Era segunda-feira de carnaval, eu estava me preparando para fazer uma caminhada quando resolvi abrir meu WhatsApp, lá estava um recado do Rodrigo Soró, em meio ao sol quente e o começo da atividade física, ouvi seu convite para fazer parte do projeto de criação de um site de notícias sobre o esporte amador de Araraquara, ele estava propondo que eu escrevesse uma coluna mensal ao site, fiquei muito honrado com o convite e mesmo em meio ao “ofeganismo” da caminhada o respondi de forma positiva.
Tuesday, 12 December 2023
Começando os trabalhos!
O futebol de salão araraquarense, a W&L Decolores e a tradição na modalidade
O futebol de salão é muito tradicional em Araraquara, a primeira liga de futsal do país foi organizada na cidade, isso é muito significativo em termos da prática do esporte e até mesmo em resultados expressivos na modalidade.
O campo da Atlética, Jair Bala, a laranja e o gelol!
Quando o assunto é esporte amador de Araraquara, não se pode deixar de mencionar o campo da Atlética que fica próximo à Igreja Santo Antônio no bairro da Vila Xavier, relembrado numa conversa recente com Marinho Rã no Podcast Uniara, cria do Colorado do Zé Lemão e com passagem pela Portuguesa de Desportos e Seleção Brasileira, que inclusive, iniciou sua carreira de jogador no campo da Atlética.
O basquetebol de Araraquara e seus protagonistas
Quando o assunto é basquete, me recordo das aulas de Educação Física da Escola Narciso da Silva Cesar no bairro do Santana com o “excelente” seu Carlos, professor comprometido com a cultura corporal e com o desenvolvimento do espírito esportivo de seus alunos - os exercícios repetitivos de arremesso e posicionamento em quadra nunca mais seriam esquecidos.
O time de futebol de salão da W&L Decolores e o “Alma Brasileira”: a união entre o samba e o futebol em Araraquara
A relação entre o futebol e o samba no Brasil sempre foi muito próxima, tão próxima que já foi capaz de gerar livros, debates, documentários e influenciar gerações – para o brasileiro em geral, o futebol não é capaz de sobreviver sem a “cadência do samba”.
Os trampolins da Ferroviária!
Quem era jovem e passou as tardes de domingo no final dos anos 80 na cidade de Araraquara, com certeza não deixou passar imune os trampolins das piscinas da Associação Ferroviária de Esportes.
O Break: do Melusa Clube às Olímpiadas
Quando o clip da música Thriller de Michael Jackson foi apresentado num programa de televisão em um domingo à noite em meados dos anos 80 (oitenta), todos ficaram sem entender o que estava acontecendo com o universo da dança e da música, mas uma coisa chamou a atenção, a maioria dos jovens da época tentavam a imitação perfeita do Rei do Pop.
O Sporting Benfica: legado e tradição no futebol de Araraquara
Quando aquele grupo de jovens se reuniu em frente à Praça do antigo Estádio Municipal e decidiu fundar o Sporting Benfica de Araraquara tenho a certeza de que não imaginaram que iriam ultrapassar a barreira do tempo, isso aconteceu no final dos anos 60 (sessenta), e depois de tantos anos, ainda persiste, agora, com nova roupagem e tocado pelos seus filhos, netos e amigos de longa data.
1983: uma noite de Taça de Ouro no Estádio da "Fonte Luminosa"!
A gente desceu a rua Imaculada Conceição, a famosa rua 12 (doze) que fica na “fronteira” entre o bairro São Geraldo e o Santana em direção à Avenida 36 (trinta e seis), meu finado pai com o radinho de pilha em mãos e em alto volume e eu, moleque, correndo a esmo, às vezes na frente, às vezes atrás, mas sempre de ouvido no que José Roberto Fernandes e sua equipe falavam sobre o jogo.
O Clube 22 de agosto: tradição no esporte e na cultura de Araraquara!
