Sunday 31 March 2024

O assassinato do Bode


Llosa, Mario Vargas. A Festa do Bode. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

Resenha

O assassinato do Bode

Mario Vargas Llosa é escritor peruano, possui vasta bibliografia e possui participação ativa na política peruana, foi candidato a presidente da República do Peru nos anos 90, acabou perdendo a eleição para Alberto Fujimori, mas nunca escondeu sua preocupação com a política latino-americana.

A obra de Mario Vargas Llosa, A Festa do Bode é uma obra política, narra a história do então ditador Rafael Trujillo da República Dominicana, assassinado durante os anos 60. A obra de Llosa já começa interessante pelo título, pois o bode pode representar para o dominicano a imagem do diabo, pois a política sempre é capaz de apresentar o Deus e o Diabo diante dos eleitores, a política da América Latina é mestre em colocar em alta essa dualidade e nunca houve limites para a construção dos mitos políticos.

Unir literatura e história não é uma missão fácil para qualquer um que tente se aventurar nesse terreno, a história possui as suas verdades, a literatura não é acostumada a ter limites, nesse sentido, o que é história? E o que é literatura na obra de Llosa? Não sei se é essa a missão de Llosa, mas quem lê a obra acha que a narração é verídica, isso é a capacidade do grande escritor, e Llosa está na primeira prateleira da literatura da América Latina, junto a Sergio Buarque de Hollanda, a Gabriel Garcia Marquez e tantos outros.

Nesse sentido, escrever sobre as ditaduras que assolaram a América Latina nos últimos cinquenta anos, pode não ser novidade para ninguém, uma vez que esse tema possui cadeira cativa na literatura latino-americana e sua bibliografia é extensa e todas as obras caem no lugar comum das críticas mais vultuosas, não é o que acontece com a obra de Vargas Llosa, A Festa do Bode pode ser considerada um marco e por isso, merece um lugar de destaque na estante dos livros de literatura da região.

A obra de Llosa é significativa por vários motivos, um deles é a narrativa sensacional que cria em torno da personagem Urania, filha de um amigo e ex-general de Rafael Trujillo. A tortura psicológica em que a personagem coloca o pai já doente e enfermo na condição de “refém”, fazendo com que ele confesse os crimes cometidos durante o governo de Trujillo é sensacional do ponto de vista de literatura e da construção da história, afinal, quem está na “guerra”, tem que se sujeitar as suas regras. Urania teve que viver muitos anos fora da República Dominicana por conta da ditadura de Trujillo e se achava no direito de “tirar” as verdades do pai, mesmo ele estando em situação enferma.

Os assassinatos, as tramas organizadas por Trujillo contra os seus opositores e narradas no livro “fazem inveja” aos assassinatos e as emboscadas organizadas no filme “O Poderoso Chefão” onde Marlon Brando desfilava seu talento na pessoa de Don Corleone, o “modus operandi” se assemelhava ao da máfia de Nova York, salvo quando Rafael Trujillo mandava jogar seus adversários políticos do despenhadeiro para serem devorados pelos tubarões, criando terror na população de forma geral.

O terror vai ser a forma de tomar conta do universo político por parte de Rafael Trujillo e com isso ele foi capaz de construir o ódio em torno de sua pessoa e do seu governo, a forma como utilizava os generais do exército para conquistar seus objetivos era aliciadora, Trujillo jogava um contra o outro, dava liderança e tirava ao mesmo tempo, ao menor sinal de traição, tramava a morte de forma pérfida e cruel, não à toa as emboscadas para assassiná-lo até que em 1961, veio o golpe fatal e assim A Festa do Bode se fez presente.

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