperiferias” e
“periferias”. A dinâmica material, então, produz transformações históricas,
provocando a alteração daqueles três eixos centrais e implicando a reorientação
da posição de cada país junto ao sistema. Nosso argumento é que, à luz desse
dinamismo estrutura, movimentos populistas ganham corpo” (MORELOCK; NARITA, 2019,
p. 36)
Morelock
e Narita não se satisfazem apenas em trabalhar as questões políticas
relacionadas ao desenvolvimento do populismo, os autores trazem também aspectos
da psicologia para o trabalho, o que proporciona versatilidade intelectual para
a análise do fenômeno e novas formas de abordagem.O capitalismo moderno se desenvolve
atravésda alienação, o que nos faz
ficarmos desconectados e autointeressados por influências das propagandas e que
em períodos de crise social, as pessoas se frustram, se tornam confusas e desesperadas,
facilitando a construção de grupos com identidade forte e com ideias mais
explicitas, abrindo caminho para as personalidades com características
populistas.
Um
elemento amplamente trabalhado pelos autores na obra diz respeito ao processo
de desconstrução da racionalidade e do politicamente correto, ambos abrem
caminho para a ascensão do anti-intelectualismo. A atmosfera anti-intelectual
está ligada com a produção do sujeito neoliberal já que a necessidade de
potencializar o capital humano vai na contramão do conhecimento acadêmico. Em
linhas gerais, não há necessidade de desenvolvimento intelectual para o
desenvolvimento de uma vida puramente prática.
Nesse
sentido “as mitologias fascistas espreitam os desmoralizados e os suscetíveis,
oferecendo paliativos cognitivos de diversas formas. Os exemplos nesse sentido,
são a lealdade fervorosa a líderes carismáticos, a presença de narrativas
reivindicando uma idade de ouro perdida, a ênfase sobre um suposto direito de
dominação local ou de expansão global do poder e a unificação de uma comunidade
ética superior” (MORELOCK; NARITA, 2019, p. 56).
Em
linhas gerais, os autores apontam o populismo como sendo a ascensão de um grupo
que se autodenomina “povo” contra um inimigo nomeado “a elite” e definem
autoritarismo como a tentativa de uma homogeneização forçada, o populismo
autoritário é o lugar político onde populismo e autoritarismo se encontram.
Referências
WEFFORT,
Francisco. O populismo na política brasileira. São Paulo: Paz e Terra,
1980.
CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
Resenha
“A insuficiência da política”
Resumo
A obra de Manuel Castells surgiu num momento importante
para o sistema democrático devido ao instante conturbado porque passa e também
pelo processo de erosão que seu conceito mais tradicional vem sofrendo. Embora a obra pareça uma crítica contumaz à democracia liberal, ela
significa muito mais que isso, na medida em que aponta para um determinado
horizonte político. O terrorismo, o medo e a incapacidade da política de dar
respostas positivas ao cidadão comum contribuíram para o solapamento da democracia
contemporânea e também foram os responsáveis pelas eleições de Trump, Macron e
muitos outros líderes políticos de vocação pouco democrática que ascenderam
aopoder.
Palavras-chave[Av.1]: Democracia; Terrorismo; Medo; Poder; Crise do sistema democrático;
Democracia liberal;
Resenha
A obra Ruptura: a crise da democracia liberal, escrita
pelo renomado espanhol Manoel Castells, surgiu em uma hora decisiva da
política mundial, não só [Av.2]porque o sistema democrático passa por uma crise sem precedentes na
história, mas porque também novas lideranças políticas com viés autoritárias
vêm aparecendo no cenário político de forma mais ostensiva e sistemática,
contribuindo para a hecatombe (continuar o parágrafo)
Nesse contexto, muitas
obras políticas surgiram no mercado editorial nacional e internacional na
tentativa de explicar o frenesi
causado pelo avanço da direita no cenário político mundial, suscitando a morte
dos sistemas democráticos e ao mesmo tempo resgatando o fenômeno das ideologias,
que pareciam estar em dormência desde a década de 90, quando a social democracia,
através do voto, chegou ao poder e se disseminou mundo afora. Digo em dormência
porque durante os últimos vinte anos o mundo parecia fadado ao marasmo político
e assentado sobre o discurso de Francis Fukuyama de “fim da história”, mas a
história mais uma vez mostra que nada na política é em definitivo, e não existe
dono da verdade. Desse modo, a democracia não poderia ser considerada um fim em
si mesma era necessário ter-se reinventado, ter-se criado novas alternativas
para as crises enfrentadas. Processos de criação e novas formas de
desenvolvimento são salutares e necessários até para poder continuar existindo
e dar as cartas do jogo.