Na avenida Prof. Jorge Correa na altura do bairro de Santana em Araraquara está localizado o Clube 22 de agosto. Desde os anos 70, as contribuições do Clube para a cultura e o esporte foram imensuráveis, as práticas de esporte eram rotineiras e ainda continua sendo, mesmo não tendo a volúpia de outrora.
O Parque Infantil: corridinha, entretenimento e qualidade de vida em Araraquara!
Uma praça que fica praticamente no “meio” da cidade, assim é o Parque Infantil de Araraquara – uma praça imponente, cheia de Palmeiras altas e vistosas e com uma creche em seu interior, algumas vias em asfalto com bancos verdes para sentar e contemplar a natureza, tudo isso está a vista no Parque.
Monday, 20 November 2023
A ADA – Associação Desportiva Araraquara: o futebol e o resgate histórico
A ADA – Associação Desportiva Araraquara foi fruto da fusão entre o São Paulo e o Paulista Futebol Clube no ano de 1952, teve como patrono Pereira Lima que se opunha ao grupo do então governador Ademar de Barros que “entre aspas” defendia as cores da Associação Ferroviária de Esportes e que havia sido responsável pela construção do Estádio da Fonte Luminosa.
Para
não usar as cores preto e vermelho que assemelhavam às do São Paulo e do
Paulista, usaram as cores da cidade, o azul e o branco e Pereira Lima foi o responsável
pela montagem do elenco. O primeiro treinador da ADA foi José de Andrade e a
equipe disputou a divisão de acesso. Pereira Lima foi buscar pelo país reforços
para a equipe, trouxe jogadores do Fluminense do Rio de Janeiro, da Portuguesa
de Desportos, do Comercial de São Paulo entre outros.
Os
primeiros treinos da equipe foram feitos no antigo Estádio Municipal “Tenente
Siqueira Campos” e tinham como frequentadores os torcedores dos extintos, São
Paulo e do Paulista. O primeiro jogo da ADA aconteceu em 06 de abril de 1952
contra o Noroeste de Bauru e a ADA aplicou uma goleada por 5 x 0, nascia nesse
jogo a rivalidade com a Ferroviária – a FERRO-ADA.
O
primeiro jogo entre a Ferroviária x ADA aconteceu no dia 10 de agosto de 1952, uma
disputa com grande rivalidade e tensão que terminou com a vitória da Ferroviária
por 4 x 3 e teve até morte por ataque cardíaco de um torcedor, tal era o clima
que revestia a partida. No total foram disputadas 11 partidas entre a ADA e a
Ferroviária, entre os anos de 1952 e 1956, a ADA venceu 2 partidas, 2 empates e
7 vitórias da Ferroviária.
Após
perder as disputas na divisão de acesso em 1953, a ADA paralisou suas atividades,
voltando em 1955, num jogo contra o Internacional e em 1956, a Ferroviária
conquistou o acesso à divisão especial e a ADA entregou as faixas, simbolizando
a paz entre os times.
Em
1957, em meio à intensa crise financeira a ADA voltou a disputar a Divisão de Acesso
e a campanha foi um fracasso, em 16 jogos, foram apenas 2 vitórias, 5 empates e
9 derrotas, depois do fracasso, o Departamento de Futebol da ADA foi extinto,
mas ela continuou disputando o futebol amador de Araraquara até a década de 70.
Sunday, 5 November 2023
Tota: o mago dos campinhos de Araraquara
Ele
sempre chegava em sua magrela azul e com sua pastinha preta embaixo do braço. A
molecada jogando bola – ele estacionava e ficava olhando, não sabia ao certo
quem era o alvo, mas uma coisa tinha certeza, sempre queria um novo talento
para o futebol, assim era o Tota.
Andava
de campinho em campinho, geralmente de terra, os gols feitos de bambu ou com
sobras de madeira, o terreno de forma costumeira era penso para um dos lados,
sem contar a erosão que existia no meio do campo e formava os buracos, a bola
quicava muito e mesmo assim, a persistência era maior que a teimosia e Tota
nunca desistia.
Após
o término das peladas, Tota sempre chamava os talentos para uma conversa ou
para assinar uma ficha e assim, assumir um compromisso com a sua equipe – seria
uma espécie de contrato a ser assinado, a garantia de que aquele talento
vestiria a camisa de sua equipe – a concorrência entre os treinadores da época
era intensa e não podia dar bobeira, garantir os melhores era fundamental para
o sucesso.
Para
Tota, todos os meninos eram iguais, só os distinguia pelo talento aplicado no
campinho, se tivesse talento, jogava em seu time, se não tivesse, podia até ir
treinar, mas dificilmente seria escalado, já que sua personalidade exigente e
vencedora não permitia.
Em
campo, se transformava no banco de reservas, dava de dedo na molecada, chamava
a atenção e cobrava, o jogador de seu time nunca podia chegar atrasado, já era
chamado de lado e muitas vezes nem vestia a camisa do time, podia ser o craque
que for, não interessava, tinha que cumprir o compromisso com a equipe.
Tota
fazia o esforço, levava em um saco o uniforme do time amarrado na garupa da
bicicleta mesmo sob o sol escaldante da Morada, as meias amarradas umas às
outras para não se perderem, as camisas geralmente amarrotadas e os calções de
vários tamanhos misturados, para pegar o de tamanho certo, a sorte precisava
acompanhar, mas estava tudo bem, quem estava no vestiário, estava feliz, pois
estar escalado para participar do jogo já era uma vitória, se iria entrar em
campo ou não, era outra história, mas uma coisa o menino tinha certeza, estava
entre os melhores.
Tota
era muito parceiro de Jair Bala, os dois viviam no buteco que havia ao lado do extinto
Cine Plaza, no alto da rua dois, geralmente tomando uma cervejinha para
refrescar a cuca – santista de coração, fazia questão de exaltar os títulos
conquistados e as proezas de Pelé e sua turma.
Tota
era incansável na busca por talentos, muitos que passaram por suas mãos
chegaram ao profissional, outros tantos, não, mas sempre levaram consigo os
ensinamentos do mestre: a busca pela disciplina, a perfeição nas ações e a
formação do caráter.
E
como diz a poesia de Bertold Brecht:
“Há homens
que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os
que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes
são imprescindíveis!”
Tuesday, 10 October 2023
Crônica: O menino, a bicicleta e Anésio Argenton!!
O menino, a bicicleta e Anésio Argenton
Saiu de casa à esmo
naquela manhã alegre de sábado com a sua bicicleta, não era preciso ir à escola
e não tinha obrigações de casa para fazer, portanto, dar uma volta de bike era
convidativo e fundamental, apesar do calor da Morada.
Como morava próximo à
rua 1 (um), resolveu subir a Barroso até o cruzamento com a rua 2 e seguiu em
direção ao bairro do Santa Angelina, lá em cima, já no caminho da Fonte
Luminosa, cruzou a Bento de Abreu rumo à Praça do Paliteiro.
Depois, desceu a rua 3
(três) e entre as avenidas 40 (quarenta) e 42 (quarenta e dois) avistou um
senhor sentado na porta de uma bicicletaria, olhou com atenção aquela cena e
resolveu parar, afinal, tinha uma bicicleta nova em exposição e resolveu
conhecê-la.
_ O senhor trabalha
aqui? Perguntou o menino, afoito e curioso!
_ Sim...sou o
proprietário!
_ Gostaria de saber
mais sobre essa bicicleta que está em exposição, disse o menino.
_ Então, vamos entrar!
Falou o homem!
O menino percebeu que
havia vários pôsteres nas paredes e alguns troféus espalhados na prateleira e
resolveu perguntar:
_ Quem é esse nos
pôsteres? Indagou o menino.
_ Sou eu! Disse o
senhor.
_ Como é seu nome?
Perguntou o menino, apreensivo!
_ Anésio Argenton!
Disse o senhor com olhar fraternal!