Nesse sentido, a obra de
Castells cumpriu seu papel de forma significativa e não pode ser visto apenas
com uma crítica ao sistema democrático, que serve para justificar o crescimento
da direita no cenário político contemporâneo, mas porque suas críticas não são
direcionadas à democracia em si, mas à democracia liberal – por democracia
liberal, entendem-se eleições regulares, representação política e funcionamento
adequado das instituições políticas.
Se a questão central da
crise da democracia é o fenômeno da representação política e sua relação com as
instituições políticas, as críticas já vêm sendo construídas há bastante tempo
e não podem ser consideradas algo novo, assim como as consequências que levaram
ao crescimento da direita na política, como muitos adeptos da esquerda estão
querendo acreditar. O desgaste do sistema democrático liberal já sofreu críticas
contumazes há bastante tempo e vem se desgastando no cenário mundial de forma
vertiginosa.[Av.3]
Na obra As consequências da modernidade escrita
no começo dos anos 90, o sociólogo inglês Anthony Giddens já apontava para esse
cenário de desgaste da democracia liberal, quando estabelecia a diferença entre
o tempo da política e o tempo da economia.[Av.4] Para Giddens, o tempo da economia é curto, o tempo da política é longo.
Como o tempo, na sociedade contemporânea, é considerado “dinheiro”, a
democracia liberal empurrou para “debaixo do tapete” as atribuições da
representação política, na medida em que não havia tempo para negociações e
discussões de projetos e, dessa forma, turbinou as ações do Poder Executivo,
simplificando as ações e direcionando responsabilidades, deixando a política
mais longe do cidadão comum e dificultando a visão dos olhos do senso comum a
capacidade da política de interferir de forma positiva na vida do cidadão. Em suma,
se todos os problemas são econômicos e podem ser resolvidos em curto espaço de
tempo,
porque é necessário debater com mais de quinhentos deputados uma determinada
proposição política? [Av.5]É preciso considerar que fazer política é dialogar, debater, se
posicionar e apresentar argumentos e como fazer isso sem a questão do tempo?
Envolver muitas pessoas numa discussão de um projeto pode atingir os interesses
econômicos mais urgentes. É nesse contexto que se desenvolve a hegemonia do
Poder Executivo, uma vez que é mais fácil personalizar uma decisão do que organizar
um debate para que uma decisão seja tomada.
Nesse contexto, a política
não seria necessária, e, não sendo necessária, transformou-seum grande risco para o sistema
democrático como um todo, na medida em que os governos autoritários se
sustentam na ausência das bases da democracia, que é a junção entre participação
popular e interferência nas questões do Estado.
Na visão de Castells,
existe uma democracia real, que é a democracia liberal, mas elaultrapassa os limites institucionais
estabelecidos, abrindo caminho para novos líderes políticos, como Trump,
Brexit, Le Pen e Macron.[Av.6] Os limites institucionais são quebrados quando o Poder Executivo passou
a assumir o protagonismo da política, jogando para segundo plano o Poder
Legislativo e o Poder Judiciário. Atualmente, o Poder Executivo também propõe
leis e as executam em nome da tal “governabilidade”, dificultando os passos da
oposição e desenvolvendo a sensação de hegemonia política. Esse tema já foi
amplamente discutido na obra de Clemerson Merlim Cleve a “A atividade
legislativa do Poder Executivo” escrita no começo dos anos 2000.
Castells não se furta em apontar
o caminho futuro da democracia mundial. Para ele, surgirá num horizonte próximo
uma nova ordem pós-liberal que tem como pano de fundo as políticas organizadas
pela China e pela Rússia e que apresentam regras políticas mais autoritárias,
mas, de qualquer forma, elas se apresentam como uma alternativa real à
democracia liberal.
Nesse sentido, Castells
aponta que existe uma ruptura entre cidadãos e governos, para quem os políticos
se ocupam dos problemas do mundo, não das pessoas – para ilustrar a sua
opinião, o autor traz dados interessantes sobre os países europeus que dão
conta da insatisfação extensiva da população com a democracia liberal, mas que
essa insatisfação não está relacionada com nenhum tipo de ideologia política,
seja de direita ou de esquerda.[Av.7]
Castells tece uma crítica
contumaz à democracia liberal, na medida em que o autor coloca, no
epicentro das discussões, a ideologia do consumo como valor e do dinheiro como
medida do sucesso. Para Castells, o modelo neoliberal centra no indivíduo a sua
linha de pensamento mais intensa e na sua satisfação imediata monetizada,
dificultando a relação com as questões coletivas.
De forma singular,
Castells trabalha no sentido de organizar os pensamentos sobre a influência da
mídia e a sua interferência no universo político. Nesse sentido, Castells
aponta que a
política, na mídia em geral, [Av.8]é feita através de imagens e se caracteriza como basicamente emocional.
Para o autor, a forma de luta política mais eficiente é a destruição moral da
imagem de quem se postula como líder, gerando um sentimento de desconfiança e
reprovação sobre a classe política em geral.
Terrorismo, medo e
política andam juntos, formando o que Castells denomina de “ménage à trois” sinistro. O terrorismo
indiscriminado que atua na sociedade contemporânea por aqueles que se sentem
discriminados pela democracia liberal, leva ao medo permanente, fazendo
com que a política se manifeste no sentido de restringir os processos de
liberdade. “Um estado de emergência permanente justifica no imaginário coletivo
a restrição sistemática das liberdades civis e políticas, criando uma ampla
base para a islamofobia, a xenofobia e o autoritarismo político”.[Av.9] (CASTELLS, 2018, p. 36 ).
A presença de novos
líderes políticos como Trump e tantos outros se justifica,
segundo Castells, pelo temor ocasionado pela globalização. O multiculturalismo,
a imigração, a desconfiança dos partidos e das instituições levam o medo à
sociedade como um todo, o que remete à busca incessante pela volta do Estado e
aos valores originários, estes, por sua vez, solapados pelo processo de
globalização, o que abre espaços para novos líderes políticos.
A eleição de Trump para
presidente dos EUA, assim como o plebiscito do Brexit e a entrada de Macron na
França são dissecados por Castells e, como pano de fundo, todos
eles são motivados pelo medo do terrorismo e do mundo desconhecido proposto
pelo fenômeno da globalização.[Av.10] A globalização revestida com as diretrizes do neoliberalismo, leva o
cidadão comum à sensação de desproteção, ocasionada pelo desmonte do papel do
Estado e pelo solapamento dos direitos sociais e por consequência o medo do
futuro. As eleições recentes, apontam para a tentativa de retomada do papel do
Estado a qualquer custo, não importando a ideologia política.
Por conseguinte, Castells
tece uma crítica ao fenômeno da União Européia, desde o processo de organização,
pensada mais na sua capacidade econômica do que nas ideias políticas que
revestiram a frágil união – para quem o ideal de uma unidade fosse organizada
sem levar em consideração a opinião da população, com seus preconceitos,
valores e ideais. Desse modo, Castells aponta a União Européia como um “projeto
de construção política a serviço de valores identificados com a civilização foi
um projeto elitista e tecnocrático, imposto aos cidadãos sem um debate e com
escassa consulta”[Av.11]. (CASTELLS, 2018, p.
A obra de Castells é uma
viagem aos problemas políticos mundiais e muito significativa para as ciências
humanas em geral, pois alia política, democracia e economia, além de contar com
uma critica muito racional ao sistema e aos problemas existentes.
Referências
CLEVE, Clemerson Merlin. A atividade
legislativa do Poder Executivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.
GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991.
[Av.1]Reveja
as palavras-chave, pois estas não dão conta do objeto em destaque na resenha
[Av.3]As
ideias no parágrafo encontram-se amontoadas, separadas por vírgula, mas não se
conectam para fazer sentido ao que você quer dizer. Transforme essas vírgulas
em pontos-finais, e faça as conexões para que o parágrafo faça sentido