_ Ah..vai haver uma
prova de ciclismo essa semana e ela leva o seu nome, agora entendi tudo! O
senhor já foi campeão de ciclismo? Para ter o nome numa prova com certeza deve
ter sido alguém bem importante! Bom, pelo menos é o que eu acho! Falou o menino
com cara de surpresa!
_ Sim, já ganhei várias
provas, mas isso faz muito tempo! Disse Seu Anésio.
_ O tempo não apaga as
glórias conquistadas! Retrucou o menino com ar de sapiência.
_ Me conte um pouco de
suas conquistas! Tenho tempo o suficiente, hoje é sábado e posso chegar em cima
da hora do almoço, minha mãe não vai brigar comigo! Falou o menino!
Seu Anésio olhou para
o menino demonstrando paciência e pediu para ele se sentar.
_ Não foram tantas,
ganhei os jogos pan-americanos de Chicago em 1959, depois fiquei em quinto nos
Jogos Olímpicos de Roma em 1960 e no Jogos pan-americanos de 1963 fiquei com a
medalha de bronze, acho que dei alguma contribuição para o ciclismo brasileiro!
Falou seu Anésio de forma humilde.
_ Poxa! Então, parei no lugar certo e ainda conheci
um campeão de ciclismo, jamais imaginei isso! Falou o menino em tom de
surpresa.
_ Hoje, vivo bem aqui,
arrumo algumas bicicletas, outras eu vendo, mas é a vida, eu ainda pedalo, mas
só de vez em quando, os joelhos já não ajudam mais, mas vamos fazer o seguinte,
sábado que vem, apareça aqui no mesmo horário e vamos pedalar juntos, podemos
combinar? Disse seu Anésio com sorriso no rosto.
_ Nossa, nem vou
dormir de tanta ansiedade, pedalar com um campeão, realmente é para poucos e
claro, está combinado. Disse o menino com sorriso no rosto estendendo a mão
para cumprimentar seu Anésio.
O menino saiu da loja
em extase e no caminho de volta para casa lembrou-se da poesia que seu
professor de literatura havia certo tempo atrás recitado em sala de aula:
Ia pelo caminho
calorento,
O sol como um milharal
em chamas
E a terra um infinito
círculo saboroso com o céu azul em cima, desabitado.
Passaram junto a mim
as bicicletas de Argenton!
Obs: Poesia de Pablo
Neruda adaptada chamada “Ode à bicicleta”
Wednesday, 4 October 2023
Dos
trilhos à Fonte Luminosa
Escrever
sobre a Associação Ferroviária de Esportes para quem mora na cidade de
Araraquara pode parecer ser uma missão não muito complicada, tendo em vista a
aparente proximidade entre a agremiação e a torcida, mas, no futebol, o fato de
jogar em casa, nem sempre significa ser favorito, é assim a obra escrita pelo
meu amigo Doutor Marcelo Cirino.
Digo
isso pela complexidade que reveste a sua obra, fruto de pesquisa intensa, consulta
a jornais da época, às atas existentes, às fichas dos jogos, não foi nada fácil
reunir a documentação relacionada à Associação Ferroviária de Esportes, foi
necessário a construção de um personagem que embora tenha adoração pela
medicina também fosse capaz de adotar as sandálias humildes da história para
entendê-la, interpretá-la e depois escrevê-la.
Quem navega
sobre as águas do livro Fonte Luminosa – Ferroviária de Marcelo Cirino mergulha
em uma fonte de água cheias de luzes e histórias de Araraquara e da Associação
Ferroviária de Esporte, Cirino foi buscar ainda nos trilhos da antiga Fepasa
elementos que ressaltam o nascimento da agremiação.
O
futebol em Araraquara, antes mesmo da Associação Ferroviária de Esporte é
descrito de forma sublime pelo autor, assim como o nascimento do time de
futebol e a construção da linda Fonte Luminosa, a presença ilustre do genial
Pereira Lima, figura ímpar que sem as suas ações, seria impossível pensar a
própria existência da agremiação e que se hoje o estádio resplandece de luz e
grandeza, muito se deve à sua persistência em construir o time grená.
O autor
construiu uma verdadeira viagem na história pelos trilhos da araraquarense. Foi
buscar elementos para ressaltar as excursões da Ferroviária em terras
estrangeiras, relacionou a ADA (Associação Desportiva Araraquarense) e os
dérbis com a Ferroviária, traz inúmeras fichas de jogos, cita os anos difíceis
e fotos memoráveis de times espetaculares que foram montados no decorrer da
história.
A obra
de Cirino é de leitura obrigatória para todos aqueles que se interessam pela
Associação Ferroviária de Esportes e pela Morada do Sol - afinal de contas, o autor conseguiu relacionar
os trilhos da Fepasa, o nascer do sol na Morada com a mesma felicidade daqueles
que já embarcaram em trens de passageiros e conseguiram curtir demais a paisagem
da janela.
Monday, 2 October 2023
O Cine Veneza, o Cine Capri e o canal 100: o futebol e a arte nos cinemas de Araraquara
Na
rua três em Araraquara entre as avenidas Espanha e Duque de Caxias ficava o
antigo cine Veneza. O cine Veneza representava muita coisa para o jovem da
época, aliás, não apenas o Veneza, mas também o Cine Capri que ficava a duas
quadras de distância, isso porque ambos os cinemas eram sinônimos de diversão e
com baixo custo, atraía demais o público.
Os
cinemas apresentavam os seus cartazes, já na época muito bem construídos e
simples apresentavam os filmes à disposição e os horários das sessões – ambos
eram grandes e os tapetes vermelhos apresentavam um charme de época, as
poltronas confortáveis, as telas gigantes e imponentes faziam a diferença, logo
na entrada, as bombonieres se faziam presentes e vendiam balas de leite
kids, balas soft, drops, e chocolates em um pequeno balcão com vidros, não
existia nada de pipoca e refrigerante, era a “felicidade” que existia naquele
momento.
Os
filmes passavam em rolo, era comum as vezes “ouvi-lo” nessa missão – a figura do
lanterninha sempre era um problema para os mais assanhados, quando começava o
rala e rola, lá vinha ele com a sua luz impertinente e justificada cortando o
barato da moçada. Era gostoso frequentá-los e depois dar uma passada na
livraria Vamos Ler que ficava ao lado do Cine Veneza, dar uma “folhada” nas
revistas da semana era certeiro, afinal, elas eram caras para assinar e ficar
sabendo das últimas notícias era fundamental.
Quando
as cortinas se abriam logo de cara o Canal 100 de Carlos Niemeyer pintava na
telona tendo como pano de fundo a música “Na cadência do Samba” de Luiz
Bandeira na voz de Waldir Calmon – o Canal 100 mostrava a sutileza dos movimentos dos jogadores de
futebol, geralmente do Flamengo e do Vasco, o Zico com aparência serena e
Roberto Dinamite apreensivo eram presenças constantes sob o barulho ensurdecedor das torcidas no
Maracanã, os geraldinos tensos com os rádios de pilha no ouvido protagonizavam cenas
que ficaram para a história e construíram a saudade de um estádio que já não
existe mais.
O
Canal 100 era dramático com suas câmeras lentas, aproximava atacantes e
goleiros em hora de definição do lance, os gestos dos juízes aplicando gritos
aos jogadores ecoavam nas salas dos cinemas, a decepção da perda do gol, a
alegria de uma defesa retratada de forma clara e objetiva pelas suas lentes
encantava a todos numa época em que o futebol representava a arte, os jogadores
eram os Chaplins em tempos que o artista da bola se assemelhava a Van Damme, a
Stallone ou mesmo à Edson Arantes do Nascimento e talvez por isso, desfilavam
seus talentos nas telas dos cinemas.
Monday, 18 September 2023
Mario José Pinto e as maratonas aquáticas
Mario
Pinto e natação são sinônimos, tal a simbiose que tomou conta de ambos, na
cidade de Araraquara quando se fala no nome de Mario, automaticamente já se
liga ao universo aquático e essa trajetória começou ainda menino nas piscinas
da Associação Ferroviária de Esportes.
Desde
o começo com os ensinamentos dos mestres Piscinão e Orselli, Mario Pinto já
demonstrava a vocação para a natação, talvez por isso, nunca mais a deixou,
aliás, foi aperfeiçoando a sua formação nas piscinas até chegar nas disputas
das competições de natação de longo alcance, as chamadas “maratonas aquáticas”.
Foi
aí que surgiu o sonho de atravessar o Canal de Mancha, espaço marítimo que liga
a França à Inglaterra – um verdadeiro desafio tendo em vista as condições nada
favoráveis de temperatura e pressão, uma vez que o mar naquela região costuma
ser gelado e de intensa vibração, o que dificulta e muito e valoriza demais o
sucesso na empreitada.
O
livro Travessia do Canal da Mancha está dividido em 5 (cinco) partes, na
primeira parte, o autor começa falando sobre a escolha pela natação e a
história da carreira.
Na
segunda parte do livro, aborda as maratonas aquáticas e as trajetórias em águas
abertas, assim como da decisão de fazer a travessia do Canal da Mancha.
Na
terceira parte, o auge do livro, onde o autor aborda a preparação para a
travessia, os momentos de tensão, solidão e o medo que toma conta do cenário,
assim como a realização, e a sua relação com o profissional Igor Souza que
conduziu todo o processo de preparação para a travessia.
Na
quarta parte do livro, Mario aborda as maratonas aquáticas e a sua relação com
a psicologia esportiva, o que pode ser considerado muito significativo uma vez
que o autor possui extensa formação profissional na área e a utiliza como
ferramenta para superar as grandes dificuldades que as maratonas aquáticas
apresentam.
Na
quinta parte do livro, o autor apresenta um álbum de fotos e imagens do sonho
realizado, o que torna o livro mais atrativo e de leitura fácil.
Superar
o medo, a ansiedade e as dificuldades para a realização de um sonho é a lição
que o livro apresenta, e a pergunta que pode ser fazer em cima da obra é a
seguinte: até onde você está disposto a ir para realizá-lo? O livro de Mario
Pinto tem tudo a ver com essa pergunta na medida em que a resposta é
extremamente positiva, pois ela consegue unir, determinação, perspicácia,
planejamento e perseverança em busca de um objetivo maior que é a concretização
de um sonho.
Sunday, 17 September 2023
Thomas Hobbes
O Estado em
Thomas Hobbes (1588-1769)
Porque
as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia, a piedade, ou, em
resumo, fazer aos outros o que querem que nos façam) por si mesmas, na ausência
do temor de algum poder capaz de levá-las a ser respeitadas, são contrárias a
nossas paixões naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, o
orgulho, a vingança e coisas semelhantes. E pactos sem a espada não passam de
palavras, sem força para dar qualquer segurança a ninguém. Portanto, apesar da
leis de natureza (que cada um respeita quanto tem vontade de respeitá-las e
quando pode fazê-lo com segurança), se não for instituído um poder
suficientemente grande para nossa segurança, cada um confiará e poderá
legitimamente confiar apenas em sua própria força e capacidade, como proteção
contra todos os outros (HOBBES, cap. XVII, p. 103)
Para
começarmos a entender o pensamento de Thomas Hobbes é necessário salientar que
ele faz parte de uma gama de pensadores conhecidos como contratualistas . Os
contratualistas vêem a sociedade e o Estado através de um contrato. Em linhas
gerais, o pensador escreve que seria impossível a convivência humana sem a
aplicação de regras e normas e que para cumprir esses contratos e normas era
necessário existir uma “entidade” que estivesse situada acima dos homens para
que os obrigassem a cumprir as regras estabelecidas.
É
nesse contexto que reside o entendimento sobre o seu pensamento. Thomas Hobbes
parte para a construção das suas idéias através do estado de natureza humana.
Para compreender o que Thomas
Hobbes quer dizer com estado de natureza humana é preciso salientar que o mesmo
não enxerga diferenças entre os homens - todos são iguais e que em linhas
gerais, estes não mudam seu comportamento através dos tempos.
De acordo com Ribeiro (1995, p.
54)
A natureza fez os homens tão
iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se
encontre um homem manifestamente mais forte do corpo, ou de espírito mais vivo
do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isso em conjunto, a
diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que
qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não
possa também aspirar, tal como ele.
O cerne do pensamento de Hobbes
está relacionado com a seguinte questão: nenhum homem é superior e não pode
triunfar sobre outro.
Nesse contexto, o Estado precisa
se impor “se não há um Estado controlando e reprimindo, fazer a guerra contra
os outros é a atitude mais racional” (RIBEIRO, 1995, p. 55).
No entanto, a fundamentação
teórica de Hobbes nos remete ao medo. Na visão de Hobbes, o medo faz parte da
natureza humana e o estado natural é capaz de propor a insegurança, o medo e a
angústia.
O medo que se instala sobre os
homens durante o estado de natureza é decorrente da igualdade natural – sendo
os homens iguais, estes podem ferir ou serem feridos, tendo em vista a
fragilidade do corpo, que se derrotado atinge também a força, a sabedoria e o
vigor.
O medo do exercício da guerra de
todos contra todos é e isso fica explicita na frase “minha mãe pariu gêmeos e
eu o medo”. È sobre esse pano de fundo que vai se desenvolver a criação do
Estado e a visão de Sociedade Civil hobbesiana.
A sociedade civil vai nascer da
racionalidade humana, sendo assim de forma artificial. No entanto, é necessário
vincular a racionalidade humana hobbesiana com o desenvolvimento das ciências.
Hobbes viveu em um período de intensa transformação científica, onde o uso da
razão era prevalecente. A racionalidade aplicada ao meio científico tinha que
ser transportada para o interior das relações humanas e sendo assim, a
formulação de pactos e contratos sobre a atuação de um Estado forte era
fundamental para a regulação da vida, evitando assim, a guerra de todos contra
todos.
A organização do estado racional
será capaz de colocar um freio nas relações humanas, uma vez que o pensamento
para Hobbes estabelece o homem como um ser egoísta e que só pensa em seus
interesses pessoais. Bueno (2010, p. 4) define estado natural hobbesiano,
quando aponta que “no estado, a força de cada um é medida por seu poder real;
cada um tem exatamente tanto de direito quanto de força e todos só pensam na
própria conservação, nos interesses pessoais”
É certo salientar que o homem
vai estabelecer a criação de um Estado racional tendo como ponto fulcral, o
medo. Medo de ser morto e escravizado e o Estado vai servir para proporcionar a
segurança necessária para viver em sociedade.
O Estado racional vai se
fundamentar no monopólio da força, portanto, o Estado será soberano e o direito
vai criar as bases e as regras das ações da sociedade.
É sobre esse contexto que
nascerá o Leviatã, monstro bíblico onde o mesmo se trata de um animal
monstruoso, invencível e cruel.
Na visão de Bueno (2010, p. 6)
O monstro foi criado – o
Leviatã, o homem artificial, que encarna o poder absoluto – do acordo coletivo,
em que os homens entregaram ao Estado todo o seu poder e sua vontade , e o fato
de cada homem ser co-autor desta soberania torna seu poder indivisível.
O Estado para Hobbes se
estabelece através da vontade humana e vai refletir os interesses da sociedade,
sendo assim, será o agente que garantirá a paz, a segurança, a liberdade de
expressão e a liberdade das relações econômicas.
Referências
BUENO, M.M. Medo e liberdade no
pensamento de Hobbes. In: Revista Primus Vitam, n. 1, v. 2, 2010.
HOBBES, T. Leviatã. São Paulo:
Nova Cultural, 1983.
RIBEIRO, R. J. Hobbes: o medo e
a esperança. IN: Os clássicos da política. 5 ed. São Paulo: Ática, 1995